O
que desejamos aclarar na oportunidade é que o leitor atento saberá fazer a
distinção entre Espiritismo e as demais religiões e seitas, comparando-as
através das suas definições, sabendo-se que “Espiritismo é uma ciência
que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas
relações com o mundo material”. (1). Particularmente dizemos que Espiritismo é
uma Ciência- Filosofia / Religião que trata da natureza, origem e destinação
dos Espíritos bem como de suas relações com o mundo material.”
Apoiamo-nos no livro “Africanismo e Espiritismo”, 1949, Edições “Mundo
Espírita”, de Deolindo Amorim, saudoso e respeitado escritor espírita, que
aceitou, em defesa da Doutrina Espírita, no preâmbulo de Lippmann Tesch de
Oliver, o conceito de Allan Kardec contido na Revue Spirite, de 1865, página
181, “... A doutrina não é ambígua em nenhuma de suas partes; é clara, precisa,
categórica nas suas menores particularidades; somente à ignorância e a má fé é
que podem equivocar-se a respeito do que ela aprova e condena. É, pois,
o dever de todos os espíritas sinceros e dedicados repudiar e condenar
francamente, em seu nome, toda a casta de abusos que poderiam
comprometê-la, a fim de não ser responsabilizado pelos mesmos, porque
transigir com os abusos seria acumpliciar-se com eles e fornecer armas aos nossos
adversários” (realçamos).
Como não desejamos acumpliciar-nos com os que confundem Espiritismo com Africanismo,
ou seitas afro-católicas-brasileiras (2), resolvemos escrever este artigo.
Nosso intuito é simplesmente aclarar as mentes ainda ensombradas pela
ignorância e que, por isto mesmo, não sabem distinguir Espiritismo e
Africanismo.
Devemos deixar bem claro, a bem da verdade, que nada temos em contrário a estas
seitas afro-brasileiras com temperos católicos, nem ao catolicismo, pois que
aprendemos, ao adentrarmos os umbrais do Espiritismo, a respeitar todas as
religiões, mas não a concordar com o que elas propagam, principalmente quando
se mostram contrárias ao bom senso, à razão.
Compete-nos, no entanto, coerente com a pureza e legitimidade do Espiritismo,
externar nosso desagrado pelo fato de ainda hoje, século XXI, se confundir
Espiritismo com as seitas afro-católicas-brasileiras. São diferentes do
Espiritismo, como veremos.
Pessoas ignorantes e levianas queriam levar ao ridículo o Espiritismo, isto
porque logo perceberam que Ele iria obstaculizar a marcha religiosa orgulhosa, pretensiosa,
dogmática por elas empreendida. Se nada o Espiritismo contivesse de verdadeiro,
com ele não se preocupariam. Todavia, incomoda, e muito, os outros que se
amedrontam diante de sua realidade cristalina; temendo seu avanço.
Quiseram jogar no ridículo e descrédito a nossa filosofia que exerceria como
exerce e exercerá preponderante influência no aprimoramento moral e intelectual
desta sofrida humanidade. Chegaram ao cúmulo de taxar os espiritistas na seção
de Tóxicos e Mistificações da Polícia Central, hoje Polícia Federal. Espíritas
de inequívoco valor eram fichados em promiscuidade e nivelados, por igual, na
ignomínia e no menosprezo dos infelizes criminosos.
Mas será que não se pode distinguir o Espiritismo das seitas afro-brasileiras?
Pode-se. Basta que se consulte e se estude a obra espírita, começando-se pelos
livros básicos: “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”, “O Evangelho
Segundo o Espiritismo”, “O Céu e o Inferno” e “A Gênese”. Dá trabalho, é
verdade, pois apresenta um total de 2.200 páginas, aproximadamente. No entanto,
sem estudo e desejo de aprender, as pessoas desavisadas vão continuar
insatisfeitas, deslocadas dentro do panorama religioso, refocilando nas camadas
sombrias do baixo psiquismo.
Interessou e ainda interessa, e muito, sem razão plausível, aos católicos e
evangélicos, ex-protestantes, a persistência em misturar, para confundir os
mais pobres de conhecimentos religiosos, Espiritismo com essas seitas. Querem,
por este meio, ganhar mais seguidores, porque a maior quantidade de adeptos dá
mais lucro aos seus cofres sempre abarrotados pelo dízimo e outras imposições
financeiras. Esta a realidade.
Ignorantemente, o raciocínio deles é assim: onde há manifestações de espírito,
há espiritismo; logo, as práticas fetichistas da umbanda, são também
práticas espíritas, porque são feitas nelas evocações dos espíritos.
Acontece, e os acusadores do Espiritismo ignoram, que a Umbanda chegou ao
Brasil e generalizou-se, principalmente na Bahia, muito antes do advento do
Espiritismo que se deu em 1857 (século XIX). O Africanismo, surgido com a
chegada dos escravos vindos da África, data, portanto, de época muito recuada,
1530/1540 (século XVI). Uma diferença de 300 anos.
Se a mediunidade fosse elemento primordial a definir as religiões, Espiritismo,
Catolicismo e Africanismo seriam uma só e mesma religião, tendo em vista
que os fenômenos mediúnicos se encontram nelas, frequentemente, ou seja, desde
suas origens mais remotas. Não são poucos os padres, bispos e pastores com
mediunidade, pois que esta é inerente ao ser humano, como se encontra em “O
Livro dos Médiuns”, cap. XIV, item 159.
De comum, entre Espiritismo e as seitas afro-católicas-brasileiras, existe o
transe mediúnico, assim mesmo sob formas absolutamente diferentes, isto porque
os espíritos desencarnados se manifestam em todo e qualquer lugar, desde que
haja sintonia mental, ou, como queiram, afinidades morais, sociais, religiosas,
culturais, científicas, artísticas, desportistas...
Precisa ficar bem claro que qualquer experiência mediúnica não é prática
espírita, ainda mais quando realizada empiricamente. Confunde-se espiritualismo
com Espiritismo. Destarte, todo espírita é espiritualista, mas nem todo
espiritualista é espírita. Será que isto é difícil de entender? O
espiritualista crê na vida do espírito, em Deus e nas penas e gozos futuros,
mas o espírita, além da crença e vivência destes princípios, vai mais além,
pelo fato de estudar, refletir muito e abordar, sem descanso, os fenômenos
espirituais através de uma ótica científica, ética, filosófica e religiosa.
Aliás, em recente senso do IBGE (estamos em 2006), os espíritas foram
considerados os religiosos que mais leem.
Mediunidade não é síntese de religião nenhuma, mas, sim, um elemento que atende
as necessidades religiosas e científicas, segundo o caso.
Enquanto o Africanismo adota ritual organizado, de conformidade com tradições
seculares, fundadas na crença irreal em divindades peculiares a seu culto, por
este motivo são seitas, o Espiritismo é avesso à rituais, não tem forma de
culto, ou seja, adoração ou homenagem à divindade. Exemplo: culto à Santíssima
Trindade, à Iemanjá, a este ou àquele caboclo, orixá...
Afirmam os historiadores que os negros chegaram ao Brasil, vindos da África,
entre 1530 e 1540. O Brasil, é bom lembrar aos desavisados, foi descoberto em
1500. Vinham aprisionados ou comprados aos diferentes chefes de tribos, capitães
de barcos negreiros, cujo torvo comércio terminou em 1850. Aliás, foi a
Inglaterra que mais explorou o tráfico de africanos, cabendo-lhe, no entanto, a
mais brilhante campanha contra este nefando comércio, segundo Veiga Cabral em
“Compêndio de História do Brasil”. Os britânicos passaram, inclusive, a policiar
os mares para evitar o tráfego negro feito pelos navios brasileiros.
Foi a Lei do Ventre Livre (1871) e a dos sexagenários (1885) que,
definitivamente, prepararam o caminho para a extinção total da escravatura, em
13 de maio de 1888, quando se apagou tão vergonhosa mancha existente na nossa
sociedade.
O africano trouxe como não poderia deixar de acontecer, porque todo povo, toda
raça crê em Deus, cada um a seu modo, os elementos de sua cultura. Deu-se a
mesclagem cultural e religiosa. Com o passar do tempo a cultura negra começou a
desfigurar-se pela perseguição que lhe foi movida pelo catolicismo.
Fundiram-se, pois, três tipos diferentes na formação do Brasil: europeu,
africano e aborígine. Defender pureza racial no Brasil é perda de tempo, e isto,
em nosso entendimento espírita, já é um detalhe precioso para que mais tarde,
exatamente no século XIX, chegasse aqui o Espiritismo com seus princípios
igualitários e leis equânimes.
A mestiçagem etnológica teve repercussão psíquica inevitável na vida religiosa
brasileira, não sendo exato afirmar-se que o povo brasileiro é essencialmente
católico. Ele (povo) não tende para a unidade, mas para o sincretismo formado
por um pouco de Africanismo, Catolicismo e também Espiritismo, este, porém
deturpado pelo misticismo popular e pelo interesse em abafa-lo nutrido pelas
religiões dogmáticas e fanatizadas. Mais tarde, como afirma o “O Livro dos
Espíritos”, pergunta 798, teremos o Espiritismo com seus princípios e leis adotados,
formando uma só crença. Não estaria, também, nesse fato, o dedo da
Espiritualidade Superior preparando o Brasil para acolher o Espiritismo? Cremos
que sim. Ela, Espiritualidade Superior, vê lá na frente, enquanto os olhares
tipicamente humanos são pobres na visão desses futuros acontecimentos.
Hoje, como ontem, a umbanda da Bahia, como as macumbas do Rio, se tornou uma
mistura de elementos tomados ao Catolicismo, copiando rituais, roupas,
defumadores, santos, fazem-se promessas, oferendas e cultuam-se anjos... As
seitas afro-brasileiras se aproximam muito mais do Catolicismo, do que do
Espiritismo, porque sofreu a influência quando aqui se implantou.
Vejam se não há
semelhanças. N. S. do Rosário sempre foi uma confraria de negros. Era a padroeira
da Monarquia do Congo, nação que entre as demais, como por exemplo Angola,
Regalo, Moçambique, gozava de certa ascendência. A macumba no
Rio de Janeiro, o xangô na Bahia e o catimbó em
Pernambuco são remanescentes das antigas mesquitas africanas.
O culto de S. Jorge, principalmente no Rio de
Janeiro, é um misto de catolicismo e as seitas afro-católicas-brasileiras assim
como o dia de Cosme e Damião. Segue-se: S. Jorge é Ogum e S. Sebastião é
Oxosse. São muito acentuados, como se vai percebendo, os traços de união entre
os dois cultos, católico e o umbandista. Querem ver mais? “Orixá”, ou “Oxalá”,
identificou-se com o Senhor do Bonfim; na Bahia; Iemanjá é N.S. da Conceição e
Inhaçã é Santa Bárbara.
Que fique bem claro: Espiritismo é Espiritismo; Umbanda é Umbanda
Para evidenciar o que afirmamos acima, fechamos
este despretensioso trabalho, com palavras de Allan Kardec inseridas em “O
Evangelho Segundo o Espiritismo” (1864): “O Espiritismo é a ciência nova que
vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a
natureza do mundo espiritual e suas relações com o mundo corpóreo. Ele no-lo
mostra não mais como coisa sobrenatural, porém, ao contrário, como uma das
forças da natureza, como a fonte de uma imensidade de fenômenos até hoje
incompreendidos e, por isso, relegados para o domínio do fantástico e do
maravilhoso”.
Será que ainda vão, por muito tempo, continuar
confundindo?
(1) Livro “O que é o Espiritismo”, Kardec,
Allan, edição 15ª da FEB, preâmbulo.
(2) Esta expressão, encontrada no livro que nos
serve de apoio, também define tais seitas originárias da África, pois como foi
acima mostrado, o catolicismo influenciou muitíssimo o fetichismo umbandista.
Fonte: Grupo Espírita Renascer
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