Todos
os homens são médiuns, diferindo somente quanto à maior ou
menor sensibilidade na escala mediúnica.
Entretanto,
aqueles que já manifestam sua faculdade mediúnica de
modo ostensivo, nos quais se percebe a ocorrência de
um "fenômeno incomum", ou algo estranho que lhes domina a
mente, à vontade, ou produz a perturbação psíquica, são criaturas necessitadas
de um desenvolvimento mediúnico disciplinado e sob o controle de pessoas mais
experimentadas.
Sem
dúvida, trata-se de espíritos que já se
reencarnaram comprometidos com a “mediunidade de prova", e
onerados por severas obrigações cármicas decorrentes de suas iniquidades
do passado.
Esses
espíritos são agraciados pela bondade dos Mestres do Alto através
da hipersensibilidade do seu perispírito, decorrente da intervenção dos
técnicos siderais, e assim reencarnam-se com a "graça
prematura" de participarem de um serviço extra
e obrigatório no mundo físico, que lhes desperte a
sensibilidade para os objetivos espirituais.
A
verdade é que tanto os homens cultos ou ignorantes, ricos ou pobres, desde que
sofram a insidiosa perturbação que lhes afeta o psiquismo e destrambelha os
nervos, não passam de criaturas necessitadas de urgente socorro dos
trabalhos espíritas, para se ajustarem novamente ao seu comando psíquico e
se harmonizarem com seus velhos adversários do pretérito.
Alguns
encarnados, cuja mediunidade às vezes reponta de súbito, com sintomas
obsessivos, requerendo os cuidados urgentes de outros médiuns mais
desenvolvidos, podem ter reencarnado com a obrigação cármica de abalar as
convicções infantis ou ateístas de sua própria família carnal.
Desde
que são responsáveis, no passado, por acontecimentos morais que levaram algumas
criaturas ao desespero, à loucura ou até ao suicídio, eles se obrigam a
suportar a "prova da obsessão" e lograr a sua cura
posterior, com o fito de abalar as convicções de sua parentela carnal, que
comumente são suas próprias vítimas de ontem.
Embora
todos os homens sejam realmente mais ou menos influenciados pela atuação dos
espíritos desencarnados, não se deve esquecer que também existem os espíritos
bons, em tarefa benfeitora para com aqueles que na vida física buscam a sua
reabilitação espiritual.
Mas
é necessário ao homem renovar-se incessantemente na composição dos
seus pensamentos e manifestações dos seus sentimentos, adestrando-se tanto
quanto possível no curso superior da vida espiritual.
Aqueles
que desejarem se livrar da companhia das entidades das sombras não podem descurar
do seu apuro moral, do estudo superior e do seu controle emocional e mental
sobre os desejos inferiores e as paixões violentas.
O
médium não pode ser considerado uma criatura anormal, mas se trata, sem dúvida,
de um indivíduo incomum, criatura inquieta, receptiva e algo aflita, que
vive, por antecipação, certos acontecimentos.
A
hipersensibilidade perispiritual do médium atua com veemência na fisiologia do
seu sistema nervoso e endócrino.
O
médium, portanto, em face de sua sensibilidade psíquica aguçada, enfrenta
uma existência mais gravosa do que o homem comum, cumprindo-lhe
desde cuidar da alimentação, até suportar mais intensamente os dissabores
e as preocupações da vida humana, sofrer mais facilmente os efeitos das
alterações climáticas e as preocupações da vida humana, pois o seu psiquismo
é demasiadamente excitável.
Alguns
médiuns, entretanto, são, por natureza, pacatos e sem qualquer característica
excepcional, pois sua mediunidade, neste caso, é menos sensível no campo
psíquico; enquadram-se nesta situação os médiuns sonâmbulos ou de efeitos
físicos, cuja faculdade é de caráter fenomênico, só identificada e
manifestada durante o transe.
A
luta do médium para sobreviver no mundo físico é bem mais intensa do que a
existência do homem comum.
1.
OBSTÁCULOS E VICISSITUDES NO SERVIÇO MEDIÚNICO
Geralmente,
o médium é um espírito em débito com seu passado, e a faculdade mediúnica ajuda-o
a redimir-se, o mais cedo possível, no serviço espiritual em favor do próximo, lembrando
uma pessoa que, depois de arrependida de seus desatinos, passa a empreender
atividades benfeitoras, a fim de compensar o seu passado turbulento.
Então,
além de suas obrigações cotidianas, sacrifica o seu repouso habitual e coopera
nas iniciativas filantrópicas e nos movimentos fraternos, atende à parentela
pobre, aos amigos em dificuldades, aos presidiários e aos deserdados da sorte,
funda instituições socorristas, participa de agremiações educativas e auxilia
sociedades de proteção aos animais.
É
obvio que, apesar dessas atividades filantrópicas, os médiuns não se livram dos
imperativos biológicos do seu corpo físico e a sua faculdade mediúnica, longe
de constituir-se privilégio, não os isenta das vicissitudes e das
exigências educativas da vida humana, pois a saúde ou a doença não dependem
especificamente do fato de o homem ser ou não médium de prova.
Malgrado
o esforço socorrista elogiável e as atividades religiosas ou caritativas de
muitos médiuns, eles também estão submetidos ao trabalho comum e sujeitos
igualmente ao instinto animal e às tendências ancestrais da família terrena.
O
espírito que já renasce na Terra comprometido com o serviço mediúnico, que o
ajudará a reduzir o fardo cármico do seu passado
delituoso, deve cumprir o programa que ele mesmo aceitou no Espaço!
Aliás,
quando o médium retorna ao Além, ele já se dá por muito satisfeito caso tenha
desempenhado um mínimo de dez por cento do programa a que se
comprometeu e foi elaborado pelos seus mentores siderais.
Deste
modo, o espírito que em vida anterior zelou pelo seu corpo físico e viveu
existência sadia, sem vícios e paixões deprimentes, obviamente há de merecer na
vida atual um organismo sadio e de boa estirpe biológica hereditária, que lhe
permite gozar boa saúde; mas aquele que no passado esfrangalhou o seu equipo
carnal e o massacrou na turbulência viciosa, gastando-o na consecução dos
apetites inferiores, terá um corpo físico dotado de funções orgânicas precárias.
A
mediunidade de prova é um ensejo, espécie de "aval" concedido
pelo Alto ao homem demasiadamente comprometido em suas existências
anteriores, mas é do seu dever cumprir a tarefa mediúnica de
modo honesto, sublime e caritativo, cabendo-lhe a responsabilidade
moral na boa ou má aplicação dos bens cedidos pela magnanimidade dos seus
guias.
O
médium não é um missionário, na acepção exata da palavra, pois, salvo raras
exceções, é um espírito devedor, comprometido com o seu passado, e a
sua faculdade mediúnica é um ensejo de reabilitação concedido pelo Alto, no
sentido de acelerar a sua evolução espiritual.
Portanto,
além de dar cumprimento aos deveres inerentes à faculdade mediúnica, terá ele
de enfrentar também as contingências que a vida impõe a todos, pois os
problemas que lhe dizem respeito só podem ser solucionados e vencidos mediante
a luta, e não pela indiferença ou preguiça, e nem pela ajuda dos seus
guias, pois estes somente ajudam os pupilos que fazem jus, pelo esforço próprio
empreendido.
Quando
o médium se empenha em dar fiel cumprimento à sua tarefa mediúnica e enfrenta
as adversidades da vida com estoicismo e resignação, sempre é assessorado
no Astral por uma equipe de espíritos beneméritos, que o amparam a fim de
tornar-lhe mais fácil vencer os obstáculos da sua jornada.
É
grande a responsabilidade do médium na função de "ponte viva" entre o
setor invisível e o mundo físico, pois, além de tratar-se de um
encargo que ele mesmo aceitou antes de reencarnar, a mediunidade é um
ministério ou contribuição de esclarecimento destinada a despertar e esclarecer
as consciências, sendo pois um serviço em favor
da própria humanidade.
A
função do médium assemelha-se à do carteiro que, embora seja a peça de menor
destaque na correspondência entre os homens, caso se recuse a cumprir a função
de entregar as mensagens aos destinatários, semelhante negligência
constitui uma falta bastante grave.
Em
tais condições, desde que se rebele contra a sua obrigação ou se escravize
a vícios e paixões que prejudiquem e inutilizem a sua tarefa
mediúnica, então será vítima dos espíritos das sombras e, por sua culpa,
enfraquecerá o serviço libertador do Cristo.
O
aguçamento imaturo da mediunidade de prova muitas vezes leva o espírito
a desenganos, malogros e rebeldias, tal qual o jogador de xadrez que, após
muitos lances frustrados, vacila em mover no tabuleiro a peça de menor
importância.
No
entanto, o médium laborioso e desinteressado, disposto a vencer todos os
obstáculos, conseguirá transpor todos os empecilhos do mundo, e até os que estão
em si próprios, pois há casos em que o médium, apesar de alijado e quase
paralítico, mesmo assim ele consegue reunir em volta do seu leito uma turma de
irmãos dispostos a ouvirem a sua palavra fraterna e instrutiva, ligando todos à
faixa vibratória sublime da Vida Angélica. Em suma, embora ele esteja
impossibilitado de dar passes, participar de trabalhos de incorporação ou
passar receituário, mesmo assim dá cabal desempenho à missão a que se obrigou.
À
semelhança da bolota que se desenvolve no solo, sujeita a crescer naturalmente
por efeito da sua dinâmica genética, o médium de prova sabe
que se cultivar cuidadosamente a sua faculdade mediúnica, então
também conseguirá tornar-se uma espécie de carvalho generoso, cuja sombra amiga
beneficiará muitos viajantes necessitados de repouso.
Assim
como o modesto veio d'água, nascido e vertido da encosta de uma cordilheira,
depois de sulcar prodigamente extenso solo ressequido por onde passa, e
contornar obstáculos imensos, se transforma em caudaloso e imenso rio, o
médium também precisa transpor e vencer as pedras que surgem no caminho do seu
aprendizado e aperfeiçoamento mediúnico.
No
entanto, se quiser vencer mais facilmente as decepções e os desânimos na sua
caminhada evolutiva sobre a face do planeta, o talismã milagroso para conseguir
esse objetivo é integrar-se, de alma e coração, no roteiro luminoso do
Evangelho de Jesus!
2.
A FUNÇÃO REDENTORA DA MEDIUNIDADE E O ÊXITO NO SERVIÇO MEDIÚNICO
No
aprimoramento mediúnico estão em jogo os elevados ensinamentos da vida
evangélica, e a sua finalidade é a de proporcionar ao homem a sua mais
breve libertação espiritual.
Entretanto,
o êxito depende muitíssimo das condições morais e dos conhecimentos do médium,
que deve se afastar de tudo aquilo que possa despertar o ridículo, a censura ou
o sarcasmo sobre a doutrina espírita.
O médium
desenvolvido, na acepção da palavra, é fruto de longas experimentações em favor
do próximo!
Só
o serviço desinteressado, a imaginação disciplinada e o equilíbrio
moral-emotivo é que poderão garantir ao médium o sucesso nas suas comunicações
com o Alto!
São
dignos de censura os médiuns preguiçosos, que sentem estranho prazer em se
conservar na mesma ignorância de quando iniciaram o seu desenvolvimento
mediúnico.
O
êxito do mandato mediúnico e a sua transparência espiritual exigem que os seus
intérpretes, além do seu apuro moral, também despertem o seu comando mental e
melhorem o seu intelecto.
O
êxito no serviço mediúnico depende muito mais da renúncia, desinteresse,
humildade e ternura dos seus medianeiros, do que mesmo de qualquer
manifestação fenomênica espetacular, que empolga os sentidos físicos, mas não
converte o espírito ao Bem.
A
faculdade mediúnica, destinada a objetivos sublimes, bem mais importante e
complexa do que o desempenho das profissões comuns do mundo,
igualmente exige, na sua preparação, um roteiro inteligente, sensato e
criterioso, sob o mais devotado carinho e desprendimento de seus cultores.
3.
AS VICISSITUDES NO DESPERTAMENTO DA MEDIUNIDADE
Só
a mediunidade saudável e natural, decorrente da evolução humana e fruto do
maior apuro espiritual da alma, revela-se de modo sereno em
sua espontaneidade e se manifesta de modo pacífico, como dom
inato e sem produzir quaisquer sensações desagradáveis no ser.
Entretanto, no
caso da mediunidade de prova, isto é, de
uma "concessão" provisória, feita pela Administração
Sideral, como decorrência de uma hipersensibilidade prematura, despertada excepcionalmente
pelos técnicos do mundo astral com o fito de favorecer aos espíritos muito
endividados, o seu despertamento é, em geral, sujeito a
várias circunstâncias desagradáveis.
Durante
o período de florescimento da mediunidade, a maior ou menor perturbação
psíquica ou orgânica do médium também depende muitíssimo do tipo de suas
amizades espirituais e do seu modo de vida no mundo material.
As
alegrias, os sofrimentos ou as tristezas que o tomam de súbito também decorrem
do tipo das aproximações do invisível, que se sintonizam perfeitamente aos
seus pensamentos e sentimentos manifestos.
A
tarefa mediúnica não compreende somente a função mecânica de o médium
transmitir as comunicações dos espíritos desencarnados para o cenário
terrícola, atendendo à prosaica função de "ponte viva" entre o mundo
material e o Além.
O
compromisso da mediunidade requer, sobretudo, que os seus medianeiros vivam
existência digna e operosa na carne, a fim de lograrem sintonia com espíritos
sublimes e responsáveis pela redenção do homem.
Toda
imprudência, desleixo, rebeldia, má vontade ou paixão viciosa por parte dos
médiuns em prova no mundo físico, geram toda sorte de distúrbios psíquicos e
mesmo sofrimentos físicos incontroláveis que, por essa razão, tornam o
desenvolvimento mediúnico um processo torturante.
É
muito comum à maioria dos médiuns iniciarem o seu despertamento mediúnico sob a
atuação dos espíritos sofredores, imperfeitos ou obsessores que,
aproveitando-se da "porta mediúnica" aberta para a
fenomenologia do mundo físico, atiram-se à satisfação dos seus objetivos
impuros e cruéis.
Desde
que o médium invigilante e desregrado ainda esteja comprometido por dificultoso
resgate cármico, ele então se converte em instrumento favorável para o
vampirismo dos desencarnados, que se debruçam avidamente sobre o mundo
material.
A
mediunidade, num sentido geral, só desperta nos homens pela ação do
sofrimento, que lhes afeta a carne e o psiquismo, para depois amainar sob
um desenvolvimento ordeiro nos ambientes evangélicos, dirigidos por elementos
experimentados.
Só
então é que o médium neófito e perturbado, pouco a pouco, se ajusta à tarefa
incomum e assume o controle psíquico de seu corpo, enquanto procura
sintonizar-se vibratoriamente com o espírito guia e benfeitor, que deverá
protegê-lo na sua tarefa de intercâmbio com o mundo invisível.
A
mediunidade é um meio para encarnados e desencarnados atingirem objetivos
excelsos e, por isso, não dispensa a educação, o afinamento moral, a
cultura do seu próprio intérprete, e também o seu despertamento espiritual.
É
mais importante para o bom "guia" o progresso intelectivo, o
desembaraço e a integração evangélica do seu médium, do que mesmo o êxito
brilhante de sua manifestação mediúnica.
O
mentor espiritual, sábio e sensato, muitas vezes protela as
revelações extemporâneas do Além pelo seu pupilo ansioso do seu próprio destaque
pessoal, para que este em primeiro lugar se revele pela modéstia sensata do
homem evangelizado.
O
médium, como uma criatura de responsabilidade pessoal para com a família e a
sociedade, acima de tudo deverá aprender a caminhar pelos próprios pés, no
tocante ao entendimento da vida imortal, e procurar ser útil ao próximo.
4.
CONSUMO ENERGÉTICO E O EXCESSO DE TRABALHO MEDIÚNICO
O
excesso de trabalho mediúnico, na forma de um labor prolongado, pode resultar
em fadiga, que varia de indivíduo para indivíduo, conforme a maior ou
menor capacidade física de sua resistência.
O
médium, mesmo nos seus momentos de pura inspiração, consome certa
quantidade de energias neurocerebrais, porque a mais sutil mensagem inspirada
pelos espíritos exige uma série de operações intermediárias algo fatigantes, a
fim de atingir a consciência física e depois se manifestar, por exemplo, na
forma de palavra falada ou escrita.
Aliás,
o próprio pensamento, para se manifestar a contento, depende do consumo de
certas energias que o ajudam a atingir o cérebro material:
O
INTERCÂMBIO MEDIÚNICO PELO PENSAMENTO COM OS DESENCARNADOS:
*
Consome diversas substâncias energéticas da massa encefálica;
*
Produz certa desmineralização do sangue;
*
Reduz as cotas vitais magnéticas da rede nervosa;
*
Mobiliza os hormônios necessários para ativar as glândulas do sistema
endócrino e movimentar as cordas vocais (no caso da psicofonia) ou o braço do
médium (no caso da psicografia).
Mesmo
a mais singela meditação do homem eleva e excita sua tensão
psíquica, mobilizando os elementos magnéticos do seu maquinismo carnal; isto
acontece ainda que ele não sinta qualquer fadiga corporal.
Evidentemente,
o intercâmbio mediúnico mais complexo exige maior consumo de energias do homem
para o êxito dessa operação psicofísica, de alta intensidade e sob o comando do
mundo oculto. No entanto, a intensidade do cansaço ou fadiga, no homem, também
se manifesta de acordo com a resistência biológica e o controle emotivo da sua
tensão mental.
Em
consequência, o médium que se entrega à atividade mediúnica com sua mente
descontrolada, embora permaneça sob a proteção dos espíritos amigos e
benfeitores, nem por isso se livra da contingência das leis físicas que lhe
disciplinam as atividades biológicas.
O
Alto não exige do ser humano a carga de um "fardo" maior do que suas
costas!
A
faculdade mediúnica não é uma proposição atrabiliária, mas a oportunidade
compensativa para o espírito endividado quitar-se consigo mesmo...
O
médium desleixado, negligente, rebelde, ou que se exceda nos seus labores
mediúnicos, agrava os seus equívocos de vidas anteriores!
5.
OS EXCESSOS MEDIÚNICOS, AS DOENÇAS E A LOUCURA
Sem
dúvida, a luta do médium para sobreviver no mundo físico é bem mais intensa e
sacrificial do que a existência do homem comum, que apenas atende às
contingências instintivas de cuidar da prole, que é fruto do cumprimento da lei
do "crescei e multiplicai-vos".
Como
o espírito reencarnado na Terra não pode isolar-se completamente das
contingências inerentes ao próprio meio em que o indivíduo, na sua vida de
relação, está sujeito a hostilidades e emoções que lhe afetam o equilíbrio
psíquico, é obvio que o exercício da mediunidade poderá causar-lhe até
mesmo a loucura, desde que ele a exerça de modo insensato e ultrapasse o limite
fixado no programa elaborado antes de sua encarnação.
O
médium precisa agir com muita prudência na vida física, a fim de não
confundir sua responsabilidade mediúnica com os acontecimentos naturais da vida
material.
Embora
ele seja protegido pelos amigos desencarnados, que lhe endossaram a tarefa
mediúnica na Terra, eles não podem impedi-lo de modificar sua vida, quer
tomando rumos inesperados perniciosos quer tomando decisões
insensatas, que podem levá-lo à loucura, por ultrapassar o limite de sua
segurança espiritual.
Sabe-se
que os ascendentes biológicos hereditários da carne conservam, em sua
intimidade, em estado latente, os germens de taras, vícios, estigmas e
enfermidades, como a sífilis, morfeia ou tuberculose, inclusive os reflexos das
alienações mentais sofridas pela geração ancestral.
No
próprio conteúdo sanguíneo do homem permanecem os vírus morbígenos de sua
linhagem hereditária que, quando se apresentam as condições favoráveis, acabam
por proliferar além da sua quota normal ou inofensiva, podendo ferir o sistema
neurocerebral.
Durante
os estados de debilidade orgânica muito acentuada, agravados ainda pelo
bombardeio incessante das paixões violentas, como o ódio, ciúme, inveja, raiva,
perversidade e outras emoções indisciplinadas, o homem desenvolve em si um
clima "psicofísico" negativo, que facilita o
desenvolvimento de certas coletividades microbianas patogênicas, já existentes
na sua intimidade sanguínea.
Assim,
a loucura, nesse caso, não é propriamente fruto do exercício da faculdade
mediúnica, mas sim uma consequência da predisposição mórbida do tipo
orgânico do próprio homem.
Quer
ele seja médium ou não, poderá enlouquecer desde que ultrapasse o limite
de sua resistência biológica, quaisquer que sejam as causas.
Seja
ele um compositor, matemático, pintor, filósofo, escritor ou líder
religioso, pode vir a se tornar um alienado mental desde que atue além do
limite de sua resistência psicofísica, findando sua existência
transformado em paranoico, esquizofrênico e até psicopata furioso.
No
entanto, isso pode acontecer sem que ele seja um médium espírita, mas sim por
exercer atividades tensas e de emotividade contínua, as quais,
superexcitando-lhe o íntimo da alma, terminam por afetar-lhe o equilíbrio
dos órgãos cerebrais.
Em
todas as pessoas que se desgovernam pelo excesso de elucubrações mentais
quanto aos problemas complexos da ciência ou da arte superior, que lhes
empolgava o espírito, a agudeza, a vivacidade que os dominava para expressar as
suas emoções, terminaram por lhes destruir a saúde e prejudicar o
intercâmbio pacífico com o mundo oculto.
Contudo,
é evidente que, nesses casos, o gênio não se lhes extinguiu na alma imortal,
cuja centelha divina, após a morte física, retorna ao seu
equilíbrio, pois os conhecimentos adquiridos, com vistas a um ideal
superior, jamais se perdem, pois são um patrimônio do próprio espírito.
6.
O EXERCÍCIO DA MEDIUNIDADE PELO MÉDIUM ADOENTADO
Quanto
ao médium doente ou perturbado, a sua cura positiva ou o exercício mediúnico
sadio depende mais dos recursos sublimes da oração, da boa leitura
espiritualista, assim como da frequência a reuniões de caráter evangélico.
Caso
ele, aflito e enfraquecido física e psiquicamente, tente os trabalhos
mediúnicos, há de sentir-se ainda mais agravado pela sua excitação mediúnica;
daí a necessidade de reconfortar-se no orvalho sedativo do Evangelho do
Cristo!
Ele
deve atender à sua saúde física, abster-se de bebidas alcoólicas,
condimentos excitantes, entorpecentes e de sedativos, carnes, geralmente
ingeridos a granel; caso contrário, será criatura assediada pelos
espíritos glutões, gozadores e fesceninos, uma vez que o médium é porta aberta,
em permanente contato com o Invisível.
Por
isso, deve cultuar vida saudável e correta, que lhe preserve o corpo físico dos
excessos esportivos violentos, cujas emoções dão motivo a desperdício do seu
magnetismo terapêutico.
7.
O DESENVOLVIMENTO PREMATURO DA MEDIUNIDADE NA CRIANÇA
Quando
a mediunidade é prematuramente desenvolvida na criança, sob estímulos catalisadores
ou exercícios medianímicos de contatos insistentes com os desencarnados, isso
acaba por superexcitar a sua sensibilidade psíquica e causar-lhe
distúrbios orgânicos.
Considere-se
ainda que muitos fenômenos mediúnicos assemelham-se a acontecimentos da fisiologia
humana, tais como a esquizofrenia, a paranoia, a histeria e a certos complexos
freudianos, no que se pode erroneamente julgar tratar-se de um médium em
potencial.
Por
isso, é de todo imprudente provocar-se o desenvolvimento mediúnico da criança,
mesmo quando julgado tratar-se de um médium em potencial.
A
mediunidade é como a flor; deve desabrochar no momento próprio e não em estufa!
O
organismo infantil é delicado e bastante influenciado pelo fervilhamento das
forças biológicas que ainda lhe consolidam o maquinário neurocerebral.
As
suturas, os contornos da carne de criança para a formação de sua figura humana,
ainda dependem fundamentalmente das trocas simpáticas entre átomos, moléculas,
células e fibras, cujo ritmo só se estabiliza depois da puberdade, quando o
menino ou a menina se torna homem ou mulher.
A
excitação psíquica inoportuna, as impressões mentais dramáticas, os choques
emotivos ou as comoções imprevistas, tendem a alterar a segurança nervosa das
crianças e podem causar-lhes desarmonias orgânicas, cujos reflexos prejudiciais
afetarão a estrutura íntima do perispírito, ainda parcialmente afastado do
corpo físico.
A
mediunidade, portanto, é como a flor, que exige o cultivo somente no momento
próprio do seu desabrochar.
É
óbvio, entretanto, que a criança, que já é portadora de fenômenos incomuns, devido à faculdade
mediúnica espontânea, ela os exerce como um fato inerente à sua própria
pessoa, sem sofrer angústias ou aflições, produzindo-os sem esforços ou
espanto, tal como ri, canta ou salta, o que para ela é manifestação
natural de sua própria constituição ancestral.
É
acontecimento que ela não discute, nem guarda prevenções, por considerá-los
próprios da criatura humana.
Muitas
crianças narram acontecimentos miraculosos sem demonstrar espanto ou receio,
considerando como um fato natural à sua existência física, até mesmo
as visões psíquicas que elas identificam; em consequência, depois de adultas,
terminam por relacionar os fenômenos mediúnicos que viveram espontaneamente na
infância, ligando-os então aos postulados doutrinários do Espiritismo, mas sem
considerá-los indesejáveis ou fruto de distúrbio mental.
Como
o intercâmbio mediúnico é serviço de grave responsabilidade espiritual,
resulta, sem dúvida, de pouco sucesso quando entregue ao menino ou menina,
ainda sem os compromissos próprios do adulto.
8.
RISCOS DECORRENTES DA INATIVIDADE MEDIÚNICA
O
médium de prova é um espírito que, antes de descer à carne, recebe um
"impulso" de aceleração perispiritual mais violento do que o metabolismo
do homem comum, a fim de se tornar um intermediário entre os "vivos"
e os "mortos".
Assim,
é criatura cuja hipersensibilidade, oriunda da dinâmica acelerada do seu
perispírito, o faz sentir, com antecedência, os acontecimentos que os demais
homens recepcionam de modo natural.
Esse
é o motivo porque o desenvolvimento mediúnico disciplinado e o serviço
caritativo ao próximo proporcionam certo alívio psíquico ao médium e
o harmonizam com o meio onde habita.
Tal
qual um acumulador vivo, ele se sobrecarrega de energias do mundo oculto e
depois necessita descarregá-las num labor metódico e ativo, que o ajuda a
manter sua estabilidade psicofísica.
A
descarga dessa energia excessiva, acumulada pela estagnação do trabalho
mediúnico, não só melhora a receptividade psíquica, como ainda eleva a
graduação vibratória do ser.
O
fluido magnético acumulado pela inatividade no serviço mediúnico transforma-se
em tóxico pesado na vestimenta perispiritual e causa desarmonia no metabolismo
neuro-orgânico.
O
sistema nervoso, como principal agente ou elo de conexão da fenomenologia
mediúnica para o mundo físico, superexcita-se pela contínua interferência do
perispírito, hipersensibilizado pelos técnicos do Espaço, e deixa o médium
tenso e aguçado na recepção dos mínimos fenômenos da vida oculta.
Deste
modo, o trabalho ou intercâmbio mediúnico significa para o médium o recurso
valioso que o ajuda a manter sua harmonia psicofísica.
9.
ABDICAÇÃO DO EXERCÍCIO DA MEDIUNIDADE
As
criaturas que são médiuns e desistem de exercer a mediunidade devido à
insuficiência de suas condições físicas, emotivas, financeiras e até morais,
demonstram que não estão cônscias de sua responsabilidade espiritual.
Os
médiuns nascem comprometidos para um serviço excepcional a favor do próximo,
além de sua própria redenção, e isso é escolha feita livremente antes
deles ingressarem na carne.
Imprudentemente,
muitos esquecem esse compromisso severo e se entregam a todos os caprichos e
vícios próprios do homem comum; deste modo, atravessam a existência terrena na
figura do caçador de emoções e aventuras censuráveis, enquanto subestimam a
mediunidade, que lhes pesa à conta de um fardo insuportável.
Embora
sejam portadores de mensagem incomum, vivem presos aos preconceitos e às
convenções tolas da sociedade terrena, pois transitam pelo mundo
material, escravos das minúcias e das futilidades mais tolas.
Esquecendo
a responsabilidade da faculdade mediúnica, eles vivem inconscientes do seu próprio
destino espiritual elevado; em tais condições, negligenciam o seu labor
mediúnico e desperdiçam tempo precioso entre companhias censuráveis e nos
ambientes viciados.
Qual antenas
vivas de maus fluidos terminam saturados pelo desânimo, pessimismo e desconfiança,
completamente derrotados diante das vicissitudes humanas.
São
médiuns que encerram sua existência na condição de elementos improdutivos,
gastos e desesperançados; excessivamente onerosos para o Alto, mesmo quando
atendem ao mais singelo serviço mediúnico, eles exigem junto de si, a todo o
momento, a presença de espíritos técnicos e cooperadores, que lhes devem cuidar
da saúde periclitante, afastá-los dos lugares perniciosos e guiá-los às boas
ações.
Em
verdade, até para fazerem o Bem, falta-lhes o senso e a iniciativa própria!
No
entanto, assim que se sentem higienizados pelos bons fluidos do Além, e
assistidos pelos seus guias, eis que novamente relaxam sua vigilância e defesa
psíquica, para retornarem às mesmas condições perniciosas anteriores.
Em
consequência, o recurso mais prudente a ser providenciado pelo Alto é o
de afastá-los definitivamente do serviço mediúnico ativo, pois, em caso
contrário, serão vítimas da superexcitação nervosa que lhes causará ainda coisa
pior.
10.
FRACASSOS E ABUSOS NO EXERCÍCIO MEDIÚNICO
Ainda
é grande a porcentagem dos médiuns que fracassam no exercício da mediunidade,
após terem gozado o prestígio de faculdade mediúnica incomum.
Não
é propriamente a posse antecipada da faculdade mediúnica o motivo responsável
pelo fracasso muito comum de alguns médiuns em prova na matéria; isso é
mais consequente de sua imperfeição ou contradição espiritual.
O
médium, em geral, é espírito que decaiu das suas posições privilegiadas do
passado, sendo ainda muito apegado à sua personalidade humana transitória;
deste modo, ele subestima a transcendência dos fenômenos que se processam por
seu intermédio e os considera, erroneamente, mais como produto exclusivo de sua
vontade e capacidade mental.
Embora
muitos médiuns sejam inteligentes e mentalmente desenvolvidos, o orgulho,
a vaidade, a ambição, a prepotência, a cupidez ou a leviandade ainda os fazem
tombar de seus pedestais frágeis, porque falsamente se crêem magos
excepcionais ou indivíduos de poderes extraordinários para a
produção de fenômenos extemporâneos ou revelações incomuns.
A
Terra ainda é pródiga de magos de feira, curandeiros mercenários ou iniciados
sentenciosos que, através de rituais extravagantes, atraem e exploram as
multidões ignorantes.
São
verdadeiros "camelôs" da espiritualidade que, beneficiados
pela graça mediúnica concedida pelos espíritos benfeitores, exploram-na sob o
disfarce da magia ou dos poderes esotéricos, mas sempre
evitando a disciplina espírita que, sem dúvida, lhes exigiria conduta
ilibada e o absoluto desinteresse pecuniário no trato das coisas
espirituais.
Entretanto,
chega o momento em que eles são atingidos em cheio pela Lei
Sideral, que lhes estanca a exploração do veio aurífero da mediunidade a
serviço do comércio indigno e dos interesses pessoais, e assim terminam os seus
dias sob terrível humilhação espiritual, sofrendo as agruras do mau emprego dos
favores concedidos pelo Alto.
Muitas
lendas terrenas são verdadeiros simbolismos e alusões ao mau uso dos dons
mediúnicos, quando certos médiuns traem a confiança dos seus mentores siderais.
A
tradição lendária narra o caso de criaturas que, depois de favorecidas com
poderes excepcionais concedidos por anjos, fadas ou gênios benfazejos, terminam
perdendo-os lastimavelmente pela avareza, cupidez, vaidade, desleixo ou
interesse mercenário.
Sem
dúvida, tais narrativas não passam de lendas e contos fantásticos, mas em sua
profundidade permanece o ensinamento espiritual do fracasso daqueles que fazem
mau uso dos talentos que os gênios do Bem concedem aos espíritos
endividados, e que necessitam urgentemente de sua própria reabilitação
espiritual.
No
entanto, a faculdade mediúnica pode desaparecer a qualquer
momento, desde que o seu portador a comprometa na Terra, para satisfazer
sua vaidade ou obter proveitos ilícitos.
A
nenhum médium é facultado servir-se da mediunidade para o seu uso exclusivo ou
aproveitamento excêntrico, nem expô-la em público na forma de tábua de
negócios, pois é também um dos talentos concedidos por Deus a seus filhos, tal
como ensinou Jesus em suas parábolas.
As
forças psíquicas tanto se degradam na manifestação espetacular, que só exalta a
personalidade humana transitória, como se deturpam quando são transformadas em
mercadoria destinada a criar todas as facilidades ou atender aos caprichos da
vida física.
Os
valores legítimos da faculdade mediúnica, quando são desenvolvidos e praticados
com o Cristo, não produzem quedas e as humilhações que abalam a vida tumultuosa
dos médiuns imprudentes.
O
médium, como instrumento fiel da vontade do Senhor, revelada no mundo das formas,
elabora um dos piores destinos para o futuro quando, pela sua negligência ou má
fé, subverte o programa espiritual que prometeu divulgar a superfície da Terra.
Há
sempre atenuante para aquele que peca por ignorância, mas é indigno da
tolerância quem o faz deliberadamente, depois de haver-se comprometido para a
efetivação de um serviço que diz respeito ao bem de muitas criaturas.
Os
mentores siderais só concedem a faculdade mediúnica para os espíritos que se
prontificam a cumprir leal e corretamente, na Terra, todos os preceitos e
normas necessárias para um aproveitamento espiritual em seu favor e em favor da
humanidade.
Os
espíritos endividados rogam aos técnicos siderais a sua hipersensibilização
perispiritual, para então desempenharem um serviço mediúnico que promova o
ressarcimento de seus débitos clamorosos do passado.
No
entanto, estes não podem prever antecipadamente a ganância, a vaidade, a
subversão ou a desonestidade dos seus pupilos quando, depois de
encarnados, se deixam fascinar pelas tentações, vícios e convites
pecaminosos que os fazem fracassar na prova da mediunidade.
Em
geral, depois de encarnados, deixam-se influenciar pelas vozes melífluas dos
habitantes das Trevas e passam acomerciar com a mediunidade a guisa de
mercadoria de fácil colocação.
Sem
dúvida, quando percebem sua situação caótica espiritual, já lhes falta à
condição moral e o potencial de vontade para o seu reerguimento ante o abismo
perigoso.
Nenhum
espírito encarna-se na Terra com a tarefa obrigatória de ser médium psicógrafo,
mecânico, incorporativo ou de efeitos físicos, pois, na verdade, cada um o
faz por sua livre e espontânea vontade, pois solicitou previamente do Alto o
ensejo abençoado para redimir-se espiritualmente num serviço de benefício ao
próximo, uma vez que no pretérito também usou e abusou dos seus poderes
intelectuais ou aptidões psíquicas em detrimento alheio.
Mesmo
na Terra, as tarefas mais perigosas devem ser aceitas de modo espontâneo, para
que o seu responsável não venha a fugir posteriormente de cumpri-la por desistência
pessoal, e, sem dúvida, a escolha do serviço perigoso sempre recai
sobre o homem mais apto e capacitado para o bom êxito.
Em
especial, a mediunidade de fenômenos físicos é um serviço incomum, difícil e
perigoso, cujos óbices vultosos e surpresas exigem o máximo de prudência,
humildade, e segurança moral.
O
médium, antes de encarnar-se, sabe disso e se depois vem a comerciar com os
bens espirituais e fracassar no desempenho contraditório de sua função elevada,
tal fato não pode ser creditado ao Alto, que só lhe proporcionou o ensejo
redentor.
A
culpa, evidentemente, cabe ao próprio fracassado ante a sua imprudência em
aceitar tarefas mediúnicas acima de sua capacidade normal de resistência
espiritual.
As
oportunidades mediúnicas redentoras são concedidas aos espíritos faltosos, mas
quanto à responsabilidade do êxito ou fracasso, somente a eles deve ser
atribuída, pois é o médium quem produz as próprias condições gravosas ou
ditosas no desempenho de sua tarefa mediúnica.
A
mediunidade de prova não se refere propriamente à concessão de faculdades
mediúnicas prematuras ou poderes concedidos extemporaneamente, pelos mentores
da Terra, aos homens imaturos ou que ainda não se encontram espiritualmente
seguros de cumpri-las.
Às
vezes, estes não passam de antigos magos que dominavam facilmente as
forças ocultas, exerciam o fascínio sobre os elementais e usavam de hipnose
para fins interesseiros, tal como no caso de Rasputin, que se aproveitou dos
seus objetivos torpes, como instrumento vil das trevas.
Quando
tais espíritos retornam à carne para tentar a sua renovação
espiritual manejando os mesmos poderes que desvirtuaram no passado, mas
sob a promessa de só os empregar a favor do Bem, nem sempre logram sustentar
por muito tempo o tom espiritual elevado que lhes é requerido pelos mentores
siderais.
O coração
atrofiado e a mente aguçada pela vontade poderosa, que é
exercitada em vidas anteriores, traem esses espíritos no trabalho mediúnico do
Bem, caso não se curvem humildes e desde o princípio de sua tarefa sob os
postulados redentores do Cristo.
Quando
os responsáveis pelo progresso do orbe verificam a inutilidade de conservá-los
no serviço ativo da seara, vêem-se obrigados a alijá-los de qualquer modo,
a fim de que cessem os graves prejuízos decorrentes de sua atividade
descontrolada.
Mas
Deus sempre concede a oportunidade de renovação moral e do trabalho digno a
todos os seus filhos, e a prova mais evidente disso é que aqueles que
presentemente já esposam princípios espirituais dignos e superiores devem isso
à bondade divina, que tolerou as suas iniquidades do pretérito, concedendo-lhes
também a graça do serviço redentor tantas vezes quantas foram os seus
equívocos.
Em
verdade, os pecadores são justamente aqueles que mais precisam de Amor, tanto
quanto os enfermos necessitam do médico.
Desde
que do lodo pode surgir o lírio imaculado, é óbvio que dos lábios dos homens
impuros também é possível nascerem à esperança e o roteiro para os seres
desarvorados na estrada da vida humana.
E
se Deus, o Criador do Universo, que deveria exigir do homem o máximo de
submissão e acatamento aos objetivos sublimes de Sua Obra, multiplica os
ensejos de sua mais breve redenção espiritual, sem dúvida, a sua criatura
não tem o direito de odiar, maltratar, roubar, e execrar o seu próprio irmão de
destino sideral.
Eis
porque motivo o grande sucesso de todo médium, fenomênico ou intuitivo, ainda
se fundamenta num único compromisso incondicional: cultuar sua mediunidade
com o Cristo e tornar-se um trabalhador ativo na seara do Mestre.
Não
basta ver, ouvir e sentir espíritos em seu plano invisível.
O
médium, em qualquer hipótese, deve ser o homem que, além de contribuir para a
divulgação da imortalidade do espírito na Terra, é cidadão comprometido pelos
deveres comuns junto à sua coletividade encarnada, onde só a bondade,
o amor, o afeto, a renúncia e o perdão incessante podem livrá-lo das
algemas do astral inferior.
Considerando
que a faculdade mediúnica de "prova" ou de
"obrigação" é sempre o acréscimo que o Alto concede ao espírito
endividado para conseguir a sua reabilitação espiritual, sob hipótese
alguma deve ela ser negociada ou vilipendiada.
É
o serviço de confiança que o médium exerce em favor alheio, sem deixar de
cumprir todas as suas obrigações para com a família, a sociedade e os poderes
públicos.
Os
mentores siderais não lhe exigem o sacrifício econômico da família, a
negligência educativa da prole, o descuido com as necessidades
justas da parentela, para só atender indiscriminadamente ao exercício da
sua faculdade.
Cada
médium, como espírito em evolução, conduz o seu próprio fardo cármico gerado no
pretérito delituoso, o que também lhe determina as obrigações em comum no
lar, onde vítimas e algozes, amigos e adversários de ontem empreendem o
curso de aproximação espiritual definitiva.
Assim
é que, em última hipótese, deve prevalecer sobre o serviço mediúnico o
cumprimento exato das determinações cármicas que lhe deram origem à existência
na matéria.
Considerando-se
que o mundo de César é o reino transitório dos interesses da vida material para
a educação do espírito imperfeito, o dom mediúnico é a dádiva espiritual do
reino do Cristo, e não mercadoria de especulação mundana.
11.
CONSEQUÊNCIAS DO MAU USO DA MEDIUNIDADE
Há
médiuns poderosos, que produzem fenômenos incomuns e curas extraordinárias e
que, no entanto, mercadejam com sua faculdade mediúnica, enquanto há outros que
são escravos dos vícios mais comuns.
Quantas
vezes as autoridades públicas do mundo material também credenciam determinados
indivíduos para desempenharem serviços de importância em favor do povo, porque
os julgam homens de bons propósitos, honestos e leais?
No
entanto, comumente eles enodoam o seu trabalho e traem a confiança dos seus
superiores, deixando-se tentar pela cobiça, avareza ou fortuna fácil,
terminando por cumprir desonestamente aquilo que lhes fora solicitado para o
bem comum!
O
mandato mediúnico, que autoriza o seu outorgado a prestar um serviço útil à
coletividade encarnada, também lhe beneficia o espírito imperfeito, por cujo
motivo é compromisso que deve ser executado com toda a dignidade e
elevação moral.
Aceitando
a tarefa mediúnica de suma importância para si e para o próximo, é evidente que
o médium fica responsável por qualquer desvio ou perturbação que venha a produzir
durante o exercício de sua tarefa no mundo profano.
Mas
é evidente que os anjos do Senhor, por serem almas repletas de ternura e amor,
sempre guardam suas esperanças na corrigenda ou renovação dos espíritos que,
embora sendo imperfeitos e culposos, são convocados ao serviço espiritual
superior da mediunidade no mundo físico.
Assim,
eles não os privam subitamente da faculdade que os põem em contato com o mundo
espiritual; multiplicam-lhes as oportunidades de recuperação das novas faltas e
os ajudam a sanar os deslizes cometidos no seio da doutrina que os apoia na
carne.
Paradoxalmente,
quais árvores nutridas de seiva arruinada, esses médiuns ainda continuam a dar
bons frutos, mas ignoram que é o generoso "toque" angélico, que
tudo higieniza e sublima, o que realmente promove as curas e garante as
revelações sadias.
Cegos
pela vaidade de se julgarem autossuficientes, capazes de tudo realizar na
suposta independência de qualquer comando invisível, abdicam da vigilância
e do bom senso, imunizam-se à vibração angélica e tombam fragorosamente no lodo
de suas próprias imprudências.
Infelizes
e orgulhosos, não conseguem perceber quando também "muda" a presença
oculta que os protegia; quando se retira o anjo e em seu lugar surge a figura
maquiavélica e astuta do gênio das sombras!
Dali
por diante, há um "dono" e não
um "guia"; em lugar do orientador terno e tolerante, que a
todos os equívocos e interesses inconfessáveis do médium apunha o selo da sua
responsabilidade espiritual, surge à alma cruel, daninha, orgulhosa e viciosa,
que exige, domina e castiga!
Desaparece
o anjo amoroso, que conduz as almas para o reino da Luz, e se manifesta o
senhor de escravos, que depois arrasta do túmulo o espírito imprevidente para
as regiões das trevas!
Esse
o fim dos médiuns que, depois de agraciados por destacados poderes espirituais
no trato do mundo físico, para o bem de si e da coletividade encarnada,
terminam enodoando sua tarefa com a vileza da negociata impura e carregando a
desconfiança e a hostilidade para o serviço mediúnico.
O
sofrimento dos médiuns que não cumprem o seu mandato espiritual dignamente na
Terra, e que eles mesmos requereram para a sua própria redenção, bem antes de
se reencarnarem, negligenciando seus compromissos espirituais, não é imposto
pelo Alto, à semelhança dos julgamentos da justiça humana.
Embora
não lhes seja aplicado deliberadamente nenhum castigo determinado pelas autoridades
sidéreas, as suas condições vibratórias demasiadamente confrangedoras e
o remorso cruciante, devido ao desrespeito à confiança angélica, são
suficientes para vergastar-lhe a consciência e maltratar-lhe a alma angustiada.
Depois
que despertam no Além e reconhecem, à luz meridiana de sua consciência
espiritual, os enormes prejuízos que causaram na consecução do elevado programa
organizado pelos espíritos benfeitores, os médiuns delinquentes se tornam ainda
mais infelizes, verificando a necessidade de recomeçar novamente a mesma
tarefa na Terra, não só em piores condições, como ainda deserdados do endosso
angélico de que abusaram negligentemente.
E
como ainda á extensa a fila dos espíritos desencarnados aguardando novos corpos
físicos para uma reabilitação espiritual que lhes amaine as dores
perispirituais e lhes olvide o remorso das vidas pregressas mal
vividas, esses médiuns perdulários e faltosos terão de permanecer muitos
anos no mundo astral, a meditar nas suas desditas e sofrer o efeito de suas
mazelas íntimas.
Fontes
bibliográficas:
1. Mediunismo -
Maes, Hercílio. Obra mediúnica ditada pelo espírito Ramatís. 5ª ed. Rio de
Janeiro, RJ. Ed. Freitas Bastos, 1987, 244p.
2. Elucidações
do Além - Maes, Hercílio. Obra mediúnica ditada pelo espírito Ramatís. 6ª
ed. Rio de Janeiro, RJ. Ed. Freitas Bastos, 1991.
Mediunidade
de Prova
Aureliano
Alves Netto
A
mediunidade é ensejo de serviço e aprimoramento, resgate e solução.
Emmanuel
Quando
Arigó foi tragicamente vitimado num desastre automobilístico alguém nos
manifestou sua estranheza:
-
Pois quê! Não era um médium prodigioso?
-
Era, sim - respondemos -, mas isso não lhe conferia nenhum
privilégio. O acidente fazia parte de sua provação. Agora está liberto.
O
diálogo sugeriu-nos esta crônica:
Mediunidade,
segundo alguns autores, é faculdade psíquica paranormal latente em todo indivíduo;
e, na opinião de outros, faculdade de origem exclusivamente fisiológica.
O
escritor espírita argentino Natálio Ceccarini entende que a mediunidade não é
uma aptidão orgânica e sim um “atributo da alma que se exterioriza através do
mecanismo mental, organização psíquica, sistema nervoso do dotado".
Porém,
a nosso ver, a melhor definição é a de Emmanuel:
"Sendo
a luz que brilha na carne, a mediunidade é atributo do Espírito, patrimônio da
alma imortal".
A
bem dizer, o fenômeno mediúnico surgiu com o próprio aparecimento do homem sobre
a Terra.
Entretanto,
somente após o advento do Espiritismo passou a ter sua adequada conceituação e
ser objeto de estudo científico e prática metodizada, em âmbito universal.
Em
O Livro dos Médiuns, ensina Kardec.
"Todo
aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse
fato, médium.
Essa
faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio
exclusivo.
Por
isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos.
Pode,
pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns.
Todavia,
usualmente, assim só se qualificam aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra
bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que
então depende de uma organização mais ou menos sensitiva".
Difícil,
senão impossível, o escalonamento rigoroso das categorias de médiuns, em
virtude da imensa variedade dos fenômenos.
De
modo genérico, no entanto, parece-nos que, exceto alguns poucos Missionários
como Antúlio, Crispa, Buda e Pitágoras, portadores da chamada "mediunidade
natural", ou mais propriamente, do dom da intuição Pura, todos os
demais que estabelecem intercâmbio espiritual com o "outro mundo"
apenas exercitam a mediunidade de prova.
Estas
palavras de Emmanuel fortalecem nosso ponto de vista:
"Os
médiuns, na sua generalidade, não são missionários, na acepção comum do
termo: são almas que fracassaram desastradamente, que contrariaram
sobremaneira o curse das leis divinas e que resgatam sob o peso de severos
compromissos e ilimitadas responsabilidades, o passado obscuro e delituoso.
O
seu pretérito, muitas vezes, se encontra enodoado de graves deslizes e de erros
clamorosos.
Quase
sempre são espíritos que tombaram dos cumes sociais pelo abuso do poder,
da autoridade, da fortuna e da inteligência, e que regressam ao orbe
terráqueo para se sacrificarem em favor do grande número de almas que se
desviaram das sendas luminosas da fé, da caridade e da virtude".
Em
seu livro A vida de Ultratumba, Rufina Noeggerath registra esta comunicação ditada
pelo Espírito Henrique Delaage:
"A
mediunidade não é um dom na acepção comum da palavra; tão pouco é um
privilégio. Cada pessoa vem a Terra com uma faculdade mediúnica determinada,
inerente à sua natureza, para ter a possibilidade de se comunicar com os
desencarnados que, por seu passado, seu presente, e, melhor ainda por seu
futuro, estão enlaçados aos mortais".
A
mediunidade constitui-se, pois, num instrumento de trabalho para aqueles que
retornam à vida corporal as mais das vezes em serviço de reajustamento.
Mas,
representa, ao mesmo tempo, uma faca de dois gumes.
Dotado
de livre arbítrio, o reencarnado tanto pode utilizar proficuamente esse
instrumento de trabalho, como deixá-lo desaproveitado a enferrujar ou
transformá-lo em arma de destruição.
Assim
é que vemos médiuns íntegros ciosos do seu mediunato, como Chico Xavier e
Divaldo Franco, para enumerar apenas os mais conhecidos.
Esses
estão cumprindo bem a tarefa.
Contudo,
sem se julgarem isentos das sanções determinadas pela Lei de Causa e Efeito.
Em
contrapartida, há lamentavelmente outros cujos nomes nem é bom citar, que, ou
sempre foram mercenários, ou degeneraram depois de uma atividade honesta e
proveitosa.
De
qualquer maneira, o certo é que a lei não poderá deixar de ser cumprida fielmente:
a cada um, segundo o seu merecimento.
(Revista
Internacional de Espiritismo – Agosto de 1972)
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