Os problemas se sucediam em Pedro Leopoldo. O
número de pessoas à procura de Chico Xavier aumentava e muitas delas já iam até
a Fazenda Modelo pedir socorro. Rômulo Joviano começou a se irritar. Era
preciso encerrar aquela romaria no horário do expediente. Numa tarde, uma
mulher desesperada chegou ao escritório e foi barrada pelo patrão de Chico no
meio do caminho. Para despachar a visita, ele garantiu que seu empregado estava
em casa. A mulher foi até lá e recebeu a informação verdadeira: Chico estava no
emprego. Irritada, ela voltou a Fazenda e ouviu outra mentira: o datilógrafo
tinha saído a serviço. Após resmungar um palavrão, desapareceu batendo os
saltos no chão.
À noite, foi a primeira a entrar no Centro Luiz
Gonzaga.
Nem pensou duas vezes. Avançou contra Chico
Xavier e encheu seu rosto de bofetões. Com a voz e as mãos trêmulas, berrou:
- Está pensando que tenho tempo para andar
atrás de você para cima e para baixo? Vá já para aquela sala. Você vai me dar
um passe agora, cachorro.
Chico ficou paralisado. Não conseguiria ajudar
ninguém.
Precisava estar calmo para transmitir energia
positiva. Emmanuel apareceu com mais um conselho:
- Converse com ela, mostre compreensão.
Ainda com o rosto ardendo, ele tomou fôlego e
começou a se desculpar:
A senhora me perdoe por ser uma pessoa tão
ocupada. Não pude atendê-la em meu emprego porque meu chefe não permite. A
senhora compreende. Estou ali para servir à empresa que me paga. Não posso ser
demitido porque tenho irmãos para ajudar.
A mulher começou a chorar, Chico voltou ao
normal e obedeceu a ordem. Quando ela virou as costas, ele perguntou ao seu
companheiro invisível se não teve razão de ficar irritado.
Você está com a razão, mas ela está com a
necessidade.
Para se acalmar, se lembrou de um dos
mandamentos ouvidos de Emmanuel:
- Sua missão é formar livros e leitores. Formar
leitores é suportar suas exigências, sem censuras. Formar livros é se esquecer
de você.
No dia seguinte, quando chegou à Fazenda
Modelo, Chico foi recebido pelos olhares inquisidores de Rômulo Joviano. Que
inchaço era aquele no rosto do funcionário? Chico disfarçou:
Bati na porta.
E preferiu o silêncio quando o patrão retrucou:
Dos dois lados?
(Texto
extraído de: As Vidas de Chico Xavier - Marcel Souto Maior)
Fonte: Centro Espírita Vinhas do Senhor
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