DEPOIS DA MORTE
Efetivamente, logo após a morte
física, sofre a alma culpada minucioso processo de purgação, tanto mais
produtivo quanto mais se lhe exteriorize a dor do arrependimento, e apenas
depois disso, consegue elevar-se a esferas de reconforto e reeducação. Se a
moléstia experimentada na veste somática foi longa e difícil, abençoadas
depurações terão sido feitas, pelo ensejo de autoexame, no qual as aflições
suportadas com paciência lhe alteram sensações e refundiram ideias. Todavia, se
essa operação natural não foi possível no círculo carnal, mais se lhe agravaram
os remorsos, depois do túmulo, por recalcados na consciência, a aflorarem,
todos eles, através de reflexão na própria alma. Criminosos que mal ressarciram
os débitos contraídos, instados pelo próprio arrependimento, plasmam, em torno
de si mesmo, as cenas degradantes em que arruinaram a vida íntima,
alimentando-as à custa dos próprios pensamentos desgovernados. Caluniadores que
aniquilaram a felicidade alheia vivem pesadelos espantosos, regravando nas
telas da memória os padecimentos das vítimas, como no dia em que as fizeram
descer para o abismo da angústia, algemados ao pelourinho de obsidentes
recordações. Tiranetes diversos volvem a sentir nos tecidos da própria alma os
golpes que nos desferiram outros, e os viciados de toda sorte, quais os
dipsômanos e morfinômanos, experimentam agoniada insatisfação, qual ocorre
também aos desequilibrados do sexo, que acumulam na organização psicossomática
as cargas magnéticas do instinto em desvario, pelas quais se localizam em plena
alienação. As vítimas do remorso padecem, assim, por tempo correspondente às
necessidades de reajuste, larga internação em zonas compatíveis com o estado
espiritual que demonstram.
CONCEITO DE INFERNO
O inferno das várias religiões,
nesse aspecto, existe perfeitamente como órgão controlador do equilíbrio moral
nos reinos do Espírito, assim como a penitenciária e o hospital se levantam na
Terra, como retortas de recuperação e de auxílio. Além-túmulo, no entanto, o
estabelecimento depurativo como que reúne em si os órgãos de repressão e de cura,
porquanto as consciências empedernidas aí se congregam as consciências
enfermas, na comunhão dolorosa, mas necessária, em que o mal é defrontado pelo
próprio mal, a fim de que, em se nos examinando semelhantes, esmoreça por si na
faina destruidora em que se desmanda. É assim que as Inteligências ainda
perversas se transformam em instrumentos reeducativos daquelas que começam a
despertar, pela dor do arrependimento, para a imprescindível restauração. O
inferno, dessa maneira, no clima espiritual das várias nações do Globo, pode
ser tido na conta de imenso cárcere-hospital, em que a diagnose terrestre
encontrará realmente todas as doenças catalogadas na patologia comum, inclusive
outras muitas, desconhecidas do homem, não pròpriamente oriundas ou sustentadas
pela fauna microbiana do ambiente carnal, mas nascidas de profundas disfunções
do corpo espiritual e, muitas vezes, nutridas pelas formas-pensamentos em torturado
desequilíbrio, classificáveis por larvas mentais, de extremo poder corrosivo e
alucinatório, não obstante a fugaz duração com que se articulam, quando não obedecem
às ideias infelizes, longamente recapituladas no tempo.
SEMENTES DE DESTINO
Nesses lugares de retificadoras inquietações,
alija o Espírito endividado à carga de superfície, exonerando-se dos elementos
de mais envolvente degradação que o aviltam; contudo, tão logo revele os
primeiros sinais de positiva renovação para o bem, registra o auxílio das
Esferas Superiores, que, por agentes inúmeros, apoiam os serviços da Luz Divina
onde a ignorância e a crueldade se transviam na sombra. Qual doente, agora
acolhido em outros setores pela encorajadora convalescença de que dá
testemunho, o devedor desfruta suficiente serenidade para rever os compromissos
assumidos na encarnação recentemente deixada, sopesando os males ainda a si
próprio, com a incapacidade evidente de perdoar-se, tanto maior quão maiores
lhe foram no mundo às oportunidades de elevação e a luz do conhecimento. Muita
vez, ascendem a escolas beneméritas, nas quais recolhem mais altas noções da
vida, aprimoram-se na instrução, aperfeiçoam impulsos e exercem preciosas
atividades, melhorando os próprios créditos; todavia, as lembranças dos erros
voluntários, ainda mesmo quando as suas vítimas tenham já recuperado todas as
sequelas dos golpes sofridos, entranharam-se-lhes no espírito por
<<sementes de destino>>, de vez que eles mesmos, em se reconhecendo
necessitados de promoção a níveis mais nobres, pedem novas reencarnações com as
provas de que carecem para se quitarem consciencialmente consigo próprios.
Nesses casos, a escolha da experiência é mais que legítima, porquanto, através
da limpeza de limiar, efetuada nas regiões retificadoras, e pelos títulos
adquiridos nos trabalhos que abraça, no plano extrafísico, merece a criatura os
cuidados preparatórios da nova tarefa em vista, a fim de que reencontre os
credores ou as circunstâncias imprescindíveis, junto aos quais se redima perante
as Leis.
REENCARNAÇÕES ESPECIAIS
Entretanto, reencarnações se
processam, muita vez, sem qualquer consulta aos que necessitam segregação em
certas lutas no plano físico, providências essas comparáveis às que assumimos
no mundo com enfermos e criminosos que, pela própria condição ou conduta,
perderam temporàriamente a faculdade de resolver quanto à sorte que lhes convém
no espaço de tempo em que se lhes perdura a enfermidade ou em que se mantenham
sob as determinações da justiça. São os problemas especiais, em que a individualidade
renasce de cérebro parcialmente inibido ou padecendo mutilações congênitas, ao
lado daqueles que lhe devem abnegação e carinho. Incapazes de eleger o caminho
de reajuste, pelo estado de loucura ou de sofrimento que evidenciam, semelhantes
enfermos são decididamente internados na cela física como doentes isolados sob
assistência precisa. Vemo-los, assim, repontando de lares faustosos ou paupérrimos,
contrariando, por vezes, até certo ponto, os estatutos que regem a hereditariedade,
por representarem dolorosas exceções no caminho normal.
REENCARNAÇÃO E EVOLUÇÃO
Urge reparar, entretanto, em que
a reencarnação não é mero princípio regenerativo. A evolução natural nela
encontra firme apoio. Criaturas que avultam na bondade, em muitas ocasiões requerem
conhecimento nobilitante, e muitas que se agigantaram na inteligência
permanecem à míngua de virtude. Outras inumeráveis, embora detendo preciosos
valores, nos domínios do coração e do cérebro, após longo estágio no plano
extrafísico, sentem fome de progresso renovador por inabilitadas, ainda, a
ascensões maiores e renunciam à tranquilidade as que se integram nos grupos
afins, porque, no cadinho efervescente da carne, analisam, de novo, as próprias
imperfeições, testando-lhes a amplitude nas rudes experiências da vida humana,
obtendo mais avançado ensejo de corrigenda e transformação. Isso não significa
que a consciência desencarnada deixe de encontrar possibilidades de expansão
nas cidades espirituais que gravitam em torno da Terra. Outras modalidades de estudo
e trabalho aí lhe asseguram novos fatores de evolução; contudo, escassa
percentagem de criaturas humanas, além da morte, adquire acesso definitivo aos
planos superiores. A esmagadora maioria jaz ainda ligada às ideologias e raças,
pátrias e realizações, famílias e lares do mundo. É por isso que artistas eméritos,
ao notarem o curso diferente das escolas que deixaram no Planeta, sentem-se
irresistìvelmente atraídos para a reencarnação, a fim de preservar-lhes ou
enriquecer-lhes os patrimônios. Cientistas eminentes, interessados na
continuidade dos empreendimentos redentores que largaram em mãos alheias,
volvem ao trabalho e à experimentação entre os homens, e, no mesmo espírito
missionário, religiosos e filósofos, professores e condutores, homens e
mulheres que se distinguem por nobres aspirações retornam, voluntàriamente, à
esfera física, em sagradas ações de auxílio que lhes valem honrosos degraus de
sublimação na escalada para a Divina Luz. Entendamos, assim, que tanto a
regeneração quanto a evolução não se verificam sem preço. O progresso pode ser
comparado à montanha que nos cabe transpor, sofrendo-se naturalmente os
problemas e as fadigas da marcha, enquanto que a recuperação ou a expiação
podem ser consideradas como essa mesma subida, devidamente recapitulada,
através de embaraços e armadilhas, miragens e espinheiros que nós mesmos criamos.
Se soubermos, porém, suar no trabalho honesto, não precisaremos suar e chorar
no resgate justo. E não se diga que todos os infortúnios da marcha de hoje
estejam debitados a compromissos de ontem, porque, com a prudência e a
imprudência, com a preguiça e o trabalho, com o bem e o mal, melhoramos ou
agravamos a nossa situação, reconhecendo-se que todo dia, no exercício de nossa
vontade, formamos novas causas, refazendo o destino.
PARTICULARIDADES DA REENCARNAÇÃO
Perguntar-se-à, razoàvelmente, se
existe uma técnica invariável no serviço reencarnatório. Seria o mesmo que
indagar se a morte na Terra é única em seus processos para todas as criaturas.
Cada entidade reencarnante apresenta particularidades essenciais na recorporificação
a que se entrega na esfera física, quanto cada pessoa expõe característicos diferentes
quando se rende ao processo liberatório, não obstante o nascimento e a morte
parecerem iguais. Os Espíritos categòricamente superiores, quase sempre, em
ligação sutil com a mente materna que lhes oferta guarida, podem plasmar por si
mesmos e, não raro, com a colaboração de instrutores da Vida Maior, o corpo em
que continuarão as futuras experiências, interferindo nas essências
cromossômicas, com vistas às tarefas que lhes cabem desempenhar. Os Espíritos
categòricamente inferiores, na maioria das ocasiões, padecendo monoideísmo
tiranizante, entram em simbiose fluídica com as organizações femininas a que se
agregam, experimentando o definhamento do corpo espiritual ou o fenômeno de
<<ovoidização>>, sendo inelutàvelmente atraídos ao vaso uterino, em
circunstâncias adequadas, para a reencarnação que lhes toca, em moldes
inteiramente dependentes da hereditariedade, como acontece à semente, que, após
desligar-se do fruto seco, germina no solo, segundo os princípios organogênicos
a que obedece, tão logo encontre o favor ambiental. Entre ambas as classes,
porém, contamos com milhões de Espíritos medianos na evolução, portadores de créditos
apreciáveis e dívidas numerosas, cuja reencarnação exige cautela de preparo e
esmero de previsão.
RESTRINGIMENTO DO CORPO
ESPIRITUAL
Institutos de escultura anatômica funcionam,
por isso, no Plano Espiritual, brunindo formas diversas, de modo a orientar os
mapas ou prefigurações do serviço que aos reencarnantes competirá, mais tarde,
atender. Corpos, membros, órgãos, fibras e células são aí esboçados e
estudados, antes que se definam os primórdios da rematerialização terrestre,
porque, nesses casos, em que a alma oscila entre méritos e deméritos, a
reencarnação permanece sob os auspícios de autoridades e servidores da Justiça
Espiritual que administra recursos a cada aprendiz da sublimação, de acordo com
as obras edificantes que lhes constem do currículo da existência. Para isso, os
candidatos à reencarnação, sem superioridade suficiente de modo a
supervisioná-la com seu próprio critério e distantes da inferioridade primitivista
que deles faria escravos absolutos da herança física, são admitidos a
instituições-hospitais em que magnetizadores desencarnados, bastante competentes
pela nobreza íntima, se incumbem de aplicar-lhes fluídos balsamizantes que os
adormeçam, por períodos variáveis, de conformidade com a evolução moral que enunciem,
a fim de que os princípios psicossomáticos se adaptem a justo restringimento,
em bases de sonoterapia. Desse modo, regressam ao berço humano, nas condições
precisas, recolhidos a novo corpo, qual operário detentor de virtudes e
defeitos a quem se concede novo uniforme de trabalho e nova oportunidade de
realização.
CORPO FÍSICO
Paternidade e maternidade, raça e
pátria, lar e sistema consanguíneo são conjugados com previdente sabedoria para
que não faltem ao reencarnante todas as possibilidades necessárias ao êxito no
empreendimento que se inicia. E senhor das experiências adquiridas que lhe despontam
do ser, em forma de tendências e impulsos, recebe o Espírito um corpo físico
inteiramente novo, em olvido temporário, mas não absoluto, das experiências pregressas,
corpo com o qual será defrontado pelas circunstâncias favoráveis ou não do
caminho que deve percorrer, para prosseguir na obra digna em que se haja empenhado
ou para retificar as lições em que haja falido. Nessas diretrizes, nem sempre
mutilações e enfermidades benéficas, inibições e dificuldades orgânicas de
caráter inevitável, porque, de aprendizado a aprendizado e de tarefa a tarefa,
quanto o aluno de estágio a estágio para as grandes metas educativas, é que se levantará
vitorioso, para a ascensão à Imortalidade Celeste.
Pelo Espírito André Luiz
Francisco Cândido Xavier e Waldo
Vieira
Livro: ‘Evolução em dois Mundos
Livro: ‘Evolução em dois Mundos
Uberaba, 9/4/58
Zelão.
Zelão.
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