sexta-feira, 18 de abril de 2014

Mãe estou aqui!


Evocações particulares          

A senhora havia perdido, há alguns meses, sua filha única, de catorze anos de idade, objeto de toda a sua ternura, e muito digna de seus lamentos pelas qualidades que prometiam fazer, dela, uma mulher perfeita. Essa jovem pessoa havia sucumbido a uma longa e dolorosa doença. A mãe, inconsolável com essa perda, via, dia a dia, sua saúde alterar-se, e repetia, sem cessar, que iria logo juntar-se com sua filha. Instruída quanto à possibilidade de se comunicar com os seres de além-túmulo, a senhora X resolveu procurar, em uma conversa com a sua criança, um alívio para sua pena. Uma dama de seu conhecimento era médium, mas, pouco experimentadas, uma e outra, para semelhantes evocações, sobretudo, em uma circunstância tão solene, me convida para assistir. Não éramos senão três: A mãe, a médium e eu. Eis o resultado dessa primeira sessão.

A mãe. Em nome de Deus Todo-Poderoso, Espírito de Julie X, minha filha querida, eu te peço vir se Deus o permite.
Julie. Mãe! Eu estou aqui.
A mãe. É mesmo tu, minha criança, quem me responde? Como posso saber que és tu?
Julie. Lili.
(Era um pequeno nome familiar dado à jovem, em sua infância; não era conhecido nem pelo médium nem por mim, já que, desde vários anos, não a chamava senão pelo seu nome de Julie. A esse sinal, a identidade era evidente; a mãe, não podendo dominar sua emoção, explode em soluços).
Julie. Mãe! Por que se afligir? Sou feliz; bem feliz; não sofro mais e te vejo sempre.
A mãe. Mas eu não te vejo. Onde estás?
Julie. Aí; ao lado de ti, minha mão sobre a senhora Y (a médium) para_fazer_com_que_escreva, o que te digo. Veja minha escrita. (A escrita era, com efeito, a da sua filha.)
A mãe. Tu dizes: minha mão; tens, pois, um corpo?
Julie. Não tenho mais esse_corpo_que_me_fazia_sofrer; mas tenho dele a aparência. Não estás contente, que eu não sofra mais, uma vez que posso conversar contigo?
A mãe. Se eu te visse, pois, te reconheceria?
Julie. Sim, sem dúvida, e tu já me tens visto, frequentemente, em teus sonhos.
A mãe. Eu te revi, com efeito, em meus sonhos, mas, acreditei que era um efeito da minha imaginação, uma lembrança.
Julie. Não; sou eu que estou sempre contigo, e que procura te consolar; fui eu quem te inspirou a ideia de me evocar. Tenho muitas coisas a dizer-te. Desconfie do senhor F, ele não é franco.
(Esse senhor, só conhecido de sua mãe, e assim nomeado espontaneamente, era uma nova prova da identidade do Espírito que se manifestava.)
A mãe. Que pode, pois, fazer contra mim o senhor F?
Julie. Não posso dizer-te; isso me é proibido. Não posso mais que advertir-te para dele desconfiar.
A mãe. Estás entre os anjos!
Julie. Oh! Não ainda; não sou bastante perfeita.
A mãe. Não te reconheço, no entanto, nenhum defeito; tu eras boa, doce, amorosa e benevolente para todo o mundo; será que isso não basta?
Julie. Para ti, mãe querida, eu não tinha nenhum defeito; eu acreditava nisso; tu me dizias, muito frequentemente! Mas, no presente, vejo o que me falta para ser perfeita.
A mãe. Como adquirires as qualidades que te faltam?
Julie. Em novas existências, que serão mais e mais felizes.
A mãe. Será na Terra que terás essas novas existências?
Julie. Disso não sei nada.
A mãe. Uma vez que não havias feito mal durante tua vida, porque tanto sofreste?
Julie. Prova! Prova! Eu a suportei com paciência, pela minha confiança em Deus; por isso, sou bem feliz hoje. Até breve, mãe querida!
         
Em presença de semelhantes fatos, quem ousaria falar do nada do túmulo, quando a vida futura se nos revela, por assim dizer, palpável? Essa mãe, minada pelo desgosto, goza, hoje, de uma felicidade inefável por poder conversar com sua criança; não há mais, entre elas, separação; suas almas se confundem e se expandem, no seio uma da outra, pela permuta dos seus pensamentos.
Malgrado o véu do qual cercamos essa relação, não nos permitiríamos publicá-la, se para isso não estivéssemos formalmente autorizados. Pudessem, disse-nos essa mãe, todos aqueles que perderam suas afeições na Terra, experimentar a minha mesma consolação!
Não acrescentaremos senão uma palavra endereçada àqueles que negam a existência dos bons Espíritos; nós lhes perguntaremos como poderiam provar que o Espírito dessa jovem era um demônio malfazejo.

Revista Espírita, janeiro de 1858


PERGUNTA FEITA NO PROGRAMA FLÁVIO CAVALCANTE Á CHICO XAVIER:

Márcia de Windsor –
 

Eu faço apenas uma pergunta, servindo de portadora da mesma. Uma senhora perdeu um filho há um ano e durante esse ano inteiro essa senhora tem chorado, tem penado dores incríveis, numa inconformação absoluta por essa perda. Ela, muito aflita, me pede que lhe pergunte se essas lágrimas, se toda essa dor, esse sofrimento podem prejudicar, de algum modo o seu filho.

Chico Xavier –

Em outros casos semelhantes, temos recebido o esclarecimento de que essa dor, essa dor entranhada na alma inconformada daqueles que ficam, prejudica muito e às vezes, de maneira intensa, aos corações amados que nos precedem na Vida Espiritual. Seria tão bom que essa mãe generosa pudesse entregar o filhinho a Deus, de quem ela recebeu esse mesmo filho, a fim de protegê-lo e orientá-lo nesse mundo! E estamos certos de que ela procurando reencontrá-lo entre tantas outras crianças que ai estão necessitadas, rapazes mesmo que precisam de benfeitores paternais e maternais, essa abençoada mãezinha estará extinguindo a dor dela no caminho desse filho, que deve, naturalmente, se afligir.
Peçamos a Deus para que ela tenha bastante serenidade e que, na condição de mãe, na grandeza maternal de todas as mães, ela possa continuar auxiliando e abençoando o filho que partiu no rumo da Vida Maior.

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