terça-feira, 26 de março de 2024

 




Por: Leda Maria Flaborea 

 

    O trabalho de renovação das disposições íntimas vai exigir, de todo aquele que se proponha executá-lo, perseverança e determinação. Perseverança, por causa da necessidade da repetição contínua e sistemática na correção do desvio feito nos caminhos da existência, e determinação, para que não se abandone o comprometimento com essa nova atitude. 

As ideias fantasiosas que temos sobre renovação deixam-nos manietados a outros erros, e iludidos na certeza de que a estamos realizando. Quase sempre, por desconhecimento, apenas trocamos o nome, o rótulo de antigos enganos, que insistimos em manter – nos apraz tal situação -, distorcendo o verdadeiro significado de tal fato. Esse engano parece-nos, está ligado à noção equivocada de que estamos, realmente, comprometidos com a mudança e que a estamos realizando. Mas, a verdade é que se observarmos nossa conduta, poderemos perceber, muitas vezes, que insistimos em cometer os mesmos erros, fazendo as mesmas escolhas e guardando a certeza de que já havíamos superado essa fase. Todavia, a consciência dessa repetência permitirá que nos coloquemos em alerta, porque nos permitirá saber que, ainda, estamos no início da caminhada e distantes dessa superação.

As situações, nas quais somos chamados a dar testemunho daquilo que já aprendemos – e quase sempre supomos que já o fizemos – constituem-se em excelentes vitrines para essas observações. São armadilhas que surgem para que nos testemos, para que tenhamos um parâmetro da nossa evolução, para que possamos medir o quanto, ainda, a paciência, a tolerância com as diferenças, o entendimento fraterno a quem nos agride, a capacidade de perdoar e esquecer e tantos outros, que imaginávamos já dominar, estão longe do ideal da prática amorosa que Jesus nos ensinou.

São decepções que infligimos a nós mesmos e que sacodem a nossa acomodação, no pouco que fizemos, mas que supomos ser muito. É importante lembrar aqui que qualquer avanço na senda do progresso é louvável e, às vezes, requer muito esforço de quem o executa. O que não pode ocorrer é a estagnação desse movimento renovador, com a justificativa de que muito já foi feito. Isso nos desequilibra e nos adoece física e emocionalmente, permitindo que, inúmeras vezes, sejamos alvos fáceis de aproximação de outras mentes em desalinho, sejam elas encarnadas ou desencarnadas.

Por essa razão, a superação de sentimentos inferiores, sob o ponto de vista de Jesus, como os de revide, vingança, vaidade, personalismo, por exemplo – expressões do egoísmo na vida de relação –, é de vital importância para a recuperação e manutenção do equilíbrio e da harmonia no âmbito da vida íntima. É essa condição que nos permitirá não sermos feridos pelas correntes aflitivas e conflitantes que nos cercam, proporcionando um outro olhar sobre essas armadilhas, um olhar com objetividade, dando a cada situação o justo peso de importância. 

Para que isso ocorra, faz-se mister buscar conhecer nossos sentimentos – raiz de nossas escolhas -, dimensioná-los, estabelecendo prioridades para serem trabalhados, com foco nas suas transformações, partindo do mais simples e, portanto, do mais fácil – aquele mais imediato, mais próximo, que está mais claro para nós – para o mais complexo e mais difícil.

O mais importante nesse processo, em última análise, é ter a coragem de identificar esses sentimentos malsãos, iniciar a tarefa de renovação e, depois, permanecer nesse caminho. Passeando entre a luz e a sombra, a razão e a emoção, nunca acertaremos a rota se não nos comprometermos com a mudança e perseverar nela, mesmo que se tenha de refazer os passos mil vezes.

Muitos de nós creem que somente a fé em Deus seja suficiente para que essas mudanças ocorram. Entretanto, a proposta de renovação, que Jesus nos convida a realizar, transcende a simples fé divina. Ela vai além e toca na essência do Espírito, na vontade genuína de realizá-la. Daí, a presença dessas duas forças transformadoras em nós: a fé humana e a fé divina, porque, ainda que se aceite a soberana presença de Deus em nossa vida; ainda que a fé nos leve a adorá-lo em Espírito e Verdade; ainda que a Natureza O revele através das belezas que nos cercam, senão O sentirmos e mostrarmos ao mundo, através de nossas atitudes, nada terá sentido. Aceitar a Sua presença e não vê-lo no próximo é cegueira mental; adorá-lo em Espírito e Verdade e só colocá-lo em altares terrenos é diminuir-Lhe a majestade; e vê-lo revelado em Suas obras e não entendê-lo é olhar-se no espelho e não reconhecê-lo em si mesmo.

É na busca dessa identidade com o Criador que reside nossa luta renovadora. “O Pai e eu somos um só”, disse Jesus, mostrando que somente pela superação de nós mesmos e da materialidade na qual insistimos em permanecer, seremos livres e nos reconheceremos, finalmente, como filhos de Deus.


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

                                                             

                                    

                                                                                                        Por: Janaína Magalhães

459 - Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?

Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto que, de ordinário, são eles que vos dirigem

(KARDEC, 2022, p. 195)

Podemos depreender da resposta acima que a influenciação espiritual em nossas vidas é muito grande e que estamos em constante intercâmbio por meio do pensamento com o Mundo Espiritual. Através da mente, o Espírito encarnado familiariza-se com ideias que lhe são afins, positivas ou negativas conforme o estágio vibratório em que esteja situado.

Se estes indivíduos são portadores de aspirações nobilitantes, onde se fixem, haurem maior impulso para o crescimento. Permanecendo na construção do bem, dificilmente assimilam as induções perversas ou criminosas procedentes dos estagiários das regiões inferiores. (FRANCO, 2019, P. 18)

Se interessados, porém, nas colocações da vulgaridade ou do prazer, da impiedade ou da preguiça, do vício ou da desordem, recebem maior influxo de ondas mentais equivalentes, resvalando para o despenhadeiro da emoção aturdida, do desequilíbrio... (FRANCO, 2019, P. 18)

A obsessão simples atinge a maioria dos encarnados tendo em vista ser um natural intercurso psíquico existente em todas as partes do Universo.

 De acordo com “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Cap. XXVIII, item 81, “a obsessão é a ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diversos, desde a simples influência moral sem perceptíveis sinais exteriores até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais”.

 Durante o sono físico, cada ser fixa-se nas ideias mentais que lhe são próprias vibrando na sintonia da ambição desmedida, dos prazeres desenfreados, dos medos indiscriminados, nas culpas paralisantes, encontrando-se com seres que se caracterizam pelas mesmas aspirações e condições fazendo com que essas cargas emocionais se intensifiquem. Ao despertarem para o novo dia, muitas vezes o fazem trazendo a mente atribulada pelos resquícios da noite mal dormida e dos encontros menos felizes prejudicando a execução das tarefas e o enfrentamento das atividades diárias.

 Surgem como efeito natural, as síndromes da inquietação: as desconfianças, os estados de insegurança pessoal, as enfermidades de pequena monta, os insucessos em torno do obsidiado que soma as angústias, dando campo a incertezas, a mais ampla perturbação interior. (FRANCO, 2019, P. 19)

 A partir daí, o obsidiado se alimenta da psicosfera deletéria que vige em sua volta por não querer se esforçar em sair dela por meio de diversos recursos disponíveis como: ouvir as sugestões dos amigos espirituais que nunca nos abandonam, ler páginas edificantes, auxiliar o próximo, elevar a sintonia por meio da prece, dentre outros.

909 – Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações??

- Sim, e, frequentemente, fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a vontade. Ah! Quão poucos dentre vós fazem esforços! (KARDEC, 2022, p. 325).

Conforme a constituição temperamental, faz-se apático, tende à depressão, adentrando-se pela melancolia, em razão da mensagem telepática problemática e dos clichês mentais pessimistas que ressumam do arquivo da inconsciência. No sentido oposto, se é dotado de constituição nervosa excitada, torna-se agressivo, violento, em desarmonia de atitudes expondo a aparelhagem psíquica e os nervos a altas cargas de energias que danificam os sensores e condutores nervosos, com singulares prejuízos para a organização fisiopsíquica. (FRANCO, 2019, P. 20)

 Assim sendo, percebe-se pelo desequilíbrio no comportamento da criatura que ora tende à depressão ora à excitação, a instalação da doença causada pela obsessão.

 Não apenas por processos de desforço pessoal, em que os desafetos se buscam para produzirem-se males e cobranças injustificáveis, como por fatores de variada motivação, assimilam-se ideias e pensamentos pela simples sintonia de onda própria em que se situam as mentes. (FRANCO, 2019, P. 16,17)

 Ou seja, captamos as sugestões vindas da esfera espiritual com as quais sintonizamos. Por falta de vigilância ou vontade, nos atemos às vibrações negativas que nos chegam aceitando ou atraindo a sugestão perturbadora que vitaliza as tendências que já possuímos e relutamos em combater.

 Por estarmos há milênios jungidos ao mal e aos hábitos perniciosos, as ideias negativas são mais fáceis de serem assimiladas e aceitas encontrando ressonância com o pensamento do paciente que não reluta e torna-se presa do monoideísmo que pode produzir quadros de fascinação e subjugação torturantes e de difícil reversibilidade.

 

Obsessão por Fascinação

Com o processo de obsessão instalado, o obsidiado começa não apenas a compartilhar suas ideias com o obsessor, como também suas atitudes e formas de ser. Neste momento a pessoa perde a noção do ridículo e passa a agir guiada pelas inspirações vindas do obsessor incorporando-as como diretrizes que se apresentam ilógicas aos outros mas que para ele estão em perfeita coerência e dentro da normalidade.

 Por conhecerem o caráter e as imperfeições morais do ser que perturbam, os Espíritos querem insuflá-lo em seu orgulho para que se distancie das pessoas ou recursos que possam de alguma forma ajudá-lo, fazendo-lhe crer que são seres em missões especiais e tornando joguetes de fácil manipulação desses Espíritos.

 Lembremos aqui que em toda obsessão ou sofrimento é levado em conta o merecimento da criatura e a disposição de que esta se reveste na tentativa de se livrar de tal mal. Por mais injusto que possa parecer, no sofrimento do indivíduo, existe sempre a lei de ação e reação no cerne de todo o problema, juntamente com resquícios de orgulho, egoísmo e personalismo exacerbado que são brechas para a aproximação do antagonista espiritual.

 

Obsessão por Subjugação

 No painel das obsessões, à medida que se agrava o quadro da interferência, a vontade do hospedeiro perde os contatos de comando pessoal, na razão direta em que o invasor assume a governança. Assim, a subjugação pode ser física, psíquica e simultaneamente fisiopsíquica. (FRANCO, 2019, P. 23)

No primeiro caso, não há perda da lucidez intelectual e dá-se diretamente sobre os centros motores podendo causar enfermidades orgânicas, advindas da contaminação por vírus e bactérias, ou mesmo sob a vigorosa ação fluídica dilacerarem-se os tecidos fisiológicos ou perturbar-se o metabolismo geral, causando enormes prejuízos físicos...

 No segundo caso, o paciente chega a perder totalmente a lucidez pelo estado de passividade e dominação mental em que se encontra perdendo temporária ou definitivamente a área da consciência durante sua atual encarnação.

 O espírito encarnado movimenta-se num labirinto que o atemoriza, algemado a um adversário que lhe é impenitente, maltratando-o, aterrando-o com ameaças cruéis, em parasitose firme na desconcertada casa mental.

 Por fim, assenhoreia-se, simultaneamente dos centros do comando motor e domina fisicamente a vítima, que lhe fica inerte, subjugada, cometendo atrocidades sem nome.

Não podemos deixar de afirmar que juntamente com o paciente estão incursas na Lei as pessoas que constituem seu grupo familiar e social, aí situados por necessidade evolutiva e de resgate para todos. Reunidos ou religados pelo parentesco sanguíneo ou através das conjunturas da afetividade, da afinidade, formam os grupos em que são alcançados pelos processos reeducativos, no tentame do progresso. (FRANCO, 2019, P. 24)

 Necessário considerar que não nos referimos aqui, àqueles seres que são portadores de patogenias mais imperiosas em razão de enfermidades graves, da hereditariedade, de distúrbios glandulares e orgânicos, de traumas cranianos e de sequelas de inúmeras doenças outras...

 Queremos deter-nos nas psicogêneses espirituais, sejam as de natureza emocional, pelas aptidões e impulsos que procedem das reencarnações transatas, de que os enfermos não se liberam; sejam pelo impositivo das obsessões infelizes, produzidas por encarnados ou por Espíritos que já se despiram da indumentária carnal, permanecendo, no entanto, nos propósitos inferiores a que se aferram...

 Dando gênese a enfermidades várias, inicialmente imaginárias, que recebe por via telepática, pode transformar-se em males orgânicos de consequências insuspeitadas, ao talante do agente perseguidor que induz a vítima que o hospeda a situações lamentáveis. (FRANCO, 2019, P. 8)

 

Recursos terapêuticos como tratamento à obsessão

· Tratar o Espírito desencarnado como um enfermo que necessita de ajuda e não como um inimigo ferrenho, auxiliando-o na sua renovação íntima mesmo não concordando com suas atitudes e buscando à luz do Evangelho demovê-lo da ação no mal. (FRANCO, 2019, P. 25)

· Paralelamente, estimular junto ao ser encarnado que sofre a injunção obsessora o hábito da oração e da leitura edificante, ao mesmo tempo em que trabalha seu caráter tornando-o maleável ao bem e refratário ao vício.

· Aplicação dos recursos fluídicos, seja através do passe ou da água magnetizada, da ação intercessória com que se vitalizam os núcleos geradores de forças, estimulantes da saúde com o poder de desconectarem a ligação entre obsessor e obsidiado e fazer com que possam se reabilitar perante a Consciência Cósmica pela aplicação de valores e serviços dignificadores. (FRANCO, 2019, P. 26)

Referências:

1- FRANCO, Divaldo. Nas fronteiras da loucura. Ditado pelo espírito Manoel Philomeno de Miranda. 16 ed. Salvador: LEAL, 2019)

2- KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 14. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002.

3 - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, tradução de Guillon Ribeiro. Campos dos Goytacazes: Letra Espírita, 2022.

 

 

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

 


Marisa Fonte

 

No item 8 do capítulo 14 (Honrai teu pai e tua mãe) de O Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos o seguinte ensinamento, “Há, portanto, dois tipos de famílias: as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos laços corporais. As primeiras, duráveis, fortalecem-se pela depuração, e se perpetuam no mundo dos espíritos, através das diversas migrações da alma. As segundas, frágeis como a matéria, extinguem-se com o tempo e, muitas vezes, dissolvem-se moralmente já na vida atual” (KARDEC, 2019, p. 153). Isso demonstra que os laços de sangue não criam, obrigatoriamente, vínculos entre os seres. No entanto, são oportunidades para que durante determinada encarnação estejamos junto dessas pessoas.

Sobre o tema Família encontramos o seguinte na questão 205 de O livro dos Espíritos, “Fundando-se o parentesco em afeições anteriores, menos precários são os laços existentes entre os membros de uma mesma família. Essa doutrina amplia os deveres da fraternidade, porquanto, no vosso vizinho, ou no vosso servo, pode achar-se um Espírito a quem tenhais estado presos pelos laços da consanguinidade” (KARDEC, 2022, p. 113).

Ainda em O Evangelho segundo o Espiritismo, vemos que, “os espíritos formam no espaço grupos ou famílias unidos pelo afeto, simpatia e semelhança. Esses Espíritos, felizes de estarem juntos, procuram-se. A encarnação só os separa momentaneamente, porque, após sua reentrada na erraticidade, reencontram-se, como amigos no retorno de uma viagem. Muitas vezes até se acompanham na encarnação, na qual são reunidos em uma mesma família, ou em um mesmo círculo, trabalhando juntos para o mútuo progresso” (KARDEC, 2019, p. 55).

Sabemos que a família representa a grande oportunidade para que possamos desenvolver diversas virtudes e aprimorar outras tantas. Por outro lado, é dentro do ambiente familiar que geralmente mostramos as nossas garras, a nossa pouca educação e grosseria. André Luiz, no capítulo 8 do livro Sinal Verde, diz que, “A paisagem social da Terra se transformaria imediatamente para melhor se todos nós, na condição de Espíritos encarnados, nos tratássemos, dentro de casa, pelo menos com a cortesia que dispensamos aos nossos amigos.

Sem nos darmos conta do que estamos fazendo, perdemos, muitas vezes, a chance de aprendermos a ser mais pacientes, sentir empatia e compaixão pelos que estão mais próximos de nós. E, por outro lado, aqueles que são a causa da insatisfação que se sente no lar, não colaboram para que haja alguma mudança nesse sentido. Ainda no livro Sinal Verde, capítulo 7, André Luiz adverte, “Não exija dos familiares diferentes de você um comportamento igual ao seu, porquanto cada um de nós se caracteriza pelas vantagens ou prejuízos que acumulamos na própria alma”.

As festas de fim de ano

Com base nas relações familiares citadas acima, pensemos no que representam as festas de fim de ano para algumas pessoas. Muitas vezes ouvimos estas dizerem que não gostam das festas de fim de ano por terem de encontrar desafetos nestas ocasiões. Outras, ainda, sentem aversão às reuniões familiares por já poderem prever o que acontecerá no decorrer das mesmas. Segundo tais relatos, sempre alguém falará mal de alguém e outro discutirá com um dos presentes – quase sempre por um motivo irrelevante. Um último motivo para que muitos desgostem dessas ocasiões é o fato de que muitos comparecem às reuniões e bebem além da conta; aí passam mal, e criam confusão e situações constrangedoras.

Levando tudo isso em conta, é fácil entender a razão pela qual, muitas reuniões de fim de ano tornaram-se um verdadeiro pesadelo para um número de pessoas que não encontra sentido nesses encontros, nos quais o que menos importa é a confraternização e o motivo da comemoração.

A falta de entendimento, ou até da lembrança do significado dessas datas, aliada ao descaso e à falta de reflexão à qual o momento convida, pode ser a causa do que se vê comumente entre os seres, quando o assunto são as comemorações de final de ano.

Uma das primeiras providências que se tomam é o sorteio do amigo secreto, e a organização da confraternização, que certamente contará com alimentos – e geralmente, – muitas bebidas alcoólicas, como se nada pudesse acontecer de bom ou pudesse haver alegria sem a presença do álcool. Bem, mas esse é outro tema que fica para uma próxima conversa, talvez.

Infelizmente, a organização das comemorações pára por aí, e não é comum que alguém se lembre de sugerir um momento de reflexão, ou uma interrupção das celebrações, a fim de fazer uma prece, por exemplo. A não ser pela eventual doação de cestas de alimentos, brinquedos ou de material escolar, o evento se torna uma grande orgia consumista, que incentivada pelo comércio, ao seu término deixa vários indivíduos endividados e não mais felizes.

Naturalmente, os presentes fazem parte das comemorações, e é justo que o comércio aproveite as datas festivas para lucrar. No entanto, aqui a ideia é mencionar os exageros, pois por vezes a pessoa nem mesmo tem condições financeiras de arcar com o custo de tantos presentes que acaba comprando. Para não se sentir inferiorizada por presentear algo simples, a criatura se obriga a arcar com custos muitas vezes fora da sua realidade econômica, gerando assim um problema para ser resolvido nos meses seguintes.     

Todas essas considerações têm por objetivo demonstrar o quanto nos afastamos da essência verdadeira, e do propósito das festas de fim de ano, que convidam à meditação e à reflexão, uma vez que tal época deveria ser lembrada pelo nascimento de Jesus, que veio à Terra para deixar seus preciosos ensinamentos, e posterior encerramento de um ciclo na vida de todos, quando acontece a passagem de ano.

Podemos sempre, na medida que nos seja permitido pelas pessoas interessadas, sugerir que elas também meditem sobre assuntos relacionados a algo além de consumir exageradamente, mas, lembremo-nos sempre de respeitar o livre arbítrio alheio, pois não nos é lícito interferir nas decisões do nosso irmão de caminhada.

Conheci certa vez uma senhora, que contou que na sua infância ela e a família comemoravam o Natal de maneira bastante especial. Ela, na sua ingenuidade, pedia para que a mãe fizesse brigadeiros e um bolo para comemorar o aniversário de Jesus, ao que a mãe atendia prontamente.

Assim, à meia noite do dia 24 de dezembro, a família reunida em torno da mesa orava e depois, encorajados pela menina, todos cantavam parabéns a você para o aniversariante. Essa era a maneira como a menina entendia a data, e era dessa forma que ela homenageava o Mestre.    

Voltando ao nosso tema, naturalmente não podemos – nem devemos pretender – modificar o comportamento das pessoas que nos cercam, mas neste ano podemos fazer diferente, e agir de outro modo, sem que tenhamos de nos privar da alegria das festas e das reuniões. Nós podemos agir com mais cautela na hora de comprar, gastando o que está realmente dentro do nosso orçamento, alimentarmo-nos sem exageros, e, acima de tudo, aproveitarmos a ocasião para fazer um balanço sobre o ano que está se despedindo.

Preparação para o final do ano

Comece a se preparar para o fim do ano. Faça desse um momento de reflexão, no qual você consiga de fato conectar-se a si mesmo/a, e faça bilhar a sua própria luz a fim de iluminar aqueles que estão ao seu lado.  

Busquemos a alegria junto ao Divino Mestre, e embriaguemo-nos de Suas boas palavras e da Sua luz. Que cada um de nós viva de fato o amor ensinado por Jesus, mas sem prestar tanta atenção às possíveis más ações praticadas por outros, uma vez que cada qual possui seu livre arbítrio e responde pelos próprios atos. Façamos a nossa parte, cuidando de nós mesmos com sincero empenho. Quem sabe, tal atitude possa inspirar outros a fazê-lo também.  

Costumamos fazer listas, às vezes enormes, e quase sempre pouco realistas, a respeito do ano que vai chegar. O grande número do que não foi realizado causa frustração, e de certa forma faz com que deixemos de confiar em nós mesmos, como se não fôssemos capazes de cumprir com aquilo que de certo modo combinamos com nós mesmos.

A sugestão é que se escreva em uma folha o que gostaríamos de ter feito, mas deixamos de fazer, e analisar o motivo, ou motivos, pelos quais não realizamos tais planos, planejando as nossas ações para o ano que terá início em breve. Porém, é melhor encurtar a lista e ter os pés na realidade ao fazer tais planos.

Lembremo-nos, também, de fazer um balanço em relação à nossa conduta no que diz respeito a nós mesmos e àqueles que nos cercam. Meditemos sobre as nossas aquisições no campo das relações humanas, sobre a renovação moral que fomos capazes de realizar, sobre o bem que fizemos quando tivemos oportunidade, sobre as vezes em que nos encolerizamos sem motivo, ou, ainda, sobre as ocasiões em que julgamos o nosso próximo sem compaixão, ou sem buscar entender o que levou tal pessoa a agir da maneira como o fez.

Enfim, que nesse fim de ano possamos refletir sobre as nossas próprias ações, e em como podemos agir daqui em diante, para que ao fazermos esse balanço no final do próximo ano vejamos a balança pender muito mais para o lado positivo do que para o negativo – ou concluirmos que nada fizemos durante todo o ano por não termos agido conforme o necessário para realizar alguma coisa.

Enfim, façamos todo o bem que pudermos, sem economizar generosidade, esbanjando boas ações pelo caminho, a fim de realizarmos todo o bem possível e nos reconciliarmos com desafetos enquanto ainda caminhamos lado a lado, como recomendado por Jesus. Que as festas de fim de ano possam ter um novo significado para você e aqueles que lhe são caros.

 

Referências:

1- KARDEC, Allan, O Evangelho Segundo o Espiritismo. 44ª reimp. 2019 – Capivari/SP: Editora EME.

2- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1ª ed. 2022. Campos dos Goytacazes: Editora Letra Espírita.

3- LUIZ, André. Sinal verde, psicografado por Francisco Cândido Xavier. 49ª edição. Uberaba, MG. CEC Editora, 1910.  

 

 

sábado, 4 de novembro de 2023

 

 

                                        RIQUEZA OU POBREZA




Por: Simara Cabral

“E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.” (Mateus, 19:24)

Todos os dias vemos muitas pessoas jogando na loteria, outras trabalhando exaustivamente até o limite de suas forças, outras cometem atos ilícitos, todos em busca da riqueza e abundância dos bens terrenos, como se um grande patrimônio pudesse trazer a solução de todos os problemas. Mas será que uma grande soma em dinheiro realmente resolve os infortúnios ou será a riqueza uma tentação capaz de trazer maiores transtornos do que os que a pessoa tinha antes?

A desigualdade social existe em todos os lugares do mundo mas em alguns países ela é mais acentuada. De acordo com o IBGE, em 2018 o rendimento mensal dos 1% mais ricos do Brasil era quase 34 vezes maior do que o rendimento da metade mais pobre da população. Durante a pandemia, essa desigualdade aumentou. De um lado vemos pessoas ostentando todo tipo de luxo: viagens, carros importados, mansões, roupas de grife enquanto a maior parte da população luta diariamente para ter acesso aos direitos básicos: alimentação, educação, saúde, direito à moradia, ao trabalho dentre outros.

O psicólogo norte americano Abraham H. Maslow criou um conceito chamado “A Pirâmide de Maslow” que determina as condições para que cada pessoa alcance sua satisfação pessoal, ou seja, se sinta feliz e realizada. Na base da pirâmide estão as necessidades básicas para a felicidade e elas vão se modificando até atingir o topo da pirâmide que seria a realização pessoal completa conforme a imagem abaixo.

Fonte: https://www.significados.com.br/piramide-de-maslow/

Conforme pode-se observar, para ter acesso à base da pirâmide é necessário que se tenha uma condição financeira que propicie acesso à alimentação, água e moradia, o que deveria ser um direito básico do ser humano. Em seguida, segurança do corpo, do emprego e de recursos, o que também depende do dinheiro. A partir daí as necessidades não são mais relacionadas aos bens materiais, e sim às boas relações sociais, amizades, desenvolvimento da auto estima, aceitação perante as dificuldades da vida entre outras. Portanto, de acordo com a psicologia o dinheiro pode trazer a segurança necessária para se obter um certo grau de satisfação, no entanto a felicidade plena não é atingida através de uma grande fortuna, luxo ou satisfação das vaidades.

De acordo com a Doutrina Espírita, a prova da riqueza e a da pobreza são difíceis porém necessárias ao aprimoramento moral, pois enquanto na pobreza o ser humano precisa desenvolver a resignação, a paciência e a humildade, na riqueza ele precisa praticar a caridade, evitar abusos e tentações que aparecem das mais variadas formas. É preciso lembrar que as duas provas são situações temporárias que podem ser alternadas na mesma ou na próxima encarnação.

No livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Lacoirdaire (Constantina, 1863) diz: “Sabei contentar-vos com pouco. Se sois pobres, não invejeis os ricos, pois a fortuna não é necessária à felicidade. Se sois ricos, não esqueçais que esses bens vos foram confiados e que tendes de justificar o emprego deles, como uma prestação de contas de tutela. Não sejais administradores infiéis, fazendo-as servir à satisfação do vosso orgulho e vossa sensualidade. Não vos julgueis no direito de dispor exclusivamente em vosso favor daquilo que não é senão um empréstimo, e não uma doação. Se não sabeis restituí-lo, não tendes mais o direito de pedir. E recordai que aquele que dá aos pobres, quita-se da dívida que contraiu com Deus.” Por isso quando a prova da miséria chega até o homem, ele deve enfrentá-la com confiança e resignação, e caso a prova da riqueza venha a aparecer, deve-se recordar das palavras do Mestre Jesus no Evangelho de Mateus 6:19-21: “Não acumulem tesouros sobre a terra, onde as traças e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntem tesouros no céu, onde as traças e a ferrugem não corroem, e onde ladrões não escavam, nem roubam. Porque, onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração.”

Em “O livro dos Espíritos”, nas questões de 814 a 816, é explicado que Deus concede a riqueza a uns e a miséria a outros para experimentar os espíritos de formas diferentes e é dito que as duas provas apresentam graus elevados de dificuldade: “A alta posição do homem neste mundo e a autoridade sobre os seus semelhantes são provas tão grandes e tão escorregadias como a miséria, porque, quanto mais rico e poderoso é ele, tanto mais obrigações tem que cumprir e tanto mais abundantes são os meios de que dispõe para fazer o bem e o mal. Deus experimenta o pobre pela resignação e o rico pelo emprego que dá aos seus bens e ao seu poder. A riqueza e o poder fazem nascer todas as paixões que nos prendem à matéria e nos afastam da perfeição espiritual. Por isso foi que Jesus disse: “Em verdade vos digo que mais fácil é passar um camelo por um fundo de agulha do que entrar um rico no reino dos céus.” Lembrando apenas que na tradução do hebraico, a mesma palavra era usada para “camelo” e “cabo” e o mais provável é que “cabo” fosse a tradução correta, pois faria mais sentido. Desta frase dita por Jesus, pode-se compreender que a prova da riqueza é mais perigosa para o homem pois a tentação de abusar dos recursos e de apegar-se aos bens materiais é quase irresistível para o homem comum, caso ele não esteja focado na vida futura e no seu desenvolvimento moral.

Deste modo aquele que acredita ser a riqueza uma solução para as dificuldades da vida terrena ignora o real objetivo de sua encarnação, que é a evolução espiritual e não a aquisição de bens materiais ou a satisfação dos desejos fugazes da carne. Quando se deixa levar pelas paixões materiais e busca apenas os prazeres efêmeros, o homem perde de vista a vida futura e se afasta do seu aprimoramento moral. Por isso, a despeito de que qualidade seja a provação que esteja enfrentando, o importante é que se empenhe para alcançar o desenvolvimento das virtudes da alma, seja a paciência, a resignação ou a submissão à vontade de Deus, e sempre que possível que o homem lembre-se de trabalhar ativamente no auxílio ao próximo e na construção de um mundo melhor, onde todos possam ter dignidade para viver. E como disse Chico Xavier: “Você nem sempre terá o que deseja mas enquanto estiver ajudando os outros, encontrará os recursos de que precisa”.

Portanto, ao buscar o aperfeiçoamento moral além da melhoria das condições materiais, o homem estará desenvolvendo suas próprias virtudes e simultaneamente, levando todo a humanidade a progredir, elevando a categoria do planeta a um patamar onde não exista a miséria, a fome e a violência e onde todos tenham a oportunidade de viver e não apenas de tentar sobreviver. O progresso da humanidade depende do esforço de cada um dos habitantes do planeta, desde que abdiquem de seus desejos egoístas, sua ambição, seu orgulho e deixem predominar o amor ao próximo, a caridade e a benevolência dado que somente assim as injustiças sociais não terão mais vez e a fraternidade, a solidariedade e o amor reinarão na Terra.

Referências:

1. Bíblia Online. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br>. Acessado em 10 de Julho de 2021.

2. Desigualdade social. Disponível em < https://www.politize.com.br/desigualdade-social/>. Acesso em 08 de Julho de 2021.

3. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Matheus Rodrigues de Carvalho. 43ª reimpressão. Capivari, SP: Editora EME, 2018.

4. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Matheus Rodrigues de Carvalho.24ª reimpressão. Capivari, SP: Editora EME, 2019.

5. Pirâmide de Maslow. Disponível em: <https://www.significados.com.br/piramide-de-maslow>. Acesso em 14 de Julho de 2021.