sábado, 14 de setembro de 2013

ALLAN KARDEC


1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é refletir sobre a vida e obra de Allan Kardec e as razões pelas quais ele organizou o conteúdo doutrinário do Espiritismo. Tencionamos, assim, formar uma linha psicológica do Codificador, no sentido de melhor entender a sua  nobre missão.

2. DADOS BIOGRÁFICOS

Hippolyte-Léon Denizard Rivail —  Allan Kardec — nasceu no dia 03 de outubro de 1804, às 19 horas, na Cidade de Lyon, na França. Seu pai, Jean-Baptiste-Antoine Rivail, era magistrado, juiz de direito; sua mãe, Jeanne Duhamel, era professora; sua esposa, Amélie Grabielle Boudet, também, era professora. Como homem podemos dizer que foi professor, escritor, filósofo e cientista. Faleceu no dia 31 de março de 1869, com 64 anos de idade. 

3. AS CIRCUNSTÂNCIAS HISTÓRICAS

Depois da Idade Média, em que se atrofiou o espírito crítico, vimos, em todo o globo,  o aparecimento de novas ideias, quer seja na ciência, na filosofia, na religião etc. As ciências tornaram-se teórico-experimentais, ou seja, toda a hipótese levantada deveria ser comprovada pelos fatos. A Filosofia foi sensivelmente influenciada pelo racionalismo de Descartes, pelo positivismo de Comte e pelo realismo crítico de Kant. Em outros campos de conhecimento, lembramo-nos de Franz Anton Mesmer (1734-1815) e da sua descoberta da teoria do magnetismo animal (1779). Afirmava existir um fluido que interpenetrava tudo, dando, às pessoas, propriedades análogas àquelas do ímã. Em 1787, o marquês de Puysegur descobre o sonambulismo. Em 1841, Braid descobre o hipnotismo. Charcot o estuda metodicamente; Liebault o aplica à clínica; Freud o utiliza ao criar a Psicanálise. No campo político, o advento do Parlamentarismo na Inglaterra, em 1688, a Independência dos Estados Unidos, em 1776 e a Revolução Francesa, em 1789 consolidaram os preceitos de liberdade que o mundo necessitava. Contudo, de acordo com o Espírito Emmanuel, em A Caminho da Luz, alguns Espíritos incumbidos de implantar a liberdade em nosso planeta não conseguiram levar avante as suas missões. Marat e Robespierre pelos excessos de violência durante o período revolucionário e Napoleão Bonaparte pela escravidão de outros povos, por exemplo, criaram uma espécie de provação coletiva para o povo francês.  

4. CAUSAS DO APARECIMENTO DO ESPIRITISMO EM FRANÇA

Podemos apontar pelo menos três causas para o surgimento do Espiritismo na França:
1.ª) sendo o Espiritismo o Consolador Prometido, os seus princípios codificados, já serviriam para mitigar as provações coletivas da França;
2.ª) a França havia se tornado o centro cultural do mundo ocidental, e tudo o que ali fosse feito, teria uma repercussão mundial;
3.ª) Allan Kardec, na época de Júlio César, vivera nas Gálias, região que representa a França atual.

5. PESTALOZZI

João Henrique Pestalozzi (1746-1827) é talvez a personagem mais importante da história da pedagogia. Desenvolveu suas ideias em conexão com experiências pedagógicas práticas, na Suíça, seu país de origem. Dedicou-se especialmente à educação de crianças órfãs e abandonadas. Desejava que se chegasse a um desenvolvimento harmônico da mente, do coração e da mão. A leitura de Emílio, de Rousseau, romance sobre educação, levou-o a divulgar e aplicar as ideias pedagógicas expostas nesta obra, considerando que a solução para os problemas sociais deveria ser procurada na reforma do ensino. Empregou o método indutivo. Dizia que as atividades dos alunos deveriam partir do simples para o complexo, do conhecido para o desconhecido, do particular para o geral, do concreto para o abstrato.

6. KARDEC, ALUNO DE PESTALOZZI

De acordo com Henri Sausse, em seu discurso sobre a Biografia de Allan Kardec,  Rivail Denizard fez em Lião os seus primeiros estudos e completou em seguida a sua bagagem escolar, em Yverdun (Suíça), com o célebre professor Pestalozzi, de quem cedo se tornou um dos mais eminentes discípulos, colaborador inteligente e dedicado. Aplicou-se, de todo o coração, à propaganda do sistema de educação que exerceu tão grande influência sobre a reforma dos estudos na França e na Alemanha. Muitíssimas vezes, quando Pestalozzi era chamado pelos governos, um pouco de todos os lados, para fundar institutos semelhantes ao de Yverdun, confiava a Denizard Rivail o encargo de o substituir na direção da sua escola. O discípulo tornado mestre tinha, além de tudo, com os mais legítimos direitos, a capacidade requerida para dar boa conta da tarefa que lhe era confiada. Era bacharel em letras e em ciências e doutor em medicina, tendo feito todos os estudos médicos e defendido brilhantemente sua tese. Linguista insigne conhecia a fundo e falava corretamente o alemão, o inglês, o italiano e o espanhol; conhecia também o holandês, e podia facilmente exprimir-se nesta língua.

7. ESCRITOS SOBRE EDUCAÇÃO

Allan Kardec, membro de várias sociedades sábias, notadamente da Academia Real d’Arras, foi premiado, por concurso, em 1831, pela apresentação da sua notável memória: Qual o sistema de estudo mais em harmonia com as necessidades da época?
Dentre as suas numerosas obras convém citar, por ordem cronológica:
Plano apresentado para o melhoramento da instrução pública, em 1828;
Curso prático e teórico de aritmética, em 1829;
Gramática francesa clássica, em 1831; 
Manual dos exames para obtenção dos diplomas de capacidade, em 1846;
Catecismo gramatical da língua francesa, em 1848;
Ditados normais dos exames na Municipalidade e na Sorbona; Ditados especiais sobre as dificuldades ortográficas, em 1849.

8. COMEÇO DA CODIFICAÇÃO ESPÍRITA

Foi em 1854 que o Sr. Rivail ouviu pela primeira vez falar nas mesas girantes, a princípio do Sr. Fortier, magnetizador, com o qual mantinha relações, em razão dos seus estudos sobre o Magnetismo. O Sr. Fortier lhe disse um dia: “Eis aqui uma coisa que é bem mais extraordinária: não somente se faz girar uma mesa, magnetizando-a, mas também se pode fazê-la falar. Interroga-se, e ela responde.”
- Isso, replicou o Sr. Rivail, é uma outra questão; eu acreditarei quando vir e quando me tiverem provado que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir, e que se pode tornar sonâmbula. Até lá, permita-me que não veja nisso senão uma fábula para provocar o sono.
Tal era a princípio o estado de espírito do Sr. Rivail, tal o encontraremos muitas vezes, não negando coisa alguma por parti pris, mas pedindo provas e querendo ver e observar para crer; tais nos devemos mostrar sempre no estudo tão atraente das manifestações do Além.

9. AS SUAS DUAS ENCARNAÇÕES PASSADAS

1.ª) COMO SACERDOTE DRUIDA

Segundo os historiadores, o pseudônimo Allan Kardec decorre do fato de que, no início do seu trabalho de pesquisa sobre o Espiritismo, estando Denizard Rivail consciente de que tudo acontecia em relação aos indivíduos, quando ainda parecia mistério, baseava-se na Reencarnação (princípio das vidas sucessivas e interdependentes), um Espírito lhe revelou que, desde remotas existências, já o conhecia, pois o mesmo fora, em vida física passada no solo francês, um DRUÍDA com o nome de ALLAN KARDEC.

Como observação, esclarecem os historiadores que o Druidismo é a religião dos druidas, sacerdotes pagãos dos povos celtas que habitavam a Gália e a Bretanha no período anterior ao Cristianismo, mais especificamente entre o século II A.C. e o século II, D.C. O Druida, por sua vez, era o nome pelo qual era identificado, entre os Celtas, importante grupo social que desempenhava variadas funções, sendo os responsáveis por manutenção e guarda dos valores da civilização céltica. Acrescentam ainda que os sacerdotes druidas se posicionavam contrários “à construção de templos e à representação dos Deuses ou Espíritos”.

2.ª) COMO JOÃO HUSS

João Huss nasceu em Hussinet, perto de Fichtelgebirge, na Boêmia, cerca da fronteira bávara e do limite linguístico entre o alemão e o checo, em 1373, e morreu queimado na fogueira em 1415. Huss foi influenciado pelas ideias de Wiclef (1333-1384), teólogo e reformador inglês. Wiclef desenvolveu alguns tratados sobre odominiun, ou seja, a ideia de que o poder vem de Deus e apenas é legítimo naqueles que se encontram em estado de graça. As suas teses contrariavam os interesses da Igreja católica: expressava-se contra o poderio papal, os votos religiosos, os benefícios e riquezas do clero, as indulgências e a concepção tradicional acerca do sacerdócio.
Huss, como professor da Universidade de Praga, distinguiu-se nas discussões mais abstratas e no conhecimento de Aristóteles, da Bíblia e dos Santos Padres. Como tradutor das obras de Wiclef, propagou várias teses antidogmáticas. Baseando-se nos escritos de Wiclef, negou a necessidade de confissão auricular, atacou como idolátrico o culto de imagens, da Virgem Maria e dos Santos e a infalibilidade papal. Com isso, teve a ira do clero contra a sua pessoa, que após várias admoestações acabou sendo queimado no dia 06/07/1415. Ao seu lado morreu Jerônimo de Praga. (Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura)

10. OBRAS BÁSICAS

As Obras Básicas, também, cognominadas de Pentauteco Espírita, compõem-se dos seguintes livros:

O Livro dos Espíritos (1857);
O Livro dos Médiuns - ou Guia dos Médiuns e dos Doutrinadores (1861);
O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864);
O Céu e o Inferno - ou Justiça Divina Segundo o Espiritismo (1865);
A Gênese - os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo (1868).
Porém, além destes livros, Kardec escreveu também:
O que é o Espiritismo (1859);
O Espiritismo em sua Expressão Mais Simples (1862);
Viagem Espírita (1862);
Obras Póstumas (1.ª edição — 1890);
Revista Espírita, periódico mensal (1.ª edição — 1.º de janeiro de 1858)

11. UNIVERSALIDADE DOS PRINCÍPIOS

A característica fundamental do Espiritismo é a UNIVERSALIDADE  dos seus princípios.
Para que o conteúdo doutrinário não ficasse restrito à autoridade de um único Espírito ou de um único médium, Kardec submetia toda a manifestação mediúnica ao crivo da razão. Apoiando-se no método teórico-experimental das ciências naturais, cruzava as diversas respostas dadas por diversos Espíritos a diversos médiuns espalhados pelo mundo inteiro. Assim sendo, dizia que "a única garantia séria do ensinamento dos Espíritos está na concordância que existe entre as revelações feitas espontaneamente, por intermédio de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e em diversos lugares". (Kardec, 1984, p. 11 a 18)

12. CONCLUSÃO

O Espiritismo está penetrando no rádio, na televisão e nos demais meios de comunicação social. Sendo assim, é imperioso conhecermos alguns fatos da vida do seu Codificador. Sem esse esforço de nos inteiramos da sua obra, da sua abnegação, do seu estado de espírito, jamais alcançaremos a plena compreensão da Doutrina dos Espíritos. 

13. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura. Lisboa, Verbo, s. d. p.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.
KARDEC, A. O Que é o Espiritismo. 23. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1981.
XAVIER, F. C. A Caminho da Luz - História da Civilização à Luz do Espiritismo, pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro, FEB, 1972.

14. LIVROS QUE TRATAM DA VIDA E OBRA DE ALLAN KARDEC

AMORIM, D. Allan Kardec. 2. ed., Minas Gerais, Instituto Maria, 1976.
IMBASSAHY, C. A Missão de Allan Kardec. 2. ed., Curitiba, FEP, 1988.
MOREIL, A. Vida e Obra de Allan Kardec. 4. ed., São Paulo, Edicel, 1977.
SAUSSE, H. Biografia de Allan Kardec. São Paulo, Lake, 1972.
WANTUIL, Z. (Org.) Grandes Espíritas do Brasil. Rio de Janeiro, FEB, 1968.
WANTUIL, Z. e THIESEN, F. Allan Kardec: Meticulosa Pesquisa Biobibliográfica. Rio de Janeiro, FEB.



Sérgio Biagi Gregório

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