Eles
poderiam fazer o Bem a milhares de pessoas, mas prejudicam milhares em
benefício próprio e de seus familiares.
Vejam
um trecho do livro Esculpindo o Próprio Destino.
"O
lugar não ajudava muito.
A conjugação fluídica desagradável produzia reações nauseantes em qualquer Espírito menos adestrado nos trabalhos de socorro às aflições humanas.
A conjugação fluídica desagradável produzia reações nauseantes em qualquer Espírito menos adestrado nos trabalhos de socorro às aflições humanas.
Várias
salas, repletas de entidades desequilibradas acompanhando os vivos ali presentes.
Se
analisados pelo estado mental em desequilíbrio, poder-se-ia dizer que o
ambiente não diferia do de um sanatório. Espíritos enlouquecidos perambulavam
por todos os lados, entrando em todos os compartimentos, procurando tocar nos
humanos, gritando impropérios ou bradando maldições.
Se
analisássemos o local pela leviandade dos presentes, poderiam os compará-lo a
um mercado onde todos comparecem falando de seus interesses, comentando as
frivolidades da vida e praguejando contra os sofrimentos e injustiças, entre
piadas sussurradas e maldades proferidas com ares de respeito.
Não
muito distante, entidade de aparência repulsiva se expressava sem pudores:
– Já chegou o seu ocupante da suíte presidencial? – gritava com o quem se via responsável pela organização de importante evento.
– Já chegou o seu ocupante da suíte presidencial? – gritava com o quem se via responsável pela organização de importante evento.
–
Já chegou, já chegou... Está sendo preparado para entrar na suíte... –
respondeu um outro, colocando a cabeça para fora da porta de pequeno quarto que
dava acesso ao ambiente principal.
–
Vamos logo, estamos todos esperando para assistir ao grande evento...
Os
vivos no corpo jamais poderiam imaginar o que se passava ao seu redor.
E
se a espera pela ocupação da chamada suíte presidencial era algo tão importante
para aquela aglomeração de entidades viciosas e degeneradas, os demais compartimentos,
já ocupados também, possuíam a sua plateia específica.
Raros
se postavam em atitude de consideração adequada à circunstância.
Muitos
Espíritos curiosos eram atraídos para o local, como a assistirem a um bizarro
espetáculo que os divertiria um pouco, dando novo tempero às monótonas
ocupações persecutórias do mundo invisível sobre o mundo visível.
Não
tardou muito para que se completasse o quadro dantesco.
O
alvoroço de uma verdadeira multidão de duendes, mendigos, homens e mulheres dilaceradas,
espíritos perdidos na devassidão, todos a formar dois vastos cordões no meio do
qual o verdadeiro e importante cortejo passaria em direção à chamada suíte
presidencial. (...)
Enquanto
isso, a suíte presidencial ia sendo ocupada por toda a multidão das entidades
curiosas que não desejava perder os detalhes daquele verdadeiro espetáculo sob
suas vistas.
No
ambiente material, suntuosa em suas apresentações, as acomodações físicas da
suíte correspondiam aos seus qualificativos. Flores em profusão guarneciam a
entrada. O local era revestido de granito polido e, aqui e ali, se podiam
observar os cuidados nos mínimos detalhes.
Diante
dos olhos de todos estava o corpo físico de importante político da cidade, homem
cuja vida fora marcada pelo discurso de honradez e correção, mas que, em realidade,
encobria uma vida de desmandos, de crimes sórdidos, de corrupção indecente e
toda sorte de delitos contra a honra e a dignidade do ser humano.
Tornara-se
rico e poderoso naquela localidade para, logo depois, ao preço de alianças e
interesses escusos, conchavos e ilegalidades, ganhar realce nacional.
Entretanto,
nem sua riqueza material nem seus poderes políticos impediram que as forças da
morte o arrastassem, colocando um fim em toda a longa série de equivocações e
crimes mal disfarçados pelo manto da falsa dignidade. (...)
A
“suíte presidencial”, como os espíritos inferiores se referiam à sala principal
do prédio legislativo, fora, finalmente, ocupada pela principal estrela.
Aturdido
e ainda preso ao corpo físico exposto ao olhar do povo, o espírito do referido
homem público era digno de compaixão de todos os que ali o observavam, perdido
diante da confusão no meio da qual se encontrava, já que o pobre não sabia
discernir entre o que acontecia no plano material, nas homenagens e discursos
ridículos que os homens corruptos se prestam uns aos outros mescladas à bacanal
festiva que o recebia no ambiente espiritual, mistura de festival erótico,
galhofa coletiva e manifestação de protesto violento, tendo a sua figura como
ponto central.
Via-se-lhe
o desejo de sair dali.
No
entanto, os laços intensos que o prendiam ao corpo carnal ainda não permitiam a
sua fuga. (...)
Aliado
aos líderes religiosos mais importantes criara um sistema de trocas e apoios
através do qual usava o Reino de Deus para conquistar o Reino dos homens.
Trocavam-se, dessa forma, os interesses. O político garantia aos sacerdotes o reino do mundo e estes lhe prometiam o Reino dos Céus.
Trocavam-se, dessa forma, os interesses. O político garantia aos sacerdotes o reino do mundo e estes lhe prometiam o Reino dos Céus.
Agora,
no entanto, nem a presença das inúmeras autoridades eclesiásticas de diversos
níveis hierárquicos era capaz de facultar o acesso do finado aos bens do
Espírito, já que, contrariamente a todas as suas expectativas, o que via diante
de seus olhos atônitos e amedrontados era a surreal cerimônia de duendes
deformados e entidades fantasmagóricas misturadas aos encarnados de forma tão
íntima, que ele não sabia dizer quem era Espírito e quem era corpo.
Seu
coração estava estilhaçado pela surpresa, seu cérebro parecia explodir pela dor
incessante e, segundo suas apressadas conclusões, somente o nada ou o
desconhecido desesperador se abririam para ele.
Fonte:
livro, Esculpindo o Próprio Destino
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