O processo reencarnatório é sempre complexo e
fruto de minucioso planejamento. Ao tomarmos conhecimento do nascimento de um
novo habitante da superfície terrestre devemos ter a consciência do enorme esforço
engendrado não só no plano material, mas também no invisível, para que esse
“milagre” seja uma realidade.
As crianças nos demonstram concretamente a
confiança de Deus nos seres humanos. Elas são a prova da misericórdia Divina
que nos resgata incansavelmente das trevas e suplícios em que nos afogamos
repetida e propositadamente.
E, essa mesma misericórdia é a fonte que nos
ilumina com a luz morna do dia, que nos invade os olhos infantis curiosos,
quando os abrimos pela primeira vez no mundo físico.
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da
morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado
me consolam.
Salmos 23:4
Apesar de um longo e penoso trânsito pela
erraticidade os espíritos vítimas de si mesmos, geralmente, não têm condições
de presidir a construção de um corpo físico saudável durante seu processo reencarnatório.
A disposição integral dos recursos intelectuais
e físicos, amealhados preteritamente por aqueles filhos de Deus, pode ser
necessária ao completo êxito de sua missão terrena. Por isso, a espiritualidade
responsável por esses pacientes se empenha no tratamento das suas mazelas,
através da medicina astral, mesmo quando são frutos da imprudência e do
orgulho.
Assim, eles poderão chegar um pouco melhores a
terra, e então, terão, por sua vez, a magnífica oportunidade de retribuir ao
Criador tamanha benção, colaborando com seus contemporâneos em seu progresso
como cidadãos.
Uma das causas mais frequentes de debilidade e
deformidade do corpo espiritual é a desagregação energética induzida pelo autoextermínio.
As lesões do corpo espiritual são ainda mais severas do que aquelas que
desvitalizaram o corpo físico. Não atingem apenas o sistema mental do
desencarnado, toda a complexa estrutura perispiritual é comprometida.
Sua delicada tessitura é impregnada pelas
energias deletérias que causaram, primariamente, o autoextermínio e por aquelas
que se originaram dele. Os componentes unitários do tormento com que se deparam
os suicidas são: Dores intensas, de teor moral e físico, acrescidas do desespero
de se encontrar vivo após a morte, revolvidas com o cimento da culpa.
Lançai, pois, o servo inútil nas trevas
exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.
Mateus 25:30
E sentindo-se servos inúteis reconhecem a
justiça de seu tormento imediatamente após o desenlace traumático do corpo
físico. Entretanto, a falta de equilíbrio que os caracterizou em vida, os
persegue no além-túmulo. Crises subintrantes de arrependimento e desespero se sucedem
como se fossem continuar indefinidamente.
Não dispõem de recursos íntimos para atenuarem
esse estado de dentro para fora. A prece é impronunciável para eles, sem que
entendam o porquê dessa afasia seletiva. É, na realidade, a autopunição que se
segue à culpa demolidora.
Querem, e cultivam a dor por ilusão da
purificação. Assim o fizeram por milênios e, assim, se conduzem quase que
reflexamente.
Interromper esse processo depende de uma
fagulha de esperança em seus corações petrificados. Fagulha insignificante, mas
perceptível aos benfeitores do além, que nesse momento crítico, de olhar hesitante
e frágil voltado para os céus, os acodem e recolhem às instituições caridosas
do invisível.
Esse é apenas o primeiro passo em direção á
reencarnação libertadora e reconstrutora. Muitos serão necessários.
Os abnegados servidores do cristo que os
acolheram, oferecem a eles os medicamentos espirituais mais avançados. Todos
eles repletos de um principio ativo que se habituaram a negligenciar em suas
numerosas existências físicas pregressas.
É o amor temperado com energias de diferentes
ordens, mas também sublimes e retificadoras em sua essência.
Os amigos encarnados atuam expressivamente
nesse processo, fornecendo a matéria mais densa para que os cirurgiões do
espaço refaçam a delicada anatomia do corpo astral desses pobres desvalidos.
Suturas, drenagens, condutoplastias, inúmeros
procedimentos são executados para a melhor recuperação possível de pacientes
tão especiais.
Uma vez que se encontrem anatomicamente
recuperados (relativamente) serão guiados aos estudos. Não é um processo
rápido. A formação de que necessitam é longa, didática e transformadora.
Nas aterradoras crises de confiança são
restabelecidos pela doação de energia salutar dos seus colegas em melhores
condições.
Começam a se doar uns aos outros, aos próximos
bem próximos. Em um momento socorrem e no seguinte são socorridos. Estão ainda
em uma montanha russa íntima. No seu ápice acumulam forças para enfrentarem os
vales.
Aos poucos estudam suas existências anteriores
e os motivos que os levaram ao desespero. Isso é oferecido a eles de uma forma
tal que possam se distanciar o suficiente para que entendam e relembrem da dor,
sem serem cegados e confundidos por ela.
Com esse método podem identificar mecanismos de
defesa impróprios e padrões de comportamento com tendência à recorrência.
Quando conseguem elaborar, ou melhor,
metabolizar seu passado são transferidos às escolas gerais. Necessitam do
convívio com todos os outros espíritos. Nesta fase já podem ajudar necessitados
de outros matizes.
Trabalham em funções diversas, sempre iniciando
pelas mais simples. São felizes por terem a oportunidade de realizar pequenas
obras. Não são cobrados para erigirem grandes monumentos, pois para muitos
deles o orgulho e o poder foram à passarela condutora à derrocada.
Décadas eles despendem nessas escolas, e o
tempo todo, são ajudados, escorados, impulsionados pelo amor dos benfeitores
espirituais. Muitos são pais, mães, filhos de outras épocas.
A maioria, entretanto, são os seus inimigos do
passado, já refeitos dos vícios morais mais limitantes, que hoje agradecem a
possibilidade de resgatarem seus débitos cármicos no trabalho junto aos, transitoriamente,
mais frágeis.
Ao mesmo tempo em que se recuperam auxiliam no
progresso de seus educadores.
O treinamento prossegue, posteriormente, em
frentes de trabalho mais densas e perigosas, verdadeiros testes de fidelidade
em relação aos exércitos do Cristo. Aprendem a amar o diferente, o ignorante e
o demente. Vêem nestes irmãos o reflexo de seu passado recente.
A última fase preparatória para a reencarnação
dos antigos suicidas é a elaboração do projeto reencarnatório. Por mais que
tenham obtido algum grau de recuperação da anatomia de seu corpo espiritual, as
lesões que a essa estrutura foram impostas pela autoagressão ainda serão
máculas indeléveis no plano espiritual.
Mesmo que sejam imperceptíveis aos olhos dos
próprios portadores elas carrearão, necessariamente, ao corpo físico as
mensagens de alerta de um passado que não deve ser revivido.
Serão limitações congênitas de graus variáveis,
doenças crônicas severas com crises intermitentes e curtos períodos de acalmia.
Insuficiências orgânicas diversas e possivelmente múltiplas.
Essas doenças graves os açoitarão, na vida
física, relembrando-os dos compromissos assumidos e, também, cumprindo o papel
de verdadeiros exaustores biológicos na drenagem das energias perniciosas e
densas de uma qualidade tal que apenas podem ser expurgadas no trânsito pela
matéria.
O amor vivido em sua plenitude os livrará das
dores inúteis. Aquelas necessárias foram discutidas durante a sua preparação
pré-encarnatória e devem ser vividas resignadamente, mesmo quando extremamente
dolorosas. A luta pela vida é o exercício diário necessário para que desenvolvam
os meios de evitarem novas quedas.
Os amigos espirituais os acompanharão em toda a
sua existência física, oferecerão o suporte e consolo diante das suas
fraquezas. E a cada obstáculo que venham a superar, mais fortes se encontrarão.
Não mais suicidas serão, mas, ex-suicidas,
dispostos ao trabalho retificador em prol do seu próprio progresso. Serão,
também, luzes nos rodapés dos longos e tortuosos corredores da existência
infeliz de seus semelhantes, daqueles ainda cegos à luz redentora do Cristo.
Dra
Giselle Fachetti
Matéria
publicada na edição 55 da Revista Cristã de Espiritismo
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