Há
cerca de 20 anos, ocorreu numa casa espírita fluminense o seguinte episódio: um
expositor fazia uma palestra sobre família. Em dado momento, ele disse que se
há só a mãe e o filho, não é uma família. Faltava um elemento: o pai. Por isso,
mãe e filho não bastavam para formar uma família. No momento em que ele dizia
isso, uma moça, mãe solteira que ia a um centro espírita pela primeira vez,
entrava para assistir à palestra e ficou em pé, olhando para ele, extremamente
incomodada com o que ouvira. E com toda razão. Afinal, ela e o filho, se não
eram uma família, seriam o que, então?
Semanas
depois, num treinamento interno, esse e todos os outros expositores foram devidamente
orientados a não fazer esse tipo de comentário. Afinal, a ausência da figura
paterna não desqualifica uma família. O tempo passou, e pesquisas recentes
traduzem em dados o que todos já sabem: o perfil da família mudou.
O
educador e expositor espírita Álvaro Chrispino, em um seminário intitulado “O
Espírita do século 21”, chama atenção, entre outros tópicos, para a necessidade
de o espírita estar cada vez mais preparado para receber famílias comandadas
por mães solteiras e pais solteiros, crianças criadas por avós, casais homossexuais
que levam uma vida digna e resolveram adotar uma criança...
Durante
muito tempo, nos acostumamos a crer que família são pai, mãe, filhos e demais parentes.
Quando muitos casais começaram a se separar e outras tantas pessoas (mulheres e
homens) optaram por ter filhos sozinhas, pensou-se: – Meu Deus, a família
acabou! Ledo engano. O conceito de família é que está se ampliando.
A
“Revista O Globo”, de 12 de outubro de 2008, traz, em reportagem de capa, a
história do médico Sérgio D’Agostini, um bem-sucedido homem solteiro de 43
anos, morador da Zona Sul carioca. Sérgio adotou um menino recém-nascido, filho
de uma moradora de rua, portador de várias doenças herdadas dos pais. Em três
tempos, pôs a vida do garoto em dia, mas pôs a sua de cabeça para baixo e
descobriu a saudável rotina de ser pai solteiro. A reportagem cita, ainda, que
já havia 80 homens solteiros na fila da adoção. Homens que têm todo o direito
de serem chamados de família quando estiverem cuidando de seus filhos
adotivos.
A
pergunta 775, de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, diz: “Qual seria, para
a sociedade, o resultado do relaxamento dos laços de família?”. Resposta: “Um
agravamento do egoísmo.” Veja bem, laços de família. Há mais de uma forma de
dar esse laço firme. E achar que só existe um tipo de família (pai, mãe e
filhos) e torcer o nariz para quem não se enquadra nesse padrão é contribuir para
o agravamento do egoísmo.
Casamentos
entre homem e mulher com nascimento de filhos sempre haverá. E fazemos votos
que sejam casamentos felizes. Mas o andar da carruagem humana está mostrando
que há outros modelos de família. E se há, é porque pessoas que não se
enquadram naquilo que se convencionou como padrão querem ser solidárias, dar
amor, conduzir uma criança pela vida...
Como
fazemos parte da grande família humana, ajudemos para que essas novas formações
familiares sejam bem acolhidas na casa espírita.
Marcelo
Teixeira é expositor espírita, dirigente do departamento de divulgação da União
Municipal Espírita de Petrópolis (Umep), jornalista e publicitário.
FONTE: http://www.oconsolador.com.br/ano3/131/marcelo_teixeira.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário