Há
diferentes motivos para nos sentirmos culpados por algo ou arrependidos de
alguma coisa: um erro cometido, uma norma transgredida, uma decisão equivocada
e até uma negligencia ou omissão.
O
sentimento de culpa e o arrependimento fazem parte de nossas vidas. É natural e
racional que analisemos o que se passou e, nessa reflexão, constatemos que não
agimos da melhor maneira. E a consequência lógica é um sentimento de culpa ou
arrependimento.
Mas
essa sensação de culpa, ou de arrependimento, não pode ser exagerada. O fato de
nos sentirmos culpados por algo, mesmo que grave, não pode nos intimidar, nos
colocar em processo angustioso e traumático a ponto de nos paralisar. Não
entremos no círculo vicioso em que acalentamos a culpa e o arrependimento,
revivendo o problema, o que realimenta a culpa e o arrependimento e assim por
diante. É o complexo de culpa, do qual ficamos sem saída e, ainda, atraímos
companhias espirituais negativas.
A
culpa e o arrependimento na medida justa são importantes para que aprendamos
com os erros. Mas, o problema, como Freud constatou, é que a gente se culpa
mais do que é necessário, na citação de Contardo Calligaris. (1)
É
interessante observar que, no Direito Penal, o adjetivo culposo se refere a um
ato criminoso não intencional, em contraposição a doloso, no qual há a intenção
ou o dolo. No meio jurídico, ter culpa por um ato ilícito é menos grave do que
ter tido a intenção de praticá-lo.
No
dia a dia, pedir desculpas é uma demonstração de gentileza. Lembrando que a
palavra desculpar tem o significado literal de retirar a culpa, sejamos
pródigos em desculpar.
Outro
aspecto relevante do Direito Penal é a consideração de que criminosas são as
condutas, não as pessoas. Por isso, o Código Penal Brasileiro, em sua Parte
Especial, tipifica as ações criminosas, não os agentes. No caput do artigo 121,
por exemplo, temos o homicídio simples: “matar alguém”.
Criminosos
são os atos, nunca os sujeitos, declara Contardo Calligaris (2), e
acrescenta: Na hora de julgar, no tribunal ou no foro íntimo, o que
importa é saber se o ato de Fulano é um crime; a pessoa Fulano é sem interesse.
Muitas
vezes cometemos o equívoco de não nos ater aos fatos e, por isso, tratamos as
pessoas com muita agressividade, proferindo julgamentos precipitados. É o que
ocorre, por exemplo, quando temos a desagradável missão de cobrar uma dívida de
alguém. Em vez de nos restringir ao fato, “você ainda não pagou”, disparamos um
conceito condenatório:
-
Você é desonesto!
E
aí a discussão descamba de vez. Novamente, ficamos a mercê das influenciações
de espíritos que se comprazem com desavenças.
Fazer
a distinção entre a conduta e a pessoa constitui um dos postulados básicos do
CVV, o Centro de Valorização da Vida. Os plantonistas são orientados a proceder
desse modo, durante os atendimentos. Por exemplo, podem e devem ser contra o
consumo da droga, mas jamais contra o drogado.
Tal
postura dá margem a melhorar os nossos relacionamentos na família, no trabalho
etc., pois nos permite querer bem pessoas que têm condutas das quais não
gostamos. Ela também explica o amor incondicional de mães e pais, que, mesmo
diante de condutas reprováveis dos filhos, não deixam de adorá-los. Até quando
têm que impor limites aos filhos, o amor dos pais continua o mesmo, enorme. É a
perfeita aplicação prática do postulado bíblico.
O
amor cobre a multidão de pecados. (3)
Como
pais, já sabemos exercitar o amor que cobre a multidão de pecados de nossos
filhos. Busquemos levar esse mesmo amor grandioso para os outros
relacionamentos que a vida nos oferece. Em consequência, estaremos abrindo
sintonia com espíritos benfeitores.
Esse
tipo de amor é que possibilita praticar o verdadeiro perdão. Quando perdoamos
apenas da boca para fora, precisaremos perdoar de novo. É assim que
compreendemos o ensinamento cristão sobre a quantidade de vezes que devemos
perdoar:
Setenta
vezes sete vezes. (4)
Logo,
enquanto não chegarmos ao perdão verdadeiro, não poderemos parar de perdoar.
O
perdão traz alívio, liberta. Sem ele, alimentamos o rancor, o ódio, o que nos
traz prejuízos emocionais e até físicos, agravado pelas más companhias
espirituais que se identificam com esse comportamento. Isso justifica a
urgência de aprender a exercitar o perdão de verdade.
Ademais,
não vale a pena manter desafetos. Se foi impossível evitar o início de uma
inimizade, busquemos a reconciliação ou, pelo menos, estejamos prontos para
isso quando a ocasião se apresentar. Não desperdicemos oportunidades valiosas
de eliminar desavenças.
Portanto,
é importante que não nos culpemos em demasia, até para que seja possível dar atenção
total ao próximo ponto, conforme o achado filosófico do tênis. Aprendamos
também a praticar o verdadeiro perdão, porque além de condutas de que não
gostamos ou não aceitamos, há seres humanos desejosos da nossa benevolência.
(1) Somos
culpados, mas de quê? Folha de São Paulo 19/4/2007.
(2) Confusões
morais perigosas. Folha de São Paulo 21/9/2006.
(3) I
Pedro, 4:8.
(4) Mateus,
18:21-22.
. Por:
José Carlos A. Cintra
Nenhum comentário:
Postar um comentário