Disseram os espíritos de ordem mais elevada, de
maneira racional e lógica, que o ser humano não é como muito se pensava e ainda
se pensa o centro de toda a criação divina. Que o estado “hominal” é apenas a
etapa de um processo muito maior, que se desencadeia ininterruptamente por todo
o Universo.
Tomamos conhecimento de algumas leis universais
que regem o desenvolvimento dos seres animados e inanimados, das menores
partículas subatômicas aos grandes astros, dos seres vinculados à matéria aos
habitantes de outras esferas existenciais.
Novos horizontes, então, surgiram nas mentes
cujo materialismo era a única realidade existencial. Para os religiosos – claro
que não todos – essa grande revelação espiritual trouxe maiores facilidades
para a compreensão dos fenômenos “miraculosos” e “sobrenaturais” e ainda, o
fortalecimento da fé, sustentada por bases sólidas e consoladoras.
Desde os primeiros escritos sobre o
Espiritismo, através do trabalho codificador de Allan Kardec, já se passaram,
aproximadamente, cento e cinquenta anos e, apesar disso, muita resistência
ainda se encontra em uma sociedade que se apega, em grande parte, aos
transitórios valores da vida ao invés de adentrar e abraçar valores
concernentes ao enobrecimento da alma. Não estamos defendendo que a melhor
atitude de todos os seres humanos seria abraçar o Espiritismo como doutrina
espiritualista, porém, que a melhor atitude humana seria enobrecer a sua alma,
através de obras morais em si e no mundo.
Quando, de tempos em tempos, surgem novos
conhecimentos, novos pontos de vista, novos conceitos e descobertas, é natural
que apareçam as contradições, pois, afinal, o contato com o novo exige a
modificação de paradigmas já estabelecidos e, consequentemente, as necessárias
mudanças no modo de se viver e de se encarar o mundo, o que nem sempre agrada a
todos. Foi assim na época da passagem carnal de Jesus pela Terra, foi assim com
o surgimento da doutrina espírita e certamente está sendo com tudo o que vem
surgindo nos dias atuais. O pensamento humano está em constante modificação e
os conceitos e entendimentos sobre o mundo que o cerca vão se ampliando a cada
dia.
Se fizermos uma retrospectiva até certo período
da História, abordando apenas a partir da era cristã, vamos encontrar exemplos
claros dessas modificações que se processam naturalmente. Podemos lembrar
Cláudio Ptolomeu, um astrônomo, matemático, físico e geômetra do século II que,
influenciado pelas ideias de Hiparco, adota o sistema Geocêntrico, ou seja, “a
Terra é o centro do Universo e tudo gira ao seu redor”, pensamento este que
influenciou a Igreja Católica por quatorze séculos e era tido como verdade
inquestionável.
Evolução da humanidade
Essa visão de mundo, ou melhor, do Universo,
permaneceu no entendimento de um número expressivo de pessoas até que surgiu o também
astrônomo, polonês, do século XV-XVI com uma ideia inovadora, colocando em sua
teoria que o verdadeiro centro é o Sol e que tudo giraria em torno desta
estrela, incluindo o planeta Terra. Esta teoria viria a ser confirmada por Galileu
Galilei décadas depois. Hoje, pelos avanços da Ciência e da tecnologia – consequentes
da maturação do pensamento humano – já temos condições de compreender fatos
cada vez mais expressivos, como as órbitas solares, a existência de um número
infindável de galáxias – graças aos estudos de Huble –, os buracos negros, a
constante expansão e contração cósmica, bem como adentrar o mundo quântico e
nos deparar com descobertas e revelações cada vez mais inovadoras e
inquietantes.
O engraçado é perceber que, apesar de já termos
pleno conhecimento de que a Terra não é o centro do Universo – aliás, ela está
simplesmente na periferia da Via Láctea, a nossa galáxia – muitos ainda não se
desapegaram da ideia e do conceito de sermos o centro da criação divina. Se já
se superou, há muito, o conceito de Geocentrismo, por que não se elimina,
através do raciocínio lógico, a ideia do Antropocentrismo (homem como centro da
criação divina).
Ainda parece difícil para muitos, aceitarem a ideia
de não estarmos sozinhos no Universo, de que outras civilizações planetárias
compartilham conosco a extensão cósmica e de que muitas delas aqui estão desde
o surgimento do homem e de todo ser vivente sobre o planeta Terra, atuando,
discretamente ou ostensivamente, tendo sido registradas estas ocorrências ao longo
da História, através da arte, de escritos, registros arqueológicos e, mais
recentemente, através de fotos e relatos de pessoas que tiveram a oportunidade
de, através dos sentidos materiais ou de faculdades mediúnicas, presenciar
fenômenos e situações que comprovassem a realidade desta atuação extraterrestre
junto à humanidade.
Infelizmente, as questões que se referem ao
contexto extraterrestre ainda são encaradas por muitas pessoas como algo
aterrorizante, ou então, como algo sem importância e apenas do interesse de
ufólogos. No meio científico, apesar de ainda não ser provado, não há mais a discussão
se existe ou não vida em outros planetas do Universo, tamanha é a lógica
existente no raciocínio humano ao se analisar e estudar a imensidão cósmica. Porém,
apesar disso, continuamos a nossa teimosia e, às vezes, até negamos
definitivamente a possibilidade de vida inteligente em outros mundos, ou então,
preferimos não falar sobre o assunto em público porque podemos ser taxados de
loucos, ou pior, podemos assustar alguns e ferir a sensibilidade religiosa de
outros.
Em algumas ocasiões, nos nossos grupos de
trabalho mediúnico, os mentores espirituais nos esclareceram que muitos ainda
têm medo ou desconforto ao tratar do assunto, porque é como se ninguém em nosso
mundo tivesse uma “arma” para se defender, pois os poderes e desenvolvimentos
tecnológicos destes seres aos quais chamamos de extraterrestres vão além das
nossas possibilidades científicas atuais, estão mais adiantados e, tudo o que
nos é desconhecido acabamos, numa atitude defensiva, considerando inimigo ou
coisa parecida.
Preconceito com a Ufologia
Mas acontece que, até hoje, muitos espíritas
que tiveram a oportunidade de tomar contato com as revelações do Alto, com os
conhecimentos básicos em torno da filosofia existencial, não aceitam tratar o
assunto como tema de importância relevante para o movimento espírita da
atualidade e chegam até a dizer que falar de extraterrestre não é coisa para
espíritas sérios se ocuparem. Assim, parece até que o assunto é contraditório à
doutrina espírita, o que não é realidade, pois ao se estudar as obras básicas
da codificação podemos encontrar inúmeras passagens e questões em que os
espíritos e também Allan Kardec tratam do assunto com muita seriedade. Aliás,
não seria absurdo alguém dizer aqui que, dentre os espíritos que se ocuparam
com a codificação do Espiritismo, muitos nunca haviam habitado o planeta Terra,
ou seja, vinham de outros mundos e, por isso mesmo, na nossa linguagem, eram
extraterrestres. Confirmando isso, podemos verificar a introdução de O Livro
dos Espíritos, no primeiro parágrafo do it1em VI, quando Kardec dizia “... os
próprios seres que se comunicam se designam a si mesmos pelo nome de Espíritos
ou Gênios, declarando, alguns, pelo menos, terem pertencido a homens que
viveram na Terra.”, ou seja, aqueles que não faziam parte desses “alguns” que
viveram na Terra, segundo nosso raciocínio, vieram de outras moradas, de outros
orbes que não a Terra. Mais adiante, neste mesmo livro, no “Prolegômenos”, no
sétimo parágrafo, Kardec também dizia: “Em o número dos Espíritos que
concorreram para a execução desta obra, muitos se contam que viveram, em épocas
diversas na Terra...”, ou seja, não disse todos, mas sim, muitos, o que é bem
diferente.
A questão da vida em outros planetas, bem como
a atuação ou relação de seus habitantes conosco, aqui na Terra, foi abordada em
um número expressivo de vezes pelos espíritos superiores que transmitiram toda
essa gama de conhecimentos aos humanos encarnados. E, por isso mesmo, não
podemos deixar passar despercebidamente ou encarar de forma menos digna este
assunto, que tanto está se mostrando presente nos dias atuais da humanidade
terrestre. Breve será o dia em que poderemos, ou melhor, nos graduaremos a tal
ponto que será possível compreender que não somos os únicos a habitar toda a
extensão cósmica e, quem sabe, poderemos conviver harmoniosamente com outras
civilizações planetárias.
Os espíritos superiores nos ensinam que todos
os globos que se movem no espaço são habitados por seres mais ou menos
evoluídos que a humanidade terrestre, como respondem à questão 55 de O Livro
dos Espíritos: “... o homem terreno está longe de ser, como supõe o primeiro em
inteligência, em bondade e em perfeição.” E ainda acrescentam que quando nos
achamos os únicos do Universo, o centro das atenções de Deus, nada mais estamos
que exercendo o nosso orgulho descabido e prepotente: “Entretanto, há homens
que se têm por espíritos muito fortes e que imaginam pertencer a este pequenino
globo o privilégio de conter seres racionais.
Orgulho e vaidade
E, ainda, o que pode parecer espantoso para
algumas pessoas, nós, habitantes desta morada planetária, também já viemos de
outros mundos em tempos mais ou menos idos, em encarnações passadas, quando por
processos de rebeldia às leis divinas do progresso não acompanhamos o
desenvolvimento moral destas moradas, tendo, pela bondade de Deus, a oportunidade
de sermos exilados em um mundo menos desenvolvido para dar continuidade ao aprendizado
espiritual desperdiçado. Aqui nos referimos à quase totalidade dos homens e
mulheres, encarnados e desencarnados. E, se não são todos, é porque, graças a
Deus, muitos que aqui nasceram e nascem vieram e vêm para o cumprimento de
missões, para impulsionar os seres que aqui vivem no seu desenvolvimento, nas
diversas áreas do conhecimento e do trabalho. Sobre isso, diz a questão 176
(L.E.): “Depois de haverem encarnado noutros mundos, podem os Espíritos
encarnar neste, sem que jamais aí tivessem estado?”. E os espíritos respondem sabiamente:
“Sim, do mesmo modo que vós em outros. Todos os mundos são solidários: o que
não se faz num faz-se noutro”. Na questão seguinte, Kardec continua a
perguntar: “Assim, homens há que estão na Terra pela primeira vez?”, e Eles o
respondem: “Muitos, e em graus diversos de adiantamento”. Estes são apenas
alguns exemplos que deixam claro a abordagem da questão extraterrestre de forma
natural pelos mentores espirituais. Em artigos futuros abordaremos melhor a
reencarnação nos diferentes mundos.
O que os espíritos superiores tentam nos
mostrar com esses ensinamentos, talvez, é a necessidade de ampliarmos os nossos
horizontes e de que percebamos a realidade do que nos cerca constantemente. É
inevitável admitir que uma hora ou outra, daqui mais ou menos anos, estaremos
convivendo normalmente com seres que vêm de outras paragens cósmicas com suas
diversas finalidades e, também, os habitantes da Terra poderão ir até estas
outras moradas, intercambiando as mais diversas informações e sentimentos,
úteis ao progresso geral dos seres.
Muitos desses nossos irmãos mais velhos sempre
estiveram e estão presentes no auxílio a esta humanidade terrestre, como nos
ensina o Espiritismo. Vêm como obreiros e mensageiros do Pai Celestial,
sustentando o desenvolvimento constante do planeta, logicamente, num trabalho
conjunto com aqueles espíritos que já se libertaram das suas mais pesadas
imperfeições terrenas e que obram pela mais pura vontade de ajudar aqueles que
ainda se transviam no caminho ascensional. Quanto a isso, vamos encontrar a
resposta dada a Allan Kardec pelos mentores espirituais quando ele questionava
se os espíritos já purificados descem aos mundos inferiores (item. 233):
“Fazem-no frequentemente, com o fim de auxiliar-lhes o progresso. A não ser
assim, esses mundos estariam entregues a si mesmos, sem guias para dirigi-los.”
Engenheiros Siderais
Como se vê, não há nada de sobrenatural na ação
que outras humanidades exercem junto a nós. Aliás, se formos raciocinar sobre o
processo de formação da Terra e do surgimento da vida aqui neste planeta, nos
ensina o Espiritismo, e conforme aceita nossa razão, que Deus age através dos
seus intermediários, dos seus prepostos, ou seja, a vontade de Deus é executada
pelos espíritos que já atingiram um estado de pureza tal que é confiado a eles
responsabilidades maiores ou menores. Para a Terra ser formada e para que a
vida aqui surgisse houve a necessidade da atuação de seres que já haviam
atingido um alto grau de desenvolvimento. Estes seres, que algumas vezes são
chamados de engenheiros siderais, nada mais poderiam ser que espíritos que
evoluíram em outros mundos, não na Terra, pois aqui não havia nada, ainda,
muito menos vida inteligente para realizar tal obra. É por isso que devemos
encarar a temática com a maior naturalidade possível, caso contrário,
continuaremos com o entendimento sobre nossa história humana limitada.
Não poderia deixar de citar as conversações,
chamadas de “Conversações familiares de além-túmulo”, publicadas na Revista
Espírita, de Allan Kardec. Gostaria de comentar uma em especial – a conversação
mediúnica estabelecida com o espírito Bernard Pallissy, em 9 de março de 1858.
Bernard dizia habitar o planeta Júpiter – uma morada planetária muito mais
adiantada que a Terra. Dentre as questões feitas a este espírito, ressalto a
número 31, onde Kardec pergunta: “Poderíeis nos dar uma ideia das diversas
ocupações dos homens (em Júpiter)?”. E o espírito responde: “Seria preciso
dizer muito. Sua principal ocupação é encorajar os Espíritos que habitam os mundos
inferiores a perseverarem no bom caminho. Não tendo infortúnio a avaliar entre
eles, vão procurar onde se sofre; são os bons Espíritos que vos sustentam e vos
atraem ao bom caminho”. Mais adiante, na questão 46, Kardec pergunta se ele
(Bernard Pallissy) poderia nomear alguns espíritos habitantes do planeta
Júpiter que cumpriram uma grande missão na Terra. E teve como resposta o nome
de São Luis, que, aliás, foi um dos espíritos que contribuíram para a
codificação da doutrina espírita.
Os habitantes da Terra ainda alimentam muito
medo e preconceito em torno destas questões referentes ao contato de
extraterrestres com os terrestres, mas não avaliam os grandes benefícios que
podem ser decorrentes deste contato mais direto com seus irmãos que simplesmente
não habitam o mesmo orbe. Se hoje em dia é algo comum estabelecermos contato
com outras nações, outros países, ou ainda, com espíritos desencarnados, assim
será, também, no futuro, o intercâmbio com outras civilizações cósmicas, dentro
do nosso próprio sistema solar e até mesmo fora dele. E para isso é só uma
questão de tempo.
Superando os preconceitos, os paradigmas e
olhando para a vastidão universal como a “Casa do Pai”, reconhecendo nestes
“visitantes siderais” verdadeiros irmãos que nos amparam em nossa caminhada,
teremos alcançado um estágio de maturidade, compreensão e respeito à harmonia
cósmica. Não pretendo dizer, nessas linhas, que a busca humana deve sempre atentar
para o exterior, muito pelo contrário, deve procurar o conhecimento de si
mesma, de sua moralização e da aplicação do grande código de ética cósmica,
sintetizado por Jesus em seu Evangelho e pelos grandes missionários divinos que
aqui encarnaram com o objetivo de despertar o homem para a sua verdadeira
natureza espiritual.
Fonte: Artigo
publicado na edição 42 da Revista Cristã de Espiritismo.
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