Outro exemplo pode ser encontrado num trecho do livro E a Vida Continua do autor espiritual André Luiz, psicografada pelo saudoso médium Chico Xavier.
O texto refere-se à Mariana que, em desdobramento espiritual durante o sono, entrou numa sala onde a esperavam alguns amigos, um deles Ribas, seu orientador espiritual. Ele apresentou-lhe Evelina e Ernesto, dizendo a Mariana para guardar na lembrança a imagem de Evelina, que deveria ajudá-la na próxima gravidez.
Voltando-se para Ribas, Mariana lhe disse que cumpriria a vontade de Deus, recebendo mais um filho, e aguardava sua proteção. Continuou: "Joaquim, meu esposo, está mais fraco, doente. Lavo e passo, trabalho quanto posso, mas ganho pouco. Quatro filhos pequenos. Ignoro se já sabeis, mas nosso barraco não está resistindo às chuvas. Quando o vento atravessa as paredes rachadas, Joaquim piora tosse muito. Não estou a queixar-me, meu pai, mas peço o vosso auxílio.”
Sensibilizado, o mentor lhe disse para não temer, pois Deus não nos abandona. "Seus filhos serão sustentados e, muito em breve, você e Joaquim estarão numa casa grande", assegurou ele. Mariana afirmou confiar em Deus e em seu mentor, não sabendo, no entanto, que o instrutor se reportava ao próximo desencarne do casal quando, por merecimento genuíno, teriam novo domicílio na Vida Maior.
Ao retornar ao corpo físico, acordou e falou com o marido sobre as pessoas que tinha encontrado novamente em seu desdobramento. Contou-lhe que iriam ter mais um filho e que os dois iriam ter uma casa grande. Joaquim riu e disse: "Ah! minha mulher! Casa grande? Só se for no outro mundo!" E os visitantes desencarnados sorriram.
Um fato ocorrido comigo também serve para ilustrar o porquê dos sonhos. Na véspera de minha ida à cidade de Ipaussu, no interior de São Paulo, para ministrar uma palestra-aula, sonhara com uma prima já desencarnada e de quem eu gostava muito. Dizia ela, sentada no banco do carro, que iria nos acompanhar, já que tinha alguns assuntos a tratar na região (ela morou muito tempo em Avaré, cidade próxima a Ipaussu).
Na viagem de volta estavam no carro os meus dois filhos – na ocasião, adolescentes, e que me auxiliaram – e mais um carona. Transitávamos à noite pela rodovia Castelo Branco, a mais ou menos 100 km por hora, quando um dos pneus traseiros estourou. O carro rodopiou, mas consegui controlá-lo sem maiores consequências. Paramos na primeira borracharia, trocamos o pneu e só aí é que percebi o perigo que corremos. Graças a Deus, não aconteceu nada de grave, e instantaneamente, lembrei-me do sonho que tivera. Será que a minha prima viera para nos proteger?
Acredito que a maioria das pessoas deve ter passado por uma experiência dessa natureza: é só aguçar um pouco a mente.
Regulamentos
Outro aspecto que merece destaque com relação a esse tema é a questão das normas, regras, regulamentos e leis que os humanos criam com o propósito de ordenar as coisas. Assim, supostamente estariam resolvendo qualquer tipo de problema que venha a ocorrer. Essas regras podem ser brandas, severas, rígidas ou exageradamente rígidas, estas últimas muito usadas em questões militares. No entanto, muitas dessas regras, por serem criadas por humanos, não são perfeitas e, portanto, factíveis de erros, mesmo porque muitas vezes dependem de interpretação pessoal, o que pode ser um grande problema. Como exemplo podemos citar uma pendência judicial, na qual cada advogado quer provar que o seu ponto de vista na interpretação de uma determinada lei é a correta, e que a do seu oponente é errada; para dar razão a um ou outro, existe a figura do juiz.
O caso que ora reportamos tem o objetivo de enfatizar que o bom senso deve prevalecer em toda e qualquer situação, mesmo que com isso se venha a quebrar alguma regra. Desde que seja para ajudar alguém, sem prejuízo de outrem, certamente, terá o amparo da espiritualidade, uma vez que não se trata de rebeldia ou de satisfazer o seu ego, e sim de auxiliar o próximo.
Eu participava de uma formatura de jovens que tinham concluído o curso de Mecânica de Precisão da Escola SENAI. Eis que sobe ao palco um jovem, andando com dificuldade e com deformidade congênita nas mãos. Ao meu lado, Walter, o diretor da escola me disse que aquele era o jovem sobre o qual já havia me falado em outra ocasião. Lembrei-me da conversa sobre o rapaz, que se chamava Vitor, e que tentou uma vaga para a escola do SENAI, bastante disputada, uma vez que a escola é pioneira nesse tipo de curso, com equipamentos sofisticados para treinamento, fruto de um convênio com a Suíça; além de ser um curso gratuito, tão logo concluam os estudos, os jovens têm emprego quase certo.
Vitor tinha sido aprovado com distinção num desses vestibulares, mas para se matricular o jovem precisava passar por um rigoroso exame médico, feito na própria escola. Dada à natureza do curso, o candidato deve ter as mãos perfeitas, de modo que o drama do rapaz é que tinha sido reprovado no exame médico.
Walter desconhecia o fato, uma vez que se tratava de um exame de rotina, até que sua secretária lhe disse que um pai desesperado desejava conversar com ele. Muito jovem para o cargo, o diretor da escola era muito humano e tratava a todos que o procuravam com dignidade e respeito. Assim, recebeu o pai de Vitor, quase aos prantos. Ele disse que eram pobres, mas trabalhadores, dignos e honestos, e pediu sua ajuda. Walter disse que estudaria o caso e que voltaria a entrar em contato com ele.
Mais do que depressa, já refeito da surpresa, tratou de se informar com os seus subordinados a respeito do Vitor. Ficou sabendo de toda a história e concluiu que, em face do regulamento, a decisão tomada fora correta. No entanto, ele não se conformou com a situação, e ficou o resto do dia tentando encontrar alguma saída. Voltou para casa extenuado, não conseguiu jantar direito, e foi para a cama ainda preocupado com o que poderia fazer para resolver aquele problema. Se admitisse a matrícula, estaria quebrando o regulamento e outros pais poderiam reclamar, correndo ainda o risco de ser punido pela direção. Por outro lado, se fosse mantida a decisão, poderia estar lançando Vitor num futuro sombrio, com sua única "culpa" ter sido nascer com a deformidade.
Vencido pelo cansaço, dormiu e sonhou. Ao acordar, lembrava-se nitidamente do sonho, com riqueza de detalhes. Ele tinha sonhado com Aleijadinho, o grande escultor mineiro. Aleijadinho, Antonio Francisco Lisboa (1730 – 1814), nascido em Vila Rica, atual Ouro Preto, é considerado o maior escultor do período barroco, e recebeu o apelido por volta dos quarenta anos, quando passou a andar com dificuldades devido à hanseníase, que deformou suas pernas e mãos. Mas suas melhores obras são exatamente do período após contrair a doença. No sonho, o que mais chamou a atenção de Walter foi ver as ferramentas amarradas no que restava das mãos do artista, e a grande dificuldade que ele tinha para trabalhar. Essa cena lhe foi mostrada várias vezes.
Walter acordou com uma decisão tomada e, chegando à escola, pediu que chamasse Vitor e seu pai para conversar. Disse-lhes, então, mesmo indo contra o regulamento da escola, resolvera dar-lhe uma chance. Vitor seria submetido a um teste e, se aprovado, poderia se matricular. Ele devia demonstrar que teria condições de acompanhar as aulas práticas, apesar de seu problema físico. Para Walter, o que importava era que tinha feito o que o seu coração mandava.
Com grande esforço e sacrifício sobre-humano, Vitor conseguiu passar pelo teste e concluiu o curso com mérito, tendo sido escolhido o orador da turma. Em seguida, já iria trabalhar numa indústria.
Anos depois, encontrei o Walter, que não era mais o diretor da escola, e o assunto Vitor surgiu em nossa conversa. Walter disse que ele subiu muito na vida, havia se formado engenheiro e ocupava um cargo de destaque numa indústria.
Imaginem se Walter tivesse seguido o regulamento ao pé da letra? O que teria sido de Vitor?
Será que os espíritos tiveram alguma participação ou influência nessa história?
A resposta cabe a cada um encontrar.
Yoku Kanayama
Fonte: Portal do Espírito
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