quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Filosofia Espírita


O Espiritismo, inclusive o nome, surge em 18 de abril de 1857, quando é colocado à venda na Livraria Dentu (Palais-Royal, Galeria) a obra "O Livro dos Espíritos", assinada por Allan Kardec, pseudônimo utilizado por Rivail para não confundir a obra com o autor, já por demais conhecido, trazendo pouco mais de quinhentas perguntas e respostas classificadas por assuntos e divididas em capítulos. Em seis meses a primeira edição esgotou, apesar dos ataques acadêmicos, da zombaria da imprensa e da proibição da Igreja Católica. A segunda edição, revista, ampliada, e que se tornaria definitiva, saiu com 1.019 perguntas e respostas, mais os comentários, introdução e conclusão assinados por Kardec.


Os princípios básicos do Espiritismo que compõem sua filosofia são os seguintes:

Deus

"Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas." (questão 01 de "O Livro dos Espíritos").
"Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom." (questão 13 de "O Livro dos Espíritos").
O ensino dos Espíritos Superiores é concorde com o pensamento iluminista que afirma a existência de um ser supremo, embora às vezes confunda o mesmo com a razão, o que o Espiritismo não faz, deixando claro tratar-se de um ser criado, causa de tudo o que existe no universo, e que pelos seus atributos, coerentes e magnânimos, a tudo preside, mas não de forma inflexível, pois "a cada um é dado segundo suas obras". A lei divina é imutável, mas não é rígida e fria. Por ser a bondade suprema, Deus deseja as suas criaturas somente o bem.

Imortalidade da Alma

"Podemos dizer que os Espíritos são os seres inteligentes da Criação. Eles povoam o universo, além do mundo material." (questão 76 de 'O Livro dos Espíritos").
"As almas (os homens) não são mais do que Espíritos. Antes de ligar-se ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam o mundo invisível, e depois reveste temporariamente um invólucro carnal, para se purificar e esclarecer." (questão 134-b de "O Livro dos Espíritos").
A definição do homem e sua destinação futura, contrapondo à morte a imortalidade da alma é perfeito complemento do artigo 4 da "Declaração dos Direitos do Homem", quando diz: "A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudicar a outrem", porque a vida continua e prestamos contas de nossos atos gravados na consciência. O Espiritismo revive o ensino de Jesus "faça ao próximo somente o que você queira que o próximo lhe faça", exatamente como o faz o espírito da "Declaração".
O homem possui liberdade de ação, através do uso da razão. Deus lhe concede o livre arbítrio, o poder de decidir, de escolher, sendo, portanto, responsável de si mesmo perante os outros e diante da lei divina. Para cada liberdade existe uma responsabilidade. Para cada direito consiste um dever.

Pluralidade das Existências

"A alma que não atingiu a perfeição durante a vida corpórea, como acaba de depurar-se? - Submetendo-se à prova de uma nova existência." (questão 166 de "O Livro dos Espíritos").
"(...) A razão não diz que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna aqueles cujo melhoramento não dependeu deles mesmos? Todos os homens não são filhos de Deus? (...)." (questão 171 de "O Livro dos Espíritos").
A reencarnação e a vida em outros mundos vêm ampliar o conceito iluminista "que o homem se aperfeiçoa graças à razão e, iluminado por ela, pode alcançar a prosperidade e a felicidade". Sim, o fim último do homem é ser feliz, mas isso ele somente conseguirá quando estiver plenamente aperfeiçoado, quando tiver em plenitude a inteligência e o amor. Até lá ele estará com a felicidade relativa, tentando equilibrar a fé com a razão, porque não basta uma ou outra, mas ambas.
E se a felicidade neste mundo é relativa, onde a justiça divina para com aqueles que não puderam construir, por variados motivos, essa felicidade e encontram-se às portas da morte? Ela está na reencarnação, na continuidade da vida, quando, em próxima existência, o estado social, orgânico, cultural, etc., será outro, para novas experiências, novos aprendizados. Então o rico sentirá em si mesmo a luta do dia-a-dia pelo pão, e o antigo operário, agora elevado de categoria social pelo novo nascimento, experimentará as vicissitudes da riqueza. Assim compreenderão o quanto é profunda a "Declaração dos Direitos" e se esforçarão em colocá-la em prática, para que toda sociedade garanta os direitos de seus cidadãos.

Comunicabilidade dos Espíritos

"Teu Espírito é tudo; teu corpo é uma veste que apodrece, eis tudo." (questão 196-a de "O Livro dos Espíritos").
Tudo é solidário na criação divina, tudo concorre para a evolução do homem, a vida e a morte são estágios interligados e como o Espírito - que todos somos - é tudo, nada impede que aqueles que já se transferiram para o mundo espiritual, após a morte do corpo, se comuniquem com os que ainda aqui se encontram. O canal dessa comunicação chama-se mediunidade, abrindo vasto campo à pesquisa e, também, à continuidade de trabalhos aqui iniciados.
Pela comunicabilidade ficamos sabendo da vida dos Espíritos, recebemos mensagens consoladoras e de esclarecimento, podemos interferir beneficamente em favor dos que partiram. É um vasto mundo que se abre, real, comprobatório de que não somos o corpo, nem o sangue, nem a posição social, com fatos irrecusáveis que mais engrandecem os reclamos iluministas pelos direitos comuns a todos.

Evolução

"Os Espíritos são bons ou maus por natureza, ou são eles mesmos que procuram melhorar-se? - Os Espíritos mesmos se melhoram; melhorando-se, passam de uma ordem inferior para uma superior."(questão 114 de "O Livro dos Espíritos").
Este princípio espírita é fundamental e vem de encontro ao pensamento original de Jean Jacques Rousseau, "o homem em estado de natureza é bom e puro", apenas esclarecendo que esse estado de natureza é a condição primeira do Espírito, pois após as primeiras encarnações, acrescido de experiências e tendo utilizado o livre arbítrio, já não é mais puro no sentido empregado por Rousseau, mas inocente por estar no período infantil, pronto para receber as influências da educação. Esforçando-se por melhorar, por se aperfeiçoar, ele alcançará o estado de Espírito puro, ou seja, aquele estado final de progresso moral e intelectual.
Bons em potência são todos os homens porque Deus é bondade, e puros todos os homens serão por força de sua evolução facultada pelo esforço próprio e pela determinação da lei divina.


Fonte: Orientação Espírita


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