Marisa Fonte
No
item 8 do capítulo 14 (Honrai teu pai e tua mãe) de O Evangelho Segundo o
Espiritismo, encontramos o seguinte ensinamento, “Há, portanto, dois tipos de
famílias: as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos laços
corporais. As primeiras, duráveis, fortalecem-se pela depuração, e se perpetuam
no mundo dos espíritos, através das diversas migrações da alma. As segundas,
frágeis como a matéria, extinguem-se com o tempo e, muitas vezes, dissolvem-se
moralmente já na vida atual” (KARDEC, 2019, p. 153). Isso demonstra que os
laços de sangue não criam, obrigatoriamente, vínculos entre os seres. No
entanto, são oportunidades para que durante determinada encarnação estejamos
junto dessas pessoas.
Sobre
o tema Família encontramos o seguinte na questão 205 de O livro dos Espíritos, “Fundando-se
o parentesco em afeições anteriores, menos precários são os laços existentes
entre os membros de uma mesma família. Essa doutrina amplia os deveres da
fraternidade, porquanto, no vosso vizinho, ou no vosso servo, pode achar-se um
Espírito a quem tenhais estado presos pelos laços da consanguinidade” (KARDEC,
2022, p. 113).
Ainda
em O Evangelho segundo o Espiritismo, vemos que, “os espíritos formam no espaço
grupos ou famílias unidos pelo afeto, simpatia e semelhança. Esses Espíritos,
felizes de estarem juntos, procuram-se. A encarnação só os separa
momentaneamente, porque, após sua reentrada na erraticidade, reencontram-se,
como amigos no retorno de uma viagem. Muitas vezes até se acompanham na
encarnação, na qual são reunidos em uma mesma família, ou em um mesmo círculo,
trabalhando juntos para o mútuo progresso” (KARDEC, 2019, p. 55).
Sabemos
que a família representa a grande oportunidade para que possamos desenvolver
diversas virtudes e aprimorar outras tantas. Por outro lado, é dentro do
ambiente familiar que geralmente mostramos as nossas garras, a nossa pouca
educação e grosseria. André Luiz, no capítulo 8 do livro Sinal Verde, diz que,
“A paisagem social da Terra se transformaria imediatamente para melhor se todos
nós, na condição de Espíritos encarnados, nos tratássemos, dentro de casa, pelo
menos com a cortesia que dispensamos aos nossos amigos.
Sem nos darmos conta do que estamos fazendo, perdemos, muitas vezes, a chance de aprendermos a ser mais pacientes, sentir empatia e compaixão pelos que estão mais próximos de nós. E, por outro lado, aqueles que são a causa da insatisfação que se sente no lar, não colaboram para que haja alguma mudança nesse sentido. Ainda no livro Sinal Verde, capítulo 7, André Luiz adverte, “Não exija dos familiares diferentes de você um comportamento igual ao seu, porquanto cada um de nós se caracteriza pelas vantagens ou prejuízos que acumulamos na própria alma”.
As festas
de fim de ano
Com
base nas relações familiares citadas acima, pensemos no que representam as
festas de fim de ano para algumas pessoas. Muitas vezes ouvimos estas dizerem
que não gostam das festas de fim de ano por terem de encontrar desafetos nestas
ocasiões. Outras, ainda, sentem aversão às reuniões familiares por já poderem
prever o que acontecerá no decorrer das mesmas. Segundo tais relatos, sempre
alguém falará mal de alguém e outro discutirá com um dos presentes – quase
sempre por um motivo irrelevante. Um último motivo para que muitos desgostem
dessas ocasiões é o fato de que muitos comparecem às reuniões e bebem além da
conta; aí passam mal, e criam confusão e situações constrangedoras.
Levando
tudo isso em conta, é fácil entender a razão pela qual, muitas reuniões de fim
de ano tornaram-se um verdadeiro pesadelo para um número de pessoas que não
encontra sentido nesses encontros, nos quais o que menos importa é a
confraternização e o motivo da comemoração.
A
falta de entendimento, ou até da lembrança do significado dessas datas, aliada
ao descaso e à falta de reflexão à qual o momento convida, pode ser a causa do
que se vê comumente entre os seres, quando o assunto são as comemorações de
final de ano.
Uma das
primeiras providências que se tomam é o sorteio do amigo secreto, e a
organização da confraternização, que certamente contará com alimentos – e
geralmente, – muitas bebidas alcoólicas, como se nada pudesse acontecer de bom
ou pudesse haver alegria sem a presença do álcool. Bem, mas esse é outro tema
que fica para uma próxima conversa, talvez.
Infelizmente,
a organização das comemorações pára por aí, e não é comum que alguém se lembre
de sugerir um momento de reflexão, ou uma interrupção das celebrações, a fim de
fazer uma prece, por exemplo. A não ser pela eventual doação de cestas de
alimentos, brinquedos ou de material escolar, o evento se torna uma grande
orgia consumista, que incentivada pelo comércio, ao seu término deixa vários
indivíduos endividados e não mais felizes.
Naturalmente,
os presentes fazem parte das comemorações, e é justo que o comércio aproveite
as datas festivas para lucrar. No entanto, aqui a ideia é mencionar os
exageros, pois por vezes a pessoa nem mesmo tem condições financeiras de arcar
com o custo de tantos presentes que acaba comprando. Para não se sentir
inferiorizada por presentear algo simples, a criatura se obriga a arcar com
custos muitas vezes fora da sua realidade econômica, gerando assim um problema
para ser resolvido nos meses seguintes.
Todas
essas considerações têm por objetivo demonstrar o quanto nos afastamos da
essência verdadeira, e do propósito das festas de fim de ano, que convidam à
meditação e à reflexão, uma vez que tal época deveria ser lembrada pelo
nascimento de Jesus, que veio à Terra para deixar seus preciosos ensinamentos,
e posterior encerramento de um ciclo na vida de todos, quando acontece a
passagem de ano.
Podemos
sempre, na medida que nos seja permitido pelas pessoas interessadas, sugerir
que elas também meditem sobre assuntos relacionados a algo além de consumir
exageradamente, mas, lembremo-nos sempre de respeitar o livre arbítrio alheio,
pois não nos é lícito interferir nas decisões do nosso irmão de caminhada.
Conheci
certa vez uma senhora, que contou que na sua infância ela e a família
comemoravam o Natal de maneira bastante especial. Ela, na sua ingenuidade,
pedia para que a mãe fizesse brigadeiros e um bolo para comemorar o aniversário
de Jesus, ao que a mãe atendia prontamente.
Assim,
à meia noite do dia 24 de dezembro, a família reunida em torno da mesa orava e
depois, encorajados pela menina, todos cantavam parabéns a você para o
aniversariante. Essa era a maneira como a menina entendia a data, e era dessa
forma que ela homenageava o Mestre.
Voltando ao nosso tema, naturalmente não podemos – nem devemos pretender – modificar o comportamento das pessoas que nos cercam, mas neste ano podemos fazer diferente, e agir de outro modo, sem que tenhamos de nos privar da alegria das festas e das reuniões. Nós podemos agir com mais cautela na hora de comprar, gastando o que está realmente dentro do nosso orçamento, alimentarmo-nos sem exageros, e, acima de tudo, aproveitarmos a ocasião para fazer um balanço sobre o ano que está se despedindo.
Preparação para o final do ano
Comece
a se preparar para o fim do ano. Faça desse um momento de reflexão, no qual
você consiga de fato conectar-se a si mesmo/a, e faça bilhar a sua própria luz
a fim de iluminar aqueles que estão ao seu lado.
Busquemos
a alegria junto ao Divino Mestre, e embriaguemo-nos de Suas boas palavras e da
Sua luz. Que cada um de nós viva de fato o amor ensinado por Jesus, mas sem
prestar tanta atenção às possíveis más ações praticadas por outros, uma vez que
cada qual possui seu livre arbítrio e responde pelos próprios atos. Façamos a
nossa parte, cuidando de nós mesmos com sincero empenho. Quem sabe, tal atitude
possa inspirar outros a fazê-lo também.
Costumamos
fazer listas, às vezes enormes, e quase sempre pouco realistas, a respeito do
ano que vai chegar. O grande número do que não foi realizado causa frustração,
e de certa forma faz com que deixemos de confiar em nós mesmos, como se não
fôssemos capazes de cumprir com aquilo que de certo modo combinamos com nós
mesmos.
A
sugestão é que se escreva em uma folha o que gostaríamos de ter feito, mas
deixamos de fazer, e analisar o motivo, ou motivos, pelos quais não realizamos
tais planos, planejando as nossas ações para o ano que terá início em breve.
Porém, é melhor encurtar a lista e ter os pés na realidade ao fazer tais
planos.
Lembremo-nos,
também, de fazer um balanço em relação à nossa conduta no que diz respeito a
nós mesmos e àqueles que nos cercam. Meditemos sobre as nossas aquisições no
campo das relações humanas, sobre a renovação moral que fomos capazes de
realizar, sobre o bem que fizemos quando tivemos oportunidade, sobre as vezes
em que nos encolerizamos sem motivo, ou, ainda, sobre as ocasiões em que
julgamos o nosso próximo sem compaixão, ou sem buscar entender o que levou tal
pessoa a agir da maneira como o fez.
Enfim,
que nesse fim de ano possamos refletir sobre as nossas próprias ações, e em
como podemos agir daqui em diante, para que ao fazermos esse balanço no final
do próximo ano vejamos a balança pender muito mais para o lado positivo do que
para o negativo – ou concluirmos que nada fizemos durante todo o ano por não
termos agido conforme o necessário para realizar alguma coisa.
Enfim,
façamos todo o bem que pudermos, sem economizar generosidade, esbanjando boas
ações pelo caminho, a fim de realizarmos todo o bem possível e nos
reconciliarmos com desafetos enquanto ainda caminhamos lado a lado, como
recomendado por Jesus. Que as festas de fim de ano possam ter um novo
significado para você e aqueles que lhe são caros.
Referências:
1- KARDEC, Allan, O Evangelho Segundo o Espiritismo. 44ª reimp. 2019 –
Capivari/SP: Editora EME.
2- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1ª ed. 2022. Campos dos
Goytacazes: Editora Letra Espírita.
3- LUIZ, André. Sinal verde, psicografado por Francisco Cândido Xavier.
49ª edição. Uberaba, MG. CEC Editora, 1910.