O assunto surgiu na reunião de estudos para a edificação de uma sociedade
justa, não seria razoável a participação em movimentos que defendem uma
mudança nas estruturas sociais?
Várias
opiniões foram apresentadas. Houve quem preconizasse um engajamento do Centro,
contribuindo até mesmo para a constituição de partido político capaz de pugnar
pelos ideais espíritas. Outros defendiam uma mobilização popular, se necessário,
pressionando os governantes, a fim de que as legítimas aspirações do povo
fossem atendidas.
Terminada
a discussão, ofereceu-se a palavra a Josefo, dedicado mentor espiritual que,
após saudar os presentes pela psicofonia mediúnica, falou:
–
O assunto hoje foi empolgante. É louvável o interesse que demonstraram na
procura de soluções para os grandes problemas sociais. Considerem, entretanto,
que todas as mudanças envolvendo a sociedade, para serem legítimas e
proveitosas, pedem antes a renovação do Homem, o que não pode ser feito à custa
de meras reivindicações, de verbalismo ou do exercício da força, porquanto,
para tanto, é preciso entrar em seu coração e não há outro caminho senão o
Amor. Pode parecer piegas aos doutos, mas é a pura expressão da realidade.
Jesus o demonstrou incansavelmente em seu apostolado. O Espiritismo faz a mesma
proposta, apresentando a caridade como a base da salvação humana. Com a
caridade desenvolveremos a vocação de servir, que é o Amor em ação, atuante,
empreendedor, irresistível no apelo à renovação.
–
No entanto – retrucou Luiz, um dos defensores do engajamento político –, o
amigo não nega que uma mobilização dos espíritas poderia favorecer as mudanças
pretendidas.
–
Sim, todos podem participar de tais iniciativas, desde que observem a ordem e
a disciplina, com respeito aos poderes constituídos, mas sem envolver a
Doutrina Espírita como movimento, a fim de que não tenhamos a reedição dos
perigosos enganos cometidos pelos líderes religiosos no passado, que
terminaram por atrelar a religião ao poder, assimilando os males que pretendiam
combater.
–
Mas o irmão não admite que uma mobilização popular, até com eventual exercício
de força, apressaria as mudanças pretendidas? — indaga Gabriel, um dos
defensores das medidas revolucionárias.
–
Semelhantes iniciativas realmente promovem modificações nas estruturas
sociais, mas em nada contribuem para a edificação de um Mundo melhor. Muitos
movimentos de força têm sido disparados. Sistemas se sucedem, mas perpetuam-se
os males humanos... Países desenvolvidos resolvem transitoriamente os
problemas da miséria material, mas caem na miséria moral, que é muito pior: a
primeira é provação para coletividades imensas, funciona como cadinho
purificador; a segunda é semeadura de dores... Ocioso pretender-se a reforma
da sociedade sem a renovação do cidadão. Impossível construir uma casa sólida
com tijolos crus.
Josefo
fez pequena pausa, como a esperar que seus conceitos fossem assimilados,
concluindo, incisivamente:
–
Quando Jesus proclamou que o Reino de Deus está dentro de nós, deixou bem claro
que ele não se estenderá sobre o planeta antes dessa gloriosa conquista. Por
isso, meus amigos, o nosso trabalho é junto ao coração humano, sem pressões e
sem pressa, com o exemplo de nosso próprio empenho no Bem, a fim de que o Reino
Divino se estenda ao nosso redor.
*
* *
Qualquer
sistema de governo funcionará satisfatoriamente se governados e governantes se
ajustarem aos princípios da Justiça e da Verdade, da Fraternidade e da
Solidariedade, do Trabalho e da Disciplina, do Respeito e da Compreensão.
Semelhantes
realizações, que jamais poderão ser impostas, se concretizarão na medida em
que os homens se dispuserem a seguir o Cristo pelos caminhos do Amor.
Por: Richard
Simonetti
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