Muitos são os motivos que nos levam à
Casa Espírita: Pelo amor, pela dor, convite de alguém, hoje pela razão, etc...
E o que acontece? Assistimos palestras,
recebemos o passe, tomamos água fluidificada e vamos embora. Somos espíritas
apenas dentro da Casa Espírita, estas atitudes irão se repetir por longo tempo.
Mas à medida que vamos estudando e compreendendo melhor os ensinamentos
espíritas, sentimos que necessitamos nos integrar mais nas ações de reforma
moral da sociedade, e nada melhor para fazermos isso do que iniciando por nós
mesmos, ou seja, que sejamos espíritas na convivência com o mundo, e isso nos
leva à nossa reforma moral.
Todo espírita estudioso caminha neste
sentido, porque compreende que o Espiritismo como filosofia busca atingir o seu
mais nobre objetivo, que é a reforma moral da criatura.
A grande maioria dos livros escritos
pelas vias mediúnicas é rica de ensinamentos e verdadeiros tratados de saúde
mental, com uma terapia baseada no Evangelho de Jesus e na Codificação
Kardequiana.
Livros como: “Auto Conhecimento”, “O
Homem Integral”, “O Ser Consciente”, “Espelho D’alma”, “Momentos de Renovação”
e outros não necessariamente espíritas, nos indicam a importância da Reforma
Íntima, ou renovação de atitudes, como fator essencial para alcançarmos o
progresso moral e espiritual, visando à nossa felicidade relativa.
Duas afirmativas nos chamam à reflexão:
1. Renovação de atitudes...
Um jovem foi ao médico, queixando-se de
dores abdominais. Tendo sido atendido pelo médico, este atencioso, realizou
exames, fez entrevistas, e ao final chegou ao diagnóstico: Cirrose hepática,
doença do fígado por ingestão de bebida alcoólica. Enfermidade conhecida e
facilmente tratável receitou um tratamento, onde o paciente deveria tomar uma
medicação, fazer caminhadas diárias, ao final da caminhada realizar algumas
ginásticas. O paciente saiu satisfeito, pois se veria livre de suas dores. Ao
final de um mês, retornou novamente o paciente ao consultório médico, onde o
doutor o atendeu solícito.
Há doutor! O tratamento não deu
resultado, pois continuo a sentir dores. O profissional estranhou, pois tinha
confiança em seu diagnóstico, mas voltou a examiná-lo.
- O senhor tomou o remédio que lhe
receitei? Sim senhor doutor, certinho, três vezes ao dia!
- O senhor fez as caminhadas para
melhorar a circulação? Cinco quilômetros todos os dias doutor!
- O senhor fez as ginásticas como
recomendado? Uma hora diária após as caminhadas doutor!
- O senhor parou de beber? Não
doutor... Doutor continua doendo...
A medicina terrena trata das
enfermidades do corpo físico, o Espiritismo trata das enfermidades do espírito
(estando ele encarnado ou não). O médico nos escuta, analisa, faz exames e nos
recomenda um tratamento. A Casa Espírita, nos escuta, analisa, consola, e
também nos recomenda mudanças de atitudes; mas esta vai mais além a nosso
benefício, pois nos fornece o passe magnético, a água fluidificada e em alguns
casos tratamentos de desobssessões.
Mas assim como no caso do paciente
enfermo, se quisermos melhorar, cumpre que façamos a nossa parte mudando as
nossas tendências negativas, ou ficaremos indefinidamente tomando remédios,
realizando caminhadas, fazendo ginásticas, recebendo passes, tomando água fluidificada...
Emmanuel, em uma de suas mensagens no
diz: “O pastor conduz o seu rebanho, mas são as ovelhas que andam com as
próprias pernas”.
2. Felicidade relativa... (Em virtude da afirmativa de Jesus – “A
felicidade não é deste mundo” Bíblia/Eclesiastes, Evangelho Segundo o
Espiritismo/ Capítulo V, item 20). Analisando esta afirmativa do Cristo apenas pela
letra que mata e não pelo espírito que vivifica, muitos apressados, inimigos do
estudo e cultores do negativismo atribuem que estamos na Terra para sofrer, que
este é um vale de lágrimas, aqui só há dores e aflições, etc. Semelhantes
afirmativas são no mínimo equivocadas e inconsequentes, pois espalha o
desânimo, pessimismo, descrença, resignação incondicional. A nossa razão nos
mostra que podemos e temos momentos felizes mesmo no estágio evolutivo em que
nos encontramos, pois quem não fica feliz com um casamento? O nascimento do
primeiro filho? Uma formatura? O primeiro emprego? No aniversário, receber
aquele presente tão esperado? Jesus, profundo conhecedor, não iria contrariar
as Leis Naturais, negando estes fatos. Ele se referia tão somente à felicidade
plena, que é atributo apenas dos Mundos Felizes e Angélicos.
Sabemos então que para evoluirmos
espiritualmente temos que realizar a nossa Reforma Íntima, mas algumas
perguntas nos assaltam:
· O que é Reforma Íntima? Ela
deve ser compreendida como a chave mestra para o sucesso de sua melhora
interior e, consequentemente, da sua felicidade exterior.
· Para que serve? Renovar
as esperanças interiores tendo por meta o fortalecimento da fé, a solidificação
do amor, a incessante busca do perdão, o cultivo dos sentimentos positivos e a
finalização no aperfeiçoamento do ser.
· O que fazer? Realizar
atos isolados, no dia-a-dia levando-nos a melhorar as nossas atitudes,
alterando para melhor a nossa conduta aproximando-a tanto quanto possível do
ideal cristão.
· Por onde começar? Pela
autocrítica.
· Como fazer a reforma íntima?
Bem... (Cairbar Schutel –
“Fundamentos da Reforma Íntima” Abel Glaser).
Embora uma linha de pensadores
espíritas entenda que os meios de consegui-lo é obra e esforço de cada um, as
obras literárias estão repletas de indícios e dicas.
Em “O Livro dos Espíritos” no
capítulo Conhecimento de si mesmo, à pergunta 919, Allan Kardec
questiona aos Espíritos:
- Qual o meio prático mais eficaz que
tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?
“Um sábio da antiguidade vo-lo disse:
Conhece-te a ti mesmo.”
Allan Kardec, profundo conhecedor das
deficiências humanas, investiga mais a fundo no desdobramento da questão acima.
919a) - Conhecemos toda a sabedoria
desta máxima, porém a dificuldade está precisamente em cada um conhecer-se a si
mesmo. Qual o meio de consegui-lo?
“Fazei o que eu fazia, quando vivi na
Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que
fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera
motivo para de mim se queixar”... (SANTO AGOSTINHO). (O Livro dos Espíritos -
Allan Kardec)
Parece resultar daí que o conhecimento
de si mesmo é a chave do progresso individual.
(esta é uma tarefa que compete a cada
um individualmente).
Ocorrem-nos lembrar de Benjamin
Franklin, Estadista, escritor e inventor norte americano (inventor do
para-raios, Boston 17-01-1706 - Filadélfia 17-04-1790).
Benjamin Franklin era um tipógrafo na
Filadélfia homem fracassado e cheio de dívidas, achava que tinha aptidões
comuns, mas acreditava que seria capaz de adquirir os princípios básicos de
viver com êxito, se pudesse apenas encontrar o método certo. Método este
encontrado e relatado em seu livro a “Autobiografia de Benjamin Franklin”
(1771-1788).
Benjamin Franklin, em sua juventude era
um homem de muita inteligência e perspicácia, apesar de ter estudado apenas até
o segundo ano primário. Era ávido por conhecimento e lia muito, estudava e
escrevia ensaios e poesias. Estudava sobre tudo que lhe interessava, principalmente
sobre os grandes vultos da história de todos os tempos. Por isso mesmo tinha
uma grande cultura e um conceito moral muito rígido, e cobrava-se muito, bem
como, cobrava aos outros a mais correta e ilibada conduta. Em suas reuniões
sociais, tecia críticas francas e ácidas sobre todos os deslizes de seus
colegas, sentindo um prazer mórbido em derrotar verbalmente aos seus oponentes,
fato que ao longo do tempo foi deixando-o só e isolado nas reuniões a que eram
“obrigados” a convidá-lo pelo seu cargo político.
Sentindo o peso deste isolamento, em
conversa com um amigo muito chegado, comentou esta aversão das pessoas de seu
convívio.
Tendo sido localizada a causa deste
sentimento de aversão, com uma tenacidade que só as almas valorosas possuem,
empreendeu luta acirrada ao combate às suas imperfeições.
Mas por mais que se esforçasse,
controlava uma imperfeição, mas caía invariavelmente em outra, quando esta
outra recebia a sua atenção novo deslize fazia-o tropeçar, e a situação não
avançava. Era como se estivesse tentando reter água com as mãos que, não
obstante, escorria por entre seus dedos.
O isolamento continuava e até
acentuava-se.
Lembrando-se das habilidades bélicas de
Napoleão Bonaparte, que adotava a estratégia de “dividir para vencer”, de
espírito inventivo, Franklin imaginou um método tão simples, porém tão prático,
que qualquer pessoa poderia empregá-lo.
Franklin escolheu treze princípios que
julgava ser necessário ou desejável aprender e procurar praticar. Escreveu-os
em pequenos pedaços de cartolina, com breve resumo do assunto, e dedicou uma
semana da mais rigorosa atenção a cada um desses princípios separadamente.
Desse modo, pode percorrer a lista toda em treze semanas, e repetir o processo
quatro vezes por ano.
Quando passava ao princípio seguinte
não esquecia os anteriores, e cada vez que se pegava em falha, fazia uma
pequena marca no verso do cartão, assim no retorno àquele princípio dedicava
maior atenção e esforço.
Manteve em segredo o que estava
fazendo, pois receava que os outros se rissem dele. (é triste constatar que até
aos dias de hoje nos vangloriamos de atos incorretos, falcatruas, engodos,
vícios que cometemos, mas temos vergonha de admitirmos que estamos tentando
melhorar praticando alguma virtude).
Ao fim de um ano Franklin havia
completado quatro cursos, e constatou que já buscava com naturalidade o
controle de suas falhas, apesar de estar longe de dominar com perfeição qualquer
daqueles princípios.
Este procedimento deu tão certo que
Franklin utilizou-o ao longo de toda a sua vida, embora mudando os princípios
uma vez já tendo controlado aquela deficiência combatida.
Os treze princípios de Benjamin
Franklin eram:
(Autobiografia de Benjamin Franklin): (tais
como escreveu e na ordem que lhes deu)
Temperança – Não coma até o embotamento; não
beba até a exaltação.
Silêncio – Não fale sem proveito para os
outros ou para si mesmo; evite a conversação fútil.
Ordem- Tenha um lugar para cada coisa; que cada parte do
trabalho tenha seu tempo certo.
Resolução – Resolva executar aquilo que
deve; execute sem falta o que resolve.
Frugalidade – Não faça despesa sem proveito
para os outros ou para si mesmo; ou seja, nada desperdice.
Diligência – Não perca tempo; esteja sempre
ocupado em algo útil; dispense toda atividade desnecessária.
Sinceridade – Não use de artifícios
enganosos; pense de maneira reta e justa, e, quando falar, fale de acordo.
Justiça – A ninguém prejudique por mau
juízo, ou pela omissão de benefícios que são dever.
Moderação – Evite extremos; não nutra
ressentimentos por injúrias recebidas tanto quanto julga que o merecem.
Asseio – Não tolere falta de asseio no
corpo, no vestuário, ou na habitação.
Tranquilidade – Não se perturbe por coisas triviais,
acidentes comuns ou inevitáveis.
Castidade – Evite a prática sexual sem ser
para a saúde ou procriação; nunca chegue ao abuso que o enfraqueça, nem
prejudique a sua própria saúde, ou a paz de espírito ou reputação de outrem.
Humildade – Imite Jesus e Sócrates.
A quantos desejarem experimentá-lo
sugere-se analisarem-se, buscando aquelas deficiências mais comuns e
corriqueiras, que sabemos possuir, ou as qualidades que não temos, mas que
gostaríamos de ter, adaptando o método às necessidades e interesses de cada um.
Ao alcançar uma conquista, alterar a meta, buscando por outra, que vão surgindo
ao longo do tempo, mas cuidando sempre para que não incorram em recaída.
Este não é o primeiro e nem será o
último método inventado, que visa à melhoria das pessoas através da reforma
íntima, mas com certeza, nos aponta mais uma alternativa palpável e simples,
que está ao alcance de quantos tiverem a coragem e a vontade firme de
empreender esta luta íntima na escalada evolutiva.
Não é um caminho fácil. Não existe
caminho fácil. Mas é um caminho seguro.
Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”,
no capítulo XVII, SEDE PERFEITOS, Allan Kardec
escreveu:
“Reconhece-se o verdadeiro Espírita
pela sua transformação moral, e pelos esforços que emprega para domar as suas
más inclinações”.
Na Bíblia em “O Novo Testamento”, Tiago
em suas epístolas nos adverte: “Fé sem obras é estéril”.
Que Jesus nos ilumine e guie.
Muita paz.
Bibliografia:
O Evangelho Segundo o Espiritismo.
(Allan Kardec).
O Livro dos Espíritos. (Allan Kardec).
O Homem Integral. ( Divaldo Pereira
Franco – Joanna de Angelis).
Autobiografia de Benjamin Franklin.
Fundamentos da Reforma Íntima. (Abel
Glaser – Cairbar Schutel)
João Batista Armani - Florianópolis
18/03/2002
18/03/2002
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