Pergunta:
Estamos nos aproximando do dia 2 de novembro, que é considerado um dia dedicado
aos mortos, aos finados. O respeito da legislação vigente chega inclusive a
declarar a data como feriado nacional, no intuito de que as pessoas possam
prestar suas homenagens aos parentes e conhecidos já desencarnados. Os
espíritas são naturalmente questionados a respeito do assunto. Como a Doutrina
Espírita encara este tema?
Resposta: Realmente o tema desperta algumas
dúvidas. Mesmo alguns companheiros espíritas perguntam se devem ou não ir aos
cemitérios no dia 2 de novembro, se isto é importante ou não. Antes de tudo,
lembremos que o respeito instintivo do homem pelos desencarnados, os chamados
mortos, é uma consequência natural da intuição que as pessoas têm da vida
futura. Não faria nenhum sentido o respeito ou as homenagens aos mortos se no
fundo o homem não acreditasse que aqueles seres queridos continuassem vivendo
de alguma forma. É um fato curioso que mesmo aqueles que se dizem materialistas
ou ateus nutrem este respeito pelos mortos.
Embora o culto aos mortos ou antepassados seja
de todos os tempos, Leon Denis nos diz que o estabelecimento de uma data
específica para a comemoração dos mortos é uma iniciativa dos druidas, antigo
povo que viveu na região que hoje é a França. Os druidas, um povo que
acreditava na continuação da existência depois da morte, se reunia nos lares,
não nos cemitérios, no primeiro dia de novembro, para homenagear e evocar os
mortos.
A noção de imortalidade que a maioria das pessoas
tem, no entanto, ainda é confusa, fazendo com que as multidões se encaminhem
para os cemitérios, como se o cemitério fosse à morada eterna daqueles que
pereceram. O Espiritismo ensina o respeito aos desencarnados como um dever de
fraternidade, mas mostra que as expressões de carinho não precisam ser
realizadas no cemitério, nem é necessário haver um dia especial para que tais
lembranças ou homenagens sejam realizadas.
Pergunta: Mas para os
espíritos desencarnados o dia 2 de novembro têm alguma coisa mais solene, mais
importante? Eles se preparam para visitar os que vão orar sobre os túmulos?
Resposta: É preciso
entender que nossa comunicação com os desencarnados é realizada através do
pensamento. As preces, as orações, são vibrações do pensamento que alcançam os
espíritos. Nossos entes queridos desencarnados são sensíveis ao nosso
pensamento. Se existe entre eles e nós o sentimento de verdadeira afeição, se
existe esse laço de sintonia, eles percebem nossos sentimentos e nossas preces,
independente de ser dia de finados ou não.
Esse é o aspecto
consolador da Doutrina Espírita: a certeza de que nossos queridos desencarnados,
nossos pais, filhos, parentes e amigos, continuam vivos e continuam em relação
conosco através do pensamento. Não podemos privar de sua presença física, mas o
sentimento verdadeiro nos une e eles estão em relação conosco, conforme as
condições espirituais em que se encontrem. Realizaram a grande viagem de
retorno à pátria espiritual antes de nós, nos precederam na jornada de retorno,
mas continuam vivos e atuantes.
Um amigo incrédulo
uma vez nos falou: "Só vou continuar vivo na lembrança das pessoas".
Não é verdade. Continuamos tão vivos após a morte quanto estamos vivos agora.
Apenas não dispomos mais deste corpo de carne, pesado e grosseiro.
Então, os espíritos
atendem sim aos chamados do pensamento daqueles que visitam os túmulos. No dia
2 de novembro, portanto, como nos informam os amigos espirituais, o movimento
nos cemitérios, no plano espiritual, é muito maior, porque é muito maior o
número de pessoas que evocam, pelas preces e pelos sentimentos, os
desencarnados.
Pergunta: E se estes
desencarnados pudessem se tornar visíveis, como eles se mostrariam?
Resposta: Com a forma
que tinham quando estavam encarnados, para que pudessem ser reconhecidos. Não é
raro que o espírito quando desencarne sofra ou provoque alterações na sua
aparência, ou seja, no seu corpo espiritual. Espíritos que estão em equilíbrio
mental e emocional podem se apresentar com uma aparência mais jovem do que tinham
quando estavam encarnados, enquanto outros podem inclusive adotar a aparência
que tinham em outra encarnação. Por outro lado, espíritos que estão em
desequilíbrio podem ter uma aparência muito diferente da que tinham no corpo,
pois o corpo espiritual mostra o verdadeiro estado interior do espírito.
Pergunta: E quanto
aos espíritos esquecidos, cujos túmulos não são visitados? Como se sentem?
Resposta: Isto
depende muito do estado do espírito. Muitos já reconhecem que a visita aos
túmulos não é fundamental para se sentirem amados. Outros, no entanto,
comparecem aos cemitérios na esperança de encontrar alguém que ainda se lembre
deles e se entristecem quando se veem sozinhos.
Pergunta: A visita ao
túmulo traz mais satisfação ao desencarnado do que uma prece feita em sua
intenção?
Resposta: Visitar o
túmulo é a exteriorização da lembrança que se tem do espírito querido, é uma
forma de manifestar a saudade, o respeito e o carinho. Desde que realizada com
boa intenção, sem ser apenas um compromisso social ou protocolar, desde que não
se prenda a manifestações de desespero, de cobranças, de acusações, como ocorre
em muitas situações, à visitação ao túmulo não é condenável. Apenas é
desnecessária, pois a entidade espiritual não se encontra no cemitério, e pode
ser lembrada e homenageada através da prece em qualquer lugar. A prece ditada
pelo coração, pelo sentimento, santifica a lembrança, e é sempre recebida com
prazer e alegria pelo desencarnado.
Pergunta: No ambiente
espiritual dos cemitérios comparecem apenas os espíritos cujos corpos foram lá
enterrados?
Resposta: Não.
Segundo as narrativas, o ambiente espiritual dos cemitérios fica bastante tumultuado
no chamado Dia de Finados. E isto ocorre por vários motivos. Primeiro como já dissemos
pela própria quantidade de pessoas que visitam os túmulos. Cada um de nós
levamos nossas companhias espirituais, somos acompanhados pelos espíritos
familiares. Depois, porque muitos espíritos que estão vagando desocupados e
curiosos do plano espiritual também acorrem aos cemitérios, atraídos pelo
movimento da multidão, tal como ocorre entre os encarnados. Alguns comparecem
respeitosos enquanto outros se entregam à galhofa e à zombaria.
Pergunta: E existem
espíritos que permanecem fixados no ambiente do cemitério depois de sua
desencarnação?
Resposta: Sim, embora
esta não seja uma ocorrência comum. Além disso, devemos nos lembrar de que nos
cemitérios, bem como em qualquer lugar, existem equipes espirituais trabalhando
para auxiliar, dentro do possível, os que estão em sofrimento.
Pergunta: Os
espíritos ligam alguma importância ao tratamento que é dado ao seu túmulo? As
flores, os enfeites, as velas, os mausoléus, influenciam no estado espiritual
do desencarnado?
Resposta: Não.
Somente os espíritos ainda muito ligados às manifestações materiais poderiam se
importar com o estado do seu túmulo, e mesmos estes em pouco tempo percebem a
inutilidade, em termos espirituais, de tais arranjos. O carinho com que são
cuidados os túmulos só tem algum sentido para os encarnados, que devem se
precaver para não criarem um estranho tipo de culto. Não devemos converter as
necrópoles vazias em "salas de visita do além", como diz Richard
Simonetti. Há locais mais indicados para nos lembrarmos daqueles que partiram.
Pergunta: E que tipo
de local seria este?
Resposta: O lar!
Nossos entes familiares que já desencarnaram podem ser lembrados na própria
intimidade e no aconchego de nosso lar, ao invés da frieza dos cemitérios e
catacumbas. Eles sempre preferirão receber nossa mensagem de saudade e carinho
envolvida nas vibrações do ambiente familiar. Qualquer que seja a situação
espiritual em que eles se encontrem, serão alcançados pelo nosso pensamento.
Por isso, devemos nos esforçar para, sempre que lembrarmos deles, que nosso
pensamento seja de saudade equilibrada, de desejo de paz e bem-estar, de apoio
e afeto, e nunca de desespero, de acusação, de culpa, de remorso.
Pergunta: Mas a
tristeza é natural, não?
Resposta: Sim, mas
não permitamos que a saudade se converta em angústia, em depressão. Usemos os
recursos da confiança irrestrita em Deus, da certeza de Sua justiça e sua
bondade. Deus é Amor, e onde haja a expressão do amor, a presença divina se
faz. Vamos permitir que essa presença acalme nosso coração e tranquilize nosso
pensamento, compreendendo que os afetos verdadeiros não são destruídos pela
morte física, não são encerrados na sepultura. Dois motivos, portanto para não
cultivarmos a tristeza: sentimos saudades – e não estamos mortos; nossos amados
não estão mortos – e sentem saudades... Se formos capazes de orar, com serenidade
e confiança, envolvendo a saudade com a esperança, sentiremos a presença deles
entre nós, envolvendo nossos corações em alegria e paz.
Equipe do CVDEE
Referências:
O
Livro dos Espíritos – Allan Kardec – questões 320 a 329
Quem
tem medo da morte? – Richard Simonetti
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