segunda-feira, 9 de setembro de 2019





Desdobramento e Sonhos na Visão Espírita
 
No capítulo VIII, 2ª parte de “O Livro dos Espíritos” Kardec estuda a emancipação da alma e de início os benfeitores explicam que “o Espírito encarnado aspira constantemente à sua libertação”. Sabemos que através da emancipação da alma nós nos desprendemos do corpo físico e entramos em relação mais direta com o mundo dos espíritos, pois ao desprender-nos dos laços materiais, o espírito recupera parte de suas faculdades e entra mais facilmente com outros espíritos desencarnados e encarnados. Kardec nos ensina que “O sonho é a lembrança do que o Espírito viu durante o sono. Notai, porém, que nem sempre sonhais. Que quer isso dizer? Que nem sempre vos lembrais do que vistes, ou de tudo o que haveis visto, enquanto dormíeis. É que não tendes então a alma no pleno desenvolvimento de suas faculdades. Muitas vezes, apenas vos fica a lembrança da perturbação que o vosso Espírito experimenta à sua partida ou no seu regresso, acrescida da que resulta do que fizestes ou do que vos preocupa quando despertos. A não ser assim, como explicaríeis os sonhos absurdos, que tanto os sábios, quanto as mais humildes e simples criaturas têm? Acontece também que os maus Espíritos se aproveitam dos sonhos para atormentar as almas fracas e pusilânimes”. Sabemos que o espírito jamais está inativo e durante o sono, afrouxam-se os laços que o prendem ao corpo e, não precisando este então da sua presença, ele se lança pelo espaço e entra em relação mais direta com os outros Espíritos, pois ao repousar o corpo não necessita da presença do espírito para comunicar-lhe atividades físicas ou mentais, então este se liberta, afasta-se do
O Letra Espírita leva até você oportunidades de renovação interior e, consequentemente, crescimento espiritual.... corpo, reintegra-se em suas faculdades perceptivas e ativas, passando a agir a distância do instrumento físico. Na questão 403 de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec indaga: Por que não nos lembramos sempre dos sonhos? E os benfeitores espirituais responderam “Em o que chamas sono, só há repouso do corpo, visto que o Espírito está sempre em atividade. Recobra, durante o sono, um pouco de sua liberdade e se corresponde com os que lhe são caros, quer deste mundo quer em outros. Mas, como é pesada e grosseira a matéria que compõe o corpo, dificilmente este conserva as impressões que o Espírito receber, porque a este não chegaram por intermédio dos órgãos corporais." Allan Kardec nos chama atenção para a diferença entre sonho comum e sonho com desdobramento da alma. Ele diz: “O sonho é a lembrança do que o Espírito viu durante o sono. Notai, porém, que nem sempre sonhais. Que quer isso dizer? Que nem sempre vos lembrais do que vistes, ou de tudo o que haveis visto, enquanto dormíeis. É que não tendes então a alma no pleno desenvolvimento de suas faculdades. Muitas vezes, apenas vos fica a lembrança da perturbação que o vosso Espírito experimenta à sua partida ou no seu regresso, acrescida da que resulta do que fizestes ou do que vos preocupa quando despertos. A não ser assim, como explicaríeis os sonhos absurdos, que tanto os sábios, quanto as mais humildes e simples criaturas têm? Acontece também que os maus Espíritos se aproveitam dos sonhos para atormentar as almas fracas e pusilânimes.”


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terça-feira, 13 de agosto de 2019





POR QUE JESUS FALAVA POR PARÁBOLAS?



“E chegando-se a ele os discípulos, perguntaram-lhe: Por que lhes falas por parábolas? 
Respondeu-lhes Jesus: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não lhes é isso dado. Pois ao que tem, darse-lhe-á e terá em abundância; mas ao que não tem, até aquilo que tem ser-lhe-á tirado. Por isso lhes falo por parábolas, porque vendo não veem; e ouvindo não ouvem e nem entendem”.  (Mateus, XIII, 10-13). 
 “Todas essas coisas falou Jesus ao povo em parábolas, e nada lhes falava sem parábolas; para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: Abrirei em parábolas a minha boca, e publicarei coisas escondidas desde a criação”.   (Mateus, XIII, 34-35).

A sublime doutrina ensinada pelo Mestre Jesus revelou, à humanidade, princípios básicos de moral insistentemente reafirmados em suas falas. Com efeito, o Cristo nos chamava a atenção para a conquista da vida eterna, bem como ressaltava a importância do amor ao próximo, da caridade, da abnegação e do desinteresse pelas coisas terrenas, em detrimento do interesse pelas coisas espirituais.
Era comum, portanto, que o Mestre recorresse às parábolas, que nada mais eram do que simples narrativas, alegorias com preceitos de moral, cujo maior fim era o de transmitir verdades indispensáveis de serem compreendidas, que, sob a forma alegórica, prendiam a atenção de todos aqueles que ouviam.
A simbologia presente nas parábolas auxiliava na guarda e na reprodução do ensino, permitindo que Jesus transmitisse mensagens que, de outra maneira, dificilmente seriam aceitas pelo povo daquela época. Além disso, contando parábolas, Cristo evitou que, no futuro, seus preciosos ensinamentos viessem a ser deturpados, seja pela ignorância ou pela má fé dos Homens.
O uso contínuo das parábolas que Jesus fez, durante sua jornada, tinha por fim tornar os seus ensinamentos mais claros, o que fazia por meio de comparações entre os fatos da vida terrena e as matérias de ordem moral e espiritual.
Dessa forma, não podendo ainda o Homem compreender as coisas divinas, Cristo, a fim de facilitar o entendimento de todos aqueles que o ouviam, resumia a sua profunda e valiosa doutrina em singelas parábolas, apontando-nos, com elementos terrenos e exemplos cotidianos, valiosíssimos preceitos de conduta moral.
Àqueles que ouviam ansiosamente, procurando entender a verdadeira mensagem compreendida no discurso do Mestre, as parábolas serviam como um excelente meio elucidativo dos temas e das exortações do Cristo. Se, por outro lado, havia aqueles que não buscavam nas parábolas compreender as ideias contidas por detrás
das alegorias, ao menos a doutrina cristã conservava-se oculta dentro deles, como a noz dentro da casca.
Dessa forma, Jesus, de um jeito simples, falou e ensinou a todos, de maneira que seus ensinamentos atravessaram as eras até os dias de hoje, e ainda se mantêm como modelo ideal para que atinjamos a nossa perfeição intelectual, moral e espiritual. Basta, para tanto, que tenhamos olhos de ver e ouvidos de ouvir.
Esforcemo-nos, pois, nesse sublime caminho em direção ao Altíssimo, haurindo, dos ensinamentos do Mestre, os verdadeiros princípios da conduta moral e espiritual que Ele nos legou, os quais adquiriremos apenas com os esforços no amor, na caridade e no trabalho incessante em favor do bem! 

Por: Ariel Telo


sábado, 18 de maio de 2019



“QUANDO DESENCARNAMOS, DEMORA PARA NOS DESLIGAR? PORQUE? NÃO SÃO TODOS DESLIGAMENTOS IGUAIS?
Morte física e desencarne não ocorrem simultaneamente. O indivíduo morre quando o coração deixa de funcionar. O Espírito Desencarna quando se completa o Desligamento, o que demanda algumas horas ou alguns dias. Basicamente o Espírito permanece ligado ao corpo enquanto são muito fortes nele as impressões da existência física. Indivíduos materialistas, que fazem da jornada humana um fim em si, que não cogitam de objetivos superiores, que cultivam vícios e paixões, ficam retidos por mais tempo, até que a impregnação fluídica animalizada de que se revestem seja reduzida a níveis compatíveis com o desligamento.
Certamente os benfeitores espirituais podem fazê-lo de imediato, tão logo se dê o colapso do corpo.
No entanto, não é aconselhável, porquanto o desencarnante teria dificuldades maiores para ajustar-se às realidades espirituais.
O que aparentemente sugere um castigo para o indivíduo que não viveu existência condizente com os princípios da moral e da virtude, é apenas manifestação de misericórdia.
Não obstante o constrangimento e as sensações desagradáveis que venha a enfrentar, na contemplação de seus despojes carnais em decomposição, tal circunstância é menos traumatizante do que o desligamento extemporâneo.
Há, a respeito da morte, concepções totalmente distanciadas da realidade. Quando alguém morre fulminado por um enfarte violento, costuma-se dizer:
"Que morte maravilhosa! Não sofreu nada!"
No entanto, é uma morte indesejável.
Falecendo em plena vitalidade, salvo se altamente espiritualizado, ele terá problemas de desligamento e adaptação, pois serão muito fortes nele as impressões e interesses relacionados com a existência física.
Se a causa da morte é o câncer, após prolongados sofrimentos, em dores atrozes, com o paciente definhando lentamente, decompondo-se em vida, fala-se:
"Que morte horrível! Quanto sofrimento!"
Paradoxalmente, é uma boa morte.
Doença prolongada é tratamento de beleza para o Espírito. As dores físicas atuam como inestimável recurso terapêutico, ajudando-o a superar as ilusões do Mundo, além de depurá-lo como válvulas de escoamento das impurezas morais.
Destaque-se que o progressivo agravamento de sua condição torna o doente mais receptivo aos apelos da religião, aos benefícios da prece, às meditações sobre o destino humano.
Por isso, quando a morte chega, ele está preparado e até a espera, sem apegos, sem temores.
Algo semelhante ocorre com as pessoas que desencarnam em idade avançada, cumpridos os prazos concedidos pela Providência Divina, e que mantiveram um comportamento disciplinado e virtuoso.
Nelas a vida física extingue-se mansamente, como uma vela que bruxuleia e apaga, inteiramente gasta, proporcionando-lhes um retomo tranquilo, sem maiores percalços.

Richard Simonetti

quinta-feira, 2 de maio de 2019



Perdão e Reconciliação 
Por Sérgio B. Gregório 

1. INTRODUÇÃO
    O objetivo deste estudo é mostrar que a purificação de uma alma está atrelada ao esquecimento da ofensa. Para tanto analisaremos o problema da ofensa, a reconciliação com os adversários e as implicações suscitadas pela obediência à Lei de Deus.

2. CONCEITO
   Perdoar - do lat. med. perdonare significa “desculpar”, “absolver”, “evitar”. É o estado de ânimo, em que se encontra alguém, agravado por outrem, seu agressor, e sente-se desagravado. O pecado, na Religião, é um agravo a Deus, e o perdão consiste em não considerarse Deus agravado; ou seja, desagravado. (Santos, 1965) O conceito de perdão, segundo o Espiritismo, é idêntico ao do Evangelho, que lhe é fundamento: concessão, indefinida, de oportunidades para que o ofensor se arrependa, o pecador se recomponha, o criminoso se libere do mal e se erga, redimido, para a ascensão luminosa. (Equipe da FEB, 1995) Reconciliação – do lat. reconciliato, de reconciliare, constituído por re = prefixo iterativo + conciliare = conciliar, trazer a um acordo significa restabelecimento de relações ou de acordo entre duas pessoas que se haviam desentendido. (Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo)

3. HISTÓRICO
3.1. Antiguidade Na Antiguidade clássica grega pouco se escreveu acerca do perdão. Entende-se que esses filósofos estavam mais preocupados com a questão do conhecimento racional e da prática de conduta. Contudo, nas entrelinhas das filosofias de Sócrates e de Platão, considerados os precursores do Cristianismo e das ideias espíritas,
 
O Letra Espírita leva até você oportunidades de renovação interior e, consequentemente, crescimento espiritual....
encontramos muitas acepções sobre as virtudes, a questão do bem e do mal, a justiça e a injustiça etc. “Não é preciso jamais retribuir injustiça por injustiça, nem fazer o mal a ninguém, qualquer mal que se nos tenha feito. Poucas pessoas, entretanto, admitirão este princípio, e as pessoas que estão divididas não devem senão se desprezar umas às outras”. “Não está aí o princípio da caridade, que nos ensina a não retribuir o mal com o mal, e de perdoar aos inimigos?” (Kardec, 1984, p. 29)

3.2. Velho Testamento O Deus do Antigo Testamento é o Deus do perdão. O pecador é um devedor a quem Deus, com seu perdão, perdoa a dívida; o perdão é tão eficaz que Deus já não vê o pecado, o que é como que jogado para trás, tirado, expiado, destruído. A apostasia que se segue após a Aliança e que mereceria a destruição do povo é a ocasião para Deus se proclamar “Deus de ternura e de piedade, lento para se irar, rico em graça e fidelidade... que tolera falta, transgressão, pecado, mas nada deixará impune...” O coração de Deus, longe de querer a morte do pecador deseja a sua conversão para lhe prodigalizar seu perdão. Deus perdoa ao pecador que se acusa; longe de querer perdê-lo, longe de desprezá-lo, reconforta-o, purificando e acumulando de alegria seu coração contrito e humilhado. (Léon-Dufour, 1972)

3.3. Novo Testamento O perdão de Deus no Novo Testamento vem através de Cristo. João Batista pregava o Batismo do arrependimento para a remissão dos pecados. Dizia: “Fazei penitência, senão aquele que virá vos há de batizar no fogo”; para ele este fogo é o da ira e do juízo, aquele que consome a palha depois de separado o trigo. Jesus, porém, não foi enviado pelo Pai como juiz, mas como Salvador. Chama à conversão todos os que dela necessitam e suscita essa conversão revelando que Deus é um Pai cuja alegria consiste em perdoar e cuja vontade é que ninguém se perca. Jesus não só anuncia esse perdão como reivindicava e exercia o poder de perdoar pecados. O perdão da pecadora é um exemplo clássico. O Cristão conhece a salvação através do perdão dos pecados. A diferença entre o VT e NT é que neste último o perdão vem através do Cristo. (Léon-Dufour, 1972)

3.4. Atualidade Huberto Rohden, Pietro Ubaldi, krishnamurti e outros pensadores modernos dão-nos, cada qual na sua maneira de ver o problema, a dimensão do perdão na atualidade. Pietro Ubaldi, por exemplo, faz um relacionamento lógico entre o perdão e a Lei de Deus, mostrando-nos o valor científico de esquecer os ultrajes do nosso próximo. Em termos práticos, não resta dúvida que Allan Kardec, no capítulo X de O Evangelho Segundo o Espiritismo, retrata diversas maneiras de
conceber o perdão das ofensas se realmente quisermos ser perdoados por Deus.

4. O PROBLEMA DA OFENSA
4.1. Caracterização da ofensa Ofensa significa injúria, agravo, ultraje, afronta, lesão, dano. Causar mal físico a; ferir suscetibilidades. Ela depende do grau evolutivo tanto do ofendido quanto do ofensor, pois o ser espiritualizado não se envolve com picuinhas. Há que se considerar ainda a semântica das palavras, pois muitos agravos vêm da má compreensão ou da má interpretação daquilo que se disse. Considerar-se injuriado depende também de nosso estado emotivo, de nossa situação financeira, no nosso estresse. Uma pessoa desempregada pode se sentir ofendido simplesmente porque a outra lhe manda trabalhar. 

4.2. Mahatma Ghandi nunca foi ofendido Mahatma Ghandi, grande líder indiano da não-violência, no fim de sua vida, pôde responder à pergunta se perdoou todas as ofensas recebidas com a declaração sincera: “Nada tenho que perdoar a ninguém, porque nunca ninguém me ofendeu”. De acordo com as explicações de Rohden, o Ego é ofensor e ofendido, mas quando o ego humano é substituído pelo Eu divino, não pode mais haver ofensor nem ofendido. A ofensa é objetiva, considerar-se ofendido ou não subjetivo. Ghandi simplesmente não considerou a ofensa como ofensa. (ROHDEN, 1982, p. 159-161)

4.3. O perdão das ofensas Já no Antigo Testamento, a Lei não só estabelece um limite à vingança pela lei de talião, mas ainda proíbe o ódio ao irmão, a vingança e rancor contra o próximo. No Novo Testamento Jesus completa esse pensamento dizendo que Deus não pode perdoar a quem não perdoa. Por isso reitera que deveríamos perdoar não sete, mas setenta vezes sete vezes, ou seja, indefinidamente. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo vamos encontrar diversos pensamentos acerca do perdão das ofensas. O principal de tudo isso é não guardar rancor no coração, de espécie alguma.

5. RECONCILIAÇÃO COM OS ADVERSÁRIOS
5.1. O texto evangélico “Reconciliai-vos, o mais depressa, com vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho, a fim de que vosso adversário não vos entregue ao juiz, e que o juiz não vos entregue ao ministro da justiça, e que não sejais aprisionado. Eu vos digo, em verdade, que não saireis de lá, enquanto não houverdes pago até o último ceitil”. (Mateus, cap. V., 25,26)

5.2. Reconciliação como experiência de vida Cristã O Cristianismo centra-se na experiência do amor entre os homens como fato fundamental de aproximação a Deus. Entretanto o ser humano é ser egoísta por natureza e se encontra submerso na estrutura da injustiça e opressão que o cercam e o impulsionam para o mal. Há assim contradição entre o ensinamento de Jesus e o seu interior. Nesse sentido, a reconciliação ou perdão mútuo entre os irmãos deve ser uma tarefa constante tendo em vista a realização do amor. Lembremo-nos de que toda a Bíblia é uma história de reconciliação. Os próprios mitos dos primeiros capítulos do Gênesis pretendem mostrar que ao dar as costas para Deus, Adão e Eva também romperam com a própria harmonia da Lei, a qual deve ser retomada novamente. (Idígoras, 1983)

5.3. A morte não nos livra dos inimigos De acordo com os pressupostos espíritas, a morte não nos livra dos nossos inimigos, pois eles continuam vivos além-túmulos. Acontece que a ausência da vestimenta física é um elemento de maior facilidade para o ataque mental, isto é, através das interferências em nossos mais secretos pensamentos.  Observe que as obsessões surgem deste funesto sentimento de vingança e de ódio de quem se foi para outra vida. Descuidando-nos da oração e da vigilância, seremos vítimas fáceis do assédio deles.

6. LEI DE DEUS:
A NÃO-RESISTÊNCIA
6.1. A lei de Deus está escrita na consciência do ser Allan Kardec, na questão 621 de O Livro dos Espíritos, diz-nos que a Lei de Deus está escrita na consciência do ser. O que significa? Significa que é uma ideia inata que cada um de nós traz no seu bojo desde o nascimento. A revelação da mesma tem origem no esquecimento e no desprezo que lhe imputamos. Para isso, Deus, na sua infinita bondade, deu a alguns Espíritos superiores a missão de revelar a sua Lei, no sentido de fazer progredir a humanidade. Disto resulta que tudo o que fizermos devemos prestar contas à Lei. Ela é o móvel que dispões todas as nossas atividades neste planeta, tanto as de ordem material quanto as de ordem espiritual. É a ela que devemos obedecer e não aos homens que a malbaratam por interesse ou ignorância. Na resposta à pergunta 617A do mesmo livro, os Espíritos afirmam: “Entre as leis divinas, umas regulam o movimento e as relações da matéria bruta: são as leis físicas; seu estudo pertence ao domínio da Ciência. As outras concernem especialmente ao homem e às suas relações com Deus e com os seus semelhantes. Compreendem as regras da vida do corpo e as da vida da alma: são as leis morais”.

6.2. O evangelho e a regra da não-resistência Recebida uma ofensa temos duas soluções: a do mundo e a do Evangelho. A solução do mundo prende-se à superfície do problema, pois induz-nos a cometer um mal para reparar o mal que nos
tenha sido feito. Isto acaba gerando um ciclo vicioso do mal que nunca terá fim, pois um mal estimula a cometer outro mal e assim sucessivamente. A solução evangélica é mais profunda, porque vai à essência do problema, da questão, porque estimula-nos a não revidar o mal com o mal, mas com o bem, ou seja, o perdão das ofensas. (Ubaldi, 1982, p. 188-195)

6.3. As razões lógicas para o exercício do perdão Em virtude de uma ofensa, lembremo-nos: 1) a reação é um direito que não pertence ao homem, mas só à Lei de Deus; 2) se desejamos justiça, estejamos certos: a reação da Lei é muito mais poderosa que as nossas. 3) com nossa reação humana não afastamos e nem apagamos o mal, a não ser na aparência e provisoriamente, porque não eliminada a sua causa ele voltará para nós. O correto seria agir da seguinte forma: 1) renunciar à vingança; 2) perdoar a ofensa; e, 3) esquecer de exigir justiça. Se esquecermos de exigir justiça para o nosso caso particular, ele acabará pertencendo à Lei e ficaremos livres de qualquer dívida. (Ubaldi, 1982, p. 196-204)

7. CONCLUSÃO
Humilhemo-nos, renunciemos à nossa personalidade, culpemo-nos antes de culparmos o próximo e suportemos as injunções do destino, sem reclamações. Estes são os verdadeiros exercícios do perdão incondicional, os que realmente fortalecem a nossa alma para a subida pedregosa nos horizontes da perfeição do ser.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro: M. E. C.,1967. EQUIPE DA FEB. O Espiritismo de A a Z. Rio de Janeiro: FEB, 1995. IDÍGORAS, J. L. Vocabulário Teológico para a América Latina. São Paulo: Paulinas, 1983. KARDEC, A.. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo: IDE, 1984. KARDEC, A.. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo: FEESP, 1995. LEON-DUFOUR, X. e OUTROS. Vocabulário de Teologia Bíblica. Rio de Janeiro: Vozes, 1972. ROHDEN, H. Mahatma Gandhi - Ideias e Ideais de um Político Místico. 6. ed., São Paulo: Alvorada, 1982. SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo: Matese, 1965. UBALDI, P. A Lei de Deus. 2. ed., Rio de Janeiro: Fundação Pietro Ubaldi, 1982.

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sexta-feira, 19 de abril de 2019



Os Bastidores de “O Livro dos Espíritos”

Na sala principal de uma mansão em Paris, um grupo de senhores elegantes observa em silêncio a garota de 14 anos. Julie Baudin está sentada em frente a uma mesa redonda e segura um estranho objeto – uma cesta com um lápis encaixado na borda, que risca letras em espiral. Cada palavra é analisada atentamente por um dos homens. A garota parece não saber por que os adultos olham para ela tão concentrados – volta e meia ela ri e faz algum comentário engraçado. Suas mãos, porém, desenham no papel frases que em poucos meses irão fundar uma religião: o espiritismo.
Publicado pela primeira vez em 1857, o Livro dos Espíritos foi organizado em cerca de 20 meses pelo professor francês Allan Kardec, que coordenou longas reuniões com médiuns, fazendo perguntas a eles e colhendo respostas que acreditava vir dos espíritos. Dos vários médiuns que contribuíram para o livro, 3 garotas se destacam. Julie e Caroline Baudin, de 15 e 18 anos, e Ruth Japhet, de 20. Organizando as respostas para 501 perguntas sobre o Universo, Kardec criou a doutrina e visão de mundo do espiritismo, fazendo dele muito mais que uma diversão da burguesia parisiense.
Na época, os fenômenos mediúnicos serviam como passatempo nos salões de Paris, que começava a ganhar ares cosmopolitas. A partir de 1850, a cidade passou por uma grande reforma. Ruelas medievais e casebres deram lugar a avenidas largas e bulevares que convergiam no Arco do Triunfo, símbolo da força da modernidade e da nova burguesia francesa. Com novos parques, a cidade se preparava para virar o século como a Cidade das Luzes. Era tempo de revolução industrial e descobertas científicas, que tornavam o homem capaz de explicar e interferir nos fenômenos ao seu redor. Ou em quase todos.
Porque no meio de toda essa modernidade, as mesas girantes eram uma febre que assolava a Paris de 1850. Eram comuns as reuniões em salões culturais ou mansões de senhoras da sociedade, nos quais as pessoas iam para girar mesas apenas com o poder da concentração. “Toda a Europa tem o espírito voltado para uma experiência que consiste em fazer girar uma mesa”,afirmou o jornal L’Illustration do dia 14 de maio de 1853. “Ide por aqui, ide por ali, nos grandes salões, nas mais humildes mansardas, no atelier do pintor – e vereis pessoas gravemente assentadas em torno de uma mesa vazia, que elas contemplam à semelhança daqueles crentes que passam a vida a olhar seus umbigos.” Nas reuniões, havia poetas, intelectuais e nobres. O poeta Victor Hugo era frequentador assíduo das reuniões e chegou a escrever que “negar a atenção a que tem direito o espiritismo é desviar a atenção da verdade”.
Numa noite de maio de 1855, a reunião das mesas girantes aconteceu na casa de uma senhora chamada Plainemaison. Uma das pessoas que compareceu à reunião foi Hippolyte Léon Denizard Rivail, um professor de ciências de 50 anos. Mais tarde, ele contaria como a visita o deixou impressionado. As mesas, segundo ele, não só giravam como batiam no chão e se moviam “em condições que não deixam margem a qualquer dúvida”. A reunião na casa da sra. Plainemaison deixou Rivail aturdido. “Entrevi naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que tomei a mim investigar a fundo”, escreveria o professor, anos depois.

Começam as sessões
Rivail passou meses observando o fenômeno naquela e em outras casas da cidade, como a dos Boudin, que tinham duas filhas que acreditavam ser médiuns. O mais estarrecedor era que as mesas pareciam não só rodar como também falar. Isso mesmo: pareciam indicar letras com pancadas no chão e, quando interrogadas, moviam-se para a direita ou esquerda, tentando comunicar “sim” ou “não”. “Se as pessoas viam o fenômeno como uma diversão, Rivail ia às reuniões de mesas girantes como um cientista. Fazia perguntas sérias e anotava as respostas que obtinha”, diz o médium e jornalista Jorge Rizzini. Em abril de 1856, 11 meses depois da primeira visita a uma daquelas reuniões, a mensagem da mesa perturbou ainda mais aquele professor de ciências. Um espírito teria escolhido Rivail para reunir e publicar os ensinamentos que ele obtinha nas mesas. Rivail não acreditou e pediu que o espírito repetisse a mensagem. “Confirmo o que foi dito, mas recomendo discrição, se quiser se sair bem. Tomará mais tarde conhecimento de coisas que agora o surpreendem”, foi a mensagem que ele recebeu como resposta.
Assim o trabalho começou. Todas as terças-feiras, Rivail frequentava a casa da senhora Boudin. Julie, a moça de 14 anos, e sua irmã Caroline, de 16, psicografaram quase todas as questões do Livro dos Espíritos. Como a identidade das duas foi mantida em segredo por muitos anos, sabe-se pouco sobre elas. O que se sabe é que Julie era uma médium passiva, inconsciente do que escrevia. Somente achava divertido as pessoas lhe darem tanta importância. As reuniões, dirigidas pelos pais delas, não eram secretas, mas restritas a poucos convidados. Para escrever as mensagens, Julie e Caroline usavam uma cesta-de-bico, feita de vime, com 15 a 20 centímetros de diâmetro e uma espécie de bico com um lápis na ponta. “Pondo o médium os dedos na borda da cesta, o aparelho todo se agita e o lápis começa a escrever”, contou Kardec em O Livro dos Médiuns. Com o tempo, as garotas passaram a usar a psicografia direta, mesmo método usado mais tarde pelo brasileiro Chico Xavier.
Diante delas, Rivail fazia perguntas que nós, mortais, sempre quisemos fazer a quem passa pela morte e volta para contar. A 4ª pergunta do Livro dos Espíritos, por exemplo, é “Poderíamos dizer que Deus é infinito?” E a resposta:“Definição incompleta. Pobreza da linguagem dos homens, insuficiente para definir coisas acima de sua inteligência”. A 150ª é “A alma, após a morte, conserva sua individualidade? Sim, nunca a perde. O que seria ela se não a conservasse?”
As respostas que Caroline e Julie psicografavam eram revistas, analisadas e muitas vezes comparadas a outras mensagens. Na fase de revisão, a médium que mais contribuiu foi Ruth Japhet, uma médium sonâmbula que tinha mais de 50 cadernos com mensagens que psicografava à noite. Para Rivail, a revisão era necessária, primeiro, por causa da dificuldade em se entender o que os espíritos diziam. Segundo, porque, para ele, os espíritos não eram donos de toda a sabedoria do Universo. “Um dos primeiros resultados das minhas observações foi que os espíritos, não sendo senão as almas dos homens, não tinham nem a soberana sabedoria nem a soberana ciência; que seu saber era limitado ao grau de adiantamento; e que a opinião deles não tinha senão o valor de uma opinião pessoal”, escreveu ele em O Livro dos Médiuns. Por isso, Kardec afirmava que muitas mensagens de entidades eram ignoradas, ou por terem gracejos ofensivos ou por não fazerem sentido. Também por esse motivo, quanto mais médiuns participassem da composição do livro, melhor. Segundo ele, mais de 10 deles contribuíram na 1ª edição da obra.
Quando Rivail acabou de editar as perguntas, surgiu um problema: qual seria o título e quem deveria assinar a obra? Como não se considerava autor, e sim um organizador, deu o nome óbvio: O Livro dos Espíritos. Mas alguém precisava assiná-lo.
“Rivail consultou os espíritos e uma entidade deu a ele o nome de Allan Kardec, porque esse tinha sido o nome que ele teve numa vida passada, como um sacerdote druida.” Assim surgiu o nome do pai do espiritismo.
Em 18 de abril de 1857, os primeiros exemplares sairiam da Tipografia de Beau, em Saint-Germain-en-Laye, cidade vizinha a Paris. O livro rapidamente correu o mundo e criou polêmica, provocando protestos de padres e cientistas céticos, mas atraindo a atenção de outros médiuns, que entraram em contato com Kardec. O pai do espiritismo viu que seu trabalho ainda não estava terminado. Eram tantas novas revelações que ele decidiu revisar mais uma vez e estender o livro. A 2ª edição, definitiva, contém 1 019 perguntas. A última delas é “O reino do bem poderá um dia realizar-se na Terra?” Parte da resposta é: “O bem reinará na Terra quando, entre os espíritos que vêm habitá-la, os bons predominarem sobre os maus; então eles farão reinar na Terra o amor e a justiça, que são a fonte do bem e da felicidade”. Estava criado o livro e, com ele, uma nova religião para os homens.

Fonte: Letra Espírita