Por: Leda Maria Flaborea
O trabalho de renovação das disposições íntimas vai exigir, de todo aquele que se
proponha executá-lo, perseverança e determinação. Perseverança, por causa da
necessidade da repetição contínua e sistemática na correção do desvio feito nos
caminhos da existência, e determinação, para que não se abandone o
comprometimento com essa nova atitude.
As ideias fantasiosas que temos sobre renovação deixam-nos
manietados a outros erros, e iludidos na certeza de que a estamos realizando.
Quase sempre, por desconhecimento, apenas trocamos o nome, o rótulo de antigos
enganos, que insistimos em manter – nos apraz tal situação -, distorcendo o
verdadeiro significado de tal fato. Esse engano parece-nos, está ligado à noção
equivocada de que estamos, realmente, comprometidos com a mudança e que a
estamos realizando. Mas, a verdade é que se observarmos nossa conduta,
poderemos perceber, muitas vezes, que insistimos em cometer os mesmos erros,
fazendo as mesmas escolhas e guardando a certeza de que já havíamos superado
essa fase. Todavia, a consciência dessa repetência permitirá que nos coloquemos
em alerta, porque nos permitirá saber que, ainda, estamos no início da
caminhada e distantes dessa superação.
As situações, nas quais somos chamados a dar testemunho daquilo
que já aprendemos – e quase sempre supomos que já o fizemos – constituem-se em
excelentes vitrines para essas observações. São armadilhas que surgem para que
nos testemos, para que tenhamos um parâmetro da nossa evolução, para que
possamos medir o quanto, ainda, a paciência, a tolerância com as diferenças, o
entendimento fraterno a quem nos agride, a capacidade de perdoar e esquecer e
tantos outros, que imaginávamos já dominar, estão longe do ideal da prática
amorosa que Jesus nos ensinou.
São decepções que infligimos a nós mesmos e que sacodem a nossa
acomodação, no pouco que fizemos, mas que supomos ser muito. É importante
lembrar aqui que qualquer avanço na senda do progresso é louvável e, às vezes,
requer muito esforço de quem o executa. O que não pode ocorrer é a estagnação
desse movimento renovador, com a justificativa de que muito já foi feito. Isso
nos desequilibra e nos adoece física e emocionalmente, permitindo que, inúmeras
vezes, sejamos alvos fáceis de aproximação de outras mentes em desalinho, sejam
elas encarnadas ou desencarnadas.
Por essa razão, a superação de
sentimentos inferiores, sob o ponto de vista de Jesus, como os de revide,
vingança, vaidade, personalismo, por exemplo – expressões do egoísmo na vida de
relação –, é de vital importância para a recuperação e manutenção do equilíbrio
e da harmonia no âmbito da vida íntima. É essa condição que nos permitirá não
sermos feridos pelas correntes aflitivas e conflitantes que nos cercam,
proporcionando um outro olhar sobre essas armadilhas, um olhar com
objetividade, dando a cada situação o justo peso de importância.
Para que isso ocorra, faz-se mister buscar conhecer nossos
sentimentos – raiz de nossas escolhas -, dimensioná-los, estabelecendo
prioridades para serem trabalhados, com foco nas suas transformações, partindo
do mais simples e, portanto, do mais fácil – aquele mais imediato, mais
próximo, que está mais claro para nós – para o mais complexo e mais difícil.
O mais importante nesse processo, em última análise, é ter a
coragem de identificar esses sentimentos malsãos, iniciar a tarefa de renovação
e, depois, permanecer nesse caminho. Passeando entre a luz e a sombra, a razão
e a emoção, nunca acertaremos a rota se não nos comprometermos com a mudança e
perseverar nela, mesmo que se tenha de refazer os passos mil vezes.
Muitos de nós creem que somente a fé em Deus seja suficiente para
que essas mudanças ocorram. Entretanto, a proposta de renovação, que Jesus nos
convida a realizar, transcende a simples fé divina. Ela vai além e toca na
essência do Espírito, na vontade genuína de realizá-la. Daí, a presença dessas
duas forças transformadoras em nós: a fé humana e a fé divina, porque, ainda
que se aceite a soberana presença de Deus em nossa vida; ainda que a fé nos
leve a adorá-lo em Espírito e Verdade; ainda
que a Natureza O revele através das belezas que nos cercam, senão O sentirmos e
mostrarmos ao mundo, através de nossas atitudes, nada terá sentido. Aceitar a
Sua presença e não vê-lo no próximo é cegueira mental;
adorá-lo em Espírito e Verdade e só
colocá-lo em altares terrenos é
diminuir-Lhe a majestade; e vê-lo revelado em Suas obras e não entendê-lo é olhar-se no espelho e não
reconhecê-lo em si mesmo.
É na busca dessa identidade com o Criador que reside nossa luta
renovadora. “O Pai e eu somos um só”, disse Jesus, mostrando que
somente pela superação de nós mesmos e da materialidade na qual insistimos em
permanecer, seremos livres e nos reconheceremos, finalmente, como filhos de
Deus.