1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo é mostrar que a
doutrina codificada por Allan Kardec ajusta-se perfeitamente ao texto do
evangelista João sobre o Consolador Prometido. Para que possamos entender o
alcance daquelas palavras, convém refletirmos sobre os ensinamentos trazidos
por Jesus e o que os homens fizeram deles ao longo do tempo.
2. AS TRÊS REVELAÇÕES
Até o advento do Espiritismo, tínhamos duas
revelações:
1.ª) Moisés e o Decálogo;
2.ª) Jesus Cristo e a Lei do Amor.
Estas duas primeiras revelações foram pessoais
e locais. Há, por exemplo, duas partes distintas na lei mosaica: a lei de Deus,
promulgada sobre o Monte Sinai, e a lei civil ou disciplinar, estabelecida por
Moisés; uma invariável; a outra, apropriada aos costumes e ao caráter do povo,
que se modifica com o tempo. Jesus não veio destruir a lei de Deus; ele
veio cumpri-la, que dizer, desenvolvê-la, dar-lhe o seu verdadeiro sentido, e
apropriá-la ao grau de adiantamento dos homens. Em realidade, os seus ensinamentos
constituem o 11.º mandamento, expresso nos seguintes dizeres: "Amar a Deus
sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo".
A 3.ª revelação, que é o Espiritismo, não foi
nem local e nem pessoal. Foram os Espíritos que a ditaram. Allan Kardec foi
apenas o Codificador, o organizador.
3. O TEXTO EVANGÉLICO
"Se vós me amais, guardai meus
mandamentos; e eu pedirei a meu Pai, e ele vos enviará um outro Consolador, a
fim de que permaneça eternamente convosco: o Espírito de Verdade que o mundo
não pode receber, porque não o vê e não o reconhece. Mas quanto a vós, vós o
conhecereis porque permanecerá convosco e estará em vós. Mas o Consolador, que
é o Santo-Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as
coisas e vos fará relembrar de tudo àquilo que eu vos tenha dito". (São
João, cap. XIV, v. 15 a 17 e 26)
Se, pois, o Espírito de verdade deve vir mais
tarde ensinar todas as coisas, é que o Cristo não disse tudo; se ele vem fazer
recordar aquilo que o Cristo disse, é porque isso foi esquecido ou mal compreendido.
4. O ESPÍRITO DE VERDADE
O Espírito de Verdade diz: "Espírita!
Amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo. Todas as
verdades se encontram no Cristianismo; os erros que nele se enraizaram são de
origem humana".
Mas o que se deve entender como Espírito de
verdade?
De acordo com J. H. Pires, em Revisão do
Cristianismo, "O Espírito da verdade não é uma entidade definida, uma
criatura humana ou espiritual, mas simplesmente a essência do ensino de Jesus,
que se restabeleceria através dos homens que mais rapidamente se aproximassem
da sua verdadeira compreensão". (1983, p. 9) A breve síntese do texto, que
se expressa em "ensinar e relembrar", mostra que a visão do Mestre
abrangia todo o panorama das transformações históricas de um longo futuro.
5. O CRISTIANISMO
5.1. VISÃO GERAL
O Cristianismo surge na confluência do
misticismo oriental, do messianismo judeu, do pensamento grego e do
Universalismo romano. O núcleo da doutrina cristã é a fé num Deus revelado como
Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, crença comum a todas as igrejas. É
uma religião monoteísta que coloca em primeiro plano a comunhão com Deus, o
Pai, por intermédio de seu filho Jesus Cristo, o Salvador da Humanidade.
O Cristianismo, religião dos cristãos, está
centrado na vida e obra de Jesus Cristo. À semelhança de Sócrates, Cristo não
nos deixou nada escrito. Seus ensinamentos são anotados pelos apóstolos e
passam, mais tarde, a constituir os Evangelhos. A palavra Evangelho, no
singular, representa a unidade do pensamento de Jesus, ou seja, o alegre
anúncio; no plural, a diversidade de interpretação dos evangelistas. Por isso,
dizemos o Evangelho segundo Mateus, o Evangelho segundo Lucas, o Evangelho
segundo Marcos e o Evangelho segundo João.
5.2. AMBIENTE POLÍTICO-RELIGIOSO
O povo judeu, ao qual Jesus e os apóstolos
pertenciam, fazia parte do grande império romano que estendia as asas das suas
águias do Atlântico ao Índico. O jugo romano, porém, pesava de modo especial
sobre a Palestina ao contrário dos outros povos.
O ambiente histórico-religioso em que o
Evangelho nasceu é o do judaísmo formado e alimentado pelos livros sacros do
Antigo Testamento, condicionado pelos acontecimentos históricos, pelas instituições
nas quais se encontrou inserido e pelas correntes religiosas que o especificaram.
Embora o cristianismo seja uma religião
revelada, diferente da judaica, apareceu historicamente como continuação e
aperfeiçoamento da revelação dada por Deus ao povo de Israel. Jesus era um
judeu, que nasceu e viveu na Palestina. Os apóstolos eram todos da sua gente e
da sua religião.
Por isso, nos Evangelhos encontramos
descrições, alusões e referências a pessoas, instituições, ideias e práticas
religiosas do ambiente judaico, frente às quais Jesus e os apóstolos tomaram
posição, aceitando-as ou rejeitando-as. (Battaglia, 1984, p. 118)
5.3 ALTERAÇÃO DO CRISTIANISMO: OS DOGMAS
A divulgação do Evangelho, desde as suas
primeiras manifestações, não foi tarefa fácil. A começar pela construção desses
conhecimentos — realizada sob um clima de opressão —, pois o jugo romano, como
vimos anteriormente, pesava de maneira especial sobre a Palestina. As mortes
dos primeiros cristãos, nos circos romanos, ainda ecoa de maneira indelével em
nossos ouvidos. Além disso, tivemos que assistir à ingerência política em muitas
questões de conteúdo estritamente religioso. Fomos desfigurando o Cristianismo
do Cristo para aceitarmos o Cristianismo dos vigários, como disse o Padre Alta.
A fé, o principal alimento da alma, torna-se dogmática nas mãos de políticos e
religiosos inescrupulosos. Para ganhar os céus, tínhamos que confessar as
nossas culpas, pagar as indulgências e obedecermos aos inúmeros dogmas criados
pela Igreja: o dogma do pecado original, o dogma da infalibilidade papal, o dogma
da Santíssima Trindade etc. Este desvirtuamento da pureza religiosa que o
Cristo nos trouxe, retirou da religião quase tudo o que ela tinha de divino,
sobrando apenas às injunções humanas, limitadas e repletas de interesses pessoais.
6. ESPIRITISMO
"O Espiritismo vem, no tempo marcado,
cumprir a promessa do Cristo: o Espírito de Verdade preside a sua instituição,
chama os homens à observância da lei e ensina todas as coisas em fazendo compreender
o que o Cristo não disse senão por parábolas. O Cristo disse: "Que ouçam
os que têm ouvidos de ouvir"; o Espiritismo vem abrir os olhos e os
ouvidos, porque fala sem figuras e sem alegorias; ele ergue o véu deixado
propositadamente sobre certos mistérios, vem, enfim, trazer uma suprema consolação
aos deserdados da Terra e a todos aqueles que sofrem, dando uma causa justa e
um fim útil a todas as dores”. (Kardec, 1984, p. 97)
Debruçando-nos sobre o princípio da reencarnação,
encontramos explicações para todos os nossos sofrimentos: se nos falta uma
perna, podemos supor que numa encarnação passada a usamos de modo indevido; se
sofremos a prova da pobreza, podemos imaginar que já fomos ricos em outras
oportunidades e não soubemos usar o dinheiro a favor do próximo.
7. CONCLUSÃO
O Espiritismo tem resposta para todas as nossas
dúvidas e consolo para todos os nossos dissabores. É preciso, pois, penetrar
nele com um sentimento de humildade e de agradecimento a Deus.
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BATTAGLIA, 0. Introdução aos
Evangelhos — Um Estudo Histórico-crítico. Rio de Janeiro, Vozes, 1984.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o
Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.
PIRES, J. H. Revisão do Cristianismo. 2.
ed., São Paulo, Paidéia, 1983.
Sérgio Biagi Gregório
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