Aprendemos
desde cedo que nós somos criados à imagem e semelhança de Deus. Embora
nenhum de nós tenha visto Deus pessoalmente, nos contentamos com a ideia de
sermos um reflexo divino, ou como diria Platão, uma “imitação”.
Como
imitação, acostumamos a enxergar, nos outros, os defeitos que em nós são
desculpáveis e, também, a beleza que em nós é esforço, afinal, imagem é a
retratação de uma paisagem, nunca de uma ação.
Foi
assim que aprendemos a admirar o jardim do vizinho e a contar as borboletas que
nele esvoaçam. Como são lindas! E o gramado, como é verdinho... e
as flores, ah, as flores! O vizinho tem sorte por ter um jardim divino
assim...
Vendo
as borboletas, a grama e as flores, somos capazes de ver o sucesso e a sorte
dos outros, e somos levados a crer que as bênçãos divinas só recaem sobre os
jardins alheios por uma dádiva especial.
E
é verdade!
É
a dádiva do trabalho, da dedicação, da perseverança, da crença e fé num
objetivo, do qual o jardim é apenas um resultado.
Nenhum
jardim prospera sem que antes sua terra não tenha sido revolvida, trabalhada...
sem que as ervas daninhas tenham sido colhidas e removidas cuidadosa e
rotineiramente... sem que cada semente e cada muda tenha sido plantada
pensando-se no desabrochar das flores num amanhã qualquer... Nenhum jardim
prospera sem o devido preparo!
Ser
um jardineiro: servir à natureza, amá-la, insistir cotidianamente, plantar,
replantar quantas vezes for necessário, observar quais plantas adornam melhor
ao sol, quais adornam melhor à sombra, e quanto mais dedicado for o jardineiro,
mais perfeito o seu jardim...
Assim
também é a nossa vida... Em nós, a imagem e semelhança divina residem no
propósito de, como seres humanos, escolhermos ser jardineiros com ou sem
jardim...
Se
apenas ficamos lamentando o nosso mundo e admirando a eternidade da solidão das
estrelas, nos transformamos num jardineiro passivo, e o nosso jardim fica
estéril, inexequível, triste, acabrunhado... é como um jardineiro que despreza
o seu próprio jardim e com o tempo passa a enxergar nas rosas somente o perigo
dos espinhos, ainda que elas venham a perfumar...
Se
nos colocamos em ação e buscamos mudar o mundo, principalmente o nosso mundo
interior, nos tornamos um jardineiro com esperança e expectativa de uma
primavera vindoura... e passamos a ver nas rosas o esplendor do perfume, mesmo
que elas possuam espinhos...
Todo
bom jardineiro sabe que enfrentará a chuva, os besouros e os pedintes de
flores... sabe que não faltará quem queira lhe destituir o jardim... sabe que
flores murcharão, que plantas perecerão, mas saberá sempre que o fracasso só
aparecerá quando do seu íntimo ele começar a desistir...
Muitos
de nós não perderia tempo em aprender a cultivar flores, a sequer a manejar uma
enxada... preferiria colher aquela flor que a natureza simplesmente nos oferta
como incentivo à beleza, como um convite à uma nova experiência...
Rejeitado
o convite, fica a admiração pelo jardim dos outros, dos que souberam trabalhar
à espera da primavera...
Se
somos a imagem e semelhança de Deus, do Deus que cria o universo, que ilumina
as estrelas, que libera o céu para os pássaros e alaga os rios para os peixes,
deveríamos ser também o agente que transforma a terra no berço da vida, um
jardineiro que prepara o canteiro para as flores...
Se
somos a imagem e a semelhança de Deus, não deveríamos invejar o jardim dos
outros: deveríamos aprender a cultivar nosso próprio jardim...
Cultivar
principalmente o jardim de nossa alma: oração, pensamento positivo, abraço
fraternal, boas atitudes, crença na bondade alheia, fé na humanidade, palavra
amiga, amizade sincera, são sementes que quando lançadas ao redor do nosso
caminho, frutificam quando a gente menos espera, produzindo amor.
O
sucesso disso tudo se revelará nas borboletas que aplaudem, com suas asas e
suas cores, a pintura e o perfume das flores, mesmo aquelas que têm espinhos.
Por: Rocelito Paulo
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