Os
Manuscritos do Mar Morto formam uma coleção de cerca de 930 documentos
descobertos entre 1947 e 1956 em 11 cavernas próximo
de Qumran, uma fortaleza a noroeste do Mar Morto,
em Israel (em tempos históricos uma parte da Judeia).
Estes
documentos foram escritos entre o século III a.C. e o primeiro século
depois de Cristo em Hebraico, Aramaico e Grego. A
maior parte deles consiste em pergaminhos, sendo uma pequena parcela
de papiros e um deles gravado em cobre. Os manuscritos
do Mar Morto foram classificados em três grupos: escritos bíblicos e
comentários, textos apócrifos e literatura de Qumram.
Os
textos são importantes por serem mil anos mais antigos do que os registros
do Velho Testamento conhecidos até então e por oferecerem uma vasta
documentação inédita sobre o período em que foram escritos revelando aspectos
desconhecidos do contexto político e religioso nos tempos
do nascimento do Cristianismo e do judaísmo rabínico. Os pergaminhos
contêm pelo menos um fragmento de todos os livros do
das escrituras hebraicas, exceto o livro de Ester. Além de
fragmentos bíblicos, contêm regras da comunidade, escritos apócrifos, filactérios, calendários e
outros documentos.
Histórico
Os
manuscritos do Mar Morto foram casualmente descobertos por um grupo
de pastores de cabras, que em busca de um de seus animais, localizou, em
1947, a primeira das cavernas com jarros cerâmicos contendo os rolos.
Inicialmente os pastores tentaram sem sucesso vender o material em Belém. Mais
tarde, foram finalmente vendidos para Athanasius Samuel, bispo do mosteiro
ortodoxo sírio São Marcos em Jerusalém e para Eleazar Sukenik,
da Universidade Hebraica, em dois lotes distintos.
A
autenticidade dos documentos foi atestada em 1948. Em 1954,
governo israelense, que já havia comprado o lote de Sukenik, comprou
através de um representante, os documentos em posse do bispo, por 250 mil
dólares.
Outra
parte dos manuscritos, encontrada nas últimas dez cavernas, estavam no Museu Arqueológico
da Palestina, em posse do governo da Jordânia, que então controlava o
território de Qumram. O governo jordaniano autorizou apenas oito pesquisadores,
a maioria padres católicos europeus, a trabalharem nos manuscritos. Em 1967,
com a Guerra dos Seis Dias, Israel apropriou-se do acervo do museu, porém,
mesmo com a entrada de pesquisadores judeus, o avanço nas pesquisas não
foi significativo. Apenas em 1991, com a quebra de sigilo por parte
da Biblioteca Hutington, em relação aos microfilmes que Israel havia enviado
para algumas instituições pelo mundo, um número maior de pesquisadores passou a
ter acesso aos documentos, permitindo que as pesquisas, enfim avançassem
significativamente.
Os
desdobramentos em relação aos resultados prosseguem e, recentemente, a
Universidade da Califórnia apresentou o "The Visualization Qumram
Project" (Projeto de Visualização de Qumram), recirnado em três dimensões
a região onde os manuscritos foram achados. O Museu de Israel já publicou na
Internet parte do material sob seus cuidados e o Instituto de Antiguidades de
Israel do Museu Rockefeller trabalha para fazer o mesmo com sua parte do material.
Autoria
A
autoria dos documentos é até hoje desconhecida. Com base em referências
cruzadas com outros documentos históricos, ela atribuída aos essênios, uma
seita judaica que viveu na região da descoberta e guarda semelhanças com as
práticas identificadas nos textos encontradas. O termo "essênio", no
entanto, não é encontrado nenhuma vez em nenhum dos manuscritos.
O
que se sabe é que a comunidade de Qumram era formada provavelmente por homens,
que viviam voluntariamente no deserto, em uma rotina de rigorosos hábitos,
opunham-se à religiosidade sacerdotal e esperavam a vinda de um messias. Antes
da descoberta dos Rolos do Mar Morto, os manuscritos mais antigos
das Escrituras Hebraicas datavam da época do nono e do décimo século
da era cristã. Havia muitas duvidas se se podia mesmo confiar nesses manuscritos
como cópias fiéis de manuscritos mais antigos, visto que a escrita das
Escrituras Hebraicas fora completada bem mais de mil anos antes.
Mas
o Professor Júlio Trebolle Barrera, membro da equipe internacional de
editores dos Rolos do Mar Morto, declarou: "O Rolo de Isaías [de Qumran]
fornece prova irrefutável de que a transmissão do texto bíblico, durante um
período de mais de mil anos pelas mãos de copistas judeus, foi extremamente fiel
e cuidadosa". O rolo mencionado por Barrera trata-se de uma peça com 7
metros de comprimento, em aramaico, contendo o inteiro livro de Isaías.
Diferentemente deste rolo, a maioria deles é constituída apenas por fragmentos,
com menos de um décimo de qualquer dos livros. Os livros bíblicos mais
populares em Qumran eram os Salmos (36 exemplares), Deuteronômio (29
exemplares) e Isaías (21 exemplares). Estes são também os livros mais
frequentemente citados nas Escrituras Gregas Cristãs.
Embora
os rolos demonstrem que a Bíblia não sofreu mudanças fundamentais, eles também
revelam, até certo ponto, que havia versões diferentes dos textos bíblicos
hebraicos usadas pelos judeus no período do Segundo Templo, cada uma com as
suas próprias variações. Nem todos os rolos são idênticos ao
texto massorético na grafia e na fraseologia. Alguns se aproximam
mais da Septuaginta grega.
Anteriormente,
os eruditos achavam que as diferenças na Septuaginta talvez
resultassem de erros ou mesmo de invenções deliberadas do tradutor. Agora, os
rolos revelam que muitas das diferenças realmente se deviam a variações no
texto hebraico. Isto talvez explique alguns dos casos em que os primeiros
cristãos citavam textos das Escrituras Hebraicas usando fraseologia diferente
do texto massorético. — Êxodo 1:5; Atos 7:14. Assim, este tesouro de rolos e
fragmentos bíblicos fornece uma excelente base para o estudo da transmissão do
texto bíblico hebraico. Os Rolos do Mar Morto confirmaram o valor tanto da
Septuaginta como do Pentateuco samaritano para a comparação textual.
Os
pergaminhos Fornecem uma fonte adicional para os tradutores da Bíblia
considerarem possíveis emendas ao texto massorético. Por exemplo, em vários
casos, eles confirmam decisões feitas pela Comissão da Tradução do Novo
Mundo das Escrituras Sagradas, para restaurar o Nome de Deus nos
lugares onde havia sido removido do texto massorético.
Os
rolos que descrevem as normas e as crenças da seita de Qumran tornam bem claro
que não havia apenas uma forma de judaísmo no tempo de Jesus. A seita de Qumran
tinha tradições diferentes daquelas dos fariseus e dos saduceus. É provável que
essas diferenças tenham levado a seita a se retirar para o ermo. Eles se
encaravam como cumprindo Isaías 40:3 a respeito duma voz no ermo para
tornar reta a estrada de YHWH. Diversos fragmentos de rolos mencionam o
Messias, cuja vinda era encarada como iminente pelos autores deles. Isso é de
interesse especial por causa do comentário de Lucas, de que “o povo estava em
expectativa” da vinda do Messias. — Lucas 3:15.
Os
Rolos do Mar Morto ajudam até certo ponto a compreender o contexto da vida
judaica no tempo em que Jesus pregava. Fornecem informações comparativas para o
estudo do hebraico antigo e do texto da Bíblia. Mas o texto de muitos dos Rolos
do Mar Morto ainda exige uma análise mais de perto. Portanto, é possível que
haja mais revelações. Deveras, a maior descoberta arqueológica do século XX
continua a empolgar tanto eruditos como estudantes da Bíblia.
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