Fui
sacristão, participei da Cruzada Eucarística e queria ser sacerdote. Recebi até
uma bolsa de estudos num seminário de Santa Tereza. Foi nesse ínterim que
morreu um irmão, vítima de ruptura de aneurisma. Com isso fiquei muito doente e
uma senhora foi à minha casa levada por uma prima. Aplicou-me passes e, de
súbito, fiquei bom. Dissera que o meu irmão falecido estava me perturbando, que
ele se localizara psiquicamente junto a mim e me causava grande transtorno.
Esse
foi o meu despertar, porque até então me achava um alucinado - "via e
ouvia" e todos diziam não ser isso possível.
Eu
tinha um primo, médium, considerado "macumbeiro" na minha terra, e
sempre que me olhava, dizia:
- Você é meu colega.
Tinha
muito medo dele porque era “feiticeiro”. Coitado, não era feiticeiro nada, era
médium, atendia aos pobres. Um dia mamãe fez-lhe uma consulta, e ele respondeu:
- Tia é inevitável, Di é médium e vai
trabalhar muito.
Mas
quando a tal senhora que me assistiu disse-me ter visto meu irmão e o
descreveu, fiquei surpreso, porque encontrara alguém como eu. Ela também
"via"! E perguntei-lhe:
- Como à senhora sabe sobre meu irmão?
- Eu o estou vendo.
- Mas a senhora vê os mortos?
- Vejo, mas os mortos não estão
mortos.
Foi
um alívio, pois constatei não ser nenhum demente.
Em
uma sessão mediúnica, meu irmão "incorporou" em mim e falou com
mamãe. Ao término, ela me relatou os fatos e julguei-a desequilibrada, porque a
tradição católica estava tão embutida em mim que tudo aquilo me parecia
impossível.
- Meu filho, disse ela - você
desconhecia o que Zeca me falou; ele era mais velho que você 20 anos! Como
podia saber?
Eu
não podia duvidar dela.
Toda
pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade, é
médium. Essa faculdade é inerente ao homem. Por isso mesmo não constitui
privilégio e são raras as pessoas que não a possuem pelo menos em estado
rudimentar. Pode-se dizer, pois, que todos são mais ou menos médiuns.
Usualmente, porém, essa qualificação se aplica somente aos que possuem uma
faculdade mediúnica bem caracterizada, que se traduz por efeitos patentes de
certa intensidade, o que depende de uma organização mais ou menos sensitiva.
Deve-se
notar, ainda, que essa faculdade não se revela em todos da mesma maneira. Os
médiuns tem, geralmente, aptidão especial para esta ou aquela ordem de
fenômenos, o que os divide em tantas variedades quantas são as espécies de
manifestações. As principais são: médiuns de efeitos físicos, médiuns
sensitivos ou impressionáveis, auditivos (audientes), falantes (receberam a
designação de incorporação e atualmente de psicofônicos), videntes, sonâmbulos
(anímicos), curadores, pneumatógrafos (escrita direta), escreventes ou
psicógrafos.
Sensitivos
ou impressionáveis: são as pessoas capazes de sentir a presença dos Espíritos
por uma vaga impressão, uma espécie de arrepio geral que elas mesmas não sabem
o que seja. Essa faculdade se desenvolve com o hábito e pode atingir uma tal
sutileza que a pessoa dotada reconhece, pela sensação recebida, não só a
individualidade, como o cego reconhece, por um certo não sei que, a aproximação
desta ou daquela pessoa. Ela se torna, em relação aos Espíritos, um verdadeiro
sensitivo. Um bom Espírito produz sempre uma impressão suave e agradável; a de
um mau Espírito, pelo contrário é penosa, angustiante e desagradável; tem como
que um cheiro de impureza.
Do livro: O Livro dos
Médiuns
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