O
alcoolismo e a Medicina - Esteve em agosto de 1999 no Rio de Janeiro, para
participar do 13o Congresso Brasileiro de Alcoolismo, o psiquiatra
americano George Vaillant, autor do livro A História Natural do Alcoolismo
Revisitada, fruto da maior pesquisa feita até hoje sobre o alcoolismo, em
que pesquisadores da Universidade de Harvard acompanharam a vida de 600 homens.
Em sua obra e na entrevista que concedeu à revista VEJA de 18/8/99, Dr. Vaillant afirma que, ao contrário do que muitos pensam, não existe o gene do alcoolismo, mas sim um conjunto de genes que tornam o indivíduo vulnerável à dependência do álcool.
Em sua obra e na entrevista que concedeu à revista VEJA de 18/8/99, Dr. Vaillant afirma que, ao contrário do que muitos pensam, não existe o gene do alcoolismo, mas sim um conjunto de genes que tornam o indivíduo vulnerável à dependência do álcool.
O
alcoolismo é, na verdade, uma doença provocada por múltiplos fatores e
condições sociais e que, segundo a Organização Mundial de Saúde, é incurável,
progressiva e quase sempre fatal. Eis, de forma sintética, as principais
informações e esclarecimentos dados por George Vaillant na referida entrevista:
O
alcoolismo é um problema de dimensões trágicas ainda subdimensionadas e seu
maior dano é a destruição de famílias inteiras.
Metade
de todas as crianças atendidas nos serviços psiquiátricos vem de famílias de
alcoólatras e boa parte dos abusos cometidos contra crianças tem raiz no
alcoolismo.
Sem
qualquer sombra de dúvida, o alcoolismo é uma doença. É o resultado de um cérebro
que perdeu a capacidade de decidir quando começar a beber e quando parar.
Não
é possível detectar numa criança ou num pré-adolescente traço algum que permita
antever que eles se tornarão alcoólatras. “Alcoolismo cria distúrbios da
personalidade, mas distúrbios da personalidade não levam necessariamente ao
alcoolismo.”
A
principal diferença entre alcoolismo e outras dependências diz respeito ao tipo
de droga. Opiláceos são tranquilizantes, mas o álcool é um mau tranquilizante,
tende a fazer as pessoas infelizes ficarem mais infelizes e piora a depressão.
A pequena euforia que o álcool proporciona é sintoma do início da depressão do
sistema nervoso central.
Do
ponto de vista da sociedade, o álcool é um problema muito grave. O alcoólatra
provoca não somente acidentes de trânsito, mas problemas graves à sua volta, a
começar por sua família.
As
únicas pessoas que estão sob o risco de alcoolismo são as que bebem
regularmente, mas, se nunca passar de dois drinques por dia, o indivíduo pode
usufruir socialmente da bebida em festas, casamentos, carnaval, e não se tornar
alcoólatra.
Há
pouco a fazer para ajudar um alcoólatra, mas uma coisa é essencial: não se deve
tentar proteger alguém de seu alcoolismo. Se uma mulher encontra seu marido
caído no chão, desmaiado sobre seu próprio vômito, não deve dar banho e levá-lo
para a cama. O único caminho para sair do alcoolismo é descobrir que o álcool é
seu inimigo. Proteger uma pessoa nessa situação não ajuda.
Não
é papel da família tentar convencer o alcoólatra de que o álcool é um mal para
ele. Na verdade, em tal situação, a família precisa de ajuda, como a oferecida
pelo Al-Anon, a divisão dos Alcoólicos Anônimos voltada ao apoio a famílias de
alcoólatras.
A
abstinência é fundamental no tratamento do alcoolismo. Um alcoólatra até pode
beber socialmente, da mesma forma que um carro pode andar sem estepe, ou seja,
é uma situação precária e um acidente é questão de tempo.
Num
horizonte de seis meses, muitos alcoólatras conseguem manter seu consumo de
álcool dentro de padrões socialmente aceitos, mas, se observarmos um intervalo
maior de tempo, vamos verificar que a tendência é ir aumentando gradualmente o
consumo, até voltar ao padrão antigo. Em períodos mais longos, normalmente, só
quem para de beber não sucumbe ao vício.
Em
1995, uma substância, a naltrexona, foi saudada como a pílula antialcoolismo.
Vendida no Brasil com o nome de Revia, não se conhece ainda seu efeito a longo
prazo. Mas, em linhas gerais, drogas podem funcionar como apoio por, no máximo,
um ano, visto que é muito difícil tirar algo de alguém sem oferecer
alternativas de comportamento. Usar essas drogas equivale a tirar o brinquedo
de uma criança e não dar nada no lugar.
A
terapia oferecida pelos Alcoólicos Anônimos é parecida com as
terapias behavioristas, que pretendem obter uma determinada mudança de
comportamento. Mas, além de ser um tratamento barato e que dura para sempre, a
terapia dos A.A. tem um componente espiritual importante. Terapias ajudam
a não beber, mas os Alcoólicos Anônimos dão ao indivíduo um círculo de amigos
sóbrios, dão-lhe significados, amigos, espiritualidade. “É o melhor tratamento
que temos.”
Embora
as estatísticas nesse campo não sejam precisas, sabe-se que cerca de 40% das
abstinências estáveis são intermediadas pelos Alcoólicos Anônimos.
Consequências
do alcoolismo – Os efeitos do alcoolismo atingem não apenas a saúde do alcoólatra,
mas igualmente a comunidade em que ele vive e, especialmente, sua família.
A)
Seus efeitos na saúde:
Físicos
– afecções como a cirrose hepática e cânceres diversos.
Mentais
– perda da concentração e da memória.
Neurológicos
– prejuízos na coordenação motora e o caminhar cambaleante.
Psicológicos
– apatia, tédio, depressão.
B)
Seus efeitos sociais:
Crimes
– o número de homicídios detonados pelo álcool é surpreendente: em 1996, 41% em
São Paulo e 54% nos Estados Unidos.
Acidentes de trânsito
– em 1995, 30% de todos os acidentes com vítimas ocorridos no Brasil foram
motivados pelo álcool. Dados mais recentes divulgados por Veja em
13/10/99 informam que 30.000 pessoas morrem em acidentes de trânsito por ano no
Brasil: metade é vítima de motoristas bêbados ou drogados.
Má produtividade no trabalho
– além dos danos produzidos à empresa que paga o salário ao alcoólatra, o
fato geralmente redunda na demissão e muitos não conseguem um novo emprego
devido a isso.
Perda do senso do dever
e dos bons costumes – falta ao trabalho, desemprego.
C)
Seus efeitos na família:
Comprometimento dos filhos
– 80% dos filhos aprendem a beber em casa, diz a psicóloga Denise de Micheli.
Desestruturação do lar
– o desemprego gera as dificuldades financeiras e as discussões inevitáveis.
As separações conjugais
– a mulher não aguenta as conhecidas fases da euforia: momice (macaco), a
valentia (leão) e a indolência (porco).
A violência doméstica
– 2/3 dos casos de violência infantil ocorrem quando o agressor está alcoolizado.
O
alcoolismo na visão espírita - A exemplo de André Luiz (Espírito), que nos
mostra em seu livro Sexo e Destino, capítulo VI, págs. 51 a 55, como os
Espíritos conseguem levar um indivíduo a beber e, ao mesmo tempo, usufruir das
emanações alcoólicas, José Herculano Pires também associa alcoolismo e
obsessão.
No
capítulo de abertura do livro Diálogo dos Vivos, obra publicada dez
anos após o referido livro de André Luiz, Herculano assevera, depois de
transcrever a visão do Espírito de Cornélio Pires sobre o uso do álcool:
“A
obsessão mundial pelo álcool, no plano humano, corresponde a um quadro
apavorante de vampirismo no plano espiritual. A medicina atual ainda reluta – e
infelizmente nos seus setores mais ligados ao assunto, que são os da
psicoterapia – em aceitar a tese espírita da obsessão. Mas as pesquisas
parapsicológicas já revelaram, nos maiores centros culturais do mundo, a
realidade da obsessão. De Rhine, Wickland, Pratt, nos Estados Unidos, a Soal,
Carrington, Price, na Inglaterra, até a outros parapsicólogos materialistas, a
descoberta do vampirismo se processou em cadeia. Todos os parapsicólogos
verdadeiros, de renome científico e não marcados pela obsessão do sectarismo
religioso, proclamam hoje a realidade das influências mentais entre as criaturas
humanas, e entre estas e as mentes desencarnadas”.
A
dependência do álcool prossegue além-túmulo e, como o Espírito não pode obtê-lo
no local em que agora reside, no chamado plano extrafísico, ele só consegue
satisfazer a sua compulsão pela bebida associando-se a um encarnado que beba.
Um
caso de enxertia fluídica - Eis como André Luiz relata, em sua obra
citada, o caso Cláudio Nogueira:
Estando
Cláudio sentado na sala de seu apartamento, aconteceu de repente o imprevisto.
Os desencarnados vistos à entrada do apartamento penetraram a sala e, agindo
sem-cerimônia, abordaram o chefe da casa. "Beber, meu caro, quero
beber!", gritou um deles, tateando-lhe um dos ombros. Cláudio mantinha-se
atento à leitura de um jornal e nada ouviu. Contudo, se não possuía tímpanos
físicos para registrar a petição, trazia na cabeça a caixa acústica da mente
sintonizada com o apelante. O Espírito repetiu, pois, a solicitação, algumas
vezes, na atitude do hipnotizador que insufla o próprio desejo, reafirmando uma
ordem. O resultado não demorou. Viu-se o paciente desviar-se do jornal e
deixar-se envolver pelo desejo de beber um trago de uísque, convicto de que
buscava a bebida exclusivamente por si.
Abrigando
a sugestão, o pensamento de Cláudio transmudou-se, rápido. "Beber, beber!..." e
a sede de aguardente se lhe articulou na ideia, ganhando forma. A mucosa
pituitária se lhe aguçou, como que mais fortemente impregnada do cheiro acre
que vagueava no ar. O Espírito malicioso coçou-lhe brandamente os gorgomilos,
e indefinível secura constringiu-lhe a laringe. O Espírito sagaz percebeu-lhe,
então, a adesão tácita e colou-se a ele. De começo, a carícia leve; depois da
carícia, o abraço envolvente; e depois do abraço, a associação recíproca.
Integraram-se ambos em exótico sucesso de enxertia fluídica.
Produziu-se
ali – refere André Luiz - algo semelhante ao encaixe perfeito. Cláudio-homem absorvia
o desencarnado, a guisa de sapato que se ajusta ao pé. Fundiram-se os dois,
como se morassem num só corpo. Altura idêntica. Volume igual. Movimentos
sincrônicos. Identificação positiva. Levantaram-se a um tempo e giraram integralmente
incorporados um ao outro, na área estreita, arrebatando o frasco de uísque. Não
se podia dizer a quem atribuir o impulso inicial de semelhante gesto, se a
Cláudio que admitia a instigação, ou se ao obsessor que a propunha. A talagada
rolou através da garganta, que se exprimia por dualidade singular: ambos os
dipsômanos estalaram a língua de prazer, em ação simultânea.
Desmanchou-se
então a parelha e Cláudio se dispunha a sentar, quando o outro Espírito investiu
sobre ele e protestou: "eu também, eu também quero!",
reavivando-se no encarnado a sugestão que esmorecia. Absolutamente passivo
diante da sugestão, Cláudio reconstituiu, mecanicamente, a impressão de
insaciedade. Bastou isso e o vampiro, sorridente, apossou-se dele,
repetindo-se o fenômeno visto anteriormente.
André
aproximou-se então de Cláudio, para avaliar até que ponto ele sofria
mentalmente aquele processo de fusão. Mas ele continuava livre, no íntimo, e
não experimentava qualquer espécie de tortura, a fim de render-se. Hospedava o
outro simplesmente, aceitava-lhe a direção, entregava-se por deliberação
própria.
Nenhuma
simbiose em que fosse a vítima. A associação era implícita, a mistura era
natural. Efetuava-se a ocorrência na base da percussão. Apelo e resposta. Eram
cordas afinadas no mesmo tom. Após novo trago, o dono da casa estirou-se no
divã e retomou a leitura, enquanto os Espíritos voltaram ao corredor de acesso,
chasqueando, sarcásticos...
Tratamento
do alcoolismo - Embora o alcoolismo tenha sido definido pela Organização
Mundial de Saúde como uma doença incurável, progressiva e quase sempre fatal, o
dependente do álcool pode ser tratado e obter expressiva vitória nessa luta,
que jamais será fácil e ligeira.
Sintetizando
aqui os passos recomendados pelos especialistas na matéria e as recomendações
específicas do Espiritismo a respeito da obsessão, nove são os pontos do
tratamento daquele que deseja, no âmbito espírita, livrar-se dessa dependência:
1.
Conscientização de que é portador de uma doença e vontade firme de tratar-se.
2.
Mudança de hábitos para assim evitar os ambientes e os amigos que com ele
bebiam anteriormente.
3.
Abstinência de qualquer bebida alcoólica, convicto de que não bebendo o
primeiro gole não haverá o segundo nem os demais.
4.
Buscar apoio indefinidamente num grupo de natureza idêntica à dos Alcoólicos
Anônimos, que proporcionam, segundo o Dr. George Vaillant, o melhor tratamento
que se conhece.
5.
Cultivar a oração e a vigilância contínua, como elementos de apoio à decisão de
manter a abstinência.
6.
Utilizar os recursos oferecidos pela fluidoterapia, a exemplo dos passes
magnéticos, da água fluidificada e das radiações.
7.
Leitura de páginas espíritas, mensagens ou livros de conteúdo elevado, que
possibilitem a assimilação de ideias superiores e a renovação dos pensamentos.
8.
A ação no bem, adotando a laborterapia como recurso precioso à saúde da alma.
9.
Realizar pelo menos uma vez na semana, na intimidade do lar, o estudo do
Evangelho, prática que é conhecida no Espiritismo pelo nome de culto cristão no
lar. A família que lê o Evangelho e ora em conjunto beneficia a si e a todos os
que a rodeiam.
O
recado de Cornélio Pires – No capítulo 1 do livro Diálogo dos Vivos, José
Herculano Pires transcreve a resposta em versos que Cornélio Pires (Espírito)
enviou a um amigo que o interpelou, através de Chico Xavier, sobre o problema
do alcoolismo na visão dos Espíritos. Intitulada Informações do Além, a
mensagem diz o seguinte:
“Recebi
o seu bilhete, Meu amigo João da Graça, Você deseja do Além Notícias sobre a
cachaça.
O assunto não é difícil. Cachaça, meu caro João,
O assunto não é difícil. Cachaça, meu caro João,
Recorda
simples tomada,
Que liga na obsessão.
Que liga na obsessão.
Você
sabe. Aí na Terra,
Nas
mais diversas estradas,
Todos
temos inimigos
Das
existências passadas.
Muitos
deles se aproximam
E
usando a ideia sem voz
Propõem
cousas malucas
Escarnecendo
de nós.
Nas
tentações manejamos
Nossa
fé por luz acesa,
Mas
se tomamos cachaça
Lá
se vai nossa firmeza.
Olhe
o caso de Antoninha.
Não
queria desertar,
Encafuou-se
na pinga,
Hoje
é mulher sem lar.
Titino,
homem honesto,
Servidor
de tempo curto,
Passou
a viver no copo,
Agora
vive de furto.
Rapaz
de brio e saúde
Era
Juca de João Dório,
Enveredou
na garrafa,
Passou
para o sanatório.
Era
amigo dos mais sérios
Silorico
da Água Rasa,
Começou
de pinga em pinga,
Acabou
largando a casa.
Companheiro
certo e bom
Era
Neco de Tião,
Afundou-se
na garrafa,
Aleijou
o próprio irmão.
Cachaça
será remédio,
É
o que tanta gente ensina...
Mas
álcool, para ajudar,
É
cousa de Medicina.
Eis
no Além o que se vê.
Seja
a pinga como for,
Enfeitada
ou caipira,
É
laço de obsessor.
Nas
velhas perturbações,
Das
que vejo e que já vi,
Fuja
sempre da cachaça,
Que
cachaça é isso aí.”
ASTOLFO
OLEGÁRIO DE OLIVEIRA FILHO – Londrina, PR
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