Toda vez que uma desgraça se
abate sobre um homem, a verdadeira desgraça para ele é não saber receber
devidamente o infortúnio que lhe chega. Desgraça, realmente, é o mal, o prejuízo, o dano
que se pode praticar contra alguém e não o que se recebe ou se sofre. O que muitas
vezes tem aparência de desgraça — e isto quase sempre — é resgate
intransferível e valioso que assoma à alfândega do devedor, cobrando-lhe os
débitos livremente assumidos e aceitos. Das mais duras provações sempre
resultam benefícios valiosos para o espírito imortal. Há que considerar cada um
a própria posição que mantém na vida terrena para avaliar com acerto os
acontecimentos que o visitam. Quando somente se experimentam as emoções físicas
e conceituamos os valores imediatos, desgraças, em realidade, para tais, são os
pequenos caprichos não atendidos, as veleidades vaidosas não respeitadas, as
ambições ridículas não satisfeitas que assumem papel preponderante e se
trans¬formam em infelicidades legítimas, porquanto, ignorando propositalmente
as realidades superiores, esses descuidados se apegam às menores coisas e aos
recursos de nenhuma monta, derrapando para a irritabilidade, as paixões, a loucura,
o suicídio: desgraças que levam o espírito às províncias de amarguras
inomináveis, a vencerem tempo sem limite em etapas de dor sem nome. Quando o
infortúnio não resulta de imediato desatino ou leviandade é bênção da Vida a
vida, facultando vitória próxima. Nesse particular os Espíritos Superiores
levam em alta consideração os sofrimentos humanos, as desgraças que abatem
homens, famílias, povos e, pressurosos, em nome da Misericórdia Divina, acorrem
a ajudar e socorrer esses padecentes, dando-lhes forcas e coragem para permanecerem
firmes e confiantes, buscando diminuir neles a intensidade da dor, e, noutras
circunstâncias, tendo em vista os novos méritos que resultam das conquistas
in¬dividuais ou coletivas, desviando-as, atenuando-as, impedindo mesmo que se
realize, pela constrição do sofrimento, a depuração espiritual, o que fa¬culta
meios de crescimento pelo amor em bênçãos edificantes capazes de anular o saldo
devedor constritivo e perseverante, porque se a Justiça Divina é rigorosa e
imutável, a Divina Misericórdia se consubstancia no amor, tendo-se em vista que
Deus, nosso Pai Excelso, “é amor”.
Joanna de Ângelis
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