Muitas
vezes nos perguntamos como pode haver materialistas quando, tendo eles passado
pelo mundo espiritual, deveriam ter do mesmo a intuição; ora, é precisamente
essa intuição que é recusada a alguns Espíritos que, conservando o orgulho, não
se arrependeram das suas faltas. Para esses tais, a prova consiste na
aquisição, durante a vida corporal e à custa do próprio raciocínio, da
prova da existência de Deus e da vida futura que têm, por assim dizer, incessantemente
sob os olhos. Muitas vezes, porém, a presunção de nada admitir, acima de si, os
empolga e absorve. Assim, sofrem eles a pena até que, domado o orgulho, se
rendem à evidência."
(O
Céu e o Inferno, 2ª Parte, cap.V, 45. ed. FEB, p. 313-314).
Aos
materialistas não faleis de revelação, nem de anjos, nem do paraíso: não vos
compreenderiam. Colocai-vos, porém, no terreno em que eles se encontram e
provai-lhes primeiramente que as leis da Fisiologia são impotentes para tudo
explicar; o resto virá depois.
[17b
- página 43 item 21]
Cada
um é, seguramente, livre para crer no que lhe agrada, ou para não crer em nada,
e não desculparíamos mais uma perseguição contra aquele que crê no nada depois da
morte, que contra um cismático de uma religião qualquer. Combatendo o
materialismo, nós atacamos não os indivíduos, mas uma doutrina que, se é
inofensiva para a sociedade quando se encerra no foro íntimo da consciência de
pessoas esclarecidas, é uma calamidade social, se ela se generaliza.
A
crença de que tudo termina para o homem depois da morte, que toda solidariedade
cessa com a vida, o conduz a considerar o sacrifício do bem-estar presente em
proveito de outro como uma intrujice; daí a máxima: cada um por si durante a
vida, uma vez que nada há além dela. A caridade, a fraternidade, a moral, não
têm nenhuma base, nenhuma razão de ser. Por que se mortificar, se reprimir, se
privar hoje quando, amanhã talvez, não existiremos mais? A negação do futuro, a
simples dúvida sobre a vida futura, são os maiores estimulantes do egoísmo,
fonte da maioria dos males da Humanidade. É preciso uma virtude bem grande para
se deter sobre a inclinação do vício e do crime, sem outro freio além da força
da vontade. O respeito humano pode conter o homem do mundo, mas não aquele para
o qual o temor da opinião pública é nulo.
A
crença na vida futura, mostrando a perpetuidade das relações entre os homens,
estabelece entre eles uma solidariedade que não termina no túmulo; ela muda,
assim, o curso das ideias. Se essa crença fosse apenas um espantalho, seria
temporária; mas como sua realidade é um fato adquirido pela experiência, ela
está no dever de a propagar e de combater a crença contrária, no interesse
mesmo da ordem social. É isso o que faz o Espiritismo, e com sucesso, porque dá
as provas, e porque, em definitivo, o homem prefere ter a certeza de viver
feliz em um mundo melhor, como compensação às misérias deste mundo, do que crer
estar morto para sempre. O pensamento de se ver aniquilado para sempre, de crer
os filhos e os seres que nos são caros, perdidos sem retorno, sorri a um bem
pequeno número, crede-me; por isso os ataques dirigidos contra o Espiritismo em
nome da incredulidade têm tão pouco sucesso, e não o abalaram um instante.
Allan
Kardec
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