sábado, 7 de setembro de 2013

O OBSESSOR



 “No recôndito de meu Espírito, ainda trago a marca das feridas da qual fui vítima, em um passado não muito remoto.
Meus verdugos, quem seriam? Infelizmente, tenho que explicar: Meus verdugos eram meus próprios pais.
Há muito, eu aguardava a oportunidade de reencarnar. Trazia, de um passado enegrecido, ofensas e mais ofensas quanto aos direitos de meus semelhantes, que deveriam ser respeitados, os quais deixei de cumprir.
Enfim a oportunidade surgiria, quando aqueles, que comigo partilharam tais atos, estariam vinculados a mim, oferecendo-me a reencarnação e, como meus genitores, saborearíamos 
os frutos de um passado delituoso.
Tudo acertado. Sendo que o reencarnar para mim, era como se fosse uma aurora 
sublime a despontar entre os lodaçais pantanosos das trevas, em que vivia. Era como se fosse oferecida a liberdade a mim de uma forma condicional, idêntica ao de encarcerado que desfruta como residente da Casa dos Albergados.
Qual! Tudo não passara de um sonho. Porque eles, aqueles a quem competiam oferecer-me tal oportunidade, quando os havia procurado na fecundação da célula da vida, me permitiram a sobrevivência de apenas dias, mal dando para completar um mês.
A minha vida se fora; desaparecera a aurora sublime da Esperança, pois, impiedosamente fui abortado.
Sofri, sofri muito. Foi uma mutilação que senti membro por membro, a sangue frio. Nesse ínterim, perguntei a mim mesmo: “O que fazer a meus verdugos”? Seria justo, enquanto eu 
sofria as dores terríveis da expulsão nas sombras das trevas, eles caminharem felizes pela vida? O que deveria eu fazer? ”
Achei por bem fazer justiça com minhas próprias mãos, perseguindo-os por toda a existência física com objetivo de infernizar seu lar; atormentá-los a ponto de loucura e destruir seus elos de amizade, levando-os à falência total.
E assim comecei a execução de meus planos: atormentei-os, atormentei-os até quase enlouquecê-los.
Decorridos alguns anos, comecei a sentir compaixão dos mesmos e quando os vi se encaminharem a uma Casa Espírita para tratamento psíquico, resolvi abandoná-los.
Esta minha ação muito me auxiliará, porque abnegados amigos espirituais de Luz passaram a me ajudar, informando-me que o uso da paciência e o perdão fariam com que o tempo se incumbisse de realizar um novo encontro com aqueles que me haviam expulsado. 
Assim, através da reconciliação surgiria nova oportunidade do reencarne.
Hoje, aguardo feliz e confiante, porque começo a sentir que muito em breve a aurora sublime surgirá, despontando entre o vale frio do ódio e revolta, onde me acomodei, libertando-me pelas portas da reencarnação.


Livro:Os abortados
Personagem:Espírito abortado.
(Nércio Antônio Alves, Os abortados, 4.ed., p. 67-69)


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