Ao iniciarmos uma reunião doutrinária fazemos uma
prece, ao encerrarmos fazemos uma prece, para os trabalhos de passe fazemos uma
prece, ao deitarmos fazemos uma prece, ao levantarmos fazemos uma prece,
fazemos uma prece nos momentos alegres; e oramos também nos momentos de
aflição.
Muito se tem dito a respeito da prece, mas muito
pouco ainda conhecemos do seu mecanismo de funcionamento, Por isso mesmo, pouco
a valorizamos, e por vezes até a esquecemos.
Já o dissemos em outras ocasiões, que o Espiritismo
é uma Doutrina de Tríplice aspecto, Ciência – Filosofia – Religião, mas é comum
vermos trabalhos, palestras, cursos e etc, enfocarem quase que essencialmente
as partes filosóficas e religiosas, deixando um pouco de lado o seu aspecto
científico. É até um procedimento normal, uma vez que o Espiritismo é uma
Doutrina relativamente jovem com aproximadamente 150 anos, e a análise de seus
aspectos científicos requer conhecimentos básicos, sem os quais não
entenderíamos as suas explicações, precisaríamos então ter noções de física,
ciências, biologia, fluidos, magnetismo, eletromagnetismo, eletricidade,
telecomunicações, etc. Mas nesse trabalho, passaremos uma pequena noção do seu
aspecto científico.
Mas afinal, o que é a prece?
·
Poderíamos dizer
que a prece é uma projeção do pensamento, a partir do qual irá se estabelecer
uma corrente fluídica cuja intensidade dependerá do teor vibratório de quem
ora, e nisto reside o seu poder e o seu alcance, pois nesta relação fluídica o
homem atrai para si a ajuda dos Espíritos Superiores a lhe inspirar bons
pensamentos. Por que pensamentos? Porque são a origem da quase totalidade de
nossas ações. (Primeiro pensamos depois agimos).
·
Poderíamos dizer
também que a prece é uma invocação e que por meio dela pomos o pensamento em
contato com o ente a quem nos dirigimos.
·
A prece é a
expressão de
um sentimento que sempre alcança a Deus, quando ditada pelo coração de quem
ora.
Pode-se orar para si ou para outrem.
O Espiritismo faz compreender a ação da prece
explicando o processo da transmissão do pensamento: quer o ser por quem se ora
venha ao nosso chamado, quer o nosso pensamento chegue até ele.
Para compreender o que se passa nessa
circunstância, convêm considerar todos os seres, encarnados e desencarnados,
mergulhados no mesmo fluido universal que ocupa o espaço, como neste planeta
estamos nós na atmosfera. O ar é o veículo do som com a diferença que as vibrações
do ar são circunscritas ao planeta Terra, ao passo que as do fluido universal
se estendem ao infinito.
Então, logo que o pensamento é dirigido para um ser
qualquer na Terra ou no espaço, de encarnado a desencarnado, ou vice-versa, uma
corrente fluídica se estabelece de um para o outro, transmitindo o pensamento,
como o ar transmite o som. A energia da corrente está na razão da energia do
pensamento e da vontade. É por esse meio que a prece é ouvida pelos espíritos
onde quer que estejam; que eles se comunicam entre si; que nos transmitem as
suas inspirações; que as relações se estabelecem a distância, etc.
Esta é sua visão científica.
Pela prece podemos fazer três coisas louvar, pedir e
agradecer (LE, 659).
Mas o que isso significa exatamente?
·
Louvar é enaltecer os desígnios de Deus sobre todas as
coisas, aceitando-O como Ser Supremo, causa primária de tudo o que existe,
bendizendo-Lhe o nome.
·
Pedir é recorrer ao Pai Todo-Poderoso em busca de luz,
equilíbrio, forças, paciência, discernimento e coragem para lutar contra as
forças do mal; enfim, tudo, desde que não se contrarie a lei de amor que rege e
sustenta a Harmonia Universal.
·
Agradecer é reconhecer as inúmeras bênçãos recebidas, ainda
que em diferentes graus de entendimento e aceitação: a alegria, a fé, a bênção
do trabalho, a oportunidade de servir, a esperança, a família, os amigos, a
dádiva da vida.
As preces devem ser feitas diretamente ao Criador,
mas também pode ser-lhe endereçada por intermédio dos bons Espíritos, que são
os Seus mensageiros e executores da Sua vontade. Quando se ora a outros seres
além de Deus, é simplesmente como a intermediários ou intercessores, pois nada
se pode obter sem a vontade de Deus.
A prece torna o homem melhor porque aquele que faz
preces com fervor e confiança se torna mais forte contra as tentações do mal, e
Deus lhe envia bons Espíritos para o assistir (LE 660).
O essencial é orar com sinceridade e aceitar os próprios
defeitos, porque a prece não redime as faltas cometidas; aquele que pede a Deus
perdão pelos seus erros, só o obtêm mudando sua conduta na prática do bem.
Deste modo, as boas ações são a melhor prece, e por isso os atos valem mais do
que as palavras.
Através da prece pode-se ainda fazer o bem aos
semelhantes, porque o Espírito que ora, atuando pela vontade de praticar o bem,
atrai a influência de Espíritos mais evoluídos que se associam ao bem que se
deseja fazer.
Entretanto, a prece não pode mudar a natureza das
provas pelas quais o homem tem que passar, ou até mesmo desviar-lhe seu curso,
e isto porque elas (..) estão nas mãos de Deus e há as que devem ser
suportadas até o fim, mas Deus leva sempre em conta a resignação.
Deve-se considerar, também, que nem sempre aquilo
que o homem implora corresponde ao que realmente lhe convém, tendo em vista sua
felicidade futura. Deus, em Sua onisciência e suprema bondade, deixa de atender
ao que lhe seria prejudicial.
Todavia, as súplicas justas são atendidas mais
vezes do que supomos, podendo a resposta a uma prece vir por meios indiretos ou
por meios de ideias com as quais saímos das dificuldades.
A prece em favor dos desencarnados não muda os
desígnios de Deus a seu respeito; contudo, o Espírito pelo qual se ora
experimenta alívio e conforto ao receber o influxo amoroso dos entes que
compartilham de suas dores. Além do mais, o efeito benéfico da prece sobre o
desencarnado é tal, que pode levá-lo à conscientização das faltas cometidas e
ao desejo de fazer o bem:
É nesse sentido que se pode abreviar a sua pena, se
do seu lado ele contribui com a sua boa vontade. Esse desejo de melhora,
excitado pela prece, atrai para o Espírito sofredor os Espíritos melhores que
vêm esclarecê-lo, consolá-lo e dar-lhe esperanças (LE, 664).
Qual a importância da prece?
Lembremo-nos de um exemplo prático. Se não
limparmos periodicamente o nosso quintal, a sujeira se acumula, o mato cresce,
e há a proliferação de bichos. No campo espiritual, se não limparmos o nosso
psiquismo, os espíritos luminosos se afastam (mesmo que temporariamente), as
trevas tomam conta favorecendo a ação de espíritos endurecidos.
Deus atende àqueles que oram com fé e
fervor?
Deus envia-lhes sempre bons Espíritos para os
auxiliarem. Não existem fórmulas especiais de orações. A bondade de Deus não
está voltada para as fórmulas e o número de palavras, mas sim para as intenções
de quem ora.
O que dizer das orações repetidas inúmeras
vezes?
As intermináveis ladainhas e “PAI NOSSOS”,
repetidos algumas vezes, as rezas pronunciadas com os lábios apenas, que o
coração não sente e a inteligência não compreende, não têm valor perante Deus.
Jesus disse: “Não vos assemelheis aos hipócritas que pensam que pelo muito
falar serão ouvidos” (Mateus C6: V7). O essencial é orar bem e não muito.
Por que existe então, mesmo no
espiritismo, orações ditadas por espíritos e publicadas em livros?
Para ensinar aos homens a raciocinar quando se
dirigem a Deus e fazê-lo não só por meio de palavras, como também pelo
sentimento e com inteligência. Estas orações não constituem rituais, uma vez
que, no espiritismo não existem rituais de nenhuma espécie, nem formalismo.
Por quem devemos orar?
Primeiramente por nós mesmos, por nossos parentes,
pelos nossos amigos e inimigos, deste e do outro mundo; devemos orar pelos que
sofrem e por aqueles por quem ninguém ora.
O que pedir?
Em Mateus C26: V39 há a passagem amarga do Cristo,
que antecedia as suas dores supremas no calvário, onde Ele nos diz: “Pai, se
quiserdes, afasta de mim este cálice, mas acima de tudo faça-se a Tua vontade e
não a minha”. Demonstrava-nos o Mestre que as Leis Naturais são sábias e justas
e que são aplicadas indistintamente. Assim, não peçamos “milagres ou prodígios”,
mas tão somente forças para suportar aquilo que não está ao nosso alcance
mudar, paciência, resignação, fé e coragem.
Formas da Prece
A prece deve ser curta e feita em segredo, no
recôndito da consciência e em profunda meditação. Preces prolongadas ou
repetidas tornam-se cansativas, sonolentas e, muitas vezes, delas não
participam o pensamento e o coração.
Assim, a condição da prece está no pensamento reto,
podendo-se orar em qualquer lugar, a qualquer hora, a sós ou em conjunto, em
pé, deitado, de luz acesa ou apagada, de olhos abertos ou fechado; desde que
haja o recolhimento íntimo necessário para se estabelecer a sintonia
harmoniosa. Por isto a importância do sentimento amoroso, humilde, piedoso,
livre de qualquer ressentimento ou mágoa, dessa maneira o homem irá absorver a
força moral necessária para vencer as dificuldades com seus próprios méritos.
Eficácia da Prece
Existem aqueles que contestam a eficácia da prece,
alegando que, pelo fato de Deus conhecer as necessidades humanas, torna-se
dispensável o ato de orar, pois sendo o Universo regido por leis sábias e
eternas, as súplicas jamais poderão alterar os desígnios do Criador. No entanto,
o ensinamento de Jesus vem esclarecer que a justiça divina não é inflexível a
ponto de não atender os que lhe fazem súplicas. Ocorre que existem determinadas
leis naturais e imutáveis que não se alteram segundo os caprichos de cada um.
Porém, isso não deve levar à crença de que tudo esteja submetido à fatalidade.
O homem desfruta do livre-arbítrio para compor a trajetória de sua encarnação,
pois Deus não lhe concedeu a inteligência e o entendimento para que não os
utilizasse.
Existem acontecimentos na vida atual aos quais o
homem não pode furtar-se; são consequências de falhas e deslizes de passado que
necessitam de reajustes; é a aplicação da Lei de Causa e Efeito e isto explica
porque alguns alegam que pedem benefícios a Deus, mas que nunca são concedidos;
o que parece, a princípio, contrariar o ensinamento de Jesus citado em Marcos C11:
V24 “O que quer que seja que pedirdes na prece, crede que obtereis, e vos
será concedido”.
Muitas coisas que na vida presente parecem úteis e
essenciais para a felicidade do homem, poderão ser-lhe prejudiciais e esta é a
razão por que elas não lhe são concedidas. Contudo, o egoísmo e o imediatismo
não permitem que ele perceba com exatidão a eficácia da prece.
Porém, seus efeitos ocorrem segundo os desígnios
divinos: A curto prazo na medida em que consola, alivia os sofrimentos, reanima
e encoraja; a médio e longo prazo porque pelo pensamento edificante dá-se a
aproximação das forças do bem a restaurar as energias de quem ora.
Àquele que pede, Deus está sempre pronto a
conceder-lhe a coragem, a paciência, a resignação para enfrentar as
dificuldades e os dissabores inerentes à natureza humana, com ideias que lhes
são sugeridas pelos Espíritos benfeitores, deixando-nos, contudo o mérito da
ação, e isto porque não se deve ficar ocioso à espera de um milagre, pois a
Providencia Divina sempre ampara os que se ajudam a si mesmos, como asseverou o
Mestre: “Ajuda-te e o céu te ajudará” (ESE, Cap. 27, item 7).
Portanto, de tudo o que foi dito anteriormente,
podemos concluir que a eficácia da prece está na dependência da renovação
íntima do homem, em que deve prevalecer a linguagem do amor, do perdão e da
humildade para que ele possa assim, de coração liberto de sentimentos
negativos, agradecer a Deus a dádiva da vida.
“Vigiai e Orai” nos recomendou o Mestre (Mateus C26:
V41).
Bibliografia:
·
Curso Básico do
Espiritismo 1º Ano – FEESP.
·
Curso Básico do
Espiritismo 2º Ano – FEESP.
·
O Evangelho
Segundo o Espiritismo – Allan Kardec.
Nenhum comentário:
Postar um comentário