Amigo,
Ajude-me a ajudá-lo.
Sou o indócil jumentinho* que o conduz.
É verdade que não viveria sem você; no entanto, convém você lembrar que não cresceria sem mim.
Reconheço ser todo construído de impulsos a lhe vitalizar as lembranças adormecidas na mente. Discipline-me.
Tenho fome e sinto frio, experimento cansaço e me tortura a sede. Ensine-me o equilíbrio, corrigindo-me a insatisfação.
Necessito de asseio para viver. Não me relegue ao descaso.
Minha submissão ou rebeldia dependem da sua condução.
Não lhe poderei servir a contento se me não ensinar a docilidade mediante o exercício da frugalidade.
Recorde-me sempre que devo zelar-me para viver e não viver para cuidar-me.
Nascido na umidade, inclino-me sempre, por capricho de origem, para as baixadas pegajosas. Mostre-me o céu, apresente-me o Sol, aponte-me a Natureza gloriosa, vestida de luz.
Organizado por efeito de nobre instinto, favoreço mais facilmente a sua demora na sensação. Respeite-me a organização e eu o ajudarei na ascensão, sutilizando a minha estrutura.
Não me perverta a finalidade.
Nasci para servi-lo; não desejo ser o seu algoz. Não me algeme ao vício.
Eduque-me na continência da vontade e atenderei prontamente ao seu comando.
Se você me amar sem paixão e me equilibrar sem crueldade, ser-lhe-ei escravo fiel e reconhecido.
E, quando já não o possa ajudar, saberei calar a minha voz, retornando ao pó donde surgi, deixando-o livre como andorinha de luz na perene Primavera do Paraíso.
Amigo, enobreça-me para que eu o possa salvar. Sou o seu corpo, obediente e submisso, necessitado de proteção.
*
Expressão usada por Francisco de Assis
Pelo Espírito Marco
Prisco FRANCO, Divaldo P. “Ementário Espírita”
4 ed. Matão, SP: Casa Editora O Clarim. P. 15-16.
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