terça-feira, 26 de março de 2024

 




Por: Leda Maria Flaborea 

 

    O trabalho de renovação das disposições íntimas vai exigir, de todo aquele que se proponha executá-lo, perseverança e determinação. Perseverança, por causa da necessidade da repetição contínua e sistemática na correção do desvio feito nos caminhos da existência, e determinação, para que não se abandone o comprometimento com essa nova atitude. 

As ideias fantasiosas que temos sobre renovação deixam-nos manietados a outros erros, e iludidos na certeza de que a estamos realizando. Quase sempre, por desconhecimento, apenas trocamos o nome, o rótulo de antigos enganos, que insistimos em manter – nos apraz tal situação -, distorcendo o verdadeiro significado de tal fato. Esse engano parece-nos, está ligado à noção equivocada de que estamos, realmente, comprometidos com a mudança e que a estamos realizando. Mas, a verdade é que se observarmos nossa conduta, poderemos perceber, muitas vezes, que insistimos em cometer os mesmos erros, fazendo as mesmas escolhas e guardando a certeza de que já havíamos superado essa fase. Todavia, a consciência dessa repetência permitirá que nos coloquemos em alerta, porque nos permitirá saber que, ainda, estamos no início da caminhada e distantes dessa superação.

As situações, nas quais somos chamados a dar testemunho daquilo que já aprendemos – e quase sempre supomos que já o fizemos – constituem-se em excelentes vitrines para essas observações. São armadilhas que surgem para que nos testemos, para que tenhamos um parâmetro da nossa evolução, para que possamos medir o quanto, ainda, a paciência, a tolerância com as diferenças, o entendimento fraterno a quem nos agride, a capacidade de perdoar e esquecer e tantos outros, que imaginávamos já dominar, estão longe do ideal da prática amorosa que Jesus nos ensinou.

São decepções que infligimos a nós mesmos e que sacodem a nossa acomodação, no pouco que fizemos, mas que supomos ser muito. É importante lembrar aqui que qualquer avanço na senda do progresso é louvável e, às vezes, requer muito esforço de quem o executa. O que não pode ocorrer é a estagnação desse movimento renovador, com a justificativa de que muito já foi feito. Isso nos desequilibra e nos adoece física e emocionalmente, permitindo que, inúmeras vezes, sejamos alvos fáceis de aproximação de outras mentes em desalinho, sejam elas encarnadas ou desencarnadas.

Por essa razão, a superação de sentimentos inferiores, sob o ponto de vista de Jesus, como os de revide, vingança, vaidade, personalismo, por exemplo – expressões do egoísmo na vida de relação –, é de vital importância para a recuperação e manutenção do equilíbrio e da harmonia no âmbito da vida íntima. É essa condição que nos permitirá não sermos feridos pelas correntes aflitivas e conflitantes que nos cercam, proporcionando um outro olhar sobre essas armadilhas, um olhar com objetividade, dando a cada situação o justo peso de importância. 

Para que isso ocorra, faz-se mister buscar conhecer nossos sentimentos – raiz de nossas escolhas -, dimensioná-los, estabelecendo prioridades para serem trabalhados, com foco nas suas transformações, partindo do mais simples e, portanto, do mais fácil – aquele mais imediato, mais próximo, que está mais claro para nós – para o mais complexo e mais difícil.

O mais importante nesse processo, em última análise, é ter a coragem de identificar esses sentimentos malsãos, iniciar a tarefa de renovação e, depois, permanecer nesse caminho. Passeando entre a luz e a sombra, a razão e a emoção, nunca acertaremos a rota se não nos comprometermos com a mudança e perseverar nela, mesmo que se tenha de refazer os passos mil vezes.

Muitos de nós creem que somente a fé em Deus seja suficiente para que essas mudanças ocorram. Entretanto, a proposta de renovação, que Jesus nos convida a realizar, transcende a simples fé divina. Ela vai além e toca na essência do Espírito, na vontade genuína de realizá-la. Daí, a presença dessas duas forças transformadoras em nós: a fé humana e a fé divina, porque, ainda que se aceite a soberana presença de Deus em nossa vida; ainda que a fé nos leve a adorá-lo em Espírito e Verdade; ainda que a Natureza O revele através das belezas que nos cercam, senão O sentirmos e mostrarmos ao mundo, através de nossas atitudes, nada terá sentido. Aceitar a Sua presença e não vê-lo no próximo é cegueira mental; adorá-lo em Espírito e Verdade e só colocá-lo em altares terrenos é diminuir-Lhe a majestade; e vê-lo revelado em Suas obras e não entendê-lo é olhar-se no espelho e não reconhecê-lo em si mesmo.

É na busca dessa identidade com o Criador que reside nossa luta renovadora. “O Pai e eu somos um só”, disse Jesus, mostrando que somente pela superação de nós mesmos e da materialidade na qual insistimos em permanecer, seremos livres e nos reconheceremos, finalmente, como filhos de Deus.


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

                                                             

                                    

                                                                                                        Por: Janaína Magalhães

459 - Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?

Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto que, de ordinário, são eles que vos dirigem

(KARDEC, 2022, p. 195)

Podemos depreender da resposta acima que a influenciação espiritual em nossas vidas é muito grande e que estamos em constante intercâmbio por meio do pensamento com o Mundo Espiritual. Através da mente, o Espírito encarnado familiariza-se com ideias que lhe são afins, positivas ou negativas conforme o estágio vibratório em que esteja situado.

Se estes indivíduos são portadores de aspirações nobilitantes, onde se fixem, haurem maior impulso para o crescimento. Permanecendo na construção do bem, dificilmente assimilam as induções perversas ou criminosas procedentes dos estagiários das regiões inferiores. (FRANCO, 2019, P. 18)

Se interessados, porém, nas colocações da vulgaridade ou do prazer, da impiedade ou da preguiça, do vício ou da desordem, recebem maior influxo de ondas mentais equivalentes, resvalando para o despenhadeiro da emoção aturdida, do desequilíbrio... (FRANCO, 2019, P. 18)

A obsessão simples atinge a maioria dos encarnados tendo em vista ser um natural intercurso psíquico existente em todas as partes do Universo.

 De acordo com “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Cap. XXVIII, item 81, “a obsessão é a ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diversos, desde a simples influência moral sem perceptíveis sinais exteriores até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais”.

 Durante o sono físico, cada ser fixa-se nas ideias mentais que lhe são próprias vibrando na sintonia da ambição desmedida, dos prazeres desenfreados, dos medos indiscriminados, nas culpas paralisantes, encontrando-se com seres que se caracterizam pelas mesmas aspirações e condições fazendo com que essas cargas emocionais se intensifiquem. Ao despertarem para o novo dia, muitas vezes o fazem trazendo a mente atribulada pelos resquícios da noite mal dormida e dos encontros menos felizes prejudicando a execução das tarefas e o enfrentamento das atividades diárias.

 Surgem como efeito natural, as síndromes da inquietação: as desconfianças, os estados de insegurança pessoal, as enfermidades de pequena monta, os insucessos em torno do obsidiado que soma as angústias, dando campo a incertezas, a mais ampla perturbação interior. (FRANCO, 2019, P. 19)

 A partir daí, o obsidiado se alimenta da psicosfera deletéria que vige em sua volta por não querer se esforçar em sair dela por meio de diversos recursos disponíveis como: ouvir as sugestões dos amigos espirituais que nunca nos abandonam, ler páginas edificantes, auxiliar o próximo, elevar a sintonia por meio da prece, dentre outros.

909 – Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações??

- Sim, e, frequentemente, fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a vontade. Ah! Quão poucos dentre vós fazem esforços! (KARDEC, 2022, p. 325).

Conforme a constituição temperamental, faz-se apático, tende à depressão, adentrando-se pela melancolia, em razão da mensagem telepática problemática e dos clichês mentais pessimistas que ressumam do arquivo da inconsciência. No sentido oposto, se é dotado de constituição nervosa excitada, torna-se agressivo, violento, em desarmonia de atitudes expondo a aparelhagem psíquica e os nervos a altas cargas de energias que danificam os sensores e condutores nervosos, com singulares prejuízos para a organização fisiopsíquica. (FRANCO, 2019, P. 20)

 Assim sendo, percebe-se pelo desequilíbrio no comportamento da criatura que ora tende à depressão ora à excitação, a instalação da doença causada pela obsessão.

 Não apenas por processos de desforço pessoal, em que os desafetos se buscam para produzirem-se males e cobranças injustificáveis, como por fatores de variada motivação, assimilam-se ideias e pensamentos pela simples sintonia de onda própria em que se situam as mentes. (FRANCO, 2019, P. 16,17)

 Ou seja, captamos as sugestões vindas da esfera espiritual com as quais sintonizamos. Por falta de vigilância ou vontade, nos atemos às vibrações negativas que nos chegam aceitando ou atraindo a sugestão perturbadora que vitaliza as tendências que já possuímos e relutamos em combater.

 Por estarmos há milênios jungidos ao mal e aos hábitos perniciosos, as ideias negativas são mais fáceis de serem assimiladas e aceitas encontrando ressonância com o pensamento do paciente que não reluta e torna-se presa do monoideísmo que pode produzir quadros de fascinação e subjugação torturantes e de difícil reversibilidade.

 

Obsessão por Fascinação

Com o processo de obsessão instalado, o obsidiado começa não apenas a compartilhar suas ideias com o obsessor, como também suas atitudes e formas de ser. Neste momento a pessoa perde a noção do ridículo e passa a agir guiada pelas inspirações vindas do obsessor incorporando-as como diretrizes que se apresentam ilógicas aos outros mas que para ele estão em perfeita coerência e dentro da normalidade.

 Por conhecerem o caráter e as imperfeições morais do ser que perturbam, os Espíritos querem insuflá-lo em seu orgulho para que se distancie das pessoas ou recursos que possam de alguma forma ajudá-lo, fazendo-lhe crer que são seres em missões especiais e tornando joguetes de fácil manipulação desses Espíritos.

 Lembremos aqui que em toda obsessão ou sofrimento é levado em conta o merecimento da criatura e a disposição de que esta se reveste na tentativa de se livrar de tal mal. Por mais injusto que possa parecer, no sofrimento do indivíduo, existe sempre a lei de ação e reação no cerne de todo o problema, juntamente com resquícios de orgulho, egoísmo e personalismo exacerbado que são brechas para a aproximação do antagonista espiritual.

 

Obsessão por Subjugação

 No painel das obsessões, à medida que se agrava o quadro da interferência, a vontade do hospedeiro perde os contatos de comando pessoal, na razão direta em que o invasor assume a governança. Assim, a subjugação pode ser física, psíquica e simultaneamente fisiopsíquica. (FRANCO, 2019, P. 23)

No primeiro caso, não há perda da lucidez intelectual e dá-se diretamente sobre os centros motores podendo causar enfermidades orgânicas, advindas da contaminação por vírus e bactérias, ou mesmo sob a vigorosa ação fluídica dilacerarem-se os tecidos fisiológicos ou perturbar-se o metabolismo geral, causando enormes prejuízos físicos...

 No segundo caso, o paciente chega a perder totalmente a lucidez pelo estado de passividade e dominação mental em que se encontra perdendo temporária ou definitivamente a área da consciência durante sua atual encarnação.

 O espírito encarnado movimenta-se num labirinto que o atemoriza, algemado a um adversário que lhe é impenitente, maltratando-o, aterrando-o com ameaças cruéis, em parasitose firme na desconcertada casa mental.

 Por fim, assenhoreia-se, simultaneamente dos centros do comando motor e domina fisicamente a vítima, que lhe fica inerte, subjugada, cometendo atrocidades sem nome.

Não podemos deixar de afirmar que juntamente com o paciente estão incursas na Lei as pessoas que constituem seu grupo familiar e social, aí situados por necessidade evolutiva e de resgate para todos. Reunidos ou religados pelo parentesco sanguíneo ou através das conjunturas da afetividade, da afinidade, formam os grupos em que são alcançados pelos processos reeducativos, no tentame do progresso. (FRANCO, 2019, P. 24)

 Necessário considerar que não nos referimos aqui, àqueles seres que são portadores de patogenias mais imperiosas em razão de enfermidades graves, da hereditariedade, de distúrbios glandulares e orgânicos, de traumas cranianos e de sequelas de inúmeras doenças outras...

 Queremos deter-nos nas psicogêneses espirituais, sejam as de natureza emocional, pelas aptidões e impulsos que procedem das reencarnações transatas, de que os enfermos não se liberam; sejam pelo impositivo das obsessões infelizes, produzidas por encarnados ou por Espíritos que já se despiram da indumentária carnal, permanecendo, no entanto, nos propósitos inferiores a que se aferram...

 Dando gênese a enfermidades várias, inicialmente imaginárias, que recebe por via telepática, pode transformar-se em males orgânicos de consequências insuspeitadas, ao talante do agente perseguidor que induz a vítima que o hospeda a situações lamentáveis. (FRANCO, 2019, P. 8)

 

Recursos terapêuticos como tratamento à obsessão

· Tratar o Espírito desencarnado como um enfermo que necessita de ajuda e não como um inimigo ferrenho, auxiliando-o na sua renovação íntima mesmo não concordando com suas atitudes e buscando à luz do Evangelho demovê-lo da ação no mal. (FRANCO, 2019, P. 25)

· Paralelamente, estimular junto ao ser encarnado que sofre a injunção obsessora o hábito da oração e da leitura edificante, ao mesmo tempo em que trabalha seu caráter tornando-o maleável ao bem e refratário ao vício.

· Aplicação dos recursos fluídicos, seja através do passe ou da água magnetizada, da ação intercessória com que se vitalizam os núcleos geradores de forças, estimulantes da saúde com o poder de desconectarem a ligação entre obsessor e obsidiado e fazer com que possam se reabilitar perante a Consciência Cósmica pela aplicação de valores e serviços dignificadores. (FRANCO, 2019, P. 26)

Referências:

1- FRANCO, Divaldo. Nas fronteiras da loucura. Ditado pelo espírito Manoel Philomeno de Miranda. 16 ed. Salvador: LEAL, 2019)

2- KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 14. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002.

3 - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, tradução de Guillon Ribeiro. Campos dos Goytacazes: Letra Espírita, 2022.