Aprendizes do Espiritismo,
recebemos três diretrizes, verdadeiros fundamentos para a nossa vida: “Trabalho,
solidariedade e tolerância”; reforma
íntima e “fora da
caridade não há salvação”.
A visão espírita do trabalho
ultrapassa de largo o exercício de uma profissão. O trabalho é uma lei moral,
tem a ver com o ensino de Jesus: “Meu Pai trabalha sempre!”. Portanto, trabalhar
é uma permanência, uma indispensabilidade, uma decorrência de nossa condição humana.
Tudo trabalha em a natureza. Mas o trabalho do homem é mais que automatismo. Semear,
cuidar, compartilhar, criar, servir, são alguns verbos associados ao nosso
conceito de trabalho. Mesmos idosos ou doentes, podemos trabalhar com a mente, o
coração vibrando de amor, ternura e paz.
O ser solidário antepõe-se
ao ser solitário. Não se trata de um jogo de palavras. Na verdade nossa
humanidade está muito cheia de solitários. Os famintos, os excluídos de toda
ordem, que não têm atenção, carinho, respeito, compreensão. Tanto no plano espiritual
quanto entre as nações, é ainda muito recente o conceito de apoio mútuo, de
interdependência. Tais solidões geram
dor, sofrimento, iniquidades. O mundo está cansado de sofrer. Necessita de nova
economia, nova gestão de recursos naturais, renovada preocupação com o meio ambiente
e, sobretudo, nova leitura a respeito das relações humanas.
Tolerar é aceitar e conviver
com as diferenças. Ainda bem que há diferenças! A riqueza da criação está
justamente nas coisas distintas, nas escolhas diversas. Como se fosse um caleidoscópio,
ajustadas e aceitas as partes, o todo se renova e provoca novas e desafiadoras
surpresas a cada momento. O outro é legítimo, preciso aceitar isso a priori, a
fim de que, juntos, possamos construir uma realidade mais bela e melhor.
Naturalmente implica em abdicar de posições próprias definitivas e excludentes.
Mas esse é o exercício do cidadão espírita universal.
No entanto, como ser
solidário, aceitas diferenças e entender o trabalho como um dever moral se
mantivermos os mesmos padrões do homem velho, hostil, maledicente, egoísta? É
aí que a segunda bandeira, bússola comportamental, a reforma íntima, entra em
ação em nós. Renovação! Novos hábitos físicos, mentais, espirituais. Oração,
vigilância, disciplina, todo dia, toda hora, pensamento a pensamento, palavra a
palavra, atitude a atitude. Desafio em que o velho homem das cavernas continua
firme, um pouco escondido pela educação aparente, mas firme e forte, dentro de
nós. Qualquer invigilância ele retorna num comentário mais ferino, num deboche
azedo, na velha preguiça, na paixão sem controle.
A melhor ferramenta da
reforma íntima é a caridade, conforme aprendemos na questão 886 de O Livro dos
Espíritos. Há três palavras-chave da caridade: benevolência, indulgência e
perdão. Para que haja caridade temos que querer o bem do próximo, adoçarmo-nos
internamente e oferecer a ele o melhor de nós mesmos. Estes são os sentidos de
bene + forma derivada do verbo latino vo-lo: trata-se de uma força íntima que
nos faz querer bem ao outro, independente de quem o outro seja; de indulgência,
forma latina para apreço, concordância; e do latim per, que significa
complemente + forma do verbo latino dono, que significa dar, dar de presente,
perdoar.
A caridade, portanto, é de
ordem moral. Trata-se de uma visão salvadora de dentro para fora do ser, ao
contrário de outras visões de salvação, de fora para dentro da criatura. A caridade,
enquanto não se torna espontânea, natural em nós, exige esforço. Os espíritos
superiores vivem em estado de caridade. Nós exercitamos a caridade ainda
ocasionalmente. Dia virá, no entanto, que nosso comportamento usual será
verdadeiramente caritativo. Aí poderemos dizer, parafraseando Paulo “… já não
sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim”. (Gálatas 2,20).
Cesar Reis
Revista Cultura Espírita –
nº 33 – página: 11 – dezembros / 2011
ICEB (Instituto de Cultura Espírita do Brasil / Rio
de Janeiro)
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