Durante o sono, a alma não repousa como o corpo. O Espírito jamais está inativo. Durante o sono, afrouxam-se os laços que o prendem ao corpo e, não precisando este então da sua presença, ele se lança pelo espaço e entra em relação mais direta com os outros Espíritos.
Em o que chamas sono, só há o repouso do corpo,
visto que o Espírito está constantemente em atividade. Recobra, durante o sono,
um pouco da sua liberdade e se corresponde com os que lhe são caros, quer neste
mundo, quer em outros. Mas, como é pesada e grosseira a matéria que compõe, o
corpo dificilmente conserva as impressões que o Espírito recebeu, porque a este
não chegaram por intermédio dos órgãos corporais.
Na maioria das vezes olvidamos do que se passa
no sono. Mas, ao despertarmos, guardamos a intuição desse fato, do qual se
originam certas ideias que nos vêm espontaneamente, sem que possamos explicar
como nos acudiram. São ideias que adquirimos nessas confabulações.
Num estado que ainda não é bem o do
adormecimento, estando com os olhos fechados, vemos imagens distintas, figuras
cujas mínimas particularidades percebemos. Estando entorpecido o corpo, o
Espírito trata de desprender-se. Transporta-se e vê. Se já fosse completo o
sono, haveria sonho.
A atividade do Espírito, durante o repouso, ou
o sono corporal, pode fatigar o corpo. Pois que o Espírito se acha preso ao
corpo qual balão cativo ao poste. Assim como as sacudiduras do balão abalam o
poste, a atividade do Espírito reage sobre o corpo e pode fatigá-lo.
Isto, pelo que concerne aos Espíritos elevados.
Pelo que respeita ao grande número de homens que, morrendo, têm que passar
longas horas na perturbação, na incerteza de que tantos já vos falaram, esses
vão, enquanto dormem, ou a mundos inferiores a terra, onde os chamam velhas
afeições, ou em busca de gozos quiçá mais baixos do que os em que aqui tanto se
deleitam.
Vão beber doutrinas ainda mais vis, mais
ignóbeis, mais funestas do que as que professam entre vós. E o que gera a
simpatia na terra é o fato de sentir-se o homem, ao despertar, ligado pelo
coração àqueles com quem acaba de passar oito ou nove horas de ventura ou de
prazer.
Também as antipatias invencíveis se explicam
pelo fato de sentirmos em nosso íntimo que os entes com quem
antipatizamos têm uma consciência diversa da nossa. Conhecemo-los sem nunca os
termos visto com os olhos. É ainda o que explica a indiferença de muitos
homens. Não cuidam de conquistar novos amigos, por saberem que muitos têm que
os amam e lhes querem. Numa palavra: o sono influi mais do que supondes na
vossa vida.
Graças ao sono, os Espíritos encarnados estão
sempre em relação com o mundo dos Espíritos. Por isso é que os Espíritos
superiores assentem, sem grande repugnância, em encarnar entre vós. Quis Deus
que, tendo de estar em contacto com o vício, pudessem eles ir retemperar-se na
fonte do bem, a fim de igualmente não falirem, quando se propõem a instruir os
outros.
O sono é a porta que Deus lhes abriu, para que
possam ir ter com seus amigos do céu; é o recreio depois do trabalho, enquanto
esperam a grande libertação, a libertação final, que os restituirá ao meio que
lhes é próprio.
O sonambulismo natural e artificial, o êxtase e
a dupla visão são efeitos vários, ou de modalidades diversas, de uma mesma
causa. Esses fenômenos, como os sonhos, estão na ordem da Natureza. Tal a razão
por que hão existido em todos os tempos. A História mostra que foram sempre
conhecidos e até explorados desde a mais remota antiguidade e neles se nos depara
a explicação de uma imensidade de fatos que os preconceitos fizeram fossem
tidos por sobrenaturais.
O sono liberta a alma parcialmente do corpo.
Quando dorme, o homem se acha por algum tempo no estado em que fica
permanentemente depois que morre. Tiveram sonos inteligentes os Espíritos que,
desencarnando, logo se desligam da matéria. Esses Espíritos, quando dormem, vão
para junto dos seres que lhes são superiores. Com estes viajam, conversam e se
instruem. Trabalham mesmo em obras que se lhes deparam concluídas, quando
volvem, morrendo na Terra, ao mundo espiritual. Ainda esta circunstância é de
molde a vos ensinar que não deveis temer a morte, pois que todos os dias
morreis, como disso um santo.
Os bons espíritos podem preveni-lo, pelos
processos intuitivos, quanto ao cuidado que deverá manter consigo mesmo no
terreno das preocupações excessivas, mormente à noite, quando ocorrem os fenômenos
desastrosos mais sérios de circulação, em vista da invigilância de muitas
pessoas que se valem das horas sagradas do repouso físico para a criação de
fantasmas cruéis, no campo vivo do pensamento.
De passagem por nosso templo, rogo vênia para
ocupar-lhes a atenção com alguns apontamentos ligeiros, em torno de nossas
tarefas habituais. - Dia e noite, no tempo, simbolizam existência e morte na
vida. - Não há morte libertadora sem existência edificante. - Não há
noite proveitosa sem dia correto.
Vocês não ignoram que a atividade espiritual da
alma encarnada estende-se além do sono físico; no entanto, a invigilância e a
irresponsabilidade, à frente de nossos compromissos, geram em nosso prejuízo,
quando na terra, as alucinações hipnogógicas, toda vez que nos confiamos ao
repouso.
É natural que o dia mal vivido exija a noite
mal assimilada.
O espírito menos desperto para o serviço que
lhe cabe, certamente encontrará, quando desembaraçado da matéria densa,
trabalho imperioso de reparação a executar.
- Por esse motivo, grande maioria de
companheiros encarnados gasta as horas de sono exclusivamente em esforço compulsório
de reajuste.
- Mas, se o aprendiz do bem atende à solução
dos deveres que a vigília lhe impõe, torna-se, como é justo, além do veículo
físico, precioso auxiliar nas realizações da Esfera Superior.
Convidamos, assim, a vocês, tanto quanto a
outros amigos a quem nossas palavras possam chegar, à tarefa preparatória do
descanso noturno, através do dia retamente aproveitado, a fim de que a noite
constitua uma província de reencontro das nossas almas, em valiosa conjugação
de energias, não somente a benefício de nossa experiência particular, mas
também a favor dos nossos irmãos que sofrem.
Muitas atividades podem ser desdobradas com a
colaboração ativa de quantos ainda se prendem ao instrumento carnal,
principalmente na obra de socorro aos enfermos que enxameiam por toda parte.
Vocês não desconhecem que quase todas as
moléstias rotineiras são doenças da ideia, centralizadas em coagulações de
impulsos naturais, e somente ideias renovadoras representam remédio decisivo.
Por ocasião do sono, é possível a ministração
de amparo direto e indireto às vítimas dos labirintos de culpa e das obsessões
deploráveis, por intermédio da transfusão de fluidos e de raios magnéticos, de
emanações vitais e de sugestões salvadoras que, na maior parte dos casos, somente
os encarnados, com a assistência da Vida Superior, podem doar a outros
encarnados.
E benfeitores da Espiritualidade vivem a
postos, aguardando os enfermeiros de boa-vontade, samaritanos da caridade
espontânea, que, superando inibições e obstáculos, se transformem em cooperadores
diligentes na extensão do bem.
Se vocês desejam partilhar semelhante concurso,
dediquem alguns momentos à oração, cada noite, antes do mergulho no refazimento
corpóreo.
Contudo, não basta a prece formulada só por só.
É indispensável que a oração tenha bases de
eficiência no dia bem aproveitado:- com abstenção da irritabilidade, -
esforço em prol da compreensão fraterna, - deveres irrepreensivelmente
atendidos, - bons pensamentos, - respeito ao santuário do
corpo, - solidariedade e entendimento para com todos os irmãos do
caminho.
- E, sobretudo:- com a calma que não chegue à
ociosidade, - com a diligência que não atinja a demasiada
preocupação, - com a bondade que não se torne exagero
afetivo, - e com a retidão que não seja aspereza contundente.
Em suma, não prescindimos do equilíbrio que
converta a oração da noite numa força de introdução à espiritualidade, porque,
através da meditação e da prece, o homem começa a criar a consciência nova que
o habilita a atuar dignamente fora do corpo adormecido.
Consagrem-se à iniciação a que nos referimos e
estaremos mais juntos. É natural não venham a colher resultados, de imediato,
nas faixas mnemônicas da recordação, mas, pouco a pouco, nossos recursos
associados crescerão, oferecendo-nos mais alto sentido de integração com a vida
verdadeira e possibilitando-nos o avanço progressivo no rumo de mais amplas
dimensões nos domínios do Universo.
Aqui deixamos assinalada nossa lembrança que
encerra igualmente um apelo ao nosso trabalho mais intensivo na aplicação
prática ao ideal que abraçamos, porque a alma que se devota à reflexão e ao
serviço, ao discernimento e ao estudo, vence as inibições do sono fisiológico
e, desde a Terra, vive por antecipação na sublime imortalidade.
Fonte:
Do livro "No Mundo Maior”, Pelo espírito de André Luiz, Psicografia de Chico
Xavier Instrução Espiritual de Calderaro.
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