quinta-feira, 10 de abril de 2014

O Espiritismo e as seitas afro-brasileiras



            O que desejamos aclarar na oportunidade é que o leitor atento saberá fazer a distinção entre Espiritismo e as demais religiões e seitas, comparando-as através das suas definições, sabendo-se que “Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo material”. (1). Particularmente dizemos que Espiritismo é uma Ciência- Filosofia / Religião que trata da natureza, origem e destinação dos Espíritos bem como de suas relações com o mundo material.”
            Apoiamo-nos no livro “Africanismo e Espiritismo”, 1949, Edições “Mundo Espírita”, de Deolindo Amorim, saudoso e respeitado escritor espírita, que aceitou, em defesa da Doutrina Espírita, no preâmbulo de Lippmann Tesch de Oliver, o conceito de Allan Kardec contido na Revue Spirite, de 1865, página 181, “... A doutrina não é ambígua em nenhuma de suas partes; é clara, precisa, categórica nas suas menores particularidades; somente à ignorância e a má fé é que podem equivocar-se a respeito do que ela aprova e condena. É, pois, o dever de todos os espíritas sinceros e dedicados repudiar e condenar francamenteem seu nome, toda a casta de abusos que poderiam comprometê-la, a fim de não ser responsabilizado pelos mesmos, porque  transigir com os abusos seria acumpliciar-se com eles e fornecer armas aos nossos adversários” (realçamos).
            Como não desejamos acumpliciar-nos com os que confundem Espiritismo com Africanismo, ou seitas afro-católicas-brasileiras (2), resolvemos escrever este artigo. Nosso intuito é simplesmente aclarar as mentes ainda ensombradas pela ignorância e que, por isto mesmo, não sabem distinguir Espiritismo e Africanismo.
            Devemos deixar bem claro, a bem da verdade, que nada temos em contrário a estas seitas afro-brasileiras com temperos católicos, nem ao catolicismo, pois que aprendemos, ao adentrarmos os umbrais do Espiritismo, a respeitar todas as religiões, mas não a concordar com o que elas propagam, principalmente quando se mostram contrárias ao bom senso, à razão.
            Compete-nos, no entanto, coerente com a pureza e legitimidade do Espiritismo, externar nosso desagrado pelo fato de ainda hoje, século XXI, se confundir Espiritismo com as seitas afro-católicas-brasileiras. São diferentes do Espiritismo, como veremos.
            Pessoas ignorantes e levianas queriam levar ao ridículo o Espiritismo, isto porque logo perceberam que Ele iria obstaculizar a marcha religiosa orgulhosa, pretensiosa, dogmática por elas empreendida. Se nada o Espiritismo contivesse de verdadeiro, com ele não se preocupariam. Todavia, incomoda, e muito, os outros que se amedrontam diante de sua realidade cristalina; temendo seu avanço.
            Quiseram jogar no ridículo e descrédito a nossa filosofia que exerceria como exerce e exercerá preponderante influência no aprimoramento moral e intelectual desta sofrida humanidade. Chegaram ao cúmulo de taxar os espiritistas na seção de Tóxicos e Mistificações da Polícia Central, hoje Polícia Federal. Espíritas de inequívoco valor eram fichados em promiscuidade e nivelados, por igual, na ignomínia e no menosprezo dos  infelizes criminosos.
            Mas será que não se pode distinguir o Espiritismo das seitas afro-brasileiras? Pode-se. Basta que se consulte e se estude a obra espírita, começando-se pelos livros básicos: “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, “O Céu e o Inferno” e “A Gênese”. Dá trabalho, é verdade, pois apresenta um total de 2.200 páginas, aproximadamente. No entanto, sem estudo e desejo de aprender, as pessoas desavisadas vão continuar insatisfeitas, deslocadas dentro do panorama religioso, refocilando nas camadas sombrias do baixo psiquismo.
            Interessou e ainda interessa, e muito, sem razão plausível, aos católicos e evangélicos, ex-protestantes, a persistência em misturar, para confundir os mais pobres de conhecimentos religiosos, Espiritismo com essas seitas. Querem, por este meio, ganhar mais seguidores, porque a maior quantidade de adeptos dá mais lucro aos seus cofres sempre abarrotados pelo dízimo e outras imposições financeiras. Esta a realidade.
            Ignorantemente, o raciocínio deles é assim: onde há manifestações de espírito, há espiritismo; logo, as práticas fetichistas da  umbanda, são também práticas espíritas, porque são feitas nelas evocações dos espíritos.
            Acontece, e os acusadores do Espiritismo ignoram, que a Umbanda chegou ao Brasil e generalizou-se, principalmente na Bahia, muito antes do advento do Espiritismo que se deu em 1857 (século XIX). O Africanismo, surgido com a chegada dos escravos vindos da África, data, portanto, de época muito recuada, 1530/1540 (século XVI). Uma diferença de 300 anos.
            Se a mediunidade fosse elemento primordial a definir as religiões, Espiritismo, Catolicismo  e Africanismo seriam uma só e mesma religião, tendo em vista que os fenômenos mediúnicos se encontram nelas, frequentemente, ou seja, desde suas origens mais remotas. Não são poucos os padres, bispos e pastores com mediunidade, pois que esta é inerente ao ser humano, como se encontra em “O Livro dos Médiuns”, cap. XIV,  item 159.
            De comum, entre Espiritismo e as seitas afro-católicas-brasileiras, existe o transe mediúnico, assim mesmo sob formas absolutamente diferentes, isto porque os espíritos desencarnados se manifestam em todo e qualquer lugar, desde que haja sintonia mental, ou, como queiram, afinidades morais, sociais, religiosas, culturais, científicas, artísticas, desportistas...
            Precisa ficar bem claro que qualquer experiência mediúnica não é prática espírita, ainda mais quando realizada empiricamente. Confunde-se espiritualismo com Espiritismo. Destarte, todo espírita é espiritualista, mas nem todo espiritualista é espírita. Será que isto é difícil de entender? O espiritualista crê na vida do espírito, em Deus e nas penas e gozos futuros, mas o espírita, além da crença e vivência destes princípios, vai mais além, pelo fato de estudar, refletir muito e abordar, sem descanso, os fenômenos espirituais através de uma ótica científica, ética, filosófica e religiosa. Aliás, em recente senso do IBGE (estamos em 2006), os espíritas foram considerados os religiosos que mais leem.
            Mediunidade não é síntese de religião nenhuma, mas, sim, um elemento que atende as necessidades religiosas e científicas, segundo o caso.
            Enquanto o Africanismo adota ritual organizado, de conformidade com tradições seculares, fundadas na crença irreal em divindades peculiares a seu culto, por este motivo são seitas, o Espiritismo é avesso à rituais, não tem forma de culto, ou seja, adoração ou homenagem à divindade. Exemplo: culto à Santíssima Trindade, à Iemanjá, a este ou àquele caboclo, orixá...
            Afirmam os historiadores que os negros chegaram ao Brasil, vindos da África, entre 1530 e 1540. O Brasil, é bom lembrar aos desavisados, foi descoberto em 1500. Vinham aprisionados ou comprados aos diferentes chefes de tribos, capitães de barcos negreiros, cujo torvo comércio terminou em 1850. Aliás, foi a Inglaterra que mais explorou o tráfico de africanos, cabendo-lhe, no entanto, a mais brilhante campanha contra este nefando comércio, segundo Veiga Cabral em “Compêndio de História do Brasil”. Os britânicos passaram, inclusive, a policiar os mares para evitar o tráfego negro feito pelos navios brasileiros.
            Foi a Lei do Ventre Livre (1871) e a dos sexagenários (1885) que, definitivamente, prepararam o caminho para a extinção total da escravatura, em 13 de maio de 1888, quando se apagou tão vergonhosa mancha existente na nossa sociedade.
            O africano trouxe como não poderia deixar de acontecer, porque todo povo, toda raça crê em Deus, cada um a seu modo, os elementos de sua cultura. Deu-se a mesclagem cultural e religiosa. Com o passar do tempo a cultura negra começou a desfigurar-se pela perseguição que lhe foi movida pelo catolicismo. Fundiram-se, pois, três tipos diferentes na formação do Brasil: europeu, africano e aborígine. Defender pureza racial no Brasil é perda de tempo, e isto, em nosso entendimento espírita, já é um detalhe precioso para que mais tarde, exatamente no século XIX, chegasse aqui o Espiritismo com seus princípios igualitários e leis equânimes.
            A mestiçagem etnológica teve repercussão psíquica inevitável na vida religiosa brasileira, não sendo exato afirmar-se que o povo brasileiro é essencialmente católico. Ele (povo) não tende para a unidade, mas para o sincretismo formado por um pouco de Africanismo, Catolicismo e também Espiritismo, este, porém deturpado pelo misticismo popular e pelo interesse em abafa-lo nutrido pelas religiões dogmáticas e fanatizadas. Mais tarde, como afirma o “O Livro dos Espíritos”, pergunta 798, teremos o Espiritismo com seus princípios e leis adotados, formando uma só crença. Não estaria, também, nesse fato, o dedo da Espiritualidade Superior preparando o Brasil para acolher o Espiritismo? Cremos que sim. Ela, Espiritualidade Superior, vê lá na frente, enquanto os olhares tipicamente humanos são pobres na visão desses futuros acontecimentos.
            Hoje, como ontem, a umbanda da Bahia, como as macumbas do Rio, se tornou uma mistura de elementos tomados ao Catolicismo, copiando rituais, roupas, defumadores, santos, fazem-se promessas, oferendas e cultuam-se anjos... As seitas afro-brasileiras se aproximam muito mais do Catolicismo, do que do Espiritismo, porque sofreu a influência quando aqui se implantou.
Vejam se não há semelhanças. N. S. do Rosário sempre foi uma confraria de negros. Era a padroeira da Monarquia do Congo, nação que entre as demais, como por  exemplo Angola, Regalo, Moçambique, gozava de certa ascendência. A macumba no Rio de Janeiro, o xangô na Bahia e o catimbó em Pernambuco são remanescentes das antigas mesquitas africanas. 
O culto de S. Jorge, principalmente no Rio de Janeiro, é um misto de catolicismo e as seitas afro-católicas-brasileiras assim como o dia de Cosme e Damião. Segue-se: S. Jorge é Ogum e S. Sebastião é Oxosse. São muito acentuados, como se vai percebendo, os traços de união entre os dois cultos, católico e o umbandista. Querem ver mais? “Orixá”, ou “Oxalá”, identificou-se com o Senhor do Bonfim; na Bahia; Iemanjá é N.S. da Conceição e Inhaçã é Santa Bárbara.

            Que fique bem claro: Espiritismo é Espiritismo; Umbanda é Umbanda

Para evidenciar o que afirmamos acima, fechamos este despretensioso trabalho, com palavras de Allan Kardec inseridas em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (1864): “O Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e suas relações com o mundo corpóreo. Ele no-lo mostra não mais como coisa sobrenatural, porém, ao contrário, como uma das forças da natureza, como a fonte de uma imensidade de fenômenos até hoje incompreendidos e, por isso, relegados para o domínio do fantástico e do maravilhoso”.

Será que ainda vão, por muito tempo, continuar confundindo?
 
(1) Livro “O que é o Espiritismo”, Kardec, Allan, edição 15ª da FEB, preâmbulo.
(2) Esta expressão, encontrada no livro que nos serve de apoio, também define tais seitas originárias da África, pois como foi acima mostrado, o catolicismo influenciou muitíssimo o fetichismo umbandista.



Fonte: Grupo Espírita Renascer

Nenhum comentário:

Postar um comentário