quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

 


Marisa Fonte

 

No item 8 do capítulo 14 (Honrai teu pai e tua mãe) de O Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos o seguinte ensinamento, “Há, portanto, dois tipos de famílias: as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos laços corporais. As primeiras, duráveis, fortalecem-se pela depuração, e se perpetuam no mundo dos espíritos, através das diversas migrações da alma. As segundas, frágeis como a matéria, extinguem-se com o tempo e, muitas vezes, dissolvem-se moralmente já na vida atual” (KARDEC, 2019, p. 153). Isso demonstra que os laços de sangue não criam, obrigatoriamente, vínculos entre os seres. No entanto, são oportunidades para que durante determinada encarnação estejamos junto dessas pessoas.

Sobre o tema Família encontramos o seguinte na questão 205 de O livro dos Espíritos, “Fundando-se o parentesco em afeições anteriores, menos precários são os laços existentes entre os membros de uma mesma família. Essa doutrina amplia os deveres da fraternidade, porquanto, no vosso vizinho, ou no vosso servo, pode achar-se um Espírito a quem tenhais estado presos pelos laços da consanguinidade” (KARDEC, 2022, p. 113).

Ainda em O Evangelho segundo o Espiritismo, vemos que, “os espíritos formam no espaço grupos ou famílias unidos pelo afeto, simpatia e semelhança. Esses Espíritos, felizes de estarem juntos, procuram-se. A encarnação só os separa momentaneamente, porque, após sua reentrada na erraticidade, reencontram-se, como amigos no retorno de uma viagem. Muitas vezes até se acompanham na encarnação, na qual são reunidos em uma mesma família, ou em um mesmo círculo, trabalhando juntos para o mútuo progresso” (KARDEC, 2019, p. 55).

Sabemos que a família representa a grande oportunidade para que possamos desenvolver diversas virtudes e aprimorar outras tantas. Por outro lado, é dentro do ambiente familiar que geralmente mostramos as nossas garras, a nossa pouca educação e grosseria. André Luiz, no capítulo 8 do livro Sinal Verde, diz que, “A paisagem social da Terra se transformaria imediatamente para melhor se todos nós, na condição de Espíritos encarnados, nos tratássemos, dentro de casa, pelo menos com a cortesia que dispensamos aos nossos amigos.

Sem nos darmos conta do que estamos fazendo, perdemos, muitas vezes, a chance de aprendermos a ser mais pacientes, sentir empatia e compaixão pelos que estão mais próximos de nós. E, por outro lado, aqueles que são a causa da insatisfação que se sente no lar, não colaboram para que haja alguma mudança nesse sentido. Ainda no livro Sinal Verde, capítulo 7, André Luiz adverte, “Não exija dos familiares diferentes de você um comportamento igual ao seu, porquanto cada um de nós se caracteriza pelas vantagens ou prejuízos que acumulamos na própria alma”.

As festas de fim de ano

Com base nas relações familiares citadas acima, pensemos no que representam as festas de fim de ano para algumas pessoas. Muitas vezes ouvimos estas dizerem que não gostam das festas de fim de ano por terem de encontrar desafetos nestas ocasiões. Outras, ainda, sentem aversão às reuniões familiares por já poderem prever o que acontecerá no decorrer das mesmas. Segundo tais relatos, sempre alguém falará mal de alguém e outro discutirá com um dos presentes – quase sempre por um motivo irrelevante. Um último motivo para que muitos desgostem dessas ocasiões é o fato de que muitos comparecem às reuniões e bebem além da conta; aí passam mal, e criam confusão e situações constrangedoras.

Levando tudo isso em conta, é fácil entender a razão pela qual, muitas reuniões de fim de ano tornaram-se um verdadeiro pesadelo para um número de pessoas que não encontra sentido nesses encontros, nos quais o que menos importa é a confraternização e o motivo da comemoração.

A falta de entendimento, ou até da lembrança do significado dessas datas, aliada ao descaso e à falta de reflexão à qual o momento convida, pode ser a causa do que se vê comumente entre os seres, quando o assunto são as comemorações de final de ano.

Uma das primeiras providências que se tomam é o sorteio do amigo secreto, e a organização da confraternização, que certamente contará com alimentos – e geralmente, – muitas bebidas alcoólicas, como se nada pudesse acontecer de bom ou pudesse haver alegria sem a presença do álcool. Bem, mas esse é outro tema que fica para uma próxima conversa, talvez.

Infelizmente, a organização das comemorações pára por aí, e não é comum que alguém se lembre de sugerir um momento de reflexão, ou uma interrupção das celebrações, a fim de fazer uma prece, por exemplo. A não ser pela eventual doação de cestas de alimentos, brinquedos ou de material escolar, o evento se torna uma grande orgia consumista, que incentivada pelo comércio, ao seu término deixa vários indivíduos endividados e não mais felizes.

Naturalmente, os presentes fazem parte das comemorações, e é justo que o comércio aproveite as datas festivas para lucrar. No entanto, aqui a ideia é mencionar os exageros, pois por vezes a pessoa nem mesmo tem condições financeiras de arcar com o custo de tantos presentes que acaba comprando. Para não se sentir inferiorizada por presentear algo simples, a criatura se obriga a arcar com custos muitas vezes fora da sua realidade econômica, gerando assim um problema para ser resolvido nos meses seguintes.     

Todas essas considerações têm por objetivo demonstrar o quanto nos afastamos da essência verdadeira, e do propósito das festas de fim de ano, que convidam à meditação e à reflexão, uma vez que tal época deveria ser lembrada pelo nascimento de Jesus, que veio à Terra para deixar seus preciosos ensinamentos, e posterior encerramento de um ciclo na vida de todos, quando acontece a passagem de ano.

Podemos sempre, na medida que nos seja permitido pelas pessoas interessadas, sugerir que elas também meditem sobre assuntos relacionados a algo além de consumir exageradamente, mas, lembremo-nos sempre de respeitar o livre arbítrio alheio, pois não nos é lícito interferir nas decisões do nosso irmão de caminhada.

Conheci certa vez uma senhora, que contou que na sua infância ela e a família comemoravam o Natal de maneira bastante especial. Ela, na sua ingenuidade, pedia para que a mãe fizesse brigadeiros e um bolo para comemorar o aniversário de Jesus, ao que a mãe atendia prontamente.

Assim, à meia noite do dia 24 de dezembro, a família reunida em torno da mesa orava e depois, encorajados pela menina, todos cantavam parabéns a você para o aniversariante. Essa era a maneira como a menina entendia a data, e era dessa forma que ela homenageava o Mestre.    

Voltando ao nosso tema, naturalmente não podemos – nem devemos pretender – modificar o comportamento das pessoas que nos cercam, mas neste ano podemos fazer diferente, e agir de outro modo, sem que tenhamos de nos privar da alegria das festas e das reuniões. Nós podemos agir com mais cautela na hora de comprar, gastando o que está realmente dentro do nosso orçamento, alimentarmo-nos sem exageros, e, acima de tudo, aproveitarmos a ocasião para fazer um balanço sobre o ano que está se despedindo.

Preparação para o final do ano

Comece a se preparar para o fim do ano. Faça desse um momento de reflexão, no qual você consiga de fato conectar-se a si mesmo/a, e faça bilhar a sua própria luz a fim de iluminar aqueles que estão ao seu lado.  

Busquemos a alegria junto ao Divino Mestre, e embriaguemo-nos de Suas boas palavras e da Sua luz. Que cada um de nós viva de fato o amor ensinado por Jesus, mas sem prestar tanta atenção às possíveis más ações praticadas por outros, uma vez que cada qual possui seu livre arbítrio e responde pelos próprios atos. Façamos a nossa parte, cuidando de nós mesmos com sincero empenho. Quem sabe, tal atitude possa inspirar outros a fazê-lo também.  

Costumamos fazer listas, às vezes enormes, e quase sempre pouco realistas, a respeito do ano que vai chegar. O grande número do que não foi realizado causa frustração, e de certa forma faz com que deixemos de confiar em nós mesmos, como se não fôssemos capazes de cumprir com aquilo que de certo modo combinamos com nós mesmos.

A sugestão é que se escreva em uma folha o que gostaríamos de ter feito, mas deixamos de fazer, e analisar o motivo, ou motivos, pelos quais não realizamos tais planos, planejando as nossas ações para o ano que terá início em breve. Porém, é melhor encurtar a lista e ter os pés na realidade ao fazer tais planos.

Lembremo-nos, também, de fazer um balanço em relação à nossa conduta no que diz respeito a nós mesmos e àqueles que nos cercam. Meditemos sobre as nossas aquisições no campo das relações humanas, sobre a renovação moral que fomos capazes de realizar, sobre o bem que fizemos quando tivemos oportunidade, sobre as vezes em que nos encolerizamos sem motivo, ou, ainda, sobre as ocasiões em que julgamos o nosso próximo sem compaixão, ou sem buscar entender o que levou tal pessoa a agir da maneira como o fez.

Enfim, que nesse fim de ano possamos refletir sobre as nossas próprias ações, e em como podemos agir daqui em diante, para que ao fazermos esse balanço no final do próximo ano vejamos a balança pender muito mais para o lado positivo do que para o negativo – ou concluirmos que nada fizemos durante todo o ano por não termos agido conforme o necessário para realizar alguma coisa.

Enfim, façamos todo o bem que pudermos, sem economizar generosidade, esbanjando boas ações pelo caminho, a fim de realizarmos todo o bem possível e nos reconciliarmos com desafetos enquanto ainda caminhamos lado a lado, como recomendado por Jesus. Que as festas de fim de ano possam ter um novo significado para você e aqueles que lhe são caros.

 

Referências:

1- KARDEC, Allan, O Evangelho Segundo o Espiritismo. 44ª reimp. 2019 – Capivari/SP: Editora EME.

2- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1ª ed. 2022. Campos dos Goytacazes: Editora Letra Espírita.

3- LUIZ, André. Sinal verde, psicografado por Francisco Cândido Xavier. 49ª edição. Uberaba, MG. CEC Editora, 1910.  

 

 

sábado, 4 de novembro de 2023

 

 

                                        RIQUEZA OU POBREZA




Por: Simara Cabral

“E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.” (Mateus, 19:24)

Todos os dias vemos muitas pessoas jogando na loteria, outras trabalhando exaustivamente até o limite de suas forças, outras cometem atos ilícitos, todos em busca da riqueza e abundância dos bens terrenos, como se um grande patrimônio pudesse trazer a solução de todos os problemas. Mas será que uma grande soma em dinheiro realmente resolve os infortúnios ou será a riqueza uma tentação capaz de trazer maiores transtornos do que os que a pessoa tinha antes?

A desigualdade social existe em todos os lugares do mundo mas em alguns países ela é mais acentuada. De acordo com o IBGE, em 2018 o rendimento mensal dos 1% mais ricos do Brasil era quase 34 vezes maior do que o rendimento da metade mais pobre da população. Durante a pandemia, essa desigualdade aumentou. De um lado vemos pessoas ostentando todo tipo de luxo: viagens, carros importados, mansões, roupas de grife enquanto a maior parte da população luta diariamente para ter acesso aos direitos básicos: alimentação, educação, saúde, direito à moradia, ao trabalho dentre outros.

O psicólogo norte americano Abraham H. Maslow criou um conceito chamado “A Pirâmide de Maslow” que determina as condições para que cada pessoa alcance sua satisfação pessoal, ou seja, se sinta feliz e realizada. Na base da pirâmide estão as necessidades básicas para a felicidade e elas vão se modificando até atingir o topo da pirâmide que seria a realização pessoal completa conforme a imagem abaixo.

Fonte: https://www.significados.com.br/piramide-de-maslow/

Conforme pode-se observar, para ter acesso à base da pirâmide é necessário que se tenha uma condição financeira que propicie acesso à alimentação, água e moradia, o que deveria ser um direito básico do ser humano. Em seguida, segurança do corpo, do emprego e de recursos, o que também depende do dinheiro. A partir daí as necessidades não são mais relacionadas aos bens materiais, e sim às boas relações sociais, amizades, desenvolvimento da auto estima, aceitação perante as dificuldades da vida entre outras. Portanto, de acordo com a psicologia o dinheiro pode trazer a segurança necessária para se obter um certo grau de satisfação, no entanto a felicidade plena não é atingida através de uma grande fortuna, luxo ou satisfação das vaidades.

De acordo com a Doutrina Espírita, a prova da riqueza e a da pobreza são difíceis porém necessárias ao aprimoramento moral, pois enquanto na pobreza o ser humano precisa desenvolver a resignação, a paciência e a humildade, na riqueza ele precisa praticar a caridade, evitar abusos e tentações que aparecem das mais variadas formas. É preciso lembrar que as duas provas são situações temporárias que podem ser alternadas na mesma ou na próxima encarnação.

No livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Lacoirdaire (Constantina, 1863) diz: “Sabei contentar-vos com pouco. Se sois pobres, não invejeis os ricos, pois a fortuna não é necessária à felicidade. Se sois ricos, não esqueçais que esses bens vos foram confiados e que tendes de justificar o emprego deles, como uma prestação de contas de tutela. Não sejais administradores infiéis, fazendo-as servir à satisfação do vosso orgulho e vossa sensualidade. Não vos julgueis no direito de dispor exclusivamente em vosso favor daquilo que não é senão um empréstimo, e não uma doação. Se não sabeis restituí-lo, não tendes mais o direito de pedir. E recordai que aquele que dá aos pobres, quita-se da dívida que contraiu com Deus.” Por isso quando a prova da miséria chega até o homem, ele deve enfrentá-la com confiança e resignação, e caso a prova da riqueza venha a aparecer, deve-se recordar das palavras do Mestre Jesus no Evangelho de Mateus 6:19-21: “Não acumulem tesouros sobre a terra, onde as traças e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntem tesouros no céu, onde as traças e a ferrugem não corroem, e onde ladrões não escavam, nem roubam. Porque, onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração.”

Em “O livro dos Espíritos”, nas questões de 814 a 816, é explicado que Deus concede a riqueza a uns e a miséria a outros para experimentar os espíritos de formas diferentes e é dito que as duas provas apresentam graus elevados de dificuldade: “A alta posição do homem neste mundo e a autoridade sobre os seus semelhantes são provas tão grandes e tão escorregadias como a miséria, porque, quanto mais rico e poderoso é ele, tanto mais obrigações tem que cumprir e tanto mais abundantes são os meios de que dispõe para fazer o bem e o mal. Deus experimenta o pobre pela resignação e o rico pelo emprego que dá aos seus bens e ao seu poder. A riqueza e o poder fazem nascer todas as paixões que nos prendem à matéria e nos afastam da perfeição espiritual. Por isso foi que Jesus disse: “Em verdade vos digo que mais fácil é passar um camelo por um fundo de agulha do que entrar um rico no reino dos céus.” Lembrando apenas que na tradução do hebraico, a mesma palavra era usada para “camelo” e “cabo” e o mais provável é que “cabo” fosse a tradução correta, pois faria mais sentido. Desta frase dita por Jesus, pode-se compreender que a prova da riqueza é mais perigosa para o homem pois a tentação de abusar dos recursos e de apegar-se aos bens materiais é quase irresistível para o homem comum, caso ele não esteja focado na vida futura e no seu desenvolvimento moral.

Deste modo aquele que acredita ser a riqueza uma solução para as dificuldades da vida terrena ignora o real objetivo de sua encarnação, que é a evolução espiritual e não a aquisição de bens materiais ou a satisfação dos desejos fugazes da carne. Quando se deixa levar pelas paixões materiais e busca apenas os prazeres efêmeros, o homem perde de vista a vida futura e se afasta do seu aprimoramento moral. Por isso, a despeito de que qualidade seja a provação que esteja enfrentando, o importante é que se empenhe para alcançar o desenvolvimento das virtudes da alma, seja a paciência, a resignação ou a submissão à vontade de Deus, e sempre que possível que o homem lembre-se de trabalhar ativamente no auxílio ao próximo e na construção de um mundo melhor, onde todos possam ter dignidade para viver. E como disse Chico Xavier: “Você nem sempre terá o que deseja mas enquanto estiver ajudando os outros, encontrará os recursos de que precisa”.

Portanto, ao buscar o aperfeiçoamento moral além da melhoria das condições materiais, o homem estará desenvolvendo suas próprias virtudes e simultaneamente, levando todo a humanidade a progredir, elevando a categoria do planeta a um patamar onde não exista a miséria, a fome e a violência e onde todos tenham a oportunidade de viver e não apenas de tentar sobreviver. O progresso da humanidade depende do esforço de cada um dos habitantes do planeta, desde que abdiquem de seus desejos egoístas, sua ambição, seu orgulho e deixem predominar o amor ao próximo, a caridade e a benevolência dado que somente assim as injustiças sociais não terão mais vez e a fraternidade, a solidariedade e o amor reinarão na Terra.

Referências:

1. Bíblia Online. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br>. Acessado em 10 de Julho de 2021.

2. Desigualdade social. Disponível em < https://www.politize.com.br/desigualdade-social/>. Acesso em 08 de Julho de 2021.

3. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Matheus Rodrigues de Carvalho. 43ª reimpressão. Capivari, SP: Editora EME, 2018.

4. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Matheus Rodrigues de Carvalho.24ª reimpressão. Capivari, SP: Editora EME, 2019.

5. Pirâmide de Maslow. Disponível em: <https://www.significados.com.br/piramide-de-maslow>. Acesso em 14 de Julho de 2021.



 

terça-feira, 5 de setembro de 2023

 

                      A Codificação Espírita






 

Por: Sílvio Cardoso Mesquita


Quando o assunto é a Codificação Espírita, impossível não lembrar daquele sujeito de olhar introspecto, semblante firme, testa levemente franzida, postura física ereta e marcante ao qual estamos acostumados a ver em estampas por trás de frases de sua autoria, que nos fazem pensar e ter novas perspectivas em relação a vida, seja ela material, onde estamos aqui e agora vivendo, ou espiritual, destino inquestionável a quem se propõe a tarefa, nada fácil (diga-se de passagem) de estudar e absorver tudo quanto possível da obra deste estimado homem chamado Hippolyte Léon Denizard Rivail, que dedicou sua vida dos 53 aos 64 anos (idade com a qual desencarnou) ao trabalho árduo de transformar em livros os ensinamentos passados por espíritos, que fundamentariam a Doutrina Espírita.

A história da codificação pode ser contada, a partir, especialmente das décadas de 1840 e 1850, onde se tornaram populares os fenômenos das mesas girantes, entre alguns lugares, mas especialmente na França, em Paris, cidade de Rivail. Este grande professor, discípulo do conhecido e grande educador suíço Johann Heinrich Pestalozzi desde sua juventude, além de ser, segundo o biógrafo Marcel Souto Maior (2013, p. 16), “católico e seguidor de Descartes, filósofo que exaltava a ciência refutando o que ficava a margem da mesma”.

Tais circunstâncias, é claro, não seriam obra do acaso, pois foi dentro deste contexto que na sala da casa da senhora Plainemaison, após muito ouvir falar sobre o assunto que se tornara famoso, que Rivail presenciou o tão falado fenômeno das mesas que giravam, deste momento em diante o cético professor e escritor (de várias obras já publicadas, especialmente sobre pedagogia) adentrou a realidade até então desconsiderada sobre os espíritos.

As mesas “inteligentes” que atendiam a comandos das pessoas presentes, serviram claramente para chamar atenção do público e aproximar aquele que, após contato com os que posteriormente seriam chamados de “médiuns”, e conhecer o espírito guia que se apresentou como o Espírito de Verdade, tomaria conhecimento de sua missão de transcrever as obras que iriam compor a codificação espírita. Rivail passou a usar o pseudônimo Allan Kardec para a autoria das obras espíritas, nome este que foi próprio de uma encarnação anterior como um druida (sacerdote, encarregado de questões educacionais e jurídicas além de influência jurídica na sociedade celta).

A codificação kardequiana ficou composta por cinco obras básicas, também referidas como o “pentateuco espírita”, as quatro últimas originárias a partir da primeira, O Livro dos Espíritos, que é seguido cronologicamente por: O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese.

O Livro dos Espíritos, primeira das cinco obras, é composto de perguntas e respostas, estilo literário usado na Grécia antiga, popularmente por Platão, onde se estabelecem diálogos. Nele estão descritos os princípios da Doutrina Espírita, informações sobre a imortalidade da alma, bem como a relação existente entre encarnados e desencarnados, curiosidades inerentes ao ser humano em respeito à vida, e muito mais, que pode vir a ser de importante a nossa existência, como vida futura ou mesmo contemporânea dentro, é claro, de parâmetros de relevância e importância estabelecidos por espíritos superiores e minuciosamente organizados por Kardec. O Livro dos Espíritos conta com 1019 questões na sua última edição escrita por Kardec.

O segundo, O livro dos Médiuns, foi escrito com objetivo de esclarecimento de espíritas ou pessoas simpáticas a doutrina, sobre os fenômenos mediúnicos, deixando claro o caráter investigativo e científico dos Espiritismo, norteando interessados quanto aos eventos que podem ocorrer relacionados a médiuns, espíritos e o universo que os envolve, tal como exemplo, efeitos físicos.

O terceiro livro, não mais, nem menos importante, mas possuinte de características especiais e particulares por se tratar de caráter não somente religioso, mas de destaque moral, pautando questões éticas e comportamentais com base no evangelho de Jesus, deixando clara a importância da caridade como meio de evolução para alcanço da felicidade pura e verdadeira, exemplo disto foi escrito nesta obra por Kardec (2009, p. 64): “A felicidade não é deste mundo”.

O Céu e o Inferno a quarta obra, possui duas partes, sendo a primeira uma análise crítica de Kardec, pondo em confronto pontos do Catolicismo com o Espiritismo no que diz respeito as contradições e incoerências científicas da primeiramente citada, mencionando o objetivo de seguimento de uma fé raciocinada por parte dos espíritos, baseando-se é claro no modelo científico. Na segunda parte do livro dos Espíritos encontram-se diálogos do codificador com espíritos, por meio de médiuns, onde os desencarnados relatam sobre o além tumulo, desencarne e possibilidades deste evento que variam conforme condições de cada indivíduo.

O quinto e último dos cinco livros, A Gênese, aborda a visão da Doutrina Espírita a respeito dos milagres e das predições, onde o ponto de partida para observação se baseia nas novas perspectivas obtidas por meio dos conhecimentos trazidos e interpretados por Kardec e o movimento espírita, fundamentado em seu foco científico, filosófico e religioso.

Allan Kardec também escreveu outras obras espíritas: O que é o Espiritismo, Introdução Prática Sobre as Manifestações Espíritas, O Espiritismo em Sua Expressão Mais Simples, Viajem Espírita, Catálogo Racional de Obras para se Fundar uma Biblioteca Espírita, Obras Póstumas, O Principiante Espírita, A Obsessão, e o periódico A Revista Espírita. Importante ressaltar que essas obras possuem caráter secundário, por se basearem nas obras da codificação.

Como podemos perceber, a codificação do Espiritismo funciona como um mapa para nós que somos viajantes ou visitantes deste plano “submerso” no espaço tempo, e podemos usar este mapa nos guiarmos e ao final da jornada termos méritos, condições para entrar pela porta estreita (referida no evangelho de Mateus 7:13), que nos leva ao caminho da verdadeira felicidade.

Contudo, para isso é preciso estarmos atentos, pois do mesmo modo que existem espíritas que seguem os princípios da codificação, baseados no compromisso com a verdade estabelecido por Kardec, podem aparecer o que a dois mil anos seriam chamados os falsos profetas, sem comprometimento com a causa do Cristo, de espalhar a caridade de forma humilde e sincera sem esperar algo em troca. No livro Mediunidade, Herculano Pires (p.25), faz uma observação dizendo que, “A obra de Kardec é a bussola em que podemos confiar. Ela é a pedra de toque que podemos usar para aferir a legitimidade ou não das pedras aparentemente preciosas que os garimpeiros de novidades nos querem vender”.

 

 

Referências:

MAIOR, Marcel Souto. Kardec: a biografia. Rio de Janeiro: Editora Record, 2013.

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 365a Edição, São Paulo: Ide Editora, 2009.

PIRES, Herculano. Mediunidade: conceituação de mediunidade e analise geral dos seus problemas atuais. Editora Record, 2005.

sábado, 3 de junho de 2023

 



Por: Edvaldo Kulcheski


Sono é um estado em que cessam as atividades físicas motoras e sensoriais. Dormimos um terço de nossas vidas e o sono, além das propriedades restauradoras da organização física, concede-nos possibilidades de enriquecimento espiritual através das experiências vivenciadas enquanto dormimos.

Sonho é a lembrança dos fatos, dos acontecimentos ocorridos durante o sono. Os sonhos, em sua generalidade, não representam, como muitos pensam, uma fantasia das nossas almas.


A ciência e o espiritismo

A ciência oficial, analisando tão somente os aspectos fisiológicos das atividades oníricas (relativo aos sonhos) ainda não conseguiu conceituar com clareza e objetividade o sono e o sonho.

Sem considerar a emancipação da alma; sem conhecer as propriedades e funções do perispírito, fica, realmente, difícil explicar a variedade das manifestações que ocorrem durante o repouso do corpo físico. Freud, o precursor dos estudos mais avançados nesta área, julgava que os instintos, quando reprimidos, tendem a se manifestar e uma destas manifestações seria através dos sonhos.

Allan Kardec, através da codificação espírita, principalmente em O Livro dos Espíritos, cap. VIII - questões 400 a 455, analisou a emancipação da alma e os sonhos em seus aspectos fisiológicos e espirituais.

Allan Kardec tece comentários muito importantes acerca dos sonhos: o sono liberta parcialmente a alma do corpo; o espírito jamais está inativo, têm a lembrança do passado e, às vezes, a previsão do futuro; adquire maior liberdade de ação delimitada pelo grau de exteriorização; podemos entrar em contato com outros espíritos encarnados ou desencarnados; enquanto dormem, algumas pessoas procuram espíritos que lhes são superiores (estudam, trabalham, recebem orientações, pedem conselhos); outras pessoas procuram os espíritos inferiores com os quais irão aos lugares com que se afinizam.


Sonhos comuns

São aqueles que refletem nossas vivências diárias. Envolvimento e dominação de imagens e pensamentos que perturbam nosso mundo psíquico.

O espírito, desligando-se parcialmente do corpo, se vê envolvido pela onda de imagens e pensamentos, de sua própria mente, das que lhe são afins e do mundo exterior, uma vez que vivemos e nos movimentamos num turbilhão de energias e ondas vibrando sem cessar.

Nos sonhos comuns, quase não há exteriorização perispiritual. São muito frequentes dada a nossa condição espiritual. Puramente cerebral, simples repercussão de nossas disposições físicas ou de nossas preocupações morais. É também o reflexo de impressões e imagens arquivadas no cérebro durante a vigília (vivências ocorridas durante o dia, quando acordados).

Nos sonhos comuns, o espírito flutua na atmosfera sem se afastar muito do corpo; mergulha, por assim dizer, no oceano de pensamentos e imagens que povoam a sua memória, trazendo impressões confusas, tem estranhas visões e inexplicáveis sonhos.


Sonhos reflexivos

Há maior exteriorização que nos sonhos comuns.

Por reflexivos, categorizamos os sonhos, em que a alma, abandonando o corpo físico, registra as impressões e imagens arquivadas no subconsciente, inconsciente e superconsciente e plasmadas na organização perispiritual. Tal registro é possível de ser feito em virtude da modificação vibratória, que põe o espírito em relação com fatos e paisagens remotos, desta e de outras existências.

Ocorrências de séculos e milênios gravam-se indelevelmente em nossa memória, estratificando-se em camadas superpostas.

A modificação vibratória, determinada pela liberdade de que passa a gozar o espírito, no sono, o faz entrar em relação com acontecimentos e cenas de eras distantes, vindos à tona em forma de sonho.

Mentores espirituais poderão revivenciar acontecimentos de outras vidas, cujas lembranças nos tragam esclarecimentos, lições ou advertências.

Poderão os espíritos inferiores motivarem estas recordações com a finalidade de nos perseguirem, amedrontar, desanimar ou humilhar, desviando-nos dos objetivos benéficos da existência atual.

Geralmente os sonhos reflexivos são imprecisos, desconexos, frequentemente interrompidos por cenas e paisagens inteiramente estranhas, sem o mais elementar sentido de ordem e sequência.

Ao despertarmos, guardaremos imprecisa recordação de tudo, especialmente da ausência de conexão nos acontecimentos que, em forma de incompreensível sonho, estiverem em nossa vida mental durante o sono.


Sonhos espíritas

Também chamados de viagem astral ou espiritual; há mais ampla exteriorização do perispírito.

Leon Denis chama a estes sonhos de etéreos ou profundos, por suas características de mais acentuada emancipação da alma.

Durante a viagem astral, a alma, desprendida do corpo, exerce atividade real e efetiva, encontrando-se com parentes, amigos, instrutores e também com os inimigos desta e de outras existências. Nas projeções temos que considerar a lei de afinidade.

Nossa condição espiritual, nosso grau evolutivo, irá determinar a qualidade de nossos sonhos, as companhias espirituais que iremos procurar, os ambientes nos quais permaneceremos enquanto o nosso corpo repousa: o religioso buscará um templo; o viciado procurará os antros de perdição; o abnegado do Bem irá ao encontro do sofrimento e da lágrima, para assisti-los fraternalmente; o interessado em aproveitar bem a encarnação irá de encontro a instrutores devotados e ouvirá deles conselhos, esclarecimentos e instruções, que proporcionarão conforto, estímulos e fortalecimento das esperanças.

Infelizmente, porém, a maioria se vale de repouso noturno para sair à caça de emoções frívolas ou menos dignas.

Ao despertarmos, conserva o espírito impressões que raramente afetam o cérebro físico, em virtude de sua impotência vibratória. Fica em nós apenas uma espécie vaga de pressentimento dos acontecimentos, situações e encontros vividos durante o sono.


Recordação do sonho

O sonho é a lembrança do que o espírito viu durante o sono, mas nem sempre nos lembramos daquilo que vimos ou de tudo o que vimos. Isto porque não temos nossa alma em todo o seu desenvolvimento.

Na questão 403, de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec indaga: “Por que não nos lembramos de todos os sonhos? Nisso que chamas sono só tens o repouso do corpo, porque o Espírito está sempre em movimento. No sono ele recobra um pouco de sua liberdade e se comunica com os que lhe são caros seja neste ou noutro mundo. Mas, como o corpo é de matéria pesada e grosseira, dificilmente conserva as impressões recebidas pelo Espírito durante o sono, mesmo porque o Espírito não as percebeu pelos órgãos do corpo.”


Mecanismo da recordação

O registro pelo cérebro físico do que aconteceu durante a emancipação da alma através do sono é possível através da modificação vibratória. As diversas modificações vibratórias dos fluidos é que formam os ambientes dimensionais de atuação do espírito. Quanto maior for a velocidade vibratória, mais sutil é o fluido. Quanto mais lenta é a velocidade vibratória, mais denso é o fluido.

Este raciocínio explica aquela dúvida que sempre ouvimos: Porque raramente lembro de meus sonhos? É por que não sonhei? A resposta para esta dúvida é a seguinte: As pessoas que não lembram dos sonhos é porque os acontecimentos vividos ou lembrados durante o sono não foram registrados no cérebro físico. Ficaram apenas registrado no cérebro do perispírito. Agora, quando recordamos dos detalhes dos sonhos é porque tivemos predisposição cerebral para os registros. O fato de não lembrarmos dos sonhos não significa que não tenhamos sonhado, ou seja, vivemos uma vida no plano espiritual e apenas não recordamos.

Dessa oportunidade se valem nossos amigos do espaço para dar-nos conselhos e sugestões úteis ao desenvolvimento de nossa encarnação.

Procuram afastar-nos do mal, fortalecem-nos moralmente e apontam-nos a maneira certa de respeitarmos as Leis Divinas. Ao despertarmos, embora não lembremos deles, ficam no fundo de nossa consciência, em forma de intuições, como ideias inatas.

Podemos dedicar os momentos de semi-libertos à execução de tarefas espirituais, sob a direção de elevados mentores.

Acontece muitas vezes acordamos com uma deliciosa sensação de bem-estar, de contentamento e de alegria. Isto acontece por termos sabido usar bem de nossa estada no mundo espiritual, executando trabalhos de real valor. Contudo, não raras vezes despertamos tristes e com uma espécie de ressentimento no fundo do nosso coração.

O motivo dessa tristeza sem causa aparente é que, muitas vezes, nos são mostradas as provas e as expiações que nos caberão na vida, as quais teremos de suportar, e conquanto sejamos confortados por nossos benfeitores, não deixamos de nos entristecer e ficamos um tanto apreensivos.

Há espíritos encarnados que, ao penetrarem no mundo espiritual através do sono, entregam-se aos estudos de sua predileção e por isso têm sempre ideias novas no campo de suas atividades terrenas.

Outros valem-se da facilidade de locomoção para realizarem viagens de observação, não só na Terra, mas também nas esferas espirituais que lhe são vizinhas.

Assim como visitamos nossos amigos encarnados, também podemos ir visitar nossos amigos desencarnados e com eles passarmos momentos agradáveis enquanto nosso corpo físico repousa; disso nos resulta grande conforto.

Estado de Entorpecimento: São comuns os encarnados cujos espíritos não se afastam do lado do corpo, enquanto este repousa; ficam junto ao leito, como que adormecidos também.

É comum o sono favorecer o encontro de inimigos para explicações recíprocas. Esses inimigos podem ser da encarnação atual ou encarnações antigas. Os mentores espirituais procuram aproximar os inimigos, a fim de induzi-los ao perdão mútuo. Extinguem-se assim muitos ódios e grande número de inimigos se tornam amigos, o que lhes evitará sofrimentos. É a maior e melhor percepção de que goza o espírito semi-liberto pelo sono, facilita a extinção de ódios e a correção de situações desagradáveis e por dolorosas vezes.


Os sonhos e a evolução

Considerável porcentagem de encarnados, ao entregarem seu corpo físico ao repouso, continuam, sono adentro, com suas preocupações materiais.

Não aproveitam a oportunidade para se dedicarem um pouco à vida eterna do espírito. Estudam os negócios que pretendem realizar, completamente alheios aos verdadeiros interesses de seus espíritos; e nada veem e nada percebem do mundo espiritual no qual ingressam por algumas horas.

Há encarnados que ao se verem semi-libertos do corpo de carne pelo sono, procuram os lugares de vícios, com o fito de darem expansão a suas paixões inferiores, na ânsia de satisfazerem seus vícios e seu sensualismo. Outros se entregam mesmo ao crime, perturbando e influenciando perniciosamente suas vítimas, tornando-se instrumentos de perversidade.

No livro Mecanismos da Mediunidade, psicografado por Chico Xavier, André Luiz nos diz que quanto mais inferiorizado, mais dificuldade terá o homem em se emancipar espiritualmente.

Qual ocorre ao animal de evolução superior, no homem de evolução positivamente inferior o desdobramento da individualidade, por intermédio do sono, é quase que absoluto estágio de mero refazimento físico.

No animal, o sonho é puro reflexo das atividades fisiológicas e no homem primitivo, em que a onda mental está em fase inicial de expansão, o sonho, por muito tempo, será invariavelmente ação reflexa de seu próprio mundo consciencial e afetivo.

Há leis de afinidade que respondem pelas aglutinações sócio-morais-intelectuais, reunindo os seres conforme os padrões e valores. Estaremos, então, durante o repouso noturno, se emancipados espiritualmente, vivenciando cenas e realizando tarefas afins.

Buscamos sempre, durante o sono, companheiros que se afinam conosco e com os ideais que nos são peculiares. Procuraremos a companhia daqueles espíritos que estejam na mesma sintonia, para realizações positivas, visando nosso progresso moral ou em atitudes negativas, viciosas, junto àqueles que, ainda, se comprazem em atos ou reminiscências degradantes, que nos perturbam e desequilibram a alma.

Parcialmente liberto pelo sono, o Espírito segue na direção dos ambientes que lhe são agradáveis durante a lucidez física ou onde gostaria de estar, caso lhe permitissem as possibilidades normais.

Os sonhos espíritas, isto é, naqueles que nos liberamos parcialmente do corpo e gozamos de maior liberdade, são os retratos de nossa vivência diária e de nosso posicionamento espiritual.

Refletem de nossa realidade interior, o que somos e o que pensamos.

O tipo de vida que levarmos durante o dia determinará invariavelmente o tipo dos sonhos que a noite nos ofertará, em resposta às nossas tendências. Dorme-se, portanto, como se vive, sendo-lhe os sonhos o retrato emocional da sua vida moral e espiritual.


Análise dos sonhos

A análise dos sonhos pode nos trazer informações valiosas para nosso autodescobrimento.

Devemos nos precaver contra as interpretações pelas imagens e lembranças esparsas.

Há sempre um forte conteúdo simbólico em nossas percepções psíquicas que, normalmente nos chegam acompanhadas de emoções e sentimentos.

Se, ao despertarmos, nos sentirmos envolvidos por emoções boas, agradáveis, vivenciamos uma experiência positiva durante o sono físico. Ao contrário, se as emoções são negativas, nos vinculamos certamente a situações e espíritos desequilibrados. Daí, a necessidade de adequarmos nossas vidas aos preceitos do bem, vivenciando o amor, o perdão, a abnegação, habituando-nos à prece e à meditação antes de dormir, para nos ligarmos a valores bons e sintonia superior. Assim, teremos um sono reparador e sonhos construtivos.


Prepara-se para bem dormir

Elizeu Rigonatti, no livro Espiritismo Aplicado diz que, para termos um bom sono, que ajude o nosso espírito a desprender-se com facilidade do corpo, é preciso que prestemos atenção no seguinte: o mal e os vícios seguram o espírito preso à Terra.

Quem se entregar ao mal e aos vícios durante o dia, embora o seu corpo durma à noite, seu espírito não terá forças para subir e ficará perambulando por aqui, correndo o risco de ser arrastado por outros espíritos viciosos e perversos.

A excessiva preocupação com os negócios materiais também dificulta o espírito a desprender-se da Terra.

A prática do bem e da virtude nos levarão, através do sono, às colônias espirituais onde fruiremos a companhia de mentores espirituais elevados; receberemos bom ânimo para a luta diária; ouviremos lições enobrecedoras e poderemos nos dedicar a ótimos trabalhos.

Oremos ao deitar, mas compreendamos que é de grande valia a maneira pela qual passamos o dia; cultivemos bons pensamentos, falemos boas palavras e pratiquemos bons atos, evitando a ira, rancor e ódio. E de manhã, ao retornarmos ao nosso veículo físico, elevemos ao Senhor nossa prece de agradecimento pela noite que nos concedeu de repouso ao nosso corpo e de liberdade ao nosso espírito.


Algumas considerações

No estado de vigília (quando estamos acordados) as percepções se fazem com o concurso dos órgãos físicos; os estímulos exteriores são selecionados pelos sentidos e transmitidos ao cérebro pelas vias nervosas. No cérebro físico, são gravados para serem reproduzidos pela memória biológica a cada evocação.

Quando dormimos cessam as atividades físicas (exceto as autônomas), motoras e sensoriais. O espírito liberto age e sua memória perispiritual registra os fatos sem que estes cheguem ao cérebro físico; tudo é percebido diretamente pelo espírito. Por “adaptação vibratória”, as percepções da alma poderão repercutir no cérebro físico; quando lembramos, dizemos que sonhamos, mas na verdade sonhamos todo dia.
*Revista Letra Espírita