Havia
um rapaz que possuía um dom especial. De vez em quando ele conseguia se
desprender do seu corpo físico e, em espírito, visitar outros locais. Ele
se deslocava com seu corpo espiritual a distâncias consideráveis, utilizando
apenas a força do pensamento. No entanto, esse dom era utilizado de uma forma
positiva; assim que saía do corpo, ele percorria local onde as pessoas
precisassem dele, e assim fazia o bem.
Certo
dia, ele visitou um local que muitos poderiam chamar de “inferno”. Neste
submundo encontravam-se espíritos errantes, viciados, apegados, raivosos,
perturbados e ignorantes. Havia muita desgraça, fome, desespero, dor,
sofrimento, conflitos e medo. Tratava-se de uma zona inferior para onde eram
atraídas muitas almas endividas com o plano divino.
Tudo
era escuro, cálido, lamacento, asqueroso e feio. Vez por outra ouviam-se gritos
de terror e desespero. A atmosfera era pesada, densa e hostil. Era possível ver
as almas presas à lama, correndo, caídas no chão, sujas, maltrapilhas,
sangrando, falando sozinhas ou ofendendo umas as outras. Uma visão aterradora
de um local imerso em profundo sofrimento. Esse espaço interminável de trevas
representava todo o clima negativo que permeia o nosso mundo.
O
rapaz estava ali, mais uma vez, para tentar ajudar as almas em intenso
sofrimento. Ele caminhava pelo “vale da sombra e da morte” e escolhia um e
outro espírito que estivesse mais apto a ser socorrido. Num certo momento,
percebeu um homem diferente. Estava limpo, caminhando tranquilamente e com
olhar sereno.
O
rapaz se aproximou deste homem que destoava do todo aquele entorno de
escuridão. Chamou-o e perguntou o que fazia ali. O homem abriu sua camisa e,
subitamente, uma luz branca e dourada se irradiou pelo ambiente, obrigando
todas as almas próximas a fecharem os olhos por não suportarem aquele forte
clarão repentino. O homem se surpreendeu com tamanha luminosidade e perguntou:
–
Quem é você?
–
Sou o Anjo Gabriel – disse o homem.
O
rapaz se surpreendeu muito com a resposta. No entanto, ele sabia que alguém com
toda aquela iluminação espiritual seria incapaz de mentir. O rapaz então disse:
–
Senhor, vejo que estás aqui, neste vale sombrio de intensas trevas. Mas aqui
não é um lugar apropriado a um ser de tanta luz e bondade. O senhor não deveria
estar nas regiões celestes?
O
anjo respondeu:
–
Não… É exatamente aqui, neste local de erro, trevas e destruição, onde mais
precisam de mim. É justamente onde há escuridão que um anjo deve levar a sua
luz.
Hugo
Lapa
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