Sou
Alyson Miguel Harrad Reis. Tenho 13 anos, sou negro, de cabelos escuros e
encaracolados, tenho 1,62 metro de altura. Fui adotado com 10 anos e
pertenço agora à família Harrad Reis. Durante três anos passei por sete
abrigos, passando de um a outro, fugindo e vivendo situações precárias. Quando
cheguei à casa dos meus pais adotivos eu era muito birrento, bagunceiro e
mal-educado. Durante dois anos, meus queridos e amados pais me deram uma
educação muito rígida, mas é a melhor que eu já tive. Inclusive, na aula de
Inglês, um colega chamou meus pais de gays e a professora falou para ele que
meus pais, sendo homossexuais assumidos, me dão melhor educação do que qualquer
um dos pais das crianças da escola e da minha sala.
Quando
cheguei à minha escola, perguntei para os meus colegas sobre a rotina deles e
me disseram que não tinham rotina; a cada dia faziam uma coisa diferente, o que
quisessem: chegavam em casa, almoçavam, dormiam até as 6 da tarde, depois
ficavam no computador e nem faziam as tarefas.
Eu
até falei para o meu pai que a nossa família não era normal porque, comparado à
rotina e ao comportamento dos meus amigos, os meus são totalmente diferentes.
Nenhum deles tem contrato, rotina e combinado. Quando falei para os meus pais
que eu era adotado por eles, disseram que eu não era mais adotado: era seu
filho de verdade.
É
triste saber que, no Brasil, menos de 1% das famílias habilitadas quer adotar
crianças acima de 8 anos. Eu afirmo que isso é causado pelo racismo e
preconceito de idade. Negros e adolescentes também são humanos e merecem os
mesmos direitos de família como os brancos e crianças mais novas.
Em
Curitiba, há 668 crianças e adolescentes acolhidos, 160 aptos à adoção, e 816
famílias habilitadas. No Paraná, são 3,5 mil acolhidos, 653 aptos à adoção, e
5,1 mil famílias habilitadas. E, no Brasil, são 46,6 mil acolhidos, 5.260 aptos
à adoção e 30,4 mil famílias habilitadas.
Eu
agradeço a meus orixás por ter uma família, porque ninguém merece ter o governo
como pai e a prefeitura como mãe. É melhor ter uma família de carne e osso.
Quero fazer três propostas para que as crianças e os adolescentes não fiquem
sem famílias.
Primeiro:
que a Justiça não fique enrolando, tire logo o poder familiar das mães e dos
pais que não podem ficar com os (as) filhos (as) e agilize a fila da adoção,
porque a fila anda a catraca gira; se sentiu saudades, vai para o fim da fila.
Segundo:
que as famílias habilitadas tenham solidariedade e não tenham preconceito de
raça, idade ou doença; beijinho no ombro para o preconceito.
Terceiro:
que as tevês e os jornais façam campanhas para que as pessoas adotem crianças/adolescentes
acima de 8 anos e negros, porque senão eles crescem sem lar, sem educação e sem
carinho.
Enfim,
que a sociedade e a Justiça cumpram o Estatuto da Criança e do Adolescente e
priorizem o bem-estar das crianças e dos adolescentes.
Por:
Alyson Miguel Harrad Reis, 13 anos, é estudante.
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