"O mal não é uma necessidade fatal para
ninguém, e não parece irresistível senão àqueles que a ele se abandonam com
satisfação. Se temos a vontade de fazê-lo, podemos também a de fazer o
bem..."—O Evangelho segundo o Espiritismo - Allan Kardec
A este respeito, diz o Dr. Di Bernardi:
"Cartazes acusando: "Aborto é crime!”só teriam valor se fossem lidos,
exclusivamente, por quem ainda não tenha cometido nenhum ato desta natureza.
Mas os cartazes estão lá, com finalidade preventiva, como que dizendo: "Se
você não praticou o aborto, não o faça, porque é crime matar bebês não
nascidos!"
Mas... E a quem já tenha abortado? O que dizer
àquelas que já estão nas malhas do remorso, curtindo sufocante sentimento de
culpa? O que dizer às parteiras e médicos aborteiros? O que dizer a quem tenha
propiciado a interrupção de uma gravidez ou tenha induzido outra pessoa ao aborto?
Estas, ao esbarrar em tais cartazes, têm seus sofrimentos muito mais agravados.
Há religiões e movimentos que infundem culpa em
quem, por ignorância ou necessidade, tenha expulsado algum filho das entranhas.
Estas religiões e estes movimentos devem ser arquivados nas empoeiradas prisões
medievais, junto a outros instrumentos de tortura. Não vamos repetir erros
passados. Esclarecimento associado a consolo carinhoso devem fazer parte do
conteúdo de qualquer doutrina contrária ao aborto.
É preciso apresentar soluções — e não cobrança.
Ao invés de apontar o inferno às mães que
desprezaram seus filhos, é preciso ter a mesma postura de Pedro, o Apóstolo:
"Mas, sobretudo, tende ardente caridade para com os outros, porque a
caridade cobrirá uma multidão de pecados." (1.ª
espístola, cap. IV, vers. 8).
Já há dois mil anos, Pedro ensinava que, ao
invés da opção da dor, podemos fazer a opção pelo amor. Construir muito mais do
que já destruímos. Voltar pelos pântanos da vida para semear flores onde
plantamos dores e, quando voltarmos a transitar pelos mesmos pântanos, encontraremos
milhares de lírios resultantes da nossa semeadura.
A postura estática do remorso e culpa nos
desarmoniza e, cada vez mais, nos projeta para o desconsolo das companhias
trevosas.
Segundo um espírito amigo, de nome François
Villon 'não se pode abrir as portas da culpa àqueles que estão perdidos no
corredor escuro do erro, para que eles não caiam no fosso do sofrimento. É
necessário iluminá-los com a tocha do esclarecimento e do consolo, para que enxerguem
mais adiante, a opção do Trabalho e do Amor.'
Errar é aprender. Ao invés de se fixar no
remorso, aproveitar a experiência como uma boa aquisição para discernimento
futuro.
Agir na mesma área para crescer em créditos
espirituais.
As amargas consequências pelos crimes não são
castigos infligidos pela espiritualidade, e sim, reparações para com as Leis
Universais objetivando o necessário equilíbrio das almas endividadas. Já foi
dito que ninguém chega aos pés de Deus carregando uma mochila de erros.
É preciso também saber que a lei de causa e
efeito não é uma estrada de mão única. É uma lei que admite reparações; que
oferece oportunidades ilimitadas para que todos possam expiar seus enganos.
O débito cármico ocasionado pelo aborto
provocado precisa ser desfeito por qualquer modo e quem não o desfizer através
do Amor, terá de desfazê-lo através da Dor.
Os meios através da Dor,
podemos resumi-los rapidamente: Arrependimentos, remorsos, dores morais.
Doenças adquiridas que não conseguem ser detectadas pela medicina comum. Morte
prematura que serão consideradas suicídio. Longo tempo em profundo sofrimento
na vida após a morte. Difícil reencarnação, geralmente se tornando um espírito
abortável. Ao reencarnar, é possível não ter filhos, ou perdê-los ainda
pequeninos ou ainda ter filhos portadores de anomalias graves.
Através do Amor é
muito mais fácil o reequilíbrio de uma alma.
Segundo Pedro, "A caridade cobre
uma multidão de pecados".
A caridade pura e simples,
portanto, é o caminho para estas mães.
Não apenas para a mãe que buscou o aborto.
Mas também ao pai do mesmo bebê abortado.
Também ao "fazedor de anjo".
Também às amigas e parentes que induziram ou
facilitaram o ato.
Também os pais, que obrigaram a filha ou a nora
a cometê-lo.
A todos os que se viram, de uma maneira ou
outra, envolvidos criminosamente na rejeição e expulsão de um espírito
reencarnante.
O antídoto contra o mal do aborto é a caridade.
Mas não aquela caridade humilhante que faz o
recebedor sentir-se ainda mais diminuído do que já é, e sim aquela que eleva
quem oferece e não envergonha quem recebe.
Não aquela caridade de levar uma cesta à
favela, regada à reclamação.
Não aquela caridade de fim de ano quando, para
aliviar a própria consciência e poder festejar sem remorsos, distribui presentinhos
às crianças — e pronto! Sua obrigação está feita até o ano que vem!
Não aquela caridade vaidosa que convida jornal
e TV para que o mundo saiba o quanto se é "bonzinho".
A caridade que cobre uma multidão de pecados é
aquela que arregaça as mangas e vai trabalhar, de verdade, em benefício de
pessoas necessitadas e em silêncio.
E, como o erro foi em consequência de um aborto
provocado, onde se rejeitou uma criança, então a dívida poderá ser
melhor e mais rapidamente saldada através de ajuda a crianças.
Mesmo que se tenha provocado um aborto, é
possível quitar os débitos ainda nesta existência corporal, sem ter de passar
pelos sofrimentos dos umbrais ou vales espirituais de dores, sem precisar
passar pelas amarguras todas já descritas.
Por que não tentar?
Por que esperar a vida do lado de lá
para, em sofrimentos superlativos, apagar uma mancha que poderá ser apagada de
forma mais branda se for de maneira espontânea?
Por que não começar agora, já, aqui, nesta
existência e reparar o erro, de maneira mais suave, à sua escolha?
Veja como:
1.- Oração:
Oração significa: Luz em ação.
Quem ora em benefício de alguém, esta mandando
Luz para esta pessoa. Luz é o contrário de trevas.
Quem ora também anda dentro da Luz, porque é
impossível acender uma fogueira e não sentir o seu calor, não se iluminar
também.
Comece orando a Deus por seu filho — aquele que
você rejeitou e que poderá estar em sofrimento, cheio de dores nalgum lugar do
espaço. E poderá estar odiando você. Ele está precisando de orações para sentir
alívio pelas dores morais e físicas que você lhe propiciou.
Ore também por outros bebês abortados.
Ore também por mulheres grávidas, para que não
recorram ao aborto.
Ore a Deus, pedindo perdão pelo seu ato.
Ore pelas crianças abandonadas pelas ruas,
enquanto não se decidir qual tipo de atividade deseja exercer em benefício
delas.
Ore por todos os filhos do mundo inteiro:
crianças, adolescentes, drogados, doentes, presidiários — e pelas mães doentes,
pelas mães dos presidiários, pelas mães dos drogados, por todas as mães
sofredoras.
Ore com sentimento, com calor no coração,
evitando a frieza das preces decoradas.
E continuar orando pela vida afora por seu
filho e por todos os filhos.
2.- Atividade benfeitora:
Fazer opção por uma atividade onde possa estar
em contato direto, corpo a corpo com crianças necessitadas de carinho, de
amparo, de colo, de cuidados pessoais em creche, em escola, em APAE, em
hospital, em orfanato ou em quaisquer outras instituições que cuidam de crianças
pobres, abandonadas ou doentes.
Mas é enfiar a mão na massa e não apenas
construir um orfanato e deixar para outros a tarefa de lidar com aquela gente
pequenina.
A atividade voluntária neste sentido, sem
remuneração, fará com que os erros sejam reparados muito mais rapidamente. De
acordo com certo autor espiritual, as horas de trabalho com crianças são
contadas em dobro.
3.- Adoção:
Não há obrigatoriedade, mas, se houver
oportunidade, adote uma ou mais crianças e trate-as como verdadeiros filhos,
sem diferença alguma entre eles e os seus filhos de sangue. Doe-se a uma
criança abandonada ou sem mãe.
Muitas vezes, com a adoção, está se abrindo a
mesma porta que foi fechada pelo aborto.
Por vezes, volta pelos inesperados caminhos da
vida, ao mesmo lar, aquele que foi ontem rejeitado.
Se você, mesmo não tendo praticado aborto algum
nesta vida, sentir-se inclinada à adoção, adote!
A adoção é, talvez, a maior obra de amor que
alguém pode praticar.
4.- Amparo às mães:
Outras atividades que reequilibram carmicamente
a quem tenha errado no sentido de desprezar um bebê não nascido, é no amparo às
mães solteiras, mães miseráveis, mães que não têm condições de criar seus
filhinhos.
Quantas mãezinhas estão necessitando de um
carinho? De uma palavra de afeto? De um auxílio em forma de enxovalzinho? Em
forma de comida?
Converse com elas. Oriente. Evite que elas
abortem...
Costure, borde, faça enxovaizinhos a quem não
tem como fazê-los.
Ampare uma destas criaturas. Ou mais de uma, de
acordo com suas possibilidades.
Amparando mães você estará, automaticamente,
propiciando vida melhor para uma porção de crianças.
5.- Votos:
Faça votos de nunca mais vir a praticar algum
aborto.
E cumpra estes votos!
Numa próxima gravidez, ame seu filho em dobro,
para compensar aquele que, por ignorância, não soube valorizar.
É difícil a reconquista da paz interior ainda
nesta existência, através da caridade? Através do trabalho cansativo em
benefício de crianças necessitadas?
Não, não é!
É muito mais difícil a reconquista desta mesma
paz através do sofrimento ainda nesta existência e em existências futuras.
Portanto, se você tiver débito a ser saldado,
comece hoje!
Comece agora para que a morte não a encontre
desprevenida.
A morte poderá estar por perto e você ainda não
fez nada para se reequilibrar espiritualmente.
Enquanto não se decide, comece a orar.
Ore com entrega total.
E seja feliz tendo a consciência tranquila.
Cleunice Orlandi de Lima
Trechos do livro "Depois do
Aborto..."
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