quinta-feira, 17 de abril de 2014

REPENSANDO A MORTE


Uma situação constrangedora:
Cumprimentar, em velórios, os familiares do falecido.
À falta de algo mais original, assumimos expressão grave, compungida, estendemos a mão e pronunciamos o indefectível:
- Meus pêsames...
Se o desenlace ocorreu após longa enfermidade, acrescentamos:
- Sofreu muito! Finalmente descansou...
Há quem consiga, simultaneamente, lamentar a morte e promover o morto:
- Coitado! Tão bom!... Morreu!
Seria a morte o castigo dos maus?
O contrário também acontece. Se era jovem, comentam:
- Os bons morrem cedo!- (ideia nada lisonjeira para os idosos).
***
A ignorância em torno do assunto é generalizada, inspirando temores terríveis nos que partem e angústias insuperáveis nos que ficam.
Há pessoas que parecem incapazes de tornar à normalidade quando falece um ente querido, principalmente se envolve circunstâncias trágicas. Pesquisas demonstram que um ou dois anos após a separação, é comum os viúvos serem acometidos por graves problemas de saúde que, não raro, culminam com sua morte.
Pessoas conturbadas, nervosas e doentes, em virtude do desencarne de afeto caro ao seu coração, aportam no Centro Espírita. Procuram não apenas a cura para seus males, mas, sobretudo, uma mensagem de conforto e esperança, que lhes restitua a vontade de viver.
A Doutrina Espírita tem muito a nos oferecer nesse sentido, tanto que é notório o comportamento mais tranquilo dos espíritas diante da morte.
Conversamos certa feita, com um oncologista (médico especialista em câncer), habituado a lidar com doentes terminais 
 (que estão no fim da existência). Empenhado em ajudá-los a enfrentar com serenidade os últimos dias, encontra insuperável dificuldade: os pacientes, em sua maioria, recusam-se a encarar a perspectiva de sua própria morte.
Disse-nos ele que com os espíritas não há esse problema.
Por quê? Seriam, porventura, mais evoluídos os profitentes da Doutrina Espírita?
Evidente que não!
Ocorre que o Espiritismo oferece-nos uma visão mais objetiva, eliminando fantasias que fazem da morte algo terrível, tétrico, assustador, como se fosse o que de pior pudesse acontecer à criatura humana.
***
Sob a ótica espírita não há por que dizer "meus pêsames" aos familiares do morto. Seria o mesmo que oferecer condolências ao prisioneiro de uma penitenciária, cujo companheiro de cela, após cumprir sua pena, ganhou a liberdade.
A morte é a nossa porta de libertação. Em tempo oportuno, na infância, juventude, madureza ou velhice, segundo os programas de Deus, no instituto das experiências necessárias à nossa evolução, deixamos o corpo denso, pesado, que limita nossos movimentos, que inibe nossas iniciativas, que restringe nossas percepções, e retornamos à amplidão, à vida em plenitude.
Ante familiares que falecem muitos, embora aceitando princípios religiosos que consagram a imortalidade, desesperam-se por sentir que, de certa forma, os perderam, porquanto, segundo suas concepções aqueles que partem permanecem irremediavelmente distantes, às voltas com beatitudes celestes ou tormentos infernais.
Para essas pessoas o Espiritismo tem excelentes notícias, demonstrando que nossos amados continuam ligados a nós. Eles nos veem, nos visitam nos estimulam, nos sustentam nos momentos difíceis e, sobretudo, nos esperam... E tanto mais feliz será o reencontro quando chegar a nossa hora, quanto maior o nosso empenho em enfrentar com serenidade, firmeza e equilíbrio o desafio de viver sem eles na Terra.
A esse propósito vale destacar a observação de um agonizante à esposa que, em desespero, dizia-lhe não ter condições para continuar vivendo. Buscaria o suicídio tão logo ele expirasse.
- Por favor, minha querida, livre-se dessa ideia infeliz. O suicídio tornaria impossível nossa união na Espiritualidade. E isso é o que mais desejo, tanto quanto você.
***
Ante o conhecimento espírita é uma impropriedade afirmar, a guisa de conforto, que o falecido "descansou". Isto sim seria terrível, em perturbadora estagnação. Para sua felicidade ele continuará a movimentar-se em novos planos, em múltiplas experiências, trabalhando, estudando, adquirindo conhecimentos, lutando, sofrendo, sonhando, vivendo enfim, nos caminhos da evolução.
Da mesma forma não há por que o considerarmos "coitado", porque morreu. Coitados são aqueles que se comprometem com a irresponsabilidade, a indolência, a corrupção, o vício, o crime... Estes, sim, devem ser lamentados, porque semeiam espinhos que fatalmente serão chamados a colher.
***
Com a disseminação dos princípios espíritas, temores e dúvidas a respeito da morte serão superados, compreendendo-se que ela, em verdade, não existe. A vida é eterna, alternando-se no plano físico e espiritual, de conformidade com nossas necessidades evolutivas.
E se quisermos a fórmula ideal para enfrentar nossa própria morte, é simples:
Vivamos cada dia como se fosse o último.
Imaginemos todo o bem que praticaríamos e todo mal que evitaríamos, se aprouvesse a Deus chamar-nos amanhã...

Richard Simonetti

Do livro: UMA RAZÃO PARA VIVER

Nenhum comentário:

Postar um comentário