A Codificação Espírita
Por: Sílvio Cardoso Mesquita
Quando o assunto é a Codificação Espírita,
impossível não lembrar daquele sujeito de olhar introspecto, semblante firme,
testa levemente franzida, postura física ereta e marcante ao qual estamos
acostumados a ver em estampas por trás de frases de sua autoria, que nos fazem
pensar e ter novas perspectivas em relação a vida, seja ela material, onde
estamos aqui e agora vivendo, ou espiritual, destino inquestionável a quem se
propõe a tarefa, nada fácil (diga-se de passagem) de estudar e absorver tudo
quanto possível da obra deste estimado homem chamado Hippolyte Léon Denizard
Rivail, que dedicou sua vida dos 53 aos 64 anos (idade com a qual desencarnou)
ao trabalho árduo de transformar em livros os ensinamentos passados por
espíritos, que fundamentariam a Doutrina Espírita.
A história da codificação pode ser contada, a
partir, especialmente das décadas de 1840 e 1850, onde se tornaram populares os
fenômenos das mesas girantes, entre alguns lugares, mas especialmente na
França, em Paris, cidade de Rivail. Este grande professor, discípulo do
conhecido e grande educador suíço Johann Heinrich Pestalozzi desde sua
juventude, além de ser, segundo o biógrafo Marcel Souto Maior (2013, p. 16), “católico
e seguidor de Descartes, filósofo que exaltava a ciência refutando o que ficava
a margem da mesma”.
Tais circunstâncias, é claro, não seriam obra
do acaso, pois foi dentro deste contexto que na sala da casa da senhora
Plainemaison, após muito ouvir falar sobre o assunto que se tornara famoso, que
Rivail presenciou o tão falado fenômeno das mesas que giravam, deste momento em
diante o cético professor e escritor (de várias obras já publicadas,
especialmente sobre pedagogia) adentrou a realidade até então desconsiderada
sobre os espíritos.
As mesas “inteligentes” que atendiam a
comandos das pessoas presentes, serviram claramente para chamar atenção do
público e aproximar aquele que, após contato com os que posteriormente seriam
chamados de “médiuns”, e conhecer o espírito guia que se apresentou como o
Espírito de Verdade, tomaria conhecimento de sua missão de transcrever as obras
que iriam compor a codificação espírita. Rivail passou a usar o pseudônimo
Allan Kardec para a autoria das obras espíritas, nome este que foi próprio de
uma encarnação anterior como um druida (sacerdote, encarregado de questões
educacionais e jurídicas além de influência jurídica na sociedade celta).
A codificação kardequiana ficou composta por
cinco obras básicas, também referidas como o “pentateuco espírita”, as quatro
últimas originárias a partir da primeira, O Livro dos Espíritos, que é seguido
cronologicamente por: O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O
Céu e o Inferno e A Gênese.
O Livro dos Espíritos, primeira das cinco
obras, é composto de perguntas e respostas, estilo literário usado na Grécia
antiga, popularmente por Platão, onde se estabelecem diálogos. Nele estão
descritos os princípios da Doutrina Espírita, informações sobre a imortalidade
da alma, bem como a relação existente entre encarnados e desencarnados,
curiosidades inerentes ao ser humano em respeito à vida, e muito mais, que pode
vir a ser de importante a nossa existência, como vida futura ou mesmo
contemporânea dentro, é claro, de parâmetros de relevância e importância
estabelecidos por espíritos superiores e minuciosamente organizados por Kardec.
O Livro dos Espíritos conta com 1019 questões na sua última edição escrita por
Kardec.
O segundo, O livro dos Médiuns, foi escrito
com objetivo de esclarecimento de espíritas ou pessoas simpáticas a doutrina,
sobre os fenômenos mediúnicos, deixando claro o caráter investigativo e
científico dos Espiritismo, norteando interessados quanto aos eventos que podem
ocorrer relacionados a médiuns, espíritos e o universo que os envolve, tal como
exemplo, efeitos físicos.
O terceiro livro, não mais, nem menos
importante, mas possuinte de características especiais e particulares por se
tratar de caráter não somente religioso, mas de destaque moral, pautando
questões éticas e comportamentais com base no evangelho de Jesus, deixando
clara a importância da caridade como meio de evolução para alcanço da
felicidade pura e verdadeira, exemplo disto foi escrito nesta obra por Kardec
(2009, p. 64): “A felicidade não é deste mundo”.
O Céu e o Inferno a quarta obra, possui duas
partes, sendo a primeira uma análise crítica de Kardec, pondo em confronto
pontos do Catolicismo com o Espiritismo no que diz respeito as contradições e
incoerências científicas da primeiramente citada, mencionando o objetivo de
seguimento de uma fé raciocinada por parte dos espíritos, baseando-se é claro
no modelo científico. Na segunda parte do livro dos Espíritos encontram-se
diálogos do codificador com espíritos, por meio de médiuns, onde os
desencarnados relatam sobre o além tumulo, desencarne e possibilidades deste
evento que variam conforme condições de cada indivíduo.
O quinto e último dos cinco livros, A Gênese,
aborda a visão da Doutrina Espírita a respeito dos milagres e das predições,
onde o ponto de partida para observação se baseia nas novas perspectivas
obtidas por meio dos conhecimentos trazidos e interpretados por Kardec e o
movimento espírita, fundamentado em seu foco científico, filosófico e
religioso.
Allan Kardec também escreveu outras obras
espíritas: O que é o Espiritismo, Introdução Prática Sobre as Manifestações
Espíritas, O Espiritismo em Sua Expressão Mais Simples, Viajem Espírita,
Catálogo Racional de Obras para se Fundar uma Biblioteca Espírita, Obras
Póstumas, O Principiante Espírita, A Obsessão, e o periódico A Revista
Espírita. Importante ressaltar que essas obras possuem caráter secundário, por
se basearem nas obras da codificação.
Como podemos perceber, a codificação do
Espiritismo funciona como um mapa para nós que somos viajantes ou visitantes
deste plano “submerso” no espaço tempo, e podemos usar este mapa nos guiarmos e
ao final da jornada termos méritos, condições para entrar pela porta estreita
(referida no evangelho de Mateus 7:13), que nos leva ao caminho da verdadeira
felicidade.
Contudo, para isso é preciso estarmos atentos,
pois do mesmo modo que existem espíritas que seguem os princípios da
codificação, baseados no compromisso com a verdade estabelecido por Kardec,
podem aparecer o que a dois mil anos seriam chamados os falsos profetas, sem
comprometimento com a causa do Cristo, de espalhar a caridade de forma humilde
e sincera sem esperar algo em troca. No livro Mediunidade, Herculano Pires
(p.25), faz uma observação dizendo que, “A obra de Kardec é a bussola em que
podemos confiar. Ela é a pedra de toque que podemos usar para aferir a
legitimidade ou não das pedras aparentemente preciosas que os garimpeiros de
novidades nos querem vender”.
Referências:
MAIOR, Marcel Souto. Kardec: a biografia. Rio
de Janeiro: Editora Record, 2013.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o
Espiritismo. 365a Edição, São Paulo: Ide Editora, 2009.
PIRES, Herculano. Mediunidade: conceituação de
mediunidade e analise geral dos seus problemas atuais. Editora Record, 2005.