O espiritismo como doutrina
filosófica só tem sentido de existir para gerar grandes avanços na reforma íntima dos indivíduos e,
consequentemente, na melhor convivência dos homens em sociedade. Conhecendo que
a evolução espiritual é eterna e perfeita como todas as Leis Divinas, nada é
impossível. Não importa se uma determinada tarefa foge da nossa capacidade de
solucioná-la no momento, pois poderemos fazê-la ainda melhor no futuro, mas
outras estão disponíveis ao nosso alcance. Somente com o conhecimento das
regras a que estamos sujeitos é possível desenvolver uma vida mais saudável e
harmoniosa. Para isso é fundamental o desenvolvimento criterioso da razão, sem
cautelas, preconceitos e fanatismo. O espiritismo é capaz de nos colocar no
caminho do raciocínio constante, em cada passo que damos na vida, e aprender
com os exemplos do dia a dia com base nos ensinamentos que adquirimos do plano
espiritual. O fundamental de tudo é ter confiança no futuro de que a vida é
eterna e continuamente fruto do trabalho constante através das reencarnações e
aprimoramento espiritual. Uma das regras fundamentais da evolução espiritual
que cada um deve ter consciência é o respeito entre as pessoas, ou melhor,
respeito ao Espírito. Quando falamos pessoas, imediatamente, distribuímos
diferenças existentes entre elas, sejam pelas classes sociais, raciais, locais
de residências regionais, idades (crianças, jovens, adultos, velhos, etc.) e
outras. Mas se falarmos em espírito, não poderemos identificar essas diferenças
observadas no momento, pois envolve várias reencarnações e outras formas de
vida que ele pode ter passado. Hábitos de convivências em família, sociedades,
países, etc. são difíceis de serem analisados, pois os espíritos estão
fortemente sujeitos às suas influências. Porém tudo isso também faz parte do
estado natural das coisas. As evoluções dos espíritos são independentes e
sempre existirão espíritos que não concordam com o tipo de vida que levam nas
sociedades. Conflitos são observados de todos os tipos e diferentes maneiras. A
relação de respeito entre as pessoas promove marcas duradouras no espírito. Uma
das fases marcantes na vida do espírito encarnado é a fase que chamamos de
adaptação do espírito reencarnante no planeta, ou seja, a fase da infância. As
crianças muitas vezes são tratadas com total desrespeito pelos jovens, adultos
e velhos e negligenciadas como se fossem pessoas isentas de direitos morais na
sociedade. É comum verificarmos o desprezo da sociedade como um todo pelas
crianças em qualquer atividade que ela possa desenvolver. Quando uma criança,
por exemplo, entra numa casa comercial para comprar uma mercadoria, embora
esteja com pouca idade de vida e mesmo com o dinheiro suficiente fornecido pelos
pais, via de regra, o atendente não lhe dá atenção e é comum vermos as outras
pessoas passarem na sua frente no caso de uma fila. Muitos ainda dizem: “sai
para lá garoto!”. Certamente se os pais virem à cena não irão gostar, pois
aprendem a amar seus filhos e veem o grande potencial que existe dentro deles.
Outro caso é o desprezo que ocorre com os velhos e muito embora muitas pessoas
dizem respeitá-los, não é isso que muitas vezes ocorre. No fundo o adulto se
julga o auge da evolução do espírito. A inocência da criança e a falta de
agilidade do velho são desconsideradas. Estamos falando em vida em sociedade e
isso não ocorre com muitas pessoas, pois sabemos que isso depende do grau de evolução
de cada um. Não podemos de maneira alguma conhecer a real idade de cada
espírito encarnado, pois desconhecemos as suas várias reencarnações anteriores
e o tempo vivido no próprio plano espiritual. Podemos sim perceber pelos
indicativos de evolução espiritual o possível ponto evolutivo da criança. Dessa
forma, a criança de agora poderá ser muito mais velha em idade real que um
velho agora e ser muito mais evoluída. Isso é apenas uma questão da necessidade
reencarnatória individual e, portanto, de quanto tempo e quando se vai reencarnar.
A idade do indivíduo de hoje fica assim, completamente desnecessária e inútil
em se tratando da importância para a vida real. Cada um deverá sentir o seu
melhor desempenho com o avanço de sua idade terrena. Uns gostam e relembram com
saudades o seu tempo bem vivido na infância, ou na adolescência, na fase
adulta. Muita gente tem pavor do envelhecimento e tudo fazem para manter-se na
idade que mais apreciam. Inegavelmente todas as fases são importantes para o
espírito encarnado e a cada uma delas as dificuldades devem ser superadas da melhor
maneira possível. Na Terra é assim, em outros planetas as características da
reencarnação podem ser completamente diferentes. Em cada fase de nossa vida
marcamos os sentimentos positivos e negativos vividos. O desrespeito é um dos
sentimentos mais marcantes. Já mesmo encarnados é possível com pequeno esforço
mental lembrar-se de fatos negativos marcantes em nossa infância e o causador
do desrespeito está em nossa mente e é um problema evolutivo a ser solucionado.
A vaidade está também ligada ao desrespeito e a todos os outros sentimentos negativos
do homem. Às vezes uma professora ou professor, por exemplo, não trabalha com
os sentimentos nobres de amor, respeito, paciência, etc. A criança passa por
traumas e não se sente feliz, quando por ventura torna-se famosa, a professora
diz com orgulho: “Eu fui sua professora, lembra-se?”. É preciso definitivamente
compreender que cada ser tem suas características evolutivas marcantes que
formam a sua personalidade ao longo do tempo. Não há explicação coerente e racional
na formação de dois indivíduos nascidos e criados na mesma família, portanto,
no mesmo ambiente, obtendo dos pais os mesmos tratamentos e amor, e serem
completamente diferentes em personalidades. A assimilação pela criança dos
conceitos oferecidos pelos pais ou por qualquer pessoa depende inexoravelmente
do seu grau evolutivo. Afinidades, antipatias ou nenhum desses são importantes
na aceitação ou na negação naturais das práticas do comportamento humano.
Aceitação ou negação naturais significam não aquelas em que são impostas pela
força e desarmonia. Vamos burilando nosso espírito, ou nossa personalidade,
lentamente, dia após dia, encarnação após encarnação e devemos ter isso em
mente para podermos compreender as relações humanas. Que maravilha é a felicidade
de uma mãe ou pai ao ter uma grande afinidade com seu filho ou filha! Há uma
compaixão e compreensão mútua, crescimento, progresso e alegrias. Mas o grande
desafio se faz em desenvolver uma vida produtiva em relações de antipatias ou
baixas afinidades. Não estamos no momento discutindo sobre a melhor maneira de
educar os filhos. Essa é uma área de grande interesse e deve ser estudada com
muita dedicação e seriedade tendo em vista todas as características envolvidas
no processo da reencarnação e da evolução espiritual. Mas o respeito à vida
individual de cada ser em todas as suas fases do desenvolvimento deve ser o
nosso objetivo primordial rumo à felicidade eterna.
Por Raul Franzolin Neto
Publicado no Boletim do GEAE Nº 391
Fonte: Visão Espírita
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