Quando
alguém se propõe a auxiliar o seu próximo, colocando-se à disposição para o
atendimento fraterno, desenvolvem-se-lhe os sentimentos de elevação moral e
espiritual, possibilitando-lhe a bênção da sintonia com o mundo transcendente
superior. Entidades nobres, encarregadas de contribuir em favor do progresso da
sociedade acercam-se-lhe e passam a inspirá-lo e a protegê-lo com mais
assiduidade, a fim de que sempre se encontre em condições seguras para o
mister. Quando se aprende a ouvir com serenidade, especialmente as queixas e reclamações,
os brados de desespero e os profundos silêncios da angústia, ou simplesmente
permitir que haja uma catarse de quem sofre interessado em socorrer
bondosamente, nunca lhe faltam os valiosos recursos do auxílio dos Mentores,
que vão além das palavras consoladoras e calmantes, como também através dos
processos fluidoterápicos valiosos. Os grandes problemas e desafios humanos
encontram-se ínsitos na própria criatura, desestruturada para os enfrentamentos,
no debate de inúmeros conflitos não resolvidos e procedentes do passado
espiritual, que se transformam em terríveis algozes, acicatando o cerne da alma
e aturdindo a mente, colocando fantasmas aparvalhantes onde existem somente frustrações
e insegurança. Quaisquer pequenas ocorrências desagradáveis são transformadas
em tremendos sofrimentos que aumentam na razão direta em que a falta de
equilíbrio e maturidade para resolvê-los, induz à autocompaixão, à revolta, à
insanidade. Todos os males que aturdem o ser humano procedem do seu íntimo e
somente na sua raiz devem e podem ser solucionados. Por essa razão, cada
Espírito é o somatório das suas experiências evolutivas através do curso das
reencarnações. A ignorância desse mecanismo sublime permite ao indivíduo manter-se
em deplorável situação existencial, o que lhe proporciona a instalação de
conflitos e tormentos desnecessários à evolução, mas que são o inevitável
efeito dos comportamentos insanos. A consciência exige a reparação de todo e
qualquer atentado às Leis Cósmicas de harmonia, e, por essa razão, mantém, no
perispírito, os arquivos de todas as ocorrências existenciais. Oportunamente,
tudo aquilo que lhe constitui culpa, leviandade, violência, extravagância na
conduta, agressão à vida sob qualquer aspecto, emerge, a fim de que se lhe
permita a elevação a nível mais significativo, portanto, à capacidade de
registros mais profundos e menos grosseiros, defluentes da animalidade por onde
transitou no passado. É comum, portanto, que as aflições emocionais prolongadas
terminem em mecanismos de somatização, o que dá surgimento a enfermidades
orgânicas muito complexas, ao mesmo tempo enseja contaminações de vírus,
bactérias e outros micro-organismos danosos à saúde. Tendo-se em vista a necessidade
da reparação dos erros pretéritos e próximos, ocorrem, inevitavelmente, as
interferências espirituais negativas que mais agravam a problemática afligente.
Noutras vezes, e não em número inexpressivo, toda ocorrência de sofrimentos tem
origem na presença e imantação fluídica de adversários espirituais do ontem,
que não conseguiram superar os ressentimentos e optam pela infeliz cobrança,
como se fossem transformados nos braços da divina justiça, iniciando as sutis
ou abruptas obsessões de efeitos danosos e de complexidade terapêutica muito
grande, por depender essencialmente do enfermo. Em quaisquer casos, no entanto,
a compreensão do atendente fraterno torna-se essencial. A não pressa em
dialogar, os cuidados com as colocações propostas, o evitar sempre diagnósticos
depressivos ou alarmantes informações sobre perseguições de ordem espiritual,
que os necessitados ignoram, são essenciais, a fim não lhes produzir mais danos
que benefícios. A discrição do ouvinte, na condição de cooperador espiritual,
torna-se relevante, sem expor a outrem, sem comentar as experiências dolorosas
do seu próximo, enquanto mantém cuidados no dialogo esclarecedor à luz da
meridiana sabedoria do Espiritismo. Jamais sugerir terapias fora daquelas
recomendadas pela Doutrina Espírita, seja orientar a busca de profissionais na
área da saúde, propor superstições em voga ou aquelas que são heranças do
passado, assinalando o atendimento pela serenidade, compreensão e gentileza, ao
tempo em que, tampouco, deve prolongar por muito tempo a conversação psicoterapêutica,
para evitar criar dependências emocionais e afetivas com o cliente. De bom
alvitre manter-se o cuidado de não receber o mesmo enfermo continuamente, desde
que, após instrumentalizá-lo para os esforços pessoais que deve aplicar-se na
busca da saúde, encaminhá-lo às das reuniões de explicações doutrinárias, assim
como receber os auxílios fluídicos. Cuidar de não prometer curas e soluções
mirabolantes, porque cada caso é especial, sua estruturação no Espírito tem uma
longa história de difícil compreensão num rápido lance, nem encorajar ilusões
difíceis de serem tornadas realidade. O atendimento fraterno não substitui o
confessionário das antigas religiões nem deve permitir que o entrevistado
revele segredos, de que se arrependerá, para que o ouvinte não se transforme
num cofre de revelações dispensáveis para o mister. Algumas pessoas têm falsa
necessidade de narrar os dramas interiores, envolvendo os membros da família, especialmente
os parceiros ou afetos, como responsáveis pelo que lhes ocorre, e isso acarreta
problemas mais sérios, por causa da utilização intencional de usar os conselhos
como arma contra aqueles que supõem serem os seus algozes. Os dramas existenciais
de heranças, de infidelidade conjugal, de rebeldia de amigos e familiares devem
sempre ser ouvidos com silêncio, desviando o tema para as consolações que a
Doutrina propõe, assim como para o estudo de O Livro dos Espíritos, de Allan
Kardec, a fim de o fazê-las entender as razões das ocorrências que assinalam.
Trata-se, portanto, o atendimento fraterno, de um valioso e grave compromisso
que se constitui num importante desafio a que a pessoa se submete. Nele
encontra-se também a mensagem da caridade no aspecto delicado da assistência
moral e espiritual, sempre dignificando aquele que chega atormentado e carente
de afetividade, não se permitindo, porém, arrebatamentos e emoções que possam
transformar-se em sentimentos de paixões subalternas ou de excessiva compaixão.
Quando o atendente está consciente dos fatores que respondem pelas provações,
esclarecido pelo conhecimento da reencarnação em nome da Divina Justiça, não
perde a serenidade diante dos mais escabrosos acontecimentos, não se choca com
narrações exageradas ou graves, a fim de que a sua palavra e a sua emoção sob
controle possam sustentar o combalido, ao invés de desviar-se do essencial para
os comentários paralelos sem significado. Nunca dizer de improviso que o
problema é resultado de obsessões espirituais nem fazer narrações aterradoras,
ou que se trata de mediunidade não cuidada, por falta da prática da caridade,
já derrapando em julgamentos que não têm cabimento. Fortalecer o ânimo do
visitante com jovialidade e ternura, ao tempo em que lhe demonstre a necessidade
de responsabilizar-se pelas ocorrências e conseguir superá-las com paciência,
com mudança das paisagens mentais e com a consequente alteração do
comportamento moral para melhor. O atendimento fraterno objetiva diluir informações
equivocadas que o paciente traz sobre o Espiritismo, retirar-lhe a ideia mágica
ou sobrenatural, deter-se no problema central, sem desvios narrativos necessários,
com demonstração de solidariedade, mas sem parecer que, a partir daquele
momento, tudo se modificará ou pretender assumir o compromisso de passar a
carregar-lhe a problemática. Jesus, o exemplo máximo de atendimento fraternal
aos infelizes, na Sua superioridade moral, evitava os diálogos longos e as
interrogações secundárias, sendo direto no exame da questão, quando perguntava
aos que O buscavam: - Que queres que eu te faça? Ou Tu crês que eu te posso
curar? E, de maneira incisiva, após operar a mudança no transtorno de qualquer
natureza do enfermo, completava: - Vai e não tornes a pecar, a fim de que não
te aconteça nada pior. Impossibilitado de agir de igual maneira, o atendente
espírita, deve sempre dispor-se a ajudar, favorecendo o visitante com as
diretrizes para a autoajuda, para a sua renovação e saída do erro gerador do
distúrbio que o aflige. Orientar com sabedoria e bondade é uma difícil arte de
amar. O ser humano de hoje conduz interiormente todas as heranças do longínquo
passado, por cujos territórios passou armazenando experiências nem sempre
edificantes. A predominância das paixões primitivas remanescem fortes,
dificultando-lhe o desenvolvimento moral que é mais lento e mais importante.
Por essa razão, os diálogos durante o breve contato entre paciente e atendente
deve constituir-se de singulares cuidados, especialmente preservando a
integridade moral de ambos os dialogadores. Todos aqueles que chegam
atormentados em busca de conforto moral, trazem, às vezes, inconscientemente,
as respostas que gostariam de ouvir, especialmente os queixosos e reclamadores,
os acusadores e os depressivos, sendo indispensável manter-se cuidado com as palavras
a exteriorizar-lhes e sem nenhuma presunção de convencê-los, mas sim, responder
às indagações que sejam feitas, ao tempo em que favorece com os caminhos a
percorrer a partir daquele momento. Jamais sugerir o abandono das terapêuticas
médicas a que vêm sendo submetidos, não interferindo numa área que não lhe diz
respeito, nem tem condições de pronunciar-se. Pelo contrário, vale o cuidado de
interrogar-lhes se recebem assistência especializada e mesmo diante da reclamação
de que a mesma não tem dado os resultados desejados, estimulá-los a prosseguir
ou mesmo, se for o caso, procurar outro facultativo. O Espiritismo não vem
combater nenhuma ciência, especialmente a médica, antes contribui em favor de resultados
mais amplos, por demonstrar que o Espírito é o ser do qual procedem todas as
manifestações existenciais. Essa união das duas doutrinas – a médica e a
espírita – é de fundamental significado para o bem-estar da criatura humana e,
por extensão, da sociedade. Nas recomendações que se deve apresentar ao
paciente, é necessário elucidar o valor dos passes, da água magnetizada ou fluidificada,
da oração e do comportamento como indispensáveis à sua recuperação. Em circunstâncias
mais embaraçosas, não perder a calma, não reagir da maneira como seja agredido,
tendo em vista que o socorro não se pode converter em revide, porque o doente
nem sempre tem noção exata de como se está conduzindo durante o atendimento.
São muitas as angústias que desnorteiam o ser humano e, em razão disso, os
desequilíbrios emocionais tornam-se mais comuns e repetitivos, merecendo mais
cuidado e entendimento fraternal, acalmando-o com vibrações de ternura e ondas
de caridade, que constituem especial elemento de recuperação. Cuide-se o
atendente fraterno de orar com unção, experienciar contínuas emoções de alegria
pela alta honra de poder servir, mantendo-se em sintonia com o Divino Médico de
todos, que se encarregará dos resultados finais. Por fim, aplicar-se o sublime
ensinamento: Fazer ao próximo como gostaria que o mesmo lhe fizesse. Nisso
reside o êxito do empreendimento de amor, resultando na caridade numa das suas
mais sublimes manifestações.
Manoel
Philomeno de Miranda
(Página
psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na manhã do dia 4 de novembro
de 2013, na Mansão do Caminho, em Salvador, Bahia.)
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