O Espiritismo, inclusive o nome, surge em 18 de abril de 1857, quando é
colocado à venda na Livraria Dentu (Palais-Royal, Galeria) a obra "O Livro
dos Espíritos", assinada por Allan Kardec, pseudônimo utilizado por Rivail
para não confundir a obra com o autor, já por demais conhecido, trazendo pouco
mais de quinhentas perguntas e respostas classificadas por assuntos e divididas
em capítulos. Em seis meses a primeira edição esgotou, apesar dos ataques
acadêmicos, da zombaria da imprensa e da proibição da Igreja Católica. A
segunda edição, revista, ampliada, e que se tornaria definitiva, saiu com 1.019
perguntas e respostas, mais os comentários, introdução e conclusão assinados por
Kardec.
Os princípios básicos do Espiritismo que
compõem sua filosofia são os seguintes:
Deus
"Deus é a inteligência suprema, causa
primária de todas as coisas." (questão
01 de "O Livro dos Espíritos").
"Deus é eterno, infinito, imutável,
imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom." (questão 13 de "O Livro dos
Espíritos").
O ensino dos Espíritos Superiores é concorde
com o pensamento iluminista que afirma a existência de um ser supremo, embora
às vezes confunda o mesmo com a razão, o que o Espiritismo não faz, deixando
claro tratar-se de um ser criado, causa de tudo o que existe no universo, e que
pelos seus atributos, coerentes e magnânimos, a tudo preside, mas não de forma
inflexível, pois "a cada um é dado segundo suas obras". A lei divina
é imutável, mas não é rígida e fria. Por ser a bondade suprema, Deus deseja as
suas criaturas somente o bem.
Imortalidade da Alma
"Podemos dizer que os Espíritos são os
seres inteligentes da Criação. Eles povoam o universo, além do mundo material." (questão 76 de 'O Livro dos
Espíritos").
"As almas (os homens) não são mais do que
Espíritos. Antes de ligar-se ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que
povoam o mundo invisível, e depois reveste temporariamente um invólucro carnal,
para se purificar e esclarecer." (questão
134-b de "O Livro dos Espíritos").
A definição do homem e sua destinação futura,
contrapondo à morte a imortalidade da alma é perfeito complemento do artigo 4
da "Declaração dos Direitos do Homem", quando diz: "A liberdade
consiste em poder fazer tudo que não prejudicar a outrem", porque a vida
continua e prestamos contas de nossos atos gravados na consciência. O
Espiritismo revive o ensino de Jesus "faça ao próximo somente o que você
queira que o próximo lhe faça", exatamente como o faz o espírito da
"Declaração".
O homem possui liberdade de ação, através do
uso da razão. Deus lhe concede o livre arbítrio, o poder de decidir, de
escolher, sendo, portanto, responsável de si mesmo perante os outros e diante
da lei divina. Para cada liberdade existe uma responsabilidade. Para cada
direito consiste um dever.
Pluralidade das Existências
"A alma que não atingiu a perfeição
durante a vida corpórea, como acaba de depurar-se? - Submetendo-se à prova de
uma nova existência." (questão
166 de "O Livro dos Espíritos").
"(...) A razão não diz que seria injusto
privar para sempre da felicidade eterna aqueles cujo melhoramento não dependeu
deles mesmos? Todos os homens não são filhos de Deus? (...)." (questão 171 de "O Livro dos
Espíritos").
A reencarnação e a vida em outros mundos vêm
ampliar o conceito iluminista "que o homem se aperfeiçoa graças à razão e,
iluminado por ela, pode alcançar a prosperidade e a felicidade". Sim, o
fim último do homem é ser feliz, mas isso ele somente conseguirá quando estiver
plenamente aperfeiçoado, quando tiver em plenitude a inteligência e o amor. Até
lá ele estará com a felicidade relativa, tentando equilibrar a fé com a razão,
porque não basta uma ou outra, mas ambas.
E se a felicidade neste mundo é relativa, onde
a justiça divina para com aqueles que não puderam construir, por variados
motivos, essa felicidade e encontram-se às portas da morte? Ela está na
reencarnação, na continuidade da vida, quando, em próxima existência, o estado
social, orgânico, cultural, etc., será outro, para novas experiências, novos
aprendizados. Então o rico sentirá em si mesmo a luta do dia-a-dia pelo pão, e
o antigo operário, agora elevado de categoria social pelo novo nascimento,
experimentará as vicissitudes da riqueza. Assim compreenderão o quanto é
profunda a "Declaração dos Direitos" e se esforçarão em colocá-la em
prática, para que toda sociedade garanta os direitos de seus cidadãos.
Comunicabilidade dos Espíritos
"Teu Espírito é tudo; teu corpo é uma
veste que apodrece, eis tudo." (questão
196-a de "O Livro dos Espíritos").
Tudo é solidário na criação divina, tudo
concorre para a evolução do homem, a vida e a morte são estágios interligados e
como o Espírito - que todos somos - é tudo, nada impede que aqueles que já se
transferiram para o mundo espiritual, após a morte do corpo, se comuniquem com
os que ainda aqui se encontram. O canal dessa comunicação chama-se mediunidade,
abrindo vasto campo à pesquisa e, também, à continuidade de trabalhos aqui
iniciados.
Pela comunicabilidade ficamos sabendo da vida
dos Espíritos, recebemos mensagens consoladoras e de esclarecimento, podemos
interferir beneficamente em favor dos que partiram. É um vasto mundo que se
abre, real, comprobatório de que não somos o corpo, nem o sangue, nem a posição
social, com fatos irrecusáveis que mais engrandecem os reclamos iluministas
pelos direitos comuns a todos.
Evolução
"Os Espíritos são bons ou maus por
natureza, ou são eles mesmos que procuram melhorar-se? - Os Espíritos mesmos se
melhoram; melhorando-se, passam de uma ordem inferior para uma superior."(questão 114 de "O Livro dos
Espíritos").
Este princípio espírita é fundamental e vem de
encontro ao pensamento original de Jean Jacques Rousseau, "o homem em
estado de natureza é bom e puro", apenas esclarecendo que esse estado de
natureza é a condição primeira do Espírito, pois após as primeiras encarnações,
acrescido de experiências e tendo utilizado o livre arbítrio, já não é mais
puro no sentido empregado por Rousseau, mas inocente por estar no período
infantil, pronto para receber as influências da educação. Esforçando-se por
melhorar, por se aperfeiçoar, ele alcançará o estado de Espírito puro, ou seja,
aquele estado final de progresso moral e intelectual.
Bons em potência são todos os homens porque
Deus é bondade, e puros todos os homens serão por força de sua evolução
facultada pelo esforço próprio e pela determinação da lei divina.
Fonte: Orientação Espírita
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