1. Por ocasião
da morte – ensina o Espiritismo – tudo, a princípio, é confuso. A alma precisa
de algum tempo para entrar no conhecimento de si mesma. Ela se acha como que
aturdida, no estado de uma pessoa que despertou de profundo sono e procura
orientar-se sobre a sua situação. A lucidez das ideias e a memória do passado
lhe voltam à medida que se apaga a influência da matéria que ela acaba de
abandonar e se dissipa a espécie de névoa que lhe obscurece os
pensamentos.
2. Muito variável é o tempo que dura a
perturbação que se segue à morte corporal. Pode ser de algumas horas, como
também de muitos meses e até de muitos anos. Para aqueles que já na existência
corpórea se identificaram com o estado que os aguardava, menos longa ela é,
porque eles compreendem imediatamente a posição em que se encontram.
3. O processo de desprendimento espiritual é
lento ou demorado, conforme o temperamento, o caráter moral e as aquisições
espirituais de cada ser. Não existem duas desencarnações iguais. Cada pessoa
desperta ou se demora na perturbação, conforme as características próprias de
sua personalidade.
4. Nesse sentido, o comportamento religioso
exerce fundamental importância. Os que se fixaram às ideias niilistas,
materialistas, hibernam-se, não raro, como a fugir da realidade, num bloqueio
inconsciente de longo porte que os atormenta em forma de pesadelos infelizes de
que não conseguem facilmente libertar-se.
Muitos assistem
estarrecidos à decomposição cadavérica
5. Tendo agasalhada a ideia do nada, se exaurem
em agonia superlativa, sem que se permitam alívio, nas regiões frias e
temerosas a que são arrastados por natural processo de sintonia mental, quando
não acompanham, estarrecidos, a decomposição do próprio corpo a que se agarram,
tentando restabelecer-lhe os movimentos, em luta inglória.
6. Os que cultivaram as religiões simplistas,
que prometem o Céu a golpes de facilidade e oportunismo, são surpreendidos por
uma realidade bem diversa com que não contavam.
7. Os que agasalharam ideias esdrúxulas,
fazem-se vítimas de horrores e alucinações lamentáveis que os desnorteiam por
tempo indeterminado.
8. Os suicidas, graças às atenuantes e
agravantes que os selecionam automaticamente, descobrem em inditoso despertar a
não existência da morte.
9. Os que se converteram em destruidores da
vida alheia, experimentam as aflições que infligiram e expungem, em intérmina
angústia, o acordar da consciência e a sobrecarga dos crimes perpetrados.
A perturbação é
o estado normal no instante da morte
10. A perturbação espiritual ocorre, portanto,
na transição da vida corporal para a espiritual. Nesse instante, a alma
experimenta um torpor que paralisa momentaneamente as suas faculdades,
neutralizando, ao menos em parte, as sensações.
11. A perturbação pode, pois, ser considerada o
estado normal no instante da morte, e perdurar por tempo indeterminado,
variando de algumas horas a alguns anos.
12. O último alento quase nunca é doloroso, uma
vez que ocorre ordinariamente em momento de inconsciência. Na morte violenta,
porém, as sensações não são exatamente as mesmas, porque em tais situações o
desprendimento só começa depois da morte e não pode completar-se rapidamente. O
Espírito, colhido de improviso, fica como que aturdido e acredita-se vivo,
prolongando-se essa ilusão até que compreenda o seu estado.
13. O estado do Espírito por ocasião da morte
pode, portanto, ser resumido nas proposições que se seguem: Será tanto maior o
sofrimento quanto mais lento for o desprendimento do perispírito. A presteza do
desprendimento está na razão direta do adiantamento moral do Espírito. Para o
Espírito desmaterializado, de consciência pura, a morte é qual sono breve,
isento de agonia, e cujo despertar é suavíssimo.
Fonte: O Consolador
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