1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo é refletir sobre a vida
e obra de Allan Kardec e as razões pelas quais ele organizou o conteúdo
doutrinário do Espiritismo. Tencionamos, assim, formar uma linha psicológica do
Codificador, no sentido de melhor entender a sua nobre missão.
2. DADOS BIOGRÁFICOS
Hippolyte-Léon Denizard Rivail — Allan
Kardec — nasceu no dia 03 de outubro de 1804, às 19 horas, na Cidade de Lyon,
na França. Seu pai, Jean-Baptiste-Antoine Rivail, era magistrado, juiz de
direito; sua mãe, Jeanne Duhamel, era professora; sua esposa, Amélie Grabielle
Boudet, também, era professora. Como homem podemos dizer que foi professor,
escritor, filósofo e cientista. Faleceu no dia 31 de março de 1869, com 64 anos
de idade.
3. AS CIRCUNSTÂNCIAS HISTÓRICAS
Depois da Idade Média, em que se atrofiou o
espírito crítico, vimos, em todo o globo, o aparecimento de novas ideias,
quer seja na ciência, na filosofia, na religião etc. As ciências tornaram-se teórico-experimentais,
ou seja, toda a hipótese levantada deveria ser comprovada pelos fatos. A
Filosofia foi sensivelmente influenciada pelo racionalismo de Descartes, pelo
positivismo de Comte e pelo realismo crítico de Kant. Em outros campos de
conhecimento, lembramo-nos de Franz Anton Mesmer (1734-1815) e da sua descoberta
da teoria do magnetismo animal (1779). Afirmava existir um fluido que interpenetrava
tudo, dando, às pessoas, propriedades análogas àquelas do ímã. Em 1787, o
marquês de Puysegur descobre o sonambulismo. Em 1841, Braid descobre o
hipnotismo. Charcot o estuda metodicamente; Liebault o aplica à clínica; Freud
o utiliza ao criar a Psicanálise. No campo político, o advento do
Parlamentarismo na Inglaterra, em 1688, a Independência dos Estados Unidos, em
1776 e a Revolução Francesa, em 1789 consolidaram os preceitos de liberdade que
o mundo necessitava. Contudo, de acordo com o Espírito Emmanuel, em A
Caminho da Luz, alguns Espíritos incumbidos de implantar a liberdade em nosso
planeta não conseguiram levar avante as suas missões. Marat e Robespierre pelos
excessos de violência durante o período revolucionário e Napoleão Bonaparte
pela escravidão de outros povos, por exemplo, criaram uma espécie de provação
coletiva para o povo francês.
4. CAUSAS DO APARECIMENTO DO ESPIRITISMO EM
FRANÇA
Podemos apontar pelo menos três causas para o
surgimento do Espiritismo na França:
1.ª) sendo o Espiritismo o Consolador
Prometido, os seus princípios codificados, já serviriam para mitigar as
provações coletivas da França;
2.ª) a França havia se tornado o centro
cultural do mundo ocidental, e tudo o que ali fosse feito, teria uma
repercussão mundial;
3.ª) Allan Kardec, na época de Júlio César,
vivera nas Gálias, região que representa a França atual.
5. PESTALOZZI
João Henrique Pestalozzi (1746-1827) é talvez a
personagem mais importante da história da pedagogia. Desenvolveu suas ideias em
conexão com experiências pedagógicas práticas, na Suíça, seu país de origem.
Dedicou-se especialmente à educação de crianças órfãs e abandonadas. Desejava
que se chegasse a um desenvolvimento harmônico da mente, do coração e da mão. A
leitura de Emílio, de Rousseau, romance sobre educação, levou-o a divulgar e
aplicar as ideias pedagógicas expostas nesta obra, considerando que a solução
para os problemas sociais deveria ser procurada na reforma do ensino. Empregou
o método indutivo. Dizia que as atividades dos alunos deveriam partir do
simples para o complexo, do conhecido para o desconhecido, do particular para o
geral, do concreto para o abstrato.
6. KARDEC, ALUNO DE PESTALOZZI
De acordo com Henri Sausse, em seu discurso
sobre a Biografia de Allan Kardec, Rivail Denizard fez em Lião os seus
primeiros estudos e completou em seguida a sua bagagem escolar, em Yverdun (Suíça),
com o célebre professor Pestalozzi, de quem cedo se tornou um dos mais
eminentes discípulos, colaborador inteligente e dedicado. Aplicou-se, de todo o
coração, à propaganda do sistema de educação que exerceu tão grande influência
sobre a reforma dos estudos na França e na Alemanha. Muitíssimas vezes, quando
Pestalozzi era chamado pelos governos, um pouco de todos os lados, para fundar
institutos semelhantes ao de Yverdun, confiava a Denizard Rivail o encargo de o
substituir na direção da sua escola. O discípulo tornado mestre tinha, além de
tudo, com os mais legítimos direitos, a capacidade requerida para dar boa conta
da tarefa que lhe era confiada. Era bacharel em letras e em ciências e doutor
em medicina, tendo feito todos os estudos médicos e defendido brilhantemente
sua tese. Linguista insigne conhecia a fundo e falava
corretamente o alemão, o inglês, o italiano e o espanhol; conhecia também o
holandês, e podia facilmente exprimir-se nesta língua.
7. ESCRITOS SOBRE EDUCAÇÃO
Allan Kardec, membro de várias sociedades
sábias, notadamente da Academia Real d’Arras, foi premiado, por concurso, em
1831, pela apresentação da sua notável memória: Qual o sistema de estudo
mais em harmonia com as necessidades da época?
Dentre as suas numerosas obras convém citar,
por ordem cronológica:
Plano apresentado para o melhoramento da
instrução pública, em 1828;
Curso prático e teórico de aritmética, em
1829;
Gramática francesa
clássica, em 1831;
Manual dos exames para obtenção dos diplomas de
capacidade, em 1846;
Catecismo gramatical da língua
francesa, em 1848;
Ditados normais dos exames na Municipalidade e
na Sorbona; Ditados especiais sobre as dificuldades ortográficas, em 1849.
8. COMEÇO DA CODIFICAÇÃO ESPÍRITA
Foi em 1854 que o Sr. Rivail ouviu pela
primeira vez falar nas mesas girantes, a princípio do Sr. Fortier,
magnetizador, com o qual mantinha relações, em razão dos seus estudos sobre o
Magnetismo. O Sr. Fortier lhe disse um dia: “Eis aqui uma coisa que é bem mais
extraordinária: não somente se faz girar uma mesa, magnetizando-a, mas também
se pode fazê-la falar. Interroga-se, e ela responde.”
- Isso, replicou o Sr. Rivail, é uma outra
questão; eu acreditarei quando vir e quando me tiverem provado que uma mesa tem
cérebro para pensar, nervos para sentir, e que se pode tornar sonâmbula. Até
lá, permita-me que não veja nisso senão uma fábula para provocar o sono.
Tal era a princípio o estado de espírito do Sr.
Rivail, tal o encontraremos muitas vezes, não negando coisa alguma
por parti pris, mas pedindo provas e querendo ver e observar para crer;
tais nos devemos mostrar sempre no estudo tão atraente das manifestações do Além.
9. AS SUAS DUAS ENCARNAÇÕES PASSADAS
1.ª) COMO SACERDOTE DRUIDA
Segundo os historiadores, o pseudônimo Allan
Kardec decorre do fato de que, no início do seu trabalho de pesquisa sobre
o Espiritismo, estando Denizard Rivail consciente de
que tudo acontecia em relação aos indivíduos, quando ainda parecia mistério,
baseava-se na Reencarnação (princípio das vidas sucessivas e interdependentes),
um Espírito lhe revelou que, desde remotas
existências, já o conhecia, pois o mesmo fora, em vida física passada no solo
francês, um DRUÍDA com o nome de ALLAN KARDEC.
Como observação, esclarecem os historiadores
que o Druidismo é a religião dos druidas, sacerdotes
pagãos dos povos celtas que habitavam a Gália e a Bretanha no período anterior
ao Cristianismo, mais especificamente entre o século II A.C. e o século II, D.C.
O Druida, por sua vez, era o nome pelo qual era
identificado, entre os Celtas, importante grupo social que desempenhava
variadas funções, sendo os responsáveis por manutenção e guarda dos valores da
civilização céltica. Acrescentam ainda que os sacerdotes druidas se
posicionavam contrários “à construção de templos e à representação dos Deuses
ou Espíritos”.
2.ª) COMO JOÃO HUSS
João Huss nasceu em Hussinet, perto de
Fichtelgebirge, na Boêmia, cerca da fronteira bávara e do limite linguístico
entre o alemão e o checo, em 1373, e morreu queimado na fogueira em 1415. Huss
foi influenciado pelas ideias de Wiclef (1333-1384), teólogo e reformador
inglês. Wiclef desenvolveu alguns tratados sobre odominiun, ou seja, a ideia de
que o poder vem de Deus e apenas é legítimo naqueles que se encontram em estado
de graça. As suas teses contrariavam os interesses da Igreja católica:
expressava-se contra o poderio papal, os votos religiosos, os benefícios e
riquezas do clero, as indulgências e a concepção tradicional acerca do
sacerdócio.
Huss, como professor da Universidade de Praga,
distinguiu-se nas discussões mais abstratas e no conhecimento de Aristóteles,
da Bíblia e dos Santos Padres. Como tradutor das obras de Wiclef, propagou
várias teses antidogmáticas. Baseando-se nos escritos de Wiclef, negou a necessidade
de confissão auricular, atacou como idolátrico o culto de imagens, da Virgem
Maria e dos Santos e a infalibilidade papal. Com isso, teve a ira do clero
contra a sua pessoa, que após várias admoestações acabou sendo queimado no dia
06/07/1415. Ao seu lado morreu Jerônimo de Praga. (Enciclopédia Luso-Brasileira
de Cultura)
10. OBRAS BÁSICAS
As Obras Básicas, também,
cognominadas de Pentauteco Espírita, compõem-se dos seguintes livros:
O Livro dos Espíritos (1857);
O Livro dos Médiuns - ou Guia dos Médiuns e dos
Doutrinadores (1861);
O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864);
O Céu e o Inferno - ou Justiça Divina Segundo o
Espiritismo (1865);
A Gênese - os Milagres e as Predições Segundo o
Espiritismo (1868).
Porém, além destes livros, Kardec escreveu
também:
O que é o Espiritismo (1859);
O Espiritismo em sua Expressão Mais Simples
(1862);
Viagem Espírita (1862);
Obras Póstumas (1.ª edição — 1890);
Revista Espírita, periódico mensal (1.ª edição
— 1.º de janeiro de 1858)
11. UNIVERSALIDADE DOS PRINCÍPIOS
A característica fundamental do Espiritismo é a
UNIVERSALIDADE dos seus princípios.
Para que o conteúdo doutrinário não ficasse
restrito à autoridade de um único Espírito ou de um único médium, Kardec
submetia toda a manifestação mediúnica ao crivo da razão. Apoiando-se no método
teórico-experimental das ciências naturais, cruzava as diversas respostas dadas
por diversos Espíritos a diversos médiuns espalhados pelo mundo inteiro. Assim
sendo, dizia que "a única garantia séria do ensinamento dos Espíritos está
na concordância que existe entre as revelações feitas espontaneamente, por
intermédio de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e em
diversos lugares". (Kardec, 1984, p. 11 a 18)
12. CONCLUSÃO
O Espiritismo está penetrando no rádio, na
televisão e nos demais meios de comunicação social. Sendo assim, é imperioso
conhecermos alguns fatos da vida do seu Codificador. Sem esse esforço de nos
inteiramos da sua obra, da sua abnegação, do seu estado de espírito, jamais
alcançaremos a plena compreensão da Doutrina dos Espíritos.
13. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura.
Lisboa, Verbo, s. d. p.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o
Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.
KARDEC, A. O Que é o Espiritismo. 23.
ed., Rio de Janeiro, FEB, 1981.
XAVIER, F. C. A Caminho da Luz - História
da Civilização à Luz do Espiritismo, pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro,
FEB, 1972.
14. LIVROS QUE TRATAM DA VIDA E OBRA DE ALLAN
KARDEC
AMORIM, D. Allan Kardec. 2. ed., Minas
Gerais, Instituto Maria, 1976.
IMBASSAHY, C. A Missão de Allan Kardec. 2.
ed., Curitiba, FEP, 1988.
MOREIL, A. Vida e Obra de Allan Kardec. 4.
ed., São Paulo, Edicel, 1977.
SAUSSE, H. Biografia de Allan Kardec. São
Paulo, Lake, 1972.
WANTUIL, Z. (Org.) Grandes Espíritas do
Brasil. Rio de Janeiro, FEB, 1968.
WANTUIL, Z. e THIESEN, F. Allan Kardec:
Meticulosa Pesquisa Biobibliográfica. Rio de Janeiro, FEB.
Sérgio Biagi Gregório
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