Desde as mais antigas civilizações, o sexo foi
considerado uma sagrada faculdade do homem e da mulher. Nele, sempre foi
reverenciado o poder criador da vida e da natureza. Todas as culturas dão
testemunho disso em seus ritos, mitologias, artes e tradições religiosas.
Se atentarmos para o significado de algumas palavras que
expressam conotações referentes ao "sagrado" e ao espiritual,
encontraremos nítidas relações com a sexualidade transcendente ou espiritual:
A palavra sacrossanto, (do latim sacrosanctu) expressão
que significa "santo e sagrado", tem origem na palavra
"sacro" (sacru), osso da coluna vertebral mediatamente inferior às
vértebras lombares, onde se localiza o aparelho reprodutor.
A própria palavra criar, da raiz sânscrita KR
significando "fazer", através do latim creare, implica produção,
crescimento, dar vida. A estreita relação entre fecundidade sexual e
originalidade mental fica evidente pelo uso que fazemos da palavra
"criar", indicando tanto criação da vida como atividade artística. O
nascimento de ideias tem analogia com o nascimento físico e empregamos a
palavra "concebendo" e "concepção" em dois sentidos.
O mesmo se dá nas palavras Génesis (do latim genese e do
grego genesis), ou gênio, que têm sua origem em genésico, ou genital, usualmente
associados à criação e à criatividade, com raízes no sexo.
Orgasmo:
Vocábulo encontrado no português, através do latim, a
partir de duas raízes gregas estreitamente relacionadas: orgio, um rito
sagrado, sacrifício, cerimônia que fazia parte dos antigos mistérios
greco-romanos realizados nos festejos de Dionísio ou Baco.
O que derivou nossa expressão "orgia", e
orgasio, que significa "crescer", "inchar" de ardente
desejo, paixão, enlevo superdimensionamento da sensação culminando no êxtase
interior.
Venerar:
Associado ao sânscrito van, amar ou honrar, porém tomado
diretamente do latim vener, reverenciar, amar. "Venerável",
"venéreo" e "Vênus" (a deusa romana do amor) também são palavras
relacionadas, oriundas do latim. Venerar significaria reconhecer os órgãos
sexuais como objetos verdadeiramente merecedores de nossa adoração e respeito.
Tão elevadas eram consideradas as funções sexuais e tão
estritamente ligadas ao conceito do divino, que podemos ler na bíblia, em Genesis,
24-2-9:
“Põe a tua mão
por baixo da minha coxa (sobre o membro viril), para que eu te faça jurar pelo
Senhor, Deus do céu e da terra.
Pôs, portanto, o servo a mão debaixo da coxa de Abraão,
seu senhor, e jurou-lhe fazer o que lhe tinha dito."
Todas essas expressões eram usadas na linguagem mística
dos mistérios das antigas religiões e tinham profundo significado espiritual
para os seus adeptos e iniciados. Na verdade, a energia criadora do sexo
faculta no homem e na mulher os mais elevados sentimentos e pensamentos,
expande as percepções da alma ao amor incondicional, às dimensões do espírito,
das ciências e das artes.
Obviamente, toda essa linguagem simbólica se degenerou,
perdeu-se, banalizou-se. Com o tempo, esses elevados conceitos se perderam e o
sexo passou a ser motivo de "perdição" e "pecado". As
trevas da Idade Média reprimiram-no totalmente.
E hoje, sob o pretexto de liberação sexual tornou-se
motivo de desequilíbrio e quedas morais escabrosas.
Sexo e casamento:
Também o espiritismo reconhece na sexualidade seu
caráter divino e espiritual. Compreende a importância de sua sagrada função de
perpetuação da espécie, bem como a necessária complementação emocional que
proporciona aos seres, constituindo-se, assim, essencial atributo do espírito
imortal.
Allan Kardec, em sua obra, O Livro dos Espíritos,
abordou a questão da sexualidade enfatizando o casamento, conforme orientação
dos espíritos superiores, como a condição ideal de equilíbrio e sustentação para
a sexualidade humana, considerando o seu aspecto físico-espiritual:
“A união livre e
fortuita dos sexos pertence ao estado da natureza. O casamento é um dos
primeiros atos de progresso nas sociedades humanas, porque estabelece a
solidariedade fraterna e se encontra entre todos os povos, embora nas mais diversas
condições. A abolição do casamento seria, portanto, o retorno à infância da
humanidade e colocaria o homem abaixo mesmo de alguns animais que lhe dão o
exemplo das uniões constantes".
Predominância do corpo sobre a alma:
Uma pergunta interessante de Kardec aos espíritos
superiores, muito oportuna aos nossos dias, encontra-se na questão 694, de O
Livro dos Espíritos. Pergunta o codificador: "Que pensar dos usos que têm
por fim deter a reprodução, com vistas à satisfação da sensualidade". Ao
que eles respondem: "Isso prova a predominância do corpo sobre a alma e o
quanto o homem está imerso na matéria".
Poligamia ou monogamia?
A inversão de valores de nossos dias confunde a muitas
pessoas. Mas o espiritismo vem falar da lei divina, que é imutável e para a
qual o homem deve aprender a conformar sua conduta, a fim de evitar o
sofrimento desnecessário.
Mas, em se tratando de comportamento sexual, qual seria
a atitude mais conforme a lei natural: a poligamia ou a monogamia? Para os
espíritos "a poligamia é uma lei humana, cuja abolição marca um progresso
social. O casamento, segundo as vistas de Deus, deve fundar-se na afeição dos
seres que se unem. Na poligamia não há verdadeiramente afeição: não há mais do
que sensualidade".
O codificador ainda enfatiza: "Se a poligamia
estivesse de acordo com a lei natural devia ser universal, o que, entretanto,
seria materialmente impossível em virtude da igualdade numérica dos sexos. A
poligamia deve ser considerada como um uso ou uma legislação particular apropriada
a certos costumes e que o aperfeiçoamento social fará desaparecer pouco a
pouco".
E o celibato voluntário?
"Seria o celibato voluntário um estado de
perfeição, meritório aos olhos de Deus?" pergunta o codificador aos
espíritos. Respondem eles: "Não, e os que vivem assim, por egoísmo, desagradam
a Deus e enganam a todos".
No entanto, é diferente quando o celibato é um ato de
sacrifício para algumas pessoas que desejam devotar-se mais inteiramente ao
serviço da humanidade. Afirmam os espíritos a este respeito: “Todo sacrifício
pessoal é meritório, quando feito para o bem e sem egoísmo”. Quanto maior o
sacrifício, maior o mérito.
Direcionamento consciente da energia físico-espiritual
do sexo:
Nos difíceis dias de hoje, o espiritismo vem para
nortear o sentimento e os valores morais do ser humano em prova na Terra,
restituindo-lhe o bom senso, esclarecendo-lhe o raciocínio.
Portanto, ao compreender o homem a si mesmo como um ser
espiritual, revestido das mais gloriosas potencialidades, com vistas à
imortalidade, saberá entender e a sentir o valor, a responsabilidade perante si
e ao próximo e, sobretudo, a orientação de luz ou de treva, para a qual
direciona a energia físico-espiritual do sexo.
CITAÇÕES:
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec
J. Herculano Pires.
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