quarta-feira, 17 de julho de 2013

O que é a morte


Para onde vamos quando morremos. O que é a morte: colheita obrigatória de nossa semeadura.


Tudo faz parte da natureza, tanto o “nosso" mundo, isto é, o mundo físico e visível, quanto o mundo espiritual e invisível aos olhos do corpo físico.  Nada há de sobrenatural.  E, mais ainda: poderemos até dizer que o mundo material - o "nosso" mundo é uma cópia bastante prejudicada do mundo espiritual.  Isto quer dizer que a matriz do mundo material está no mundo espiritual.  O mundo espiritual existe há mais tempo, é o mundo primitivo em termos cronológicos.
Na realidade, não existem diferenças marcantes, acentuadas, entre o mundo espiritual e o mundo material.  Numa linguagem figurada, poderíamos até dizer que o mundo material é uma "coagulação", um adensamento, do mundo espiritual.  De outra parte, o mundo espiritual é a quintessência, a sublimação, do mundo material.

Segundo velhas crenças, quando uma pessoa desencarnava, ao chegar ao Plano Espiritual passava a ter uma série de virtudes, que jamais possuiu quando esteve "aqui entre nós".  A Doutrina Espírita, porém, ensina que a morte do corpo físico - a desencarnação - não eleva ninguém à categoria de santo, dando-lhe poderes que não conquistou com trabalho e dedicação ao próximo quando encarnado.  Ensina que quando desencarnamos continuamos os mesmos, do ponto de vista moral, já que do ponto de vista físico (ricos e pobres) todos nos igualamos no Plano Espiritual.  O individuo maldoso continuará um espírito maldoso; o bom será um bom espírito.

Existe, entretanto, muita gente que, quando encarnada, consegue disfarçar sua verdadeira estatura espiritual.  Muitas vezes apresenta-se como indivíduo bom às claras, porém perverso às escondidas.  Quando um indivíduo desses retornar ao Plano Espiritual apresentar-se-á sem nenhum disfarce e sofrerá todas as consequências do mal que cometeu e da falsidade que cultivou.

O espírito evolui, pois a Evolução é uma lei natural.  Logo, um maldoso, assim que desencarna, continua o mesmo indivíduo maldoso, porém, com o tempo, no Plano Espiritual lhe é proporcionada oportunidade de aprendizado para aprimoramento, podendo ele mudar suas disposições e inclinar-se para a prática do bem.
Tomemos, como exemplo, um espírito que se encontre num estado bastante primitivo, um espírito bastante inferior, consequentemente muito apegado à matéria, ligado ainda por laços firmes ao mundo material.

Esse espírito desencarna.  E, desencarnado, chega ao mundo espiritual sem saber que desencarnou.  Na realidade, ele nem sabe o que se está passando com ele, pois continua vivo e com toda sua individualidade.  Não percebe a transição do mundo material para o mundo espiritual.
Esse espírito permanece muito próximo da superfície terrestre, naquela região a que chamamos Crosta. É uma região interdependente com a crosta física do planeta.  Espíritos assim ficam ali apegados, presos, e sofrem muito, pois têm todas as sensações materiais e, contudo, já não possuem mais o corpo físico para satisfazer às necessidades produzidas por essas sensações. Às vezes, encontram-se com outros espíritos dos quais foram inimigos na vida terrena; travam com eles violentas lutas, como verdadeiros animais disputando preciosas presas.

      Esses indivíduos têm uma vida mesquinha e materializada, mesmo estando no Plano Espiritual.  Ficam às tontas, vagando no espaço.  Muitas vezes são conduzidos logo à reencarnação.  E continuam nada sabendo do que se passou entre a desencarnação e a nova encarnação.  Estão praticamente, equiparados aos animais, que, como se sabe, não têm vida espiritual.
     Tomemos, agora, outro exemplo.  Um homem mais evoluído, que já se aproxima um pouco dos ensinamentos de Jesus.  Embora em estágio bem mais avançado que aquele do exemplo anterior, está, contudo, muito longe da perfeição.  Pratica alguns dos ensinamentos do Evangelho, todavia seu apego aos bens terrenos, aos gozos materiais, ainda é muito grande.

     Esse indivíduo desencarna e vai passar por uma experiência muito interessante.  Essa experiência lhe será dolorosa, representará uma fase muito dura no caminho de sua evolução.  Embora sabendo-se desencarnado, ele sente-se preso à matéria.  Sente vontade de praticar os vícios que alimentou.  Se era um fumante inveterado, um bebedor contumaz, vai sofrer muito com a falta do fumo e da bebida.  Vai sentir falta do prazer material a que estava habituado.
     Espíritos dessa categoria permanecem muitos anos naquela região chamada Umbral do Plano Espiritual, onde purgarão suas dependências para com o mundo físico.  O Umbral é uma espécie de câmara de sofrimentos, provocados pela distância em que o espírito se encontra da matéria e dos prazeres que lhe eram tão importantes quando encarnado.  Da falta desses prazeres é que advém o sofrimento.

      Se a passagem pelo Umbral se prolonga por muito tempo, pode acontecer que o espírito reencarne sem ter tido uma experiência no plano espiritual.  Mas, se for um espírito de certo equilíbrio, chegando a um tempo em que já se tenha despojado de suas vinculações mais grosseiras com a matéria, será recolhido a uma Colônia Espiritual.
Nessa Colônia, o espírito terá acesso a assuntos que, até então, lhe eram inteiramente desconhecidos. Através de cursos ministrados por espíritos mais evoluídos, aprenderá novas verdades, enriquecerá seu cabedal de conhecimentos, ampliará seus horizontes.
Os sofrimentos do Umbral e o aprendizado numa dessas Colônias estão muito bem relatados no livro "Nosso Lar", de autoria do espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier.

André Luiz era um indivíduo bom quando encarnado.  Um homem correto, bom pai, bom esposo, bom profissional.  Mas adorava os prazeres da mesa.  A gula era um de seus vícios.  Depois de desencarnado, passou oito anos no Umbral.  Nesse período foi obrigado, pelo sofrimento, a desvincular-se da mesa lauta.  Depois desse estágio depurador, foi recolhido à Colônia Espiritual "Nosso Lar"  onde começou um processo de reeducação e aprendizado.
No mundo espiritual aprendemos, assumimos novas disposições.  Mas a prática, o testemunho, é aplicado no plano físico, isto é, quando estamos reencarnados. É no corpo físico, nesta abençoada morada que é o nosso corpo físico, que aplicamos aquilo que aprendemos no Plano Espiritual, demonstrando se fomos alunos aplicados ou se temos de repetir o aprendizado.

O sono reparador no limiar da Nova Vida  

    O Espírito demasiadamente ligado aos interesses humanos tem necessidade de amplo mergulho na inconsciência, quase total, depois da morte.  Essa é a posição dos seres mais primitivos, os que estão despreparados para a vida no Além.

    Os criminosos e viciados de toda sorte também não se adaptam às indagações de natureza elevada e têm necessidade do torpor quase absoluto.  Finda a batalha terrena, entram em período de sono pacífico ou de pesadelo torturado ( .. ). Esse período varia de acordo com a probabilidade de reerguimento moral ou de maiores quedas por parte desses espíritos.
     Esse período é também chamado de hibernação da consciência.  Depois dele, os desencarnados podem voltar à carne, ou permanecer em educandários, nos círculos inferiores, para colaborarem dentro de suas possibilidades.
     Com o Espírito de evolução média, dá-se maior lucidez nas esferas do além-túmulo, e tanto maior será quanto mais e melhor procurar atender aos desígnios divinos, durante a experiência material.
     Assim, quanto mais evoluído é o Espírito, menos descansa após a morte física.  Seu grau de conscientização é maior, por isso existem almas que se transferem para regiões mais altas da Espiritualidade, após a morte física, sem necessidade de passar pelo repouso tonificante.
     Em Os Mensageiros, André Luiz escreve sobre pavilhões inteiros com espíritos que dormem profundamente, após a morte, por anos a fio.  Somente em Campos da Paz, Posto de Socorro da região umbralina, existem cerca de 2.000 deles, em sono profundo.  São as criaturas que nunca se entregaram ao bem ativo e renovador( .. ) os que acreditaram convictamente na morte, como sendo o nada, o fim de tudo, o sono eterno.
     Todos os que dormem às vezes, por decênios, entregam-se a pesadelos, a horríveis visões  íntimas.

Alguns casos

Angelo Di Sarno - dirigia-se à cidade de Valinhos, quando, no viaduto de entrada da Rodovia dos Bandeirantes, acidentou-se com o seu veículo, vindo a falecer aos 25 anos.  Em carta dirigida à sua mãe Rosa, descreveu o acidente e falou da situação estranha de estar vendo tudo (4):

Os desconhecidos que me rodeavam lamentavam o meu desconforto, outros queriam ver o veículo e se puseram a examiná-lo, até que os agentes da polícia do trânsito chegassem e me anotassem a posição de imobilidade e falaram em morte, o que realmente me assustou.
Quis reagir, explicar que eu estava vivo, que decerto as escoriações deviam estar vertendo muito sangue, mas não consegui.
Uma inesperada fraqueza me assaltou e perdi o controle de mim próprio.  Eu devia estar muito quebrado e ferido, porque não pude articular palavra.

Não é comum, na desencarnação traumática, o Espírito ter esse grau de consciência, como ocorreu a Ângelo. Apesar do desastre automobilístico, ele anotou o que se passava à sua volta. A desencarnação por doença física favorece mais esses voos conscientes, essa visão mais nítida dos dois corpos já desligados.

Ângelo Di Sarno - relata:

Então, senti que mãos amigas me carregavam e me puseram dentro de outro carro, sem que eu pudesse saber, de momento, que era uma ambulância.  Notei vagamente que o carro se pusera em movimento e que me transportavam para algum lugar.

Uma senhora, falando um harmonioso italiano, convidou-o ao repouso:
          
Você está cansado e precisa repousar. Durma pode dormir sem medo(... ) Você será transportado, durante o sono, para o lugar de nossa moradia.  Durma ... Durma!
Dormi pensando que eu ainda teria chance de ir a nossa casa para abraçá-la e abraçar o Papai Aniello, e os irmãos Giovani e André, mas acordei numa outra paisagem.  Não mais me senti dentro do carro e, sim numa casa acolhedora cercada por um bonito "giardino". Embora muito fraco, perguntei quem era aquela senhora que me socorrera no veículo, dirigindo-me a ela mesma. Ela me disse sorrindo:
- Meu filho, somos tantos corações aqui reunidos que para alcançar a sua compreensão, direi apenas que sou avó da avó de sua avó Ana Maria e deixei a Itália há muitos anos.

Vítor Fernando Stocco Júnior – o Vitinho nasceu dia 13 de fevereiro de 1974 e faleceu aos 15 anos, a 8 de setembro de 1989.  Nesse dia, ele estava em um Clube de Campo, na cidade de Itapevi (SP) em companhia de casais amigos de sua família e de seus filhos.  Na manhã do dia 8, ao sair da barraca de acampamento, foi acometido de um mal súbito e caiu, sendo levado a um pronto-socorro próximo ao Clube, mas já chegou em óbito.  Os médicos consideraram como causa mortis a ruptura de aneurisma cerebral.  Escrevendo a seus pais Vítor Fernando Stocco e Lúcia Regina Romano Stocco, o adolescente descreveu o socorro que recebeu (9):

Entre o abatimento e o sono, vi que um senhor de idade madura me abraçou e disse:
- Não se aflija.  Sou seu "bi"e aqui me encontro para cooperar com o papai e a mãezinha.
Eu não tinha intimidade com ninguém que pudesse se apresentar naquela condição.  Quase balbuciando as palavras indaguei sobre que "bi", e ele me respondeu:
- Sou seu bisavô Vítor e vim convidar você para o repouso.
Aí, carregou-me nos braços foi quando falei àquele parente.
- Sou também Vítor e desejo a sua paz.
Aquele "bi" era o bisavô paterno, Nicanor Vítor Stocco, desencarnado, que veio em auxilio ao bisneto nos umbrais do além.


Uma estória
JÓIAS DEVOLVIDAS

Existe uma palavra-chave para enfrentarmos com serenidade e equilíbrio a morte de um ente querido: submissão.
Ela exprime a disposição de aceitar o inevitável, considerando que, acima dos desejos humanos, prevalece a vontade soberana de Deus, que nos oferece a experiência da morte em favor do aprimoramento de nossa vida.

A esse propósito, oportuno recordar antiga história oriental sobre um rabi, pregador religioso judeu que vivia muito feliz com sua virtuosa esposa e dois filhos admiráveis, rapazes inteligentes e ativos, amorosos e disciplinados.
Por força de suas atividades, certa vez o rabi ausentou-se por vários dias, em longa viagem.  Nesse ínterim, um grave acidente provocou a morte dos dois moços.
Podemos imaginar a dor daquela mãe!... Não obstante, era uma mulher forte.  Apoiada na fé e na inabalável confiança em Deus, suportou valorosamente o impacto.  Sua preocupação maior era o marido.  Como transmitir-lhe a terrível notícia?!... Temia que uma comoção forte tivesse funestas consequências, porquanto ele era portador de perigosa insuficiência cardíaca.  Orou muito, implorando a Deus uma inspiração.  O Senhor não a deixou sem resposta...
Passados alguns dias o rabi retornou ao lar.  Chegou à tarde, cansado após longa viagem, mas muito feliz.  Abraçou carinhosamente a esposa e foi logo perguntando pelos filhos...
- Não se preocupe, meu querido.  Eles virão depois.  Vá banhar-se, enquanto preparo o lanche.
Pouco depois, sentados à mesa, permutavam comentários do cotidiano, naquele doce enlevo de cônjuges amorosos, após breve separação.
- E os meninos?  Estão demorando!...
- Deixe os filhos... Quero que você me ajude a resolver grave problema...
- O que aconteceu?  Notei que você está abatida!... Fale!  Resolveremos juntos, com a ajuda de Deus!...
- Quando você viajou, um amigo nosso procurou-me e confiou à minha guarda duas joias de incalculável valor.  São extraordinariamente preciosas!  Nunca vi nada igual!  O problema é esse: ele vem buscá-las e não estou com disposição para efetuar a devolução.
- Que é isso, mulher!  Estou estranhando seu comportamento!  Você nunca cultivou vaidades!...
- É que jamais vira joias assim.  São divinas, maravilhosas!...
- Mas não lhe pertencem...
- Não consigo aceitar a perspectiva de perdê-las!...
- Ninguém perde o que não possui.  Retê-las equivaleria a roubo!
- Ajude-me!...
- Claro que o farei.  Iremos juntos devolvê-las, hoje mesmo!
- Pois bem, meu querido, seja feita sua vontade.  O tesouro será devolvido.  Na verdade isso já foi feito.  As joias eram nossos filhos.  Deus, que no-los concedeu por empréstimo, à nossa guarda, veio buscá-los!...

O rabi compreendeu a mensagem e, embora experimentando a angústia que aquela separação lhe impunha, superou reações mais fortes, passíveis de prejudicá-lo.
Marido e mulher abraçaram-se emocionados, misturando lágrimas que se derramavam por suas faces mansamente, sem burburinhos de revolta ou desespero, e pronunciaram, em uníssono, as santas palavras de Jó:
,, Deus deu, Deus tirou.  Bendito seja o Seu santo nome."

Fonte:
Curso Básico de Espiritismo – Editora Aliança
Nossa Vida no Além – Marlene Nobre

Quem tem medo da morte? – Richard Simonetti

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