Determinadas matérias tratadas na exposição da Doutrina Espírita muitas vezes
perecem sem importância, mas nunca será demais saber o exato sentido e praticar
a correta aplicação dos termos.
É o que acontece com a aplicação das expressões INTUIÇÃO e INSPIRAÇÃO: há alguns companheiros da exposição doutrinária, seja na área do ensino, seja na da divulgação, que acham (e, o que pior, passam adiante) não haver nenhuma diferença entre ambas.
Mas, com licença de suas luzes, há diferença - e muita! São coisas diferentes, com diferentes sentidos e de efeitos diferentes.
Vejamos, não com nossas próprias convicções - pois que, como diz o ditado popular, "santo de casa não faz milagres" - mas trazendo o quanto nos ensinam os entendidos e doutrinadores.
INSPIRAÇÃO: Uma definição leiga: "Inspiração - sugestão, insinuação, conselho", ou "Inspirar - incutir, infundir, insuflar, introduzir" (Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, Vol. 2 Ed. Enciclopédia Britânica). Atende-se para a etimologia (origem) dessa palavra, que vem de inspirare, ou "introduzir ar", quase o mesmo que assoprar.
Agora, a doutrina: "A inspiração é a equipe dos pensamentos alheios que aceitamos ou procuramos" (Seara dos Médiuns, "Faixas", Emmanuel. F.C. Xavier, FEB - 4ª edição, pg. 125, discorrendo sobre o capítulo "Evocações" do O Livro dos Médiuns).
Léon Denis (O Problema do Ser, do Destino e da Dor, FEB, 1993, cap. 21, pg. 334), sobre a inspiração: "uma das formas empregadas pelos habitantes do mundo invisível para nos transmitirem seus avisos, suas instruções (...). Pela mediunidade o Espírito infunde suas ideias no entendimento do transmissor".
“É o recebimento espontâneo de ideias, pensamentos, concepções, provindo de Espíritos..." (Dicionário Enciclopédico de Espiritismo, Metapsíquica e Parapsicologia, Ed. Bels. 1976, 3ª ed., João Teixeira de Paula). Ressalte-se: é espontâneo, logo, não precisa evocação, nem pedido de auxílio; é um socorro imediato e de bom grado.
Em conclusão claríssima: Inspiração é a transmissão dos pensamentos e mensagens de uma mente para outra, "um assopro" do desencarnado para o encarnado possa livremente dispor de uma determinada figura, de uma ideia, de um quadro mental.
INTUIÇÃO: Consulte-se Platão, que fundamenta a intuição na preexistência (reencarnações anteriores), segundo a síntese trazida por Adolfo Bezerra de Menezes, em A Loucura Sob Novo Prisma = Estudo Psíquico fisiológico, FEB, 8ª Ed. - 1993, cap. 1, pg. 19: "Antes de virmos a esta vida, já tivemos outras, e no tempo intermediário, que passamos no mundo dos Espíritos, adquirimos o conhecimento das grandezas a que somos destinados; donde essa reminiscência, a que chamamos intuição de um futuro, que mal entrevemos, envoltos no véu da carne".
Segundo Ney Lobo, em Filosofia Espírita da Educação e Suas Consequências Pedagógicas (Ed. FEB, 1993, pg. 92), "A intuição é instrumento de prospecção do fundo anímico do educando, das camadas sedimentares de perfeições e imperfeições acumuladas nas existências anteriores".
No livro Allan Kardec, Zeus Wantuil (ex-presidente da FEB), cuidando da mediunidade atribuída ao Codificador, afirma que "a intuição é a fonte de todos os nossos conhecimentos (...)", referindo-se aos conhecimentos que o Ser angaria ao largo de todas as suas experiências anteriores (cap. 3, pg. 41).
Dentre as várias abordagens do Livro dos Espíritos sobre a intuição, colhemos apenas a contida na questão nº 415, quando Kardec pergunta aos Espíritos qual a utilidade das visitas feitas durante o sono, se não nos lembramos sempre delas: "De ordinário, ao despertardes, guardais a intuição desse fato, do qual se originam certas ideias que vos vem espontaneamente, sem que possais explicar como vos acudiram. São ideias que adquiristes nessas confabulações". (46ª edição, FEB, tradução de Guillon Ribeiro).
E, afinal, o próprio Kardec, em A Gênese, Cap. XI, Doutrina dos Anjos Decaídos, item 43 (20ª ed. FEB, idem) falando das emigrações e imigrações dos seres espirituais ao largo dos tempos, afirma que alguns "são excluídos da humanidade a que até então pertenceram e tangidos para mundos menos adiantados, onde aplicarão a inteligência e a intuição dos conhecimentos que adquiriram (...)". E, pouquinho mais adiante, no mesmo item, Kardec é categórico: "A vaga lembrança intuitiva que guardam da terra donde vieram é como uma longínqua miragem a lhes recordar o que perderam por culpa própria". Com o mesmo sentido dizem os espíritos, na questão 393, sobre a "lembrança" (pela intuição) que os Espíritos têm de suas faltas passadas ao reencarnar.
Nada mais claro resta: a intuição é o conjunto de conhecimentos próprios adquiridos ao largo das múltiplas experiências do Ser, que lhe aflora à mente espontaneamente, sem necessidade de ninguém lhe transmitir nada, pois que tais conhecimentos pertencem ao seu universo peculiar e subjetivo de conhecimentos.
Portanto amigos, quando formos pedir "ajuda" aos Espíritos, peçamos que eles nos inspirem bons pensamentos, não que nos "intuam"; quanto à intuição, é melhor pedirmos a Deus (e até aos Espíritos, por que não?!) que nos ajude a organizar nossos próprios conhecimentos para usarmos no momento preciso e, sobretudo, em favor do esclarecimento do próximo. Ou melhor ainda, ouvir a sábia orientação de Emmanuel, no livro O Consolador, questão 122, quando lhe foi perguntado "que se deve fazer para o desenvolvimento da intuição", respondendo: "O campo do estudo perseverante, com o esforço sincero e a meditação sadia, é o grande veículo de amplitude da intuição, em todos os seus aspectos".
É isso aí, com respeito dos mais doutos.
INTUIÇÃO ou INSPIRAÇÃO (II): e os médiuns Intuitivos?...
Francisco Aranda Gabilan
E-Mail: fagabilan@uol.com.br
Diante do nosso artigo anterior abordando as diferenças entre Intuição e Inspiração, recebemos dois E-Mail fazendo, cada um a seu modo, a seguinte pergunta: se Inspiração é a informação passada por um Espírito, como é que fica a denominação de "Médium Intuitivo" contida no Livro dos Médiuns? Não parece incongruente, já que o conhecimento intuitivo é o do "próprio médium", ou seja, não haveria verdadeiramente o fenômeno mediúnico?
Muito, mas muito interessante mesmo a indagação. Mais que isso: muito inteligente.
Vamos à explicação. Podemos afirmar categoricamente: não, não há contradição nenhuma na designação de "Médiuns Intuitivos" feita no Cap. XV, item 180, do Livro dos Médiuns (L.M.). E mais: está perfeitamente de acordo com todas as observações feitas por nós no artigo anterior.
Senão, vejamos:
1. Em primeiro, chamamos a atenção para o fato de que, no mesmo Capítulo XV do L.M., mas no item 182, há a definição de "Médium Inspirado": todo aquele que "recebe, pelo pensamento, comunicações estranhas às suas ideias preconcebidas" - ou seja, retrata aquela circunstância que singelamente aludimos de que o Espírito "assopra" para o encarnado suas ideias e este último às retransmite para o mundo físico.
2. Agora o Médium Intuitivo, explicativamente. Kardec, no L.M., item 180 citado não deixa dúvidas quanto a esta espécie de mediunidade "via intuição": "a transmissão do pensamento também se dá POR MEIO DO ESPÍRITO DO MÉDIUM, ou melhor, de sua alma, pois que por este nome designamos o Espírito encarnado" (...) este "recebe o pensamento do Espírito livre e o transmite". Isso quer dizer que a Alma (Espírito do encarnado), quando está liberada do corpo físico -- mais especialmente por ocasião do sono, mas também se pode dar em vigília (desdobramento) -- vai relacionar-se com os Espíritos com quem mantém identidade de gostos e pensamentos, ou ainda vai buscar em quem tem os conhecimentos de que necessita para o seu desenvolvimento intelectual ou moral.
Ora, dessas conversas, instruções, lições e recomendações, o médium guarda total impressão, retransmitindo-as com suas palavras, à sua maneira, da sua forma. É mais ou menos como o professor, que aprendeu de outros os conhecimentos que detém, repassando-os para seus alunos, agora ao seu modo, sem anular de modo nenhum sua personalidade e acrescentar sua lógica de raciocínio e somando com outros seus conhecimentos.
Claro, não?! Todos nós -- que, sem exceção, somos médiuns -- fazemos isso todos os dias e todas as noites; só que alguns de nós aproveitam mais ou aproveitam menos as experiências decorrentes do relacionamento com os Espíritos...
A propósito, convém lembrar: Kardec foi o médium intuitivo mais conhecido dentro do Espiritismo. Ele mesmo disse que o era; aliás, a bem da verdade, Kardec afirmara mesmo que nem médium se considerava (Revista Espírita, 1861, nov., pg. 356), tendo em vista o tipo de mediunidade -- intuitiva.
Só para firmar doutrina, ouçamos Erasto e Timóteo (Espíritos) em dissertação recolhida por Kardec e reproduzida no L.M., Cap. XIX, item 225, aludindo ao médium intuitivo: "Com um médium, cuja inteligência atual, ou anterior, se ache desenvolvida, o nosso pensamento se comunica instantaneamente de Espírito a Espírito, por uma faculdade peculiar à essência mesma do Espírito."
E Kardec complementa o assunto, em nota: “... o Espírito haure, não as suas ideias, porém os materiais que necessita para exprimi-las, no cérebro do médium e que, quanto mais rico em materiais for esse cérebro, tanto mais fácil será a comunicação." (...) É o que ocorre aos "poetas, filósofos e aos sábios" (L.M., Cap. XVII, item 215), concluindo que tal é a "razão que eleva o homem acima de si mesmo, que o transporta a regiões desconhecidas, chama sagrada que inspira o artista e o poeta, pensamento divino que exalta o filósofo, arroubo que arrebata os indivíduos e povos, razão que o vulgo não pode compreender, porém que ergue o homem e o aproxima de Deus, mais que nenhuma outra criatura, entendimento que o conduz do conhecido ao desconhecido e lhe faz executar as coisas mais sublimes. Escutai essa VOZ INTERIOR..." (idem, Cap. XXXI, item 10).
Afinal, "Nestas comunicações, não mais existe qualquer ação reflexa, o Espírito não exerce uma ação efetiva sobre o cérebro do médium; ele não lhe tira a consciência, ao transmitir-lhe as vibrações espirituais que representam seu pensamento, E O ENCARNADO AS APANHA SOB FORMA DE IDÉIAS; daí a denominação de mediunidade intuitiva dada a esse gênero de manifestações." (Gabriel Delanne em "A Alma é Imortal", cap. 2).
Não foi sem razão que Edgard Armond (Mediunidade, Cap. 9, Intuição) afirmou categoricamente: "Das faculdades mediúnicas, é a mais elevada e a mais perfeita, porque põe o indivíduo não mais e somente em contato com coisas e seres do mundo espiritual, mas direta e superiormente, com a essência divina das realidades. "
É isso aí!
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Allan Kardec in Vocabulário Espírita
no livro Instruções Práticas Sobre as Manifestações Espíritas
INTUIÇÃO (V. Instinto, Tendências inatas)
INSTINTO: espécie de inteligência rudimentar que dirige os seres vivos em suas ações, à revelia de sua vontade e no interesse de sua conservação. O instinto torna-se inteligência quando surge a deliberação. Pelo instinto age-se sem raciocinar; pela inteligência raciocina-se antes de agir. No homem confundem-se frequentemente as ideias instintivas com as ideias intuitivas. Estas últimas são as que ele hauriu, quer no estado de espírito, quer nas existências anteriores e das quais conserva uma vaga lembrança.
TENDÊNCIAS INATAS. Tendências, ideias ou conhecimento não adquiridos que parece trazermos ao nascer. Há muito tempo discutem-se as tendências inatas, cuja realidade é combatida por certos filósofos que pretendem sejam todas adquiridas. Se assim fosse, como explicar certas disposições naturais que se revelam muitas vezes desde a mais tenra idade e independentemente de qualquer educação? Os fenômenos espíritas lançam uma grande luz sobre esta questão. A experiência não deixa dúvida alguma, hoje em dia, sobre estas espécies de tendência que encontram sua explicação na sucessão das existências. Os conhecimentos adquiridos pelo Espírito nas existências anteriores se refletem nas existências posteriores através do que denominamos tendências inatas.
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É o que acontece com a aplicação das expressões INTUIÇÃO e INSPIRAÇÃO: há alguns companheiros da exposição doutrinária, seja na área do ensino, seja na da divulgação, que acham (e, o que pior, passam adiante) não haver nenhuma diferença entre ambas.
Mas, com licença de suas luzes, há diferença - e muita! São coisas diferentes, com diferentes sentidos e de efeitos diferentes.
Vejamos, não com nossas próprias convicções - pois que, como diz o ditado popular, "santo de casa não faz milagres" - mas trazendo o quanto nos ensinam os entendidos e doutrinadores.
INSPIRAÇÃO: Uma definição leiga: "Inspiração - sugestão, insinuação, conselho", ou "Inspirar - incutir, infundir, insuflar, introduzir" (Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, Vol. 2 Ed. Enciclopédia Britânica). Atende-se para a etimologia (origem) dessa palavra, que vem de inspirare, ou "introduzir ar", quase o mesmo que assoprar.
Agora, a doutrina: "A inspiração é a equipe dos pensamentos alheios que aceitamos ou procuramos" (Seara dos Médiuns, "Faixas", Emmanuel. F.C. Xavier, FEB - 4ª edição, pg. 125, discorrendo sobre o capítulo "Evocações" do O Livro dos Médiuns).
Léon Denis (O Problema do Ser, do Destino e da Dor, FEB, 1993, cap. 21, pg. 334), sobre a inspiração: "uma das formas empregadas pelos habitantes do mundo invisível para nos transmitirem seus avisos, suas instruções (...). Pela mediunidade o Espírito infunde suas ideias no entendimento do transmissor".
“É o recebimento espontâneo de ideias, pensamentos, concepções, provindo de Espíritos..." (Dicionário Enciclopédico de Espiritismo, Metapsíquica e Parapsicologia, Ed. Bels. 1976, 3ª ed., João Teixeira de Paula). Ressalte-se: é espontâneo, logo, não precisa evocação, nem pedido de auxílio; é um socorro imediato e de bom grado.
Em conclusão claríssima: Inspiração é a transmissão dos pensamentos e mensagens de uma mente para outra, "um assopro" do desencarnado para o encarnado possa livremente dispor de uma determinada figura, de uma ideia, de um quadro mental.
INTUIÇÃO: Consulte-se Platão, que fundamenta a intuição na preexistência (reencarnações anteriores), segundo a síntese trazida por Adolfo Bezerra de Menezes, em A Loucura Sob Novo Prisma = Estudo Psíquico fisiológico, FEB, 8ª Ed. - 1993, cap. 1, pg. 19: "Antes de virmos a esta vida, já tivemos outras, e no tempo intermediário, que passamos no mundo dos Espíritos, adquirimos o conhecimento das grandezas a que somos destinados; donde essa reminiscência, a que chamamos intuição de um futuro, que mal entrevemos, envoltos no véu da carne".
Segundo Ney Lobo, em Filosofia Espírita da Educação e Suas Consequências Pedagógicas (Ed. FEB, 1993, pg. 92), "A intuição é instrumento de prospecção do fundo anímico do educando, das camadas sedimentares de perfeições e imperfeições acumuladas nas existências anteriores".
No livro Allan Kardec, Zeus Wantuil (ex-presidente da FEB), cuidando da mediunidade atribuída ao Codificador, afirma que "a intuição é a fonte de todos os nossos conhecimentos (...)", referindo-se aos conhecimentos que o Ser angaria ao largo de todas as suas experiências anteriores (cap. 3, pg. 41).
Dentre as várias abordagens do Livro dos Espíritos sobre a intuição, colhemos apenas a contida na questão nº 415, quando Kardec pergunta aos Espíritos qual a utilidade das visitas feitas durante o sono, se não nos lembramos sempre delas: "De ordinário, ao despertardes, guardais a intuição desse fato, do qual se originam certas ideias que vos vem espontaneamente, sem que possais explicar como vos acudiram. São ideias que adquiristes nessas confabulações". (46ª edição, FEB, tradução de Guillon Ribeiro).
E, afinal, o próprio Kardec, em A Gênese, Cap. XI, Doutrina dos Anjos Decaídos, item 43 (20ª ed. FEB, idem) falando das emigrações e imigrações dos seres espirituais ao largo dos tempos, afirma que alguns "são excluídos da humanidade a que até então pertenceram e tangidos para mundos menos adiantados, onde aplicarão a inteligência e a intuição dos conhecimentos que adquiriram (...)". E, pouquinho mais adiante, no mesmo item, Kardec é categórico: "A vaga lembrança intuitiva que guardam da terra donde vieram é como uma longínqua miragem a lhes recordar o que perderam por culpa própria". Com o mesmo sentido dizem os espíritos, na questão 393, sobre a "lembrança" (pela intuição) que os Espíritos têm de suas faltas passadas ao reencarnar.
Nada mais claro resta: a intuição é o conjunto de conhecimentos próprios adquiridos ao largo das múltiplas experiências do Ser, que lhe aflora à mente espontaneamente, sem necessidade de ninguém lhe transmitir nada, pois que tais conhecimentos pertencem ao seu universo peculiar e subjetivo de conhecimentos.
Portanto amigos, quando formos pedir "ajuda" aos Espíritos, peçamos que eles nos inspirem bons pensamentos, não que nos "intuam"; quanto à intuição, é melhor pedirmos a Deus (e até aos Espíritos, por que não?!) que nos ajude a organizar nossos próprios conhecimentos para usarmos no momento preciso e, sobretudo, em favor do esclarecimento do próximo. Ou melhor ainda, ouvir a sábia orientação de Emmanuel, no livro O Consolador, questão 122, quando lhe foi perguntado "que se deve fazer para o desenvolvimento da intuição", respondendo: "O campo do estudo perseverante, com o esforço sincero e a meditação sadia, é o grande veículo de amplitude da intuição, em todos os seus aspectos".
É isso aí, com respeito dos mais doutos.
INTUIÇÃO ou INSPIRAÇÃO (II): e os médiuns Intuitivos?...
Francisco Aranda Gabilan
E-Mail: fagabilan@uol.com.br
Diante do nosso artigo anterior abordando as diferenças entre Intuição e Inspiração, recebemos dois E-Mail fazendo, cada um a seu modo, a seguinte pergunta: se Inspiração é a informação passada por um Espírito, como é que fica a denominação de "Médium Intuitivo" contida no Livro dos Médiuns? Não parece incongruente, já que o conhecimento intuitivo é o do "próprio médium", ou seja, não haveria verdadeiramente o fenômeno mediúnico?
Muito, mas muito interessante mesmo a indagação. Mais que isso: muito inteligente.
Vamos à explicação. Podemos afirmar categoricamente: não, não há contradição nenhuma na designação de "Médiuns Intuitivos" feita no Cap. XV, item 180, do Livro dos Médiuns (L.M.). E mais: está perfeitamente de acordo com todas as observações feitas por nós no artigo anterior.
Senão, vejamos:
1. Em primeiro, chamamos a atenção para o fato de que, no mesmo Capítulo XV do L.M., mas no item 182, há a definição de "Médium Inspirado": todo aquele que "recebe, pelo pensamento, comunicações estranhas às suas ideias preconcebidas" - ou seja, retrata aquela circunstância que singelamente aludimos de que o Espírito "assopra" para o encarnado suas ideias e este último às retransmite para o mundo físico.
2. Agora o Médium Intuitivo, explicativamente. Kardec, no L.M., item 180 citado não deixa dúvidas quanto a esta espécie de mediunidade "via intuição": "a transmissão do pensamento também se dá POR MEIO DO ESPÍRITO DO MÉDIUM, ou melhor, de sua alma, pois que por este nome designamos o Espírito encarnado" (...) este "recebe o pensamento do Espírito livre e o transmite". Isso quer dizer que a Alma (Espírito do encarnado), quando está liberada do corpo físico -- mais especialmente por ocasião do sono, mas também se pode dar em vigília (desdobramento) -- vai relacionar-se com os Espíritos com quem mantém identidade de gostos e pensamentos, ou ainda vai buscar em quem tem os conhecimentos de que necessita para o seu desenvolvimento intelectual ou moral.
Ora, dessas conversas, instruções, lições e recomendações, o médium guarda total impressão, retransmitindo-as com suas palavras, à sua maneira, da sua forma. É mais ou menos como o professor, que aprendeu de outros os conhecimentos que detém, repassando-os para seus alunos, agora ao seu modo, sem anular de modo nenhum sua personalidade e acrescentar sua lógica de raciocínio e somando com outros seus conhecimentos.
Claro, não?! Todos nós -- que, sem exceção, somos médiuns -- fazemos isso todos os dias e todas as noites; só que alguns de nós aproveitam mais ou aproveitam menos as experiências decorrentes do relacionamento com os Espíritos...
A propósito, convém lembrar: Kardec foi o médium intuitivo mais conhecido dentro do Espiritismo. Ele mesmo disse que o era; aliás, a bem da verdade, Kardec afirmara mesmo que nem médium se considerava (Revista Espírita, 1861, nov., pg. 356), tendo em vista o tipo de mediunidade -- intuitiva.
Só para firmar doutrina, ouçamos Erasto e Timóteo (Espíritos) em dissertação recolhida por Kardec e reproduzida no L.M., Cap. XIX, item 225, aludindo ao médium intuitivo: "Com um médium, cuja inteligência atual, ou anterior, se ache desenvolvida, o nosso pensamento se comunica instantaneamente de Espírito a Espírito, por uma faculdade peculiar à essência mesma do Espírito."
E Kardec complementa o assunto, em nota: “... o Espírito haure, não as suas ideias, porém os materiais que necessita para exprimi-las, no cérebro do médium e que, quanto mais rico em materiais for esse cérebro, tanto mais fácil será a comunicação." (...) É o que ocorre aos "poetas, filósofos e aos sábios" (L.M., Cap. XVII, item 215), concluindo que tal é a "razão que eleva o homem acima de si mesmo, que o transporta a regiões desconhecidas, chama sagrada que inspira o artista e o poeta, pensamento divino que exalta o filósofo, arroubo que arrebata os indivíduos e povos, razão que o vulgo não pode compreender, porém que ergue o homem e o aproxima de Deus, mais que nenhuma outra criatura, entendimento que o conduz do conhecido ao desconhecido e lhe faz executar as coisas mais sublimes. Escutai essa VOZ INTERIOR..." (idem, Cap. XXXI, item 10).
Afinal, "Nestas comunicações, não mais existe qualquer ação reflexa, o Espírito não exerce uma ação efetiva sobre o cérebro do médium; ele não lhe tira a consciência, ao transmitir-lhe as vibrações espirituais que representam seu pensamento, E O ENCARNADO AS APANHA SOB FORMA DE IDÉIAS; daí a denominação de mediunidade intuitiva dada a esse gênero de manifestações." (Gabriel Delanne em "A Alma é Imortal", cap. 2).
Não foi sem razão que Edgard Armond (Mediunidade, Cap. 9, Intuição) afirmou categoricamente: "Das faculdades mediúnicas, é a mais elevada e a mais perfeita, porque põe o indivíduo não mais e somente em contato com coisas e seres do mundo espiritual, mas direta e superiormente, com a essência divina das realidades. "
É isso aí!
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Allan Kardec in Vocabulário Espírita
no livro Instruções Práticas Sobre as Manifestações Espíritas
INTUIÇÃO (V. Instinto, Tendências inatas)
INSTINTO: espécie de inteligência rudimentar que dirige os seres vivos em suas ações, à revelia de sua vontade e no interesse de sua conservação. O instinto torna-se inteligência quando surge a deliberação. Pelo instinto age-se sem raciocinar; pela inteligência raciocina-se antes de agir. No homem confundem-se frequentemente as ideias instintivas com as ideias intuitivas. Estas últimas são as que ele hauriu, quer no estado de espírito, quer nas existências anteriores e das quais conserva uma vaga lembrança.
TENDÊNCIAS INATAS. Tendências, ideias ou conhecimento não adquiridos que parece trazermos ao nascer. Há muito tempo discutem-se as tendências inatas, cuja realidade é combatida por certos filósofos que pretendem sejam todas adquiridas. Se assim fosse, como explicar certas disposições naturais que se revelam muitas vezes desde a mais tenra idade e independentemente de qualquer educação? Os fenômenos espíritas lançam uma grande luz sobre esta questão. A experiência não deixa dúvida alguma, hoje em dia, sobre estas espécies de tendência que encontram sua explicação na sucessão das existências. Os conhecimentos adquiridos pelo Espírito nas existências anteriores se refletem nas existências posteriores através do que denominamos tendências inatas.
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O Semeador - Nº 760 - Maio de 2000
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