sexta-feira, 27 de maio de 2016

Tempo


Todas as criaturas gozam o tempo, mas raras vezes aproveitam-no.
Corre a oportunidade espalhando bênçãos.
Arrasta-se o homem estragando dádivas recebidas. Cada dia é um país de vinte e quatro províncias. Cada hora é uma província de sessenta unidades.
O homem, contudo, é o semeador que não despertou ainda. Distraído cultivador, pergunta: “que farei”?! E o tempo silencioso responde com ensejos benditos: De servir, ganhando autoridade; de obedecer, conquistando o mundo; de lutar escalando os céus.
O homem, todavia, voluntariamente cego, roga sempre mais tempo para zombar da vida, porque se obedece, revolta-se, orgulhoso; se sofre, injuria e blasfema; se chamando as contas,
lavram reclamações descabidas.
Cientistas fogem da verdadeira ciência.
Filósofos ausentam-se dos próprios ensinos.
Religiosos negam a religião.
Administradores retiram-se da responsabilidade.
Médicos subtraem-se à Medicina.
Literatos furtam-se à divina verdade.
Estadistas centralizam a dominação.
Servidores do povo buscam interesses privados. Lavradores abandonam a terra.
Trabalhadores escapam do serviço.
Gozadores temporários entronizam ilusões.
Ao invés de suar no trabalho, apanham borboletas da fantasia.
Desfrutam a existência, assassinando-a em si próprios.
Possuem os bens da Terra acabando possuídos. Reclamam liberdade, submetendo-se à escravidão. Mas chega um dia, porque há sempre um dia mais claro que os outros, em que a morte surge reclamando trapos velhos...
O tempo recolhe, então, apressado, as oportunidades que pareciam sem fim...
E o homem reconhece tardiamente preocupado, que a Eternidade infinita pede conta do minuto


André Luiz

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