quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

 


Marisa Fonte

 

No item 8 do capítulo 14 (Honrai teu pai e tua mãe) de O Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos o seguinte ensinamento, “Há, portanto, dois tipos de famílias: as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos laços corporais. As primeiras, duráveis, fortalecem-se pela depuração, e se perpetuam no mundo dos espíritos, através das diversas migrações da alma. As segundas, frágeis como a matéria, extinguem-se com o tempo e, muitas vezes, dissolvem-se moralmente já na vida atual” (KARDEC, 2019, p. 153). Isso demonstra que os laços de sangue não criam, obrigatoriamente, vínculos entre os seres. No entanto, são oportunidades para que durante determinada encarnação estejamos junto dessas pessoas.

Sobre o tema Família encontramos o seguinte na questão 205 de O livro dos Espíritos, “Fundando-se o parentesco em afeições anteriores, menos precários são os laços existentes entre os membros de uma mesma família. Essa doutrina amplia os deveres da fraternidade, porquanto, no vosso vizinho, ou no vosso servo, pode achar-se um Espírito a quem tenhais estado presos pelos laços da consanguinidade” (KARDEC, 2022, p. 113).

Ainda em O Evangelho segundo o Espiritismo, vemos que, “os espíritos formam no espaço grupos ou famílias unidos pelo afeto, simpatia e semelhança. Esses Espíritos, felizes de estarem juntos, procuram-se. A encarnação só os separa momentaneamente, porque, após sua reentrada na erraticidade, reencontram-se, como amigos no retorno de uma viagem. Muitas vezes até se acompanham na encarnação, na qual são reunidos em uma mesma família, ou em um mesmo círculo, trabalhando juntos para o mútuo progresso” (KARDEC, 2019, p. 55).

Sabemos que a família representa a grande oportunidade para que possamos desenvolver diversas virtudes e aprimorar outras tantas. Por outro lado, é dentro do ambiente familiar que geralmente mostramos as nossas garras, a nossa pouca educação e grosseria. André Luiz, no capítulo 8 do livro Sinal Verde, diz que, “A paisagem social da Terra se transformaria imediatamente para melhor se todos nós, na condição de Espíritos encarnados, nos tratássemos, dentro de casa, pelo menos com a cortesia que dispensamos aos nossos amigos.

Sem nos darmos conta do que estamos fazendo, perdemos, muitas vezes, a chance de aprendermos a ser mais pacientes, sentir empatia e compaixão pelos que estão mais próximos de nós. E, por outro lado, aqueles que são a causa da insatisfação que se sente no lar, não colaboram para que haja alguma mudança nesse sentido. Ainda no livro Sinal Verde, capítulo 7, André Luiz adverte, “Não exija dos familiares diferentes de você um comportamento igual ao seu, porquanto cada um de nós se caracteriza pelas vantagens ou prejuízos que acumulamos na própria alma”.

As festas de fim de ano

Com base nas relações familiares citadas acima, pensemos no que representam as festas de fim de ano para algumas pessoas. Muitas vezes ouvimos estas dizerem que não gostam das festas de fim de ano por terem de encontrar desafetos nestas ocasiões. Outras, ainda, sentem aversão às reuniões familiares por já poderem prever o que acontecerá no decorrer das mesmas. Segundo tais relatos, sempre alguém falará mal de alguém e outro discutirá com um dos presentes – quase sempre por um motivo irrelevante. Um último motivo para que muitos desgostem dessas ocasiões é o fato de que muitos comparecem às reuniões e bebem além da conta; aí passam mal, e criam confusão e situações constrangedoras.

Levando tudo isso em conta, é fácil entender a razão pela qual, muitas reuniões de fim de ano tornaram-se um verdadeiro pesadelo para um número de pessoas que não encontra sentido nesses encontros, nos quais o que menos importa é a confraternização e o motivo da comemoração.

A falta de entendimento, ou até da lembrança do significado dessas datas, aliada ao descaso e à falta de reflexão à qual o momento convida, pode ser a causa do que se vê comumente entre os seres, quando o assunto são as comemorações de final de ano.

Uma das primeiras providências que se tomam é o sorteio do amigo secreto, e a organização da confraternização, que certamente contará com alimentos – e geralmente, – muitas bebidas alcoólicas, como se nada pudesse acontecer de bom ou pudesse haver alegria sem a presença do álcool. Bem, mas esse é outro tema que fica para uma próxima conversa, talvez.

Infelizmente, a organização das comemorações pára por aí, e não é comum que alguém se lembre de sugerir um momento de reflexão, ou uma interrupção das celebrações, a fim de fazer uma prece, por exemplo. A não ser pela eventual doação de cestas de alimentos, brinquedos ou de material escolar, o evento se torna uma grande orgia consumista, que incentivada pelo comércio, ao seu término deixa vários indivíduos endividados e não mais felizes.

Naturalmente, os presentes fazem parte das comemorações, e é justo que o comércio aproveite as datas festivas para lucrar. No entanto, aqui a ideia é mencionar os exageros, pois por vezes a pessoa nem mesmo tem condições financeiras de arcar com o custo de tantos presentes que acaba comprando. Para não se sentir inferiorizada por presentear algo simples, a criatura se obriga a arcar com custos muitas vezes fora da sua realidade econômica, gerando assim um problema para ser resolvido nos meses seguintes.     

Todas essas considerações têm por objetivo demonstrar o quanto nos afastamos da essência verdadeira, e do propósito das festas de fim de ano, que convidam à meditação e à reflexão, uma vez que tal época deveria ser lembrada pelo nascimento de Jesus, que veio à Terra para deixar seus preciosos ensinamentos, e posterior encerramento de um ciclo na vida de todos, quando acontece a passagem de ano.

Podemos sempre, na medida que nos seja permitido pelas pessoas interessadas, sugerir que elas também meditem sobre assuntos relacionados a algo além de consumir exageradamente, mas, lembremo-nos sempre de respeitar o livre arbítrio alheio, pois não nos é lícito interferir nas decisões do nosso irmão de caminhada.

Conheci certa vez uma senhora, que contou que na sua infância ela e a família comemoravam o Natal de maneira bastante especial. Ela, na sua ingenuidade, pedia para que a mãe fizesse brigadeiros e um bolo para comemorar o aniversário de Jesus, ao que a mãe atendia prontamente.

Assim, à meia noite do dia 24 de dezembro, a família reunida em torno da mesa orava e depois, encorajados pela menina, todos cantavam parabéns a você para o aniversariante. Essa era a maneira como a menina entendia a data, e era dessa forma que ela homenageava o Mestre.    

Voltando ao nosso tema, naturalmente não podemos – nem devemos pretender – modificar o comportamento das pessoas que nos cercam, mas neste ano podemos fazer diferente, e agir de outro modo, sem que tenhamos de nos privar da alegria das festas e das reuniões. Nós podemos agir com mais cautela na hora de comprar, gastando o que está realmente dentro do nosso orçamento, alimentarmo-nos sem exageros, e, acima de tudo, aproveitarmos a ocasião para fazer um balanço sobre o ano que está se despedindo.

Preparação para o final do ano

Comece a se preparar para o fim do ano. Faça desse um momento de reflexão, no qual você consiga de fato conectar-se a si mesmo/a, e faça bilhar a sua própria luz a fim de iluminar aqueles que estão ao seu lado.  

Busquemos a alegria junto ao Divino Mestre, e embriaguemo-nos de Suas boas palavras e da Sua luz. Que cada um de nós viva de fato o amor ensinado por Jesus, mas sem prestar tanta atenção às possíveis más ações praticadas por outros, uma vez que cada qual possui seu livre arbítrio e responde pelos próprios atos. Façamos a nossa parte, cuidando de nós mesmos com sincero empenho. Quem sabe, tal atitude possa inspirar outros a fazê-lo também.  

Costumamos fazer listas, às vezes enormes, e quase sempre pouco realistas, a respeito do ano que vai chegar. O grande número do que não foi realizado causa frustração, e de certa forma faz com que deixemos de confiar em nós mesmos, como se não fôssemos capazes de cumprir com aquilo que de certo modo combinamos com nós mesmos.

A sugestão é que se escreva em uma folha o que gostaríamos de ter feito, mas deixamos de fazer, e analisar o motivo, ou motivos, pelos quais não realizamos tais planos, planejando as nossas ações para o ano que terá início em breve. Porém, é melhor encurtar a lista e ter os pés na realidade ao fazer tais planos.

Lembremo-nos, também, de fazer um balanço em relação à nossa conduta no que diz respeito a nós mesmos e àqueles que nos cercam. Meditemos sobre as nossas aquisições no campo das relações humanas, sobre a renovação moral que fomos capazes de realizar, sobre o bem que fizemos quando tivemos oportunidade, sobre as vezes em que nos encolerizamos sem motivo, ou, ainda, sobre as ocasiões em que julgamos o nosso próximo sem compaixão, ou sem buscar entender o que levou tal pessoa a agir da maneira como o fez.

Enfim, que nesse fim de ano possamos refletir sobre as nossas próprias ações, e em como podemos agir daqui em diante, para que ao fazermos esse balanço no final do próximo ano vejamos a balança pender muito mais para o lado positivo do que para o negativo – ou concluirmos que nada fizemos durante todo o ano por não termos agido conforme o necessário para realizar alguma coisa.

Enfim, façamos todo o bem que pudermos, sem economizar generosidade, esbanjando boas ações pelo caminho, a fim de realizarmos todo o bem possível e nos reconciliarmos com desafetos enquanto ainda caminhamos lado a lado, como recomendado por Jesus. Que as festas de fim de ano possam ter um novo significado para você e aqueles que lhe são caros.

 

Referências:

1- KARDEC, Allan, O Evangelho Segundo o Espiritismo. 44ª reimp. 2019 – Capivari/SP: Editora EME.

2- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1ª ed. 2022. Campos dos Goytacazes: Editora Letra Espírita.

3- LUIZ, André. Sinal verde, psicografado por Francisco Cândido Xavier. 49ª edição. Uberaba, MG. CEC Editora, 1910.