A
par da questão moral, apresenta-se uma consideração efetiva não menos
importante, que entende com a natureza mesma da faculdade. A mediunidade séria
não pode ser e não o será nunca uma profissão, não só porque se desacreditaria
moralmente, identificada para logo com a dos ledores da boa-sorte, como também
porque um obstáculo a isso se opõe. É que se trata de uma faculdade
essencialmente móvel, fugidia e mutável, com cuja perenidade, pois, ninguém
pode contar.
Constituiria,
portanto, para o explorador, uma fonte absolutamente incerta de receitas, de natureza
a poder faltar-lhe no momento exato em que mais necessária lhe fosse. Coisa
diversa é o talento adquirido pelo estudo, pelo trabalho e que, por essa razão
mesma, representa uma propriedade da qual naturalmente lícito é, ao seu
possuidor, tirar partido. A mediunidade, porém, não é uma arte, nem um talento,
pelo que não pode tornar-se uma profissão. Ela não existe sem o concurso dos
Espíritos; faltando estes, já não há mediunidade. Pode subsistir a aptidão, mas
o seu exercício se anula. Daí vem não haver no mundo um único médium capaz de
garantir a obtenção de qualquer fenômeno espírita em dado instante.
Explorar
alguém a mediunidade é, conseguintemente, dispor de uma coisa da qual não é realmente
dono. Afirmar o contrário é enganar a quem paga. Há mais: não é de si próprio
que o explorador dispõe; é do concurso dos Espíritos, das almas dos mortos, que
ele põe a preço de moeda. Essa ideia causa instintiva repugnância. Foi esse
tráfico, degenerado em abuso, explorado pelo charlatanismo, pela ignorância,
pela credulidade e pela superstição que motivou a proibição de Moisés. O
moderno Espiritismo, compreendendo o lado sério da questão, pelo descrédito a
que lançou essa exploração, elevou a mediunidade à categoria de missão.
(Veja-se: O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXVIII. — O Céu e o Inferno, 1ª
Parte, cap. XI.)
A mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente. Se há um gênero de mediunidade que requeira essa condição de modo ainda mais absoluto é a mediunidade curadora.
A mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente. Se há um gênero de mediunidade que requeira essa condição de modo ainda mais absoluto é a mediunidade curadora.
O
médico dá o fruto de seus estudos, feitos, muita vez, à custa de sacrifícios
penosos. O magnetizador dá o seu próprio fluido, por vezes até a sua saúde.
Podem pôr-lhes preço. O médium curador transmite o fluido salutar dos bons
Espíritos; não tem o direito de vendê-lo. Jesus e os apóstolos, ainda que
pobres, nada cobravam pelas curas que operavam.
Procure, pois, aquele que carece do que viver, recursos em qualquer parte, menos na mediunidade; não lhe consagre, se assim for preciso, senão o tempo de que materialmente possa dispor. Os Espíritos lhe levarão em conta o devotamento e os sacrifícios, ao passo que se afastam dos que esperam fazer deles uma escada por onde subam.
Procure, pois, aquele que carece do que viver, recursos em qualquer parte, menos na mediunidade; não lhe consagre, se assim for preciso, senão o tempo de que materialmente possa dispor. Os Espíritos lhe levarão em conta o devotamento e os sacrifícios, ao passo que se afastam dos que esperam fazer deles uma escada por onde subam.
(Fonte:
O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXVI, itens 9 e 10.)
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