Existem importantes
observações na literatura espírita sobre os sonhos premonitórios. É fundamental
conhecê-las para que se possa construir uma base sólida e clara sobre o assunto.
Tanto nas obras da codificação como em outras complementares, ressalta-se o discernimento
que devemos ter em suas diferentes manifestações. Vejamos algumas dessas
citações com o objetivo de compreender melhor os seus significados, sem nos
prender em más interpretações.
Codificação espírita
A pergunta 404 de O
Livro dos Espíritos diz: “Que se deve pensar das significações atribuídas aos sonhos?
Os sonhos não são verdadeiros como o entendem os ledores de buena-dicha, pois
fora absurdo crer-se que sonhar com tal coisa anuncia tal outra. São verdadeiros
no sentido de que apresentam imagens que para o Espírito têm realidade, porém
que, frequentemente, nenhuma relação guardam com o que se passa na vida
corporal. São também, como atrás dissemos, um pressentimento do futuro,
permitido por Deus, ou a visão do que no momento ocorre em outro lugar a que a
alma se transporta”.
Prossegue ainda na
pergunta 405: “Acontece com frequência verem-se em sonho coisas que parecem
pressentimento, que, afinal, não se confirma. A que se deve atribuir isto? Pode
suceder que tais pressentimentos venham a confirmar-se apenas para o Espírito.
Quer dizer que este viu aquilo que desejava, foi ao seu encontro. É preciso não
esquecer que, durante o sono, a alma está mais ou menos sob influência da
matéria e que, por conseguinte, nunca se liberta completamente de suas ideias
terrenas, donde resulta que as preocupações do estado de vigília podem dar ao
que se vê a aparência do que se deseja, ou do que se teme. A isto é que, em
verdade, cabe chamar-se efeito da imaginação. Sempre que uma ideia nos preocupa
fortemente, tudo o que vemos se nos mostra ligado a essa ideia”.
A Gênese, também se
refere ao tema. Relata que José, pai de Jesus, foi advertido por um anjo em sonhos
para que fugisse para o Egito com o menino. O capítulo XV da obra faz uma reflexão
sobre as advertências que podem ser feitas por intermédio dos sonhos e que fazem
parte dos livros sagrados de todas as religiões. Salienta ainda que o fenômeno
nada tem de anormal, já que durante o sono o espírito se desliga dos laços da
matéria para entrar momentaneamente na vida espiritual, porém adverte que nem
sempre se pode deduzir que os sonhos são avisos ou tenham significado
específico.
Além das obras de Allan
Kardec, há citações sobre o tema em outros livros de cunho espírita. O livro
Recordações da Mediunidade – da médium Yvonne A. Pereira, orientado pelo
espírito de Bezerra de Menezes, diz: “Existem vários processos pelos quais o homem
poderá ser informado de um ou outro acontecimento futuro importante da sua vida”.
Comumente, se ele fez jus a essa advertência, ou lembrete, pois isso implica
certo mérito, ou ainda certo desenvolvimento psíquico, de quem o recebe, é um
amigo do Além, um parente, o seu espírito familiar ou o próprio guardião maior
que lhe comunicam o fato a realizar-se, preparando-o para o evento, que
geralmente é grave, doloroso, fazendo-se sempre em linguagem encenada, ou
figurada, como de uso no Invisível, e daí o que chamais “avisos pelo sonho”, ou
seja, sonhos premonitórios...
O estudo da lei de causa
e efeito é matemática, infalível, concreta, para a observação das entidades
espirituais de ordem elevada, e, assim sendo, ele se comunicará com o seu pupilo
terreno através da intuição, do pressentimento, da premonição, do sonho etc. O
estudo da matemática de causa e efeito é mesmo indispensável, como que
obrigatório, às entidades prepostas à carreira transcendente de guardiães, ou
guias espirituais. Estudo profundo, científico, que se ampliará até prever o
futuro remoto da própria Humanidade e dos acontecimentos a se realizarem no
globo terráqueo, como hecatombes físicas ou morais, guerras, fatos célebres
etc., daí então advindo à possibilidade das profecias quando o sensitivo,
altamente dotado de poderes supranormais, comportar o peso da transmissão fiel
aos seus contemporâneos.”.
Devemos encarar com naturalidade
O livro Conduta
Espírita, ditado por André Luiz ressalta algumas observações a respeito da
postura que se deve assumir diante dos sonhos e suas revelações: “Encarar com
naturalidade os sonhos que possam surgir durante o descanso físico, sem
preocupar-se aflitivamente com quaisquer fatos ou ideias que se reportem a
eles”. Há mais sonhos na vigília que no sono natural.
Extrair sempre os
objetivos edificantes desse ou daquele painel entrevisto em sonho. Em tudo há
sempre uma lição. Repudiar as interpretações supersticiosas que pretendam correlacionar
os sonhos com jogos de azar e acontecimentos mundanos, gastando preciosos recursos
e oportunidades da existência em preocupação viciosa e fútil. Objetivos
elevados, tempo aproveitado. Acautelar-se quanto às comunicações entre vivos,
no sonho vulgar, pois, conquanto o fenômeno seja real, a sua autenticidade é
bastante rara. O espírito encarnado é tanto mais livre no corpo denso, quanto
mais escravo se mostre aos deveres que a vida lhe preceitua.
Não se prender demasiadamente aos sonhos de que
recorde ou às narrativas oníricas de que se faça ouvinte, para não descer ao
terreno baldio da extravagância. A lógica e o bom senso devem presidir a todo
raciocínio.
Preparar um sono tranquilo
pela consciência pacificada nas boas obras, acendendo a luz da oração, antes de
entregar-se ao repouso normal. A inércia do corpo não é calma para o Espírito
aprisionado à tensão. Admitir os diversos tipos de sonhos, sabendo, porém, que
a grande maioria deles se originam de reflexos psicológicos ou de
transformações relativas ao próprio campo orgânico. O Espírito encarnado e o
corpo que o serve respiram em regime de reciprocidade no reino das vibrações”.
O importante colaborador
da doutrina espírita, Léon Denis, na obra No Invisível, faz relevantes comentários
sobre os sonhos premonitórios no capítulo XIII que reproduzimos alguns trechos
para melhor entendimento: “Os sonhos em suas variadas formas, têm uma causa única:
a emancipação da alma. Esta se desprende do corpo carnal durante o sono e se
transporta a um plano mais ou menos elevado do Universo, onde percebe, com o
auxílio de seus sentidos próprios, os seres e as coisas desse plano.
Algumas vezes, quando
suficientemente purificada, a alma, conduzida por espíritos angélicos, chega a
seus transportes alcançar as esferas divinas, o mundo em que se geram as
causas. Aí paira, sobranceira ao tempo, e vê desdobrarem-se o passado e o
futuro. Se acaso comunica ao invólucro humano um reflexo das sensações
colhidas, poderão estas constituir o que se denomina sonhos proféticos.
Nos casos importantes,
quando o cérebro vibra com demasiada lentidão para que possa registrar as
impressões intensas ou sutis percebidas pelo Espírito, e este quer conservar,
ao despertar, a lembrança das instruções que recebeu, cria então, pela ação da
vontade, quadros, cenas figurativas das imagens fluídicas, adaptadas à capacidade
vibratória do cérebro material, sobre o qual, por um efeito sugestivo, as
projeta energicamente. “E, conforme a necessidade se é inábil para isso,
recorrerá ao auxílio dos Espíritos mais adiantados, e assim revestirá o sonho
uma forma alegórica”.
Escrito
por Érika Silveira
Artigo
publicado na Revista Cristã de Espiritismo, edição especial 08.
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