domingo, 24 de abril de 2016

Três Lindos Casos de Chico Xavier



TENHA PACIÊNCIA, MEU FILHO 

Quando Dona Maria João do Deus desencarnou, em 29 de setembro de 1915, Chico Xavier, um de seus nove filhos, foi entregue aos cuidados de Dona Rita do Cássia, velha amiga e madrinha da criança. 
Dona Rita, porém, era obsidiada e, por qualquer bagatela, se destemperava irritadiça. 
Assim é que o Chico passou a suportar, por dia, várias surras de vara de marmeleiro, recebendo, ainda, a penetração de pontas de garfos no ventre, porque a neurastênica e perversa senhora inventara esse estranho processo do torturar. 
O garoto chorava muito, permanecendo, horas e horas, com os garfos dependurados na carne sanguinolenta e corria para o quintal, a fim de desabafar-se, porque a madrinha repetia nervosa: 
- Este menino tem a diabo no corpo. 
Um dia, lembrou-se a criança de que sua Mãezinha orava sempre, todos os dias, ensinando-o a elevar o pensamento a Jesus e sentiu falta da prece que não encontrava em seu novo lar. 
Ajoelhou-se sob velhas bananeiras e pronunciou as palavras do Pai Nosso que aprendera dos lábios maternais. 
Quando terminou, oh! Maravilha! 
Sua progenitora, Dona Maria João de Deus, estava perfeitamente viva ao seu lado. 
Chico, que ainda não lidara com as negações e dúvidas dos homens, nem por um instante pensou que a Mãezinha tivesse partido para as sombras da morte. 
Abraçou-a, feliz; e gritou: 
- Mamãe, não me deixe aqui... Carregue-me com a senhora... 
- Não posso, - disse a entidade, triste. 
- Estou apanhando muito, mamãe! 
Dona Maria acariciou-o e explicou: 
- Tenha paciência, meu filho. Você precisa crescer mais forte para o trabalho. E quem não sofre não aprende a lutar. 
- Mas, - tornou a criança - minha madrinha diz que eu estou com o diabo no corpo... 
- Que tem isso? Não se incomode. Tudo passa e se você não mais reclamar, se você tiver paciência, Jesus ajudará para que estejamos sempre juntos. 
Em seguida, desapareceu. 
O pequeno, aflito, chamou-a em vão. 
Desde desse dia, no entanto, passou a receber o contacto de varas e garfos sem revolta e sem lágrimas. 
- Chico é tão cínico - dizia Dona Rita, exasperada, que não chora, nem mesmo a pescoção. 
Porque a criança explicasse ter a alegria de ver sua mãe, sempre que recebia as surras, sem chorar, o pessoal doméstico passou a dizer que ele era um "menino aluado". 
E, diariamente, à tarde, com os vergões na pele e com o sangue a correr-lhe em pequeninos filetes do ventre o pequeno seguia, de olhos enxutos e brilhantes, para o quintal! A fim de reencontrar a mãezinha querida, sob as velhas árvores, vendo-a e ouvindo-a, depois da oração. 
Assim começou a luta espiritual do médium extraordinário que conhecemos. 


O VALOR DA ORAÇÃO 

A madrinha do Chico, por vezes, passava tempos entregue a obsessão. 
Assim é que, nessas fases, e exasperação dela era mais forte. 
Em algumas ocasiões, por isso, condenava o menino há vários dias de fome. 
Certa feita, já fazia três dias que a criança permanecia em completo jejum. 
À tarde, na hora da prece, encontrou a mãezinha desencarnada que lhe perguntou o motivo da tristeza com a qual se apresentava. 
- Então, a senhora não sabe, - explicou o Chico - tenho passado muita fome... 
- Ora, você está reclamando muito, meu filho! - disse Dona Maria João de Deus - menino guloso tem sempre indigestão. 
- Mas hoje bem que eu queria comer alguma coisa... 
A mãezinha abraçou-o e recomendou: 
- Continue na oração e espere um pouco. 
O menino ficou repetindo as palavras do Pai Nosso e daí a instantes um grande cão da rua penetrou o quintal. 
Aproximou-se dele e deixou cair da bocarra um objeto escuro. 
Era um jatobá saboroso... 
Chico recolheu alegre, o pesado fruto, ao mesmo tempo em que reviu a mãezinha no seu lado, acrescentando. 
- Misture o jatobá com água e você terá um bom alimento. 
E, despedindo-se da criança, acentuou: 
- Como você observa meu filho, quando oramos com fé viva até um cão pode nos ajudar, em nome do Jesus. 


O ANJO BOM 

Dois anos de surras incessantes. 
Dois anos vivera o Chico junto da madrinha. 
Numa tarde muito fria, quando entrou em colóquio com Dona Maria João de Deus, Chico implorou: 
- Mamãe, se a senhora vem nos ver, porque não me retira daqui? 
O Espírito carinhoso afagou-o e perguntou: 
Por que está você tão aflito? Tudo, no mundo, obedece à vontade de Deus... 
- Mas a senhora sabe que nos faz muita falta... 
A Mãezinha consolou-o e explicou: 
- Não perca a paciência. Pedi a Jesus para enviar um anjo bom que tome conta de vocês todos. 
E sempre que revia a progenitora, o menino indagava: 
- Mamãe, quando é que a anjo chegará? 
- Espere meu filho! - era a resposta de sempre. 
Decorridos dois meses, a Sr. João Cândido Xavier resolveu casar-se em segundas núpcias. 
E Dona Cidália Batista, a segunda esposa, reclamou os filhos de Dona Maria João de Deus, que se achavam espalhados em casas diversas. 
Foi assim que a nobre senhora mandou buscar também o Chico. 
Quando a criança voltou ao antigo lar contemplou a madrasta que lhe estendia as mãos... 
Dona Cidália abraçou-o e beijou-o com ternura a perguntou: 
- Meu Deus, onde estava este menino com a barriga deste jeito? 
Chico, encorajado com o carinho dela, abraçou-a também, como o pássaro que sentia saudades do ninho perdido. 
A madrasta bondosa fitou-o bem nos olhos e indagou: 
- Você sabe quem sou meu filho? 
- Sei sim. A senhora é o anjo bom de que minha mãe já falou... 
E, desde então, entre os dois, brilhou a amor puro com que o Chico seguiu a segunda mãe, até a morte.


Ramiro Gama 
Chico Xavier

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